O GRANDE JOGO



Rony assobiou, surpreso com o tamanho da propriedade. O time dos Cannons havia sido acomodado na imponente Mansão Malfoy, situada numa comunidade rural a cerca de duas horas de Londres. Não se podia aparatar nas imediações, então táxis trouxas trouxeram os jogadores, que agora davam uma volta de reconhecimento em torno do imenso campo. Usando magia e trabalho manual, seres humanos e elfos haviam transformado o lugar num campo de quadribol. Ficou decidido que o time o usaria como campo de treino enquanto o antigo campo dos Trasgos era reformado.

Os jornais ainda estampavam manchetes a respeito do julgamento de Harry Potter. A maior parte da comunidade mágica havia ficado comovida com o desabafo do rapaz e com as pesadas acusações feitas a Dolores Umbridge. O ministro Blackwell, numa reação que já havia sido antecipada por Alvo Dumbledore, fritou a sua assessora especial, responsabilizando-a pelas ações contra o Eleito. A “sapa velha” havia sido rebaixada e enfrentaria um processo por acusações falsas e tentativa ilegal de pressionar testemunhas. Como era funcionária concursada, não seria demitida, mas estava sendo pressionada a se demitir ou se aposentar.

A situação do ministro não era muito melhor. Ele tentava se esquivar das acusações de dar cobertura às ações ilegais de sua subordinada e muitos questionavam o seu papel durante a guerra, quando era também auxiliar direto do ministro Gatewood. Boa parte da comunidade mágica estava exigindo sua renúncia. Mesmo o “Profeta Diário”, tradicional defensor do ministério, independentemente do ministro em exercício, escrevera editoriais sóbrios, colocando em cheque a justiça praticada pelo governo bruxo. Estranhamente ignoravam a confissão de Harry Potter a respeito de sua dependência, dizendo que o rapaz já havia sofrido muito e deveria ser deixado em paz.

As revistas e os jornais sensacionalistas do mundo mágico, entretanto, estavam em polvorosa. Histórias escabrosas e piegas não paravam de circular, atestando desde uma enfermidade terminal de Harry até terríveis desilusões amorosas sofridas pelo garoto. Gina Weasley e Hermione Granger receberam berradores e cartas ofensivas, acusadas de ter despedaçado o coração do amigo.

Cansado de tudo aquilo, Draco resolveu isolar Harry e o time dos Cannons. Zabini havia ficado em Londres respondendo às perguntas insuportáveis dos jornalistas, enquanto o time treinaria absolutamente sossegado nos arredores da Mansão Malfoy. Embora o jogo de domingo (O “GRANDE JOGO POTTER/WEASLEYS”) fosse um amistoso, seria uma ótima oportunidade para promover os Cannons e ele sabia que os gêmeos Weasleys estavam levando a partida a sério, tanto que haviam alugado o campo de Hogwarts para os seus próprios treinos. As Gemialidades Weasleys eram patrocinadoras do evento, cuja renda seria destinada à caridade e no time dos irmãos de Rony e Gina jogariam, além dos donos das “Gemialidades”, Rogério Daves, Cho Chang, Jane O’Neal (que fez o “sacrifício” de substituir Jerry White, escalado a princípio), Angelina Johnson e a veterana goleira Imelda Price, titular da seleção inglesa nos últimos doze anos. A TV Bruxa (“O espetáculo da magia adentrando o seu lar”) transmitiria a partida para todo o Reino Unido, Estados Unidos e Japão. Os patrocinadores estavam dispostos a pagar fortunas pelo privilégio de anunciar seus produtos durante o jogo. E todos os vinte mil ingressos do pequeno estádio construído às pressas com vários tipos de magia estavam esgotados há meses. Um bom lugar era vendido por cambistas até por duzentos galeões.

Jogadores extremamente materialistas como Chang e Daves, que normalmente fugiam de ações filantrópicas, estariam presentes, pois embora tivessem doado o seu cachê de participação, assim como os demais, seriam muito bem remunerados pelos seus patrocinadores pessoais para comparecer ao evento.

A grande pergunta: Potter vai jogar? Draco deixara o suspense no ar. Apolo Cole estava eufórico, com a possibilidade de substituir “Mergulho” Potter, que no ano passado havia jogado como artilheiro. O treinador Lynch havia chamado Draco em particular para uma conversa:

- Não quero arriscar colocar um jogador sem experiência na posição de artilheiro – disse o irlandês, cheio de importância.

- Eu gostaria de lembrar que isso é um amistoso – respondeu Draco friamente. Não tinha muita paciência com o cabotinismo do treinador.

- Sim, mas acho que Cole seria...

- Escute aqui, Lynch – disse Draco, alterando ligeiramente a voz – Você que tem tanto orgulho de dizer que tem a confiança dos donos desse time, por que não tenta convencê-los a deixar Potter fora da partida? Eu adoraria ver a cara daqueles velhotes.

- Eu só pensei...

- Pois pare de pensar! Se o Eleito, ou seja, lá o nome que o chamam nessa semana quiser jogar de goleiro ele vai jogar. Fui claro ou você quer que eu desenhe?

Muito contrariado, o irlandês fez um pequeno gesto de concordância e se afastou. Draco ficou por um momento olhando o vazio até perceber que M’Bea estava ao seu lado.

- Gostei do tratamento que deu naquele metido, Draco – disse o africano com um grande sorriso na face.

- Obrigado, Toni – respondeu o loiro – Por que não manda buscar a sua esposa e as crianças? Eu tenho certeza que eles se divertiriam muito por aqui.

O sorriso no rosto negro cresceu mais ainda. De repente Malfoy percebeu uma coisa: havia sido chamado pelo primeiro nome.

- Ei, você me chamou de Draco.

- Realmente – respondeu o batedor – Eu disse que o chamaria assim quando começasse a confiar em você – acrescentou, dando um tapinha nas costas do loiro (que quase caiu) e se afastou em direção ao campo de treino, os músculos um tanto apertados dentro do agasalho de jogging trouxa que usava.

Draco continuou olhando o vazio, mas agora, de maneira inexplicável, sentindo-se muito melhor.
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Gina estava contente por saber que Hermione trabalharia com o time dos Cannons. Apreciava muito ter a amiga e confidente ao seu lado. Rony, entretanto, ficara estranhamente sorumbático quando soube do novo emprego da ex-namorada. Digerira muito mal a história da jovem ter aceitado o novo trabalho depois de um jantar com Malfoy. Reparara também nas gentilezas excessivas do loiro aguado para com Hermione.

- Eu não acredito ainda que você tenha concordado com essa insanidade do Malfoy de fazer o Harry jogar – dizia o ruivo emburrado.

- Se eu não me engano, era você que me dizia que o campo de quadribol é o lugar onde ele se sente melhor – respondeu a jovem medibruxa.

- Quando ele estava bem, não agora! – retrucou o ruivo, aumentando o timbre de voz.

Gina estava encolhida no seu canto. Raramente se metia nas brigas dos dois, mesmo quando namoravam. Fingia ler uma revista trouxa, confortavelmente acomodada na sala de estar da mansão, depois do treino da manhã. Também não tinha certeza se era uma decisão acertada deixar Harry jogar, mas respeitava muito a opinião de Hermione e sabia que a amiga não faria nada que colocasse em risco o seu amado. Amado? Gina balançou a cabeça com força. Não podia pensar em Harry dessa forma.

No treinamento terminado há pouco, por duas ou três vezes teve vontade de azarar Toledo e jogá-la da vassoura. Por que ela precisava ser sempre tão amável e prestativa com Harry? Inclusive a ruiva fora advertida mais de uma vez pelo idiota do Lynch, pois havia se distraído vendo os dois ensaiar uma jogada particularmente complicada e um balaço atirado por Andy a havia atingido. Desconfiava que o golpe havia sido proposital, com o objetivo de tirá-la do seu devaneio. O brasileiro era muito mais esperto do que ela havia imaginado e era até bem bonitinho também. E comprometido, como sempre fazia questão de lembrar.

- Ela não gosta do Potter como você imagina – dissera Andy a Gina quando os dois voltavam ao castelo após o treino.

- E como você sabe o que eu imagino? – respondeu a ruiva de maneira sarcástica.

Sem responder, inesperadamente o rapaz a abraçou pelos ombros como se fossem muito íntimos e começou a falar de coisas banais, como se há vários minutos estivessem engatando uma conversa. Antes que uma Gina surpresa conseguisse se livrar dos braços fortes do batedor, percebeu a proximidade de Harry, que conversava animadamente com Toledo, caminhando ao seu lado.

O rapaz interrompeu uma frase no meio e ficou olhando surpreso a ruiva e o brasileiro. Gina poderia jurar que seu rosto contraiu-se com desagrado, mas foi apenas por um momento. Virou-se para continuar o assunto com a amiga peruana, apertando tanto o passo, que a garota, bem mais baixa do que ele, teve quase que correr para acompanhá-lo. Ela poderia jurar também que o brasileiro e a peruana trocaram um rápido olhar de cumplicidade. Muito estranho que Andy tomasse uma atitude como aquela, digna de conquistadores baratos como “Cool” Cole. Mais estranho ainda foi o fato do rapaz parar de abraçá-la assim que Harry se afastou.

- OK – dissera Hermione, também elevando a voz, trazendo Gina de volta ao presente – Você acha que eu quero matar o Harry ou algo assim?

Rony sentou-se numa das poltronas bufando. É claro que Hermione não queria matar o Harry! Por que ele estava tão irritado?
Certamente não havia gostado nem um pouco de ver a “sua” Hermione concordar com Draco Malfoy. Droga, não havia “sua” Hermione coisa nenhuma, refletiu, tentando ser racional.

Hermione sentou-se no braço da poltrona e colocou a mão gentilmente no ombro de Rony.

- Rony, você sabe o quanto o Harry se preocupa com todos vocês. Ele se acha um pouco responsável por todos, principalmente depois do que passaram durante a guerra. Da mesma forma que você se julga um pouco responsável por ele – explicou a jovem pacientemente – Como você acha que ele se sentiria se a carreira de vocês fosse prejudicada, como o Malfoy falou que seria?

Gina agora prestava atenção nas explicações da amiga, muito interessada.

- Você reparou como ele está mais bem disposto? – perguntou de maneira profissional a medibruxa – Certamente o quadribol fará com que ele se sinta melhor. Se a gente conseguir fazer com que se alimente direito, é claro.

- Tudo bem, Mione – concordou Rony depois de um momento de hesitação – Pode deixar, eu vou fazer aquele cabeçudo se alimentar. Nem que eu tenho que prendê-lo na mesa de jantar com um feitiço aderente. Só não comece a concordar demais com o Malfoy. Não fica bem pra você – acrescentou, saindo da sala.

- Ora, o que deu nele? – perguntou Hermione para Gina.

- Vai saber... – respondeu a ruiva dando de ombros, mas sabendo exatamente o que havia dado nele.
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- EU NÃO ACREDITO! - exclamou Hermione, não pela primeira vez naquela manhã de sexta-feira. Havia acabado de examinar Toledo, que um tanto constrangida saía da sala de exames improvisada num dos vários aposentos da Mansão Malfoy.

- Hum... eu também não – disse maliciosamente Apolo Cole, secando descaradamente o corpo bronzeado da artilheira peruana.

Os jogadores, que seriam examinados por Hermione, vestindo apenas calções e camisetas aguardavam no corredor. Toledo usava um calção e um top, atraindo o olhar cobiçoso do jamaicano.

- Babaca – disse Harry, alto o suficiente para o outro escutar.

A jovem medibruxa descobrira indignada que todos tinham contusões muito mal curadas por feitiços, principalmente causadas por balaços que só podiam ser atirados por bruxos homicidas, na sua opinião. Gina ria muito da exasperação da amiga enquanto esperava a vez de ser avaliada. Hermione havia realizado feitiços de curas para remendar ossos mal emendados e músculos com distensões mal-curadas. Obrigara Toledo e Harry, que pareciam em pior estado a tomar várias poções para fortalecer ossos e os músculos, que pareciam prestes a se dissolver ao menor choque. E ainda tinha que agüentar as gracinhas de Apolo Cole.

- Cole, se não calar a boca eu vou lançar um feitiço em você que lhe impedirá de usar o bastão para sempre – advertiu a bruxa.

- Eu nem tenho jogado como batedor – desdenhou o jogador polivalente.

- Não é deste bastão que eu estou falando – replicou Hermione com um sorriso maldoso.

O acesso de risos na sala de espera durou vários minutos. Gina e Toledo quase passaram mal, tendo vários acessos seguidos. Andy riu quinze minutos direto depois de ter entendido a ameaça. Hermione ficou levemente vermelha quando se deu conta do que tinha dito. Mas Cole permaneceu em silêncio e emburrado até o final dos exames.
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Helga não podia olhar o jamaicano Cole que começava a rir até as lágrimas. A história do bastão vinha sendo repetida desde o café da manhã e o jogador “polivalente” temia que em breve ela atravessasse os bosques em torno da Mansão Malfoy e se tornasse uma das maiores piadas do quadribol dos últimos anos. E Helga nem havia contado ao marido que aquele moleque petulante tentara lhe passar uma cantada quando chegou no dia anterior acompanhada dos filhos. Miriam assustou o galanteador apresentando-se como filha de Toni M’Bea, frisando que a mãe era a “legítima esposa” do africano gigantesco. Apesar da arrogância, Cole provavelmente não estava muito disposto a contrariar um homem que tinha quase vinte centímetros a mais do que ele, além de muito mais músculos.


- COMA, HARRY! – gritaram os talheres, sobressaltando a todos que estavam em torno de uma enorme mesa preparada do lado de fora da mansão, onde empenhados elfos domésticos serviam o almoço.

- Quem teve a idéia brilhante de enfeitiçar os talheres? – perguntou Harry surpreso, mas ele mesmo estava rindo do feitiço barulhento.

- Eu, é claro - respondeu Hermione tranqüilamente, enquanto apreciava a sua salada – E os talheres vão gritar sempre que você não se alimentar direito.

- Que feitiço maneiro! – disse radiante, Daniel M’Bea, que apreciava qualquer coisa feita por Hermione.

- Papai fazia um feitiço parecido pra gente não deixar as verduras no prato – disse Miriam desanimada.

- Ei, por que o bife do Harry é maior do que o meu? – reclamou o pequeno Owen, enquanto os elfos domésticos serviam a refeição principal.

- Porque você é menor do que ele – respondeu a sua mãe – E não vai ficar maior se não comer verduras também.

Não era só o bife de Harry que era maior. Os elfos tinham verdadeira adoração pelo Eleito. Seu pedaço de empada também era maior do que o dos outros, sua taça de suco de abóbora era maior, enfim as criaturinhas estavam empenhadas em agradar o seu ídolo, assim como a Hermione, que continuava presidindo o F.A.L.E. (Frente para a Libertação dos Elfos). Graças a essa entidade, muitos elfos eram hoje livres e remunerados, como aqueles que serviam o almoço na mansão.

Gina quase estava tendo uma síncope ao ver Toledo insistindo maternalmente para que Harry comesse mais um pedaço do empadão de rins, embora o rapaz se empenhasse em dividir suas porções enormes com todos, principalmente os filhos de Toni e Helga, o que deixava Owen e Daniel felizes da vida.

- Eu já falei para você que Toledo não é uma ameaça – disse Andy baixinho para Gina, tornando-se quase impossível de ser ouvido por causa do volume da sua voz e do seu sotaque carregado.

- E quem disse que eu me sinto ameaçada? – respondeu Gina com outra pergunta, mas também sussurrando – E depois falando bem alto para que Harry ouvisse: - Você já experimentou esse suflê, Andy querido? – perguntou com voz afetada, dando comida na boca do brasileiro.

Harry parou de comer de repente, o que fez os talheres gritarem novamente com ele, para a satisfação de Gina.
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- Vocês deviam se acertar, Harry – disse Andy após o treino da tarde de sexta feira. O time estava voando muito bem e o brasileiro realmente era um grande batedor.

Surpreso, o “garoto que sobreviveu” parou a sua caminhada de volta para a mansão e olhou para o outro jovem como que pedindo explicações.

- Você não deveria ter raiva de mim. Gina é apenas uma amiga, nada mais do que isso. Eu descendo de uma família de bruxos sensitivos, sabe? – continuou o batedor – O desconforto de um bruxo poderoso como você me incomoda muito.

Surpreendentemente as últimas palavras foram ditas num inglês perfeito e os olhos do jovem brasileiro brilharam estranhamente. Harry já havia ouvido falar nos tais “sensitivos”. Eles podem “sentir” seu humor e fazer advertências muito sábias às vezes.

- Você ficou com ciúme, não é mesmo? – perguntou o rapaz de maneira sarcástica. E antes que Harry respondesse, Andy disse, voltando a falar com seu sotaque carregado: - Eu queria isso mesmo - e se afastou, deixando o companheiro de time com mil pensamentos na cabeça e nenhuma ação naquele momento.
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- Gente, aquela ali mal sabe subir na vassoura pelo lado certo e acha que pode jogar quadribol! Ela perdeu a goles, é claro!

- A loirinha ali joga bem...

- Você só acha isso porque ela te mandou tchauzinho durante o jogo, seu bobo!

- Ah, é? E quem fica abraçando o retrato do Harry todo dia?

- Vocês não deveriam estar transmitindo a partida? – perguntou Toni M’Bea aos filhos, que discutiam ao vivo para todo o estádio, arrancando risadas dos torcedores, que chegavam aos milhares para o grande evento.

Corria a preliminar com as crianças que freqüentavam o acampamento de verão mantido por Harry e Rony. E Miriam M’Bea fazia teoricamente a locução da partida através de um microfone mágico, enquanto seu irmão Daniel ficava responsável pelos comentários. Embora essa não fosse a intenção das crianças, aquela transmissão estava matando o público de rir. Os dois irmãos implicavam com os jogadores, brigavam entre si e obviamente esqueciam do jogo. Que estava particularmente muito ruim mesmo.

O “Grande Jogo” seria transmitido por Lino Jordan, A “Voz”, como era conhecido. Simultaneamente para a TV Bruxa (“A emoção do quadribol chegando até você”) e através do microfone enfeitiçado, também para o seleto público do estádio.

- Bom, o jogo vai ter só três horas de duração – explicava Lynch no vestiário – Se ninguém apanhar o pomo, vence quem tiver marcado mais gols.

Desde o ano anterior os jogos de quadribol foram limitados a no máximo quatro horas, podendo ter um tempo menor em amistosos. Ninguém tinha mais paciência nem a TV Bruxa (“anunciando as cores da magia”) tinha interesse em transmitir jogos que duravam dias inteiros. Daí a importância redobrada dos artilheiros, cujos gols marcados, decidiam a partida se o pomo não fosse apanhado no tempo determinado.

- Eu vou apanhar o pomo, é lógico – desdenhou Krum com o mais próximo de um sorriso que era capaz de dar. Era humilde, reservado, mas sabia a dimensão do próprio talento. Passara alguns dias na Bulgária visitando os pais e havia chegado na sexta feira para o jogo.

Como o búlgaro se apresentaria na sua posição original, Harry, juntamente com Gina e Toledo seriam artilheiros. Apesar do ciúme cada vez mais difícil de disfarçar da ruiva, o trio havia se entendido muito bem nos últimos treinos. A idéia geral era transformar “Mergulho” em artilheiro, já que o rapaz era bom em qualquer posição, mesmo com a as discordâncias do treinador irlandês.

Gina estava incomodada com o novo uniforme. Ao invés das capas antigas, agora haviam sido desenhadas roupas mais justas, cujas camisas lembravam os esportes trouxas.

- Eu me sinto nua com essas roupas – disse a ruiva. Harry, por outro lado, apreciava bastante o uniforme laranja com camisas folgadas e calças justas da ex-namorada. Ela havia prendido os cabelos com um uma pequena faixa preta e laranja e estava bastante bonita, como era possível perceber pelo olhar interessado de Apolo Cole. Felizmente, desde a ameaça ao seu bastão , o jamaicano andava comportado e guardando para si mesmo os comentários chauvinistas. Mas, para a infelicidade de todos, ele iria jogar como batedor no lugar de Toni.

Hermione vetara o africano sob o pretexto de uma lesão mal curada no ombro. Todos estranharam o fato dele não ter reclamado, mesmo quando Cole foi escalado para jogar no seu lugar. Na verdade, havia combinado com Hermione e Rony ficar fora do jogo e de olho em Harry. Apesar do artilheiro aparentar um bom estado, Toni o observaria e o interceptaria (tinha uma vassoura bem potente à mão para qualquer emergência) no caso de uma crise. Os amigos não informaram Harry, é claro.
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Eram quatro horas da tarde de um domingo ensolarado quando o time dos gêmeos Fred e Jorge entrou no campo, logo depois alçando um vôo ao redor dos aros para receber uma enorme ovação da torcida. Os uniformes magentas, a mesma cor das vestes dos funcionários das “Gemialidades” refletindo contra a luz do sol de verão (e que estariam a venda em todas as filiais da loja na segunda-feira).

- AÍ ESTÁ O TIME DAS GEMIALIDADES WEASLEYS, SENHORAS E SENHORES! – Anunciava Lino Jordan para todo o estádio e para os telespectadores que assistiriam a partida em seus lares – OS GÊMEOS WEASLEYS PODERIAM FACILMENTE JOGAR COMO BATEDORES NA SELEÇÃO DA INGLATERRA, NÃO É MESMO MARLA?

Marla Donovan era a principal comentarista de quadribol da TV Bruxa e sua coluna sobre o esporte no Profeta Esportivo era lida em todo o muno mágico do Reino Unido. Diferentemente do insuportável Dan Carter, Marla, uma bruxa gordinha de meia idade, era sempre objetiva e imparcial nas suas análises, fazendo um contraponto interessante à transmissão entusiasmada de Lino Jordan.

- SEM DÚVIDA, LINO – respondeu a comentarista – COM OS BATEDORES QUE TEMOS ATUALMENTE... – lamentou a bruxa.

- ALÉM DOS WEASELYS, BATEDORES, JOGAM PRICE, “BABY JANE” O’NEAL, JOHNSON, DAVES E CHANG. O’NEAL ENTRA NA ÚLTIMA HORA, NÃO É MESMO?

- REALMENTE, LINO. TODOS ESTRANHARAM A SENSAÇÃO DA SELEÇÃO DA IRLANDA SUBSTITUINDO WHITE NA ÚLTIMA HORA.

Uma nova ovação, mais entusiasmada e ensurdecedora do que a anterior se fez ouvir no estádio quando os Cannons entraram em campo com seus vistosos uniformes laranjas, trazendo Mergulho Potter acompanhando os demais jogadores, desfazendo o suspense que havia se prolongado durante a semana.

- AÍ ESTÁ O NOVO TIME DOS CANNONS, SENHORAS E SENHORES! – berrou Lino Jordan – E HARRY POTTER ESTÁ EM CAMPO! ELE DEVE JOGAR COMO ARTILHEIRO COMO NO ANO PASSADO. JOGAM NOS CANNONS, WEASLEY, WEASLEY, TOLEDO, POTTER, ANDY LOPES, COLE E KRUM.

Uma nova ovação subiu das arquibancadas quando os nomes de Potter e Krum foram anunciados.

- VAI SER MUITO INTERESSANTE VER O DUELO ENTRE POTTER E O’NEAL - teorizou Marla Donovan – ELES SÃO, NA MINHA OPINIÃO OS MELHORES DA NOVA GERAÇÃO DO QUADRIBOL.

Marilda Stevens, uma das mais prestigiadas juízas do Reino Unido e dirigente da Associação Internacional de Quadribol apitou, chamando os capitães. Depois do cumprimento entre Vitor Krum e Fred Weasley, a partida foi iniciada. Haviam combinado discretamente que nem o búlgaro nem Cho Chang, apanhadora do time dos gêmeos, procuraria pelo pomo de ouro antes de decorrida meia hora de partida. Afinal os torcedores e telespectadores precisavam se divertir.

O que se viu a princípio foi um show dos artilheiros. Com menos de tinta segundos, Angelina apanhou a goles, escapou de um balaço mal arremessado por Apolo Cole e a colocou longe de Rony, marcando 10 a zero e dando a volta por trás dos aros e socando o ar, gesto que era a sua marca registrada. Depois de duas defesas particularmente difíceis de Rony, Daves marcou mais um gol e Angelina mais outro.

- TRINTA A ZERO PARA O TIME DOS GÊMEOS! – anunciava Lino – O TIME DOS CANNONS AINDA NÃO SE ENCONTROU EM CAMPO.

- O SR. COLE DECIDAMENTE NÃO É MUITO HÁBIL COM O BASTÃO – sentenciou Marla, vendo o jamaicano acertar mais uma vez o balaço sem direção.

- MAS QUE JOGADA! POTTER LANÇA GINA WEASLEY EM VELOCIDADE E MARCA DEZ PONTOS PARA OS CANNONS! TRINTA A DEZ NO PLACAR!

Finalmente os Cannons começaram a entrar na partida. Aproveitando-se da boa pontaria de Andy, Harry roubou a goles de Daves e lançou Toledo. A peruana rumou para o gol, desviando-se de um balaço atirado por Jorge e, fingindo que ia arremessar, passou de novo para Harry que marcou sem dificuldade.

- JOGADA SENSACIONAL DE TOLEDO PARA POTTER! – narrou Lino – TRINTA A VINTE!

De novo Andy acertou um balaço em Daves, que deixou cair a goles, apanhada por Gina, que fingindo que ia passar para Harry, fintou Angelina, esquivou-se de um balaço e marcou um gol espetacular, levando ao delírio a torcida dos Cannons.

- ISSO É QUE É QUADRIBOL DE ALTO NÍVEL, SENHORAS E SENHORES! – gritou Lino entre os aplausos delirantes do público – EMPATADO O JOGO EM TRINTA PONTOS. E LÁ VAI POTTER. SEEEEEEEEEEEEEEEEENSACIONAL! – berrou de novo o locutor, esticando a primeira sílaba de “sensacional”, como costumava fazer quando narrava uma jogada brilhante.

Harry mergulhou como se fosse um apanhador, apanhou a goles que havia sido derrubada por O’Neal e num vôo eletrizante para frente e para o alto arremessou-a de cima para baixo no aro central, para o espanto de Price e o aplauso de todo o estádio. Os Cannons acabavam de virar o jogo. Logo em seguida, O’Neal voando com a goles em direção à pequena área, trocou rapidamente de mão na hora do arremesso, enganando Rony e empatando de novo a partida em quarenta pontos.

Como dizia Lino, era quadribol do mais alto nível. A ineficiência de Apolo Cole como batedor era compensada pela competência de Andy. O brasileiro freqüentemente desarmava Daves e Harry organizava com rapidez o contra-ataque, lançando Gina e Toledo. Entretanto, os artilheiros dos Cannons tinham bastante dificuldade para ludibriar os balaços disparados pelos gêmeos. Do outro lado, O’Neal passou a jogar mais perto de Cole e puxava também rápidos contra-ataques, concluídos por ela mesma ou Angelina. Quando o jogo estava de novo empatado em noventa pontos, Rony fez uma grande defesa num tiro disparado pela quase cunhada e lançou Harry. Esse, percebendo que a goleira Price estava longe dos aros, orientando a posição de Rogério Daves, quando chegou na altura do meio de campo, arremessou surpreendentemente a goles direto para o aro da esquerda, desguarnecido. Foi um arremesso de mais de sessenta metros.

- EU NÃO ACREDITO! NÃO ACREDITO! SEEEEEEEEEEEEEENSACIONAL! MERGULHO POTTER MARCOU UM GOL ARREMESSANDO A GOLES DO MEIO DO CAMPO. VOCÊ JÁ VIU ISSO ALGUMA VEZ, MARLA?

- REALMENTE, É UM DOS ARREMESSOS MAIS ESPETACULARES QUE EU JÁ VI – admitiu a comentarista – ESTAMOS VENDO O NASCIMENTO DE UM GÊNIO NA POSIÇÃO DE ARTILHEIRO.

O gol de Harry marcado do meio do campo mereceu vários minutos de aplausos por parte do público, que quase ignorou um outro gol marcado por Baby Jane.

Quando a partida estava cento e vinte a cem para os Cannons, Krum de um lado e Cho Chang do outro já procuravam o pomo. Chang era boa, mas Krum era um dos melhores apanhadores do mundo e voava de maneira agressiva, afastando a rival e forçando-a a sair da sua frente. Gina marcara mais um grande gol, fintando a goleira e praticamente enterrando a goles no aro central. De repente, Chang apontou a vassoura para cima e partiu em disparada rumo ao pomo, que estava próximo do meio do campo, vários metros acima dos aros, deixando Krum alguns poucos metros atrás dela. O búlgaro diminuiu dramaticamente a distância, escapando por pouco de uma balaço fortíssimo disparado por Jorge. Chang também se desviou de um que Andy atirara quase ao mesmo tempo. Só que o seu desvio foi menos hábil e teve que descer quase um metro para escapar do choque.

Fazendo uma curva espetacular, pois o pomo se desviava rumo ao campo de defesa dos Cannons, o búlgaro esticou o braço direito e o apanhou, soltando um grito de triunfo.

- YEEEEEEES! – berrou Lino – FAZENDO UMA MANOBRA GENIAL, KRUM APANHA O POMO. ENCERRADA A PARTIDA! OS CANNONS VENCEM POR DUZENTOS E OITENTA A CEM!

Sob entusiásticos aplausos, Vitor Krum desceu da vassoura segurando o pomo e exibindo-o para as câmeras. Flashs brilhavam em torno dos Cannons, que aterrisavam cumprimentando o apanhador búlgaro. Do outro lado do campo, Fred e Angelina consolavam Cho Chang que acabava também de aterrisar. Foi aí que mesmo encerrada a partida, Baby Jane O’Neal realizou sua jogada mais espetacular. Avançando em direção aos alegres jogadores dos Cannons, ela se acercou de um feliz Harry Potter, que há pouco cumprimentava o apanhador dos seu time. A bonita jogadora da seleção irlandesa chamou pelo seu nome. Quando Mergulho Potter virou, esperando, talvez, uma saudação normal entre jogadores após um jogo, a garota se lançou sobre ele e o beijou com muito entusiasmo, atraindo a atenção dos fotógrafos presentes, que momentaneamente esqueceram a captura do pomo de ouro.







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Comentários (1)

  • bebelbenedito

    F.A.L.E. sihnifica Fundo de Apoio a Libertação de Elfos-Domésticos, não Frente para a Libertação dos Elfos. mas mesmo assim eu estou AMANDO MUITO essa fanfic!!!

    2013-12-18
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