O GRANDE VÔO



Uma das coisas mais divertidas que disseram sobre a jovem ruiva é que ela despertava ronronando como um gato. Isso foi dito por um dos poucos namorados que Gina permitiu alguma intimidade após terminar com Harry e partir do coração do garoto. Na verdade ela acordava desse jeito quando estava feliz. Nas suas férias na Toca, quando sabia que o extraordinário café da manhã de sua mãe estaria esperando por ela. Nos sábados quando freqüentava a escola, quando havia visita a Hogsmeade. Agora, quando acordou e viu Harry Potter dormindo placidamente a seu lado. Seu Harry. Não o Eleito, o Escolhido ou “garoto que sobreviveu”. Apenas Harry, melhor amigo do seu irmão e da sua melhor amiga Hermione. O rapaz que ela amava.

- Bom dia – disse animadamente o rapaz, que acabava de acordar naquele momento, puxando-a para mais um beijo – Dormiu bem? – perguntou, parecendo muito feliz e relaxado.

- Você sabe que não dormi muito. Você também não – respondeu sorrindo após corresponder ao beijo, deixando o rapaz ligeiramente encabulado.

- Anh, Gina... você sabe que eu não tenho... sabe, bem, muita... – gaguejou Harry, começando a atingir diferentes tons de vermelho, o que Gina achava adorável e muito sensível da parte dele. Ela sempre havia odiado jovens que colecionavam garotas como se fossem figurinhas de sapos de chocolate. Não era nada mal encontrar um garoto tímido e sem experiência. E que se preocupava com a garota no dia seguinte.

- Você está preocupado por que não tinha experiência anterior nesses assuntos, não é isso? – perguntou a ruiva sem rodeios, olhando diretamente nos olhos do namorado, achando muito romântico o embaraço dele, mas se divertindo muito com isso. Afinal ela não era irmã de Fred e Jorge por acaso.

- Bem... sim – murmurou Harry num fio de voz que demonstrava uma ligeira preocupação.

- Foi fantástico! – disse a garota com franqueza. Havia sido mesmo. Ali estava um garoto que não precisava ser muito orientado nesses assuntos.

- Foi? – perguntou Harry inseguro.

- Cada uma das vezes – respondeu Gina no ouvido de Harry, os dois entregando-se a uma nova seção de beijos, que prometia não terminar tão cedo. Não apenas em beijos, é claro.

Foi nesse momento que o feitiço de tranca que Harry providenciara para a porta no dia anterior foi quebrado e uma eficiente Hermione Granger adentrou o quarto com todo o seu equipamento de medibruxa profissional. E reclamando:

- Harry, eu já falei para você levantar cedo e tomar o café da manhã. No seu estado você não pode pular refeições. A propósito: por que você trancou a porta? – a garota dizia tudo isso sem mesmo olhar na direção da cama, dirigindo-se para as cortinas a fim de abri-las e ao mesmo tempo examinando o seu equipamento médico.

- Curioso – ponderou a medibruxa – Os equipamentos que medem a condição mágica revelam um nível muito alto de energia despendido...

- Hermione! – exclamou Harry exasperado, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa a amiga o interrompeu.

- Que bagunça você e o Rony fazem nos quartos! Olhe essa roupa jogada... – foi aí que Hermione parou subitamente de falar, notando que as roupas espalhadas no chão não eram apenas do amigo. Havia ao menos duas peças que decididamente não eram de Harry, a menos que ele tivesse começado a usar roupas íntimas femininas. Finalmente ela olhou na direção da cama, percebendo uma forma indistinta sob as cobertas ao lado do amigo.

Harry, cujo rosto agora variava entre a cor rubra e o roxo escuro, tinha as cobertas puxadas até o pescoço. Gina havia se escondido totalmente sob o edredom, lamentando não ter à mão a varinha, pois tinha ganas de lançar um feitiço de silêncio na amiga. “Só falta aparecer o Rony agora”, pensou a ruiva contrariada. Alguns pensamentos nunca deveriam vir à tona. Aquilo que pensamos num momento constrangedor tem o desagradável costume de se materializar. A voz de Rony chamando pela namorada foi ouvida, perigosamente perto do aposento em que o casal (sem roupas) e a amiga se encontravam. Nesse momento Harry e Gina quase perdoaram a indiscrição de Hermione por entrar sem aviso no quarto. Movendo-se de maneira mais rápida do que um apanhador em busca do pomo, a garota postou-se no batente da porta e disse para o namorado, que estava prestes a atravessá-lo:

- Pode ir tomar o seu café, Rony. Eu ainda pretendo fazer alguns exames no Harry.

- Alguma coisa errada, querida? – perguntou Rony preocupado.

- Não, só exames de rotina, mas pode demorar um pouquinho – disse a profissional de saúde bruxa, de maneira mais casual que conseguiu, dando um beijo suave no ruivo.

Depois da porta fechada novamente por magia e de ter sido lançado um feitiço de silêncio no quarto, Hermione, agora com uma expressão divertida no rosto, virou-se na direção da cama e disse de maneira imperiosa:

- Muito bem, Gina Weasley, saia já dessa cama.
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Harry Potter era um jovem corajoso, ninguém duvidava disso. Com doze anos de idade matara um basilisco, fato que havia se tornado uma lenda no mundo dos bruxos. Com quatorze anos enfrentara um dragão, um rabo-córneo húngaro, o tipo mais mortal que existia. Com dezoito anos de idade liquidara Voldemort, o mais terrível bruxo das trevas que se tem notícia. Mas uma coisa sempre o assustou desde os tempos de escola: risadinhas femininas.

Às vezes pensava seriamente na possibilidade de entrar para a política só para proibir essa prática intimidante no mundo mágico, principalmente hoje, quando todas a s mulheres que habitavam a mansão pareciam dar risinhos à guisa de bom dia. Ele havia tido um mau pressentimento quando, após sair do quarto devidamente vestido, de banho tomado e examinado por sua amiga Hermione (que não parava de trocar risinhos com Gina, antes que a ruiva se retirasse) encontrara a treinadora Ivanova. Ainda no chuveiro ouviu um diálogo que quase fez com que se afogasse na água morna:

- Como sua melhor amiga e sua médica, vou querer saber de todos os detalhes, Srta. Weasley – disse sua amiga baixinho, fingindo seriedade – Inclusive os detalhes sórdidos.

- Que tipo de pervertida a senhorita se tornou, Doutora Granger? – retrucou a ruiva, aparentemente prestes a cair na gargalhada.

- Ah, do tipo bem normal, Srta. Weasley. Mas eu gostaria de lembrar de alguém que ficou exigindo detalhes há alguns anos atrás. E eu gostaria de lembrar ainda que havia um irmão envolvido na história.

Ambas caíram na risada. Alguns segundos depois a ruiva provavelmente fez algum sinal, talvez numérico para Hermione que abafou um gritinho de espanto.

- Esse número responde a sua pergunta? – perguntou Gina triunfalmente.

- UAU! – exclamou Hermione, aparentemente muito impressionada.

Ao descer a imponente escadaria da propriedade em direção ao térreo, ouviu Vera Ivanova vociferando para que o time se apressasse com o café.

- Você também, gatinho – disse gentilmente a búlgara para Harry. Depois, passando um braço sobre o ombro do artilheiro do time (era bem mais alta do que ele), falou num tom que apenas o jovem pudesse ouvir: - Eu não sou nenhuma puritana, Harry, mas por favor, da próxima vez que você e a ruiva dormirem juntos coloquem um feitiço de silêncio no quarto. Francamente, eu quase precisei tomar um banho frio...

Harry parou de andar e encarou a treinadora abismado. Era só o que faltava. Receber conselhos sobre sua vida sexual que mal se iniciara. Sem contar o fato da mulher mais velha chamá-lo de “gatinho”, como se ele tivesse a idade de Owen. Vendo seu espanto e o tom decididamente escarlate que o rapaz assumira, Vera deu uma gargalhada.

- Eu estou brincando, seu bobo! Os aposentos possuem isolamento mágico acústico. Eu apenas vi vocês dois entrando no quarto. Só não vão começar a fabricar harryzinhos por enquanto. O time precisa de vocês dois – disse a treinadora e depois se afastou, também dando risadinhas.

À mesa as coisas foram ainda mais constrangedoras. Para o imenso azar de Harry, apenas as garotas tomavam café naquele momento. Claro que Vera já havia feito o favor de espalhar as “boas novas”. Teve impressão que Helga também aconselhava Gina sobre o risco de “harryzinhos”, como faria uma irmã mais velha, enquanto Toledo e Amanda, namorada de Andy, não paravam de olhar na sua direção dando risinhos bobos.

Felizmente, nesse momento Draco Malfoy desceu para o café da manhã, pedindo a um dos elfos de serviço na propriedade apenas um café preto muito forte. Usava óculos escuros e tinha uma aparência de quem aproveitara bastante a noite anterior em Boston.

- Essas americanas! – murmurava de vez em quando – Potter, os caras tem razão – explicou o loiro – Elas ficam loucas quando ouvem um sotaque britânico. Imagine que elas...

- Eu não quero ouvir as suas aventuras, Malfoy! – interrompeu Harry contrariado.

- Humm... – caçoou o ex-sonserino – O senhor pureza em pessoa.

- Não na noite passada – cantarolou Toledo, cheia de mistérios, recebendo um olhar mortífero de Harry e de Gina.

- Sério? – perguntou Draco, subitamente muito interessado, tirando inclusive os óculos escuros – Eu perdi alguma coisa? – Depois, dando um olhar cheio de significados para o moreno e a ruiva, falou na sua tradicional voz arrastada: - Potter, eu sabia que havia um leão grifinório aí dentro desse “gatinho”.

As moças fizeram o possível para controlar o riso, mesmo Gina, que se acercou de Harry de maneira protetora e disse para Draco uma coisa bem desagradável, colocando em dúvida sua masculinidade. Mas a ruiva também se esforçava para ficar séria. Quanto ao artilheiro dos Cannons, esse deu a Malfoy um conselho bem pouco amistoso e absolutamente impróprio para menores. Felizmente as crianças M’Bea e o pequeno Dylan ainda estavam dormindo. Malfoy ainda gargalhava gostosamente quando o café pedido foi colocado à sua frente.
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Harry ficou observando as manobras de Toledo, Gina e Cole, que jogariam de artilheiros na partida contra as Harpias. Era um torneio triangular, onde atuariam contra o time galês e depois contra os Azulões, principal clube da Liga Norte-Americana, que incluía também as equipes canadenses. Depois, ainda haveria um amistoso contra a seleção dos Estados Unidos, que possuía três titulares que jogavam no time de Massachusetts, incluindo o capitão Max Brankovitch. Este fizera a cortesia de convidar a todos para um jantar na sua casa após a partida contra a sua seleção.

Cole era bem melhor como artilheiro do que como batedor. Não era genial como as duas garotas do time, ou como ele próprio se julgava, mas seria um reserva valioso. Rony estava no gol, tentando defender as goles arremessadas pelos três, enquanto Vera dava instruções do solo com um megafone mágico. Droga! Harry sentia falta daquilo. Hermione prometeu que seria liberado para o próximo jogo se continuasse se alimentando e se as crises diminuíssem. Conhecia a amiga. Jamais permitira que alguém subisse numa vassoura e voasse a quinze metros do solo sem estar totalmente em forma.

Mas ela havia permitido que treinasse um pouco com uma vassoura com um dispositivo de segurança. Vera encerrou o treino dos artilheiros e reuniu-se com Krum e M’Bea a fim de discutir táticas de defesa. Como Harry estava prestando atenção na conversa dos três, Toni fez uma expressão falsamente meiga, dizendo na sua inconfundível voz de barítono:

- Harry, por que você não vai no parquinho brincar com as outras crianças? – e apontou para Gina e Toledo que continuavam passando as goles uma para a outra, tentando confundir Rony.

Harry pegou a vassoura enfeitiçada para não cair (que eram proibidas nas partidas de quadribol) e deu um vôo rasante sobre o africano antes de se juntar a Toledo e à namorada, fazendo ainda um gesto obsceno para o batedor.

- Por que você falou assim com ele, Toni? – quis saber Ivanova, que sorria surpresa.

- Apenas observe – respondeu o africano.

O que Vera Ivanova viu naquele momento foi muito mais extraordinário do que a exibição dos artilheiros da Irlanda, que ela havia enfrentado no passado, na final da Copa Internacional de Quadribol. Se o que os irlandeses faziam havia sido chamado uma vez de “poesia sobre vassouras voadoras”, ela não tinha como descrever o que eram as evoluções de Harry, Gina e Toledo.

Era como se eles não pesassem nada e tivessem nascido para voar. A goles passava de mão em mão como se soubesse exatamente o que fazer e aonde ir. Houve um momento que a esfera praticamente não saiu do lugar e os três giravam em torno dela, apenas tocando na bola, impedindo que ela caísse, tão rápidos que poderiam deixar qualquer batedor ou goleiro hipnotizado. Finalmente Harry deu um giro no ar, de maneira tão surpreendente que ela praticamente não o viu se movimentar. No instante seguinte a goles passava pelo aro central e Rony nem havia se mexido. Vera não havia visto ainda os três treinando juntos. Aquilo era lindo, indescritível e emocionante. Era também quadribol de um nível absurdamente elevado. Era um show.

- Você! – apontou Vera para um assustado Harry que desmontava da vassoura – Você vai se recuperar nem que eu tenha que dar comida na sua boca no meu colo! Hum...pensando bem, isso não seria assim tão ruim, pelo menos para mim – divagou a treinadora.

- Hum-hum – pigarreou Gina Weasley, que acabava também de aterrisar.

- Tudo bem, a ruiva pode fazer isso – disse a treinadora de maneira resignada – Mas, eu quero vocês três jogando juntos. Vamos formar um time invencível!

Quando Harry, a namorada e a artilheira peruana se afastaram conversando alegremente, Vera, ainda muito entusiasmada com o que tinha visto, perguntou para Toni:

- Eles não fazem nenhuma idéia do quanto são bons, não é mesmo?

- Provavelmente não – concordou o africano.

- Caramba!! – exclamou a búlgara impressionada – Se eu fosse dona de um time de quadribol, eu pagaria qualquer coisa para ter um trio de artilheiros como esse.
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Fazia um tempo agradável nas imediações de Boston, onde um estádio de quadribol de porte médio havia sido construído. Os cerca de trinta e cinco mil lugares estavam todos ocupados por bruxos norte-americanos e turistas de várias partes do mundo, que pagaram preços até dez vezes maiores do que os normais no mercado negro para ver o renascido time dos Cannons, que enfrentaria as Harpias de Holyhead, único time do Reino Unido e uma das poucas equipes do mundo a jogar apenas com atletas do sexo feminino.

Ambos os times tinham muitos simpatizantes nos Estados Unidos. As Harpias pela sua singularidade, os Cannons por ter sido durante muitos anos o time de quadribol mais famoso do mundo. Bruxos de roupas laranjas destacavam-se nas arquibancadas e na área VIP do estádio, onde ases do quadribol e do trancabola (esporte parecido com o quadribol e muito popular nos E.U.A. e Canadá), artistas e famosos em geral aguardavam a apresentação, divertindo-se com conversas fúteis e apreciando os sofisticados canapés e drinques servidos pelos patrocinadores do torneio (Banco Gringotes, Vassouras Nimbus, TV Bruxa). Draco Malfoy flertava descaradamente com duas canadenses e uma famosa cantora bruxa pop americana ao mesmo tempo. Esta última, usando vestes bruxas tão justas que parecia completamente nua. Não que o loiro reclamasse da visão privilegiada que a roupa e a proximidade da garota ofereciam.

Dezenas de metros abaixo, no vestiário, Harry desejava sorte aos amigos e a Gina, morrendo de inveja por não entrar no campo de jogo com eles. Vera dava as últimas instruções e Toni alertava os artilheiros:

- Não fiquem parados na frente daquela vaca da Shapiro. Ela não tem problema nenhum em machucar as pessoas. Ela gosta disso.

- Ora, Toni! – reclamou Gina – Você não acha que eu tenho medo dessa idiota, não é mesmo?

- Ninguém disse que você tinha medo. Apenas não facilite. Eu conheço a figura – advertiu o africano.

Harry desejou boa sorte a todos e deu um beijo em Gina, recomendando também que ela tivesse cuidado. A ruiva apenas sorriu e bagunçou mais ainda o seu cabelo. Os Cannons foram instruídos a esperar em fila no túnel que dava acesso ao campo a apresentação que seria feita pelo sistema de som do estádio. Ao lado estavam perfiladas as garotas das Harpias no seu belo uniforme verde escuro. Brants, a capitã cumprimentou amistosamente todo o time laranja, inclusive Harry, que ficou no fim da fila, pois não queria aparecer mais do que aqueles que jogariam a partida.

A última jogadora da fila indiana formada pelas moças de verde era Vamp Shapiro, que encarava Harry com visível ar de desdém. Ela deu dois passos para o lado, ficando bem próxima do rapaz.

- Pena que você não vai jogar. Está doentinho, é? – perguntou, colocando todo o sarcasmo que poderia na voz. Harry preferiu não responder à provocação idiota, mas a batedora não desistiu: - Continuo achando que você não é grande coisa, sabe?

- E eu continuo não me importando com o que você acha – respondeu o jovem bruxo.

- Quem sabe se eu não poderia ensinar algumas coisinhas para você. Talvez aquela ruiva ali fique contente... – sussurrou maldosamente bem próximo ao ouvido de Harry. O rapaz a encarou com ar de nojo e estava pronto para dar uma resposta decididamente mal educada, quando Toni, abandonando a dianteira da fila, colocou-se entre os dois. Gina olhava-os de maneira interrogativa.

- Seu time está sendo chamado, Shapiro – disse o africano friamente, recebendo um sorriso zombeteiro da jogadora.

- Sempre protegendo os outros, não é M’Bea? – caçoou ela.

- Se você machucar alguém do meu time, eu juro que parto você em pedaços – disse bem baixo Toni M’Bea, mas as palavras soaram pesadas e duras, não dando margem à duvidas sobre a seriedade delas.
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Harry sentou-se no lugar próximo ao campo destinado à comissão técnica. Vera e Hermione estavam ao seu lado. A medibruxa bastante nervosa, enquanto a treinadora não parava de disparar instruções com o seu megafone mágico. O jogo havia começado bem para os Cannons. Gina e Cole marcaram dois belos gols de saída e Rony já havia realizado duas grandes defesas. Ao marcar o terceiro gol, anotando trinta a zero para o time laranja, Toledo foi acertada por um balaço disparado ilegalmente por Shapiro, depois do arremesso ter sido realizado. Hermione xingou em alto e bom som a batedora, assim como uma parte considerável do estádio. Houve, entretanto, alguns aplausos. A americana era realmente popular, pensou Harry amargurado. Muitos torcedores incentivavam a sua deslealdade e até pediam mais jogo sujo.

- ATAQUE ILEGAL A ARTILHEIRA DOS CANNONS – anunciou o locutor do estádio – PÊNALTI PARA O TIME LARANJA.

Depois de recuperar o fôlego e flexionar o braço atingido, a peruana atirou a goles no aro, fazendo quarenta pontos a zero para os Cannons. Shapiro continuava a discutir com o juiz da partida, que perdeu a paciência e marcou um novo pênalti, convertido agora por Gina.

- CINQUENTA A ZERO PARA OS CANNONS – anunciou o locutor oficial – ATÉ AQUI UMA GRANDE ATUAÇÃO DOS ARTILHEIROS DO TIME INGLÊS.

Brants era uma boa batedora, que procurava desarmar os artilheiros adversários sem atingi-los mais do que o necessário. Toni e Andy também. Mas Shapiro era decididamente perversa. Voando ao lado de Cole, deixou de lado o bastão e os balaços e acertou uma cotovelada no rosto do jamaicano, levando ao delírio uma parte do público. Aquela parte sedenta de sangue.

- NOVO PÊNALTI PARA OS CANNONS – anunciou mais uma vez o locutor – VAMP SHAPIRO ESTÁ ÓBVIAMENTE EXAGERANDO NA VIOLÊNCIA, INCLUSIVE FOI AMEAÇADA DE EXPULSÃO PELO ÁRBITRO DA PARTIDA.

Algumas vaias foram ouvidas na arquibancada, mas foram sufocadas pelos gritos e aplausos dos torcedores do time laranja quando Cole, que precisou ser contido por Toni e Andy para não revidar a agressão, marcou mais um gol.

- A TREINADORA DAS HARPIAS PEDE TEMPO, SENHORAS E SENHORES – anunciou o sistema de som do estádio – OS CANNONS VENCEM FACILMENTE POR SESSENTA A ZERO.

- Eu mesma vou pegar uma vassoura e matar aquela vaca! – vociferou Ivanova quando os jogadores aterrisaram na área técnica – Por favor, tomem cuidado com essa Shapiro.

- Se ela machucar algum dos meus jogadores, eu juro que lanço uma maldição imperdoável naquela megera! – disse Draco Malfoy, que havia aparentemente se cansado da cantora pop e havia se juntado a Harry, Ivanova e Hermione.

- O que foi, ruivo? – perguntou Vera quando viu Rony mexendo na sua vassoura Nimbus novinha.

- Esse modelo novo – disse Rony contrariado – Ele dificulta algumas manobras. Aquela última goles quase eu não consigo defender, a vassoura travou.

- Como assim travou? – perguntou Hermione, praticamente em pânico.

- Pegue a sua vassoura antiga, Weasley – ordenou Malfoy – Dane-se o contrato com a Nimbus. Não quero o goleiro do meu time sendo morto por uma vassoura defeituosa.

Rapidamente Harry estendeu ao amigo uma vassoura antiga sobressalente e recolheu a defeituosa. Mais uma vez ele disse para Gina ter cuidado com Vamp Shapiro. Estava com um mal pressentimento. Do outro lado do campo, Dayse Peters, antiga artilheira da seleção galesa e atual treinadora das Harpias não parecia muito satisfeita com a batedora do seu time, pois seus gritos com ela podiam ser ouvidos da arquibancada. Provavelmente os pênaltis seguidos contra o time galês não tinham deixado a treinadora muito contente.

Na volta dos times, as artilheiras do time galês começaram a dar trabalho à defesa dos Cannons, forçando Rony a fazer uma seqüência de grandes defesas, que arrancaram aplausos delirantes dos torcedores. Num contra-ataque rápido, Gina marcou um gol espetacular, fintando duas artilheiras, escapando de um balaço atirado por Brants e enganando a goleira das Harpias.

- ESPETACULAR A JOGADA DA GAROTA WEASLEY! SETENTA A ZERO PARA OS CANNONS!

Ao voar próximo a Shapiro, Gina virou-se rapidamente, certamente para responder a alguma provocação da norte-americana. Agora Toledo segurava Gina, que parecia decididamente disposta a partir para briga. A discussão rendera um pênalti para cada lado, ambos convertidos, ficando o placar oitenta a dez para os Cannons. Dois minutos depois Cole marcou mais um gol, aumentando a vantagem. Harry torcia para Krum apanhar rapidamente o pomo, pois continuava com mal pressentimento.

Dez minutos mais tarde, quando o placar apontava cem a vinte para o time laranja, a torcida de Harry parecia ter dado resultado. Num vôo sensacional, quase nos limites do campo, a menos de um metro do chão, Vitor apanhou o pomo, encerrando a partida e recebendo os aplausos dos torcedores. A cerca de doze metros de altura, Gina e Toledo comemoraram a apanhada no exato momento que Shapiro cruzava com Gina no ar. Vera, Draco e Hermione ainda pulavam e se abraçavam e apenas Harry, que não tirava os olhos da namorada, presenciou o que se passaria a seguir.

Distraída com a comemoração, a ruiva não percebeu a princípio que a batedora das Harpias levantava ameaçadoramente o bastão na sua direção. Para o rapaz a cena desenrolou-se como em câmera lenta. O bastão da batedora descendo na direção de Gina. Esta, com seus reflexos rápidos, desviou-se, evitando o golpe, que entretanto acertou algum dispositivo do cabo da vassoura, que disparou sem controle pelo campo. Na direção de um paredão que ficava atrás dos aros que estavam sendo defendidas pela goleira das Harpias. Provavelmente era uma barreira separando o campo da pequena cidade trouxa que ficava a poucos quilômetros.

A distância era muito grande para um feitiço de desaceleração e a ruiva rumava a toda velocidade para o muro. Poucas pessoas haviam percebido. Uma delas era Toledo, que gritou, apavorada demais para tentar um salvamento. Foi nesse momento que entrou em ação aquilo que Rony chamava na guerra de “Modo Harry”. Sem pensar, sem nem mesmo ter um plano, Harry montou na vassoura que Rony havia deixado com ele e acelerou espetacularmente na direção da namorada.

Como excelente piloto que era, de alguma forma Gina havia conseguido fazer um semi-círculo, evitando a princípio o choque. Mas a vassoura descontrolada rumava de novo rumo à parede com maior velocidade. Agora todos perceberam o que havia se passado.

- Droga, o Potter pegou a vassoura com defeito! – gritou Draco, quase histérico.

A maioria das pessoas fechou os olhos esperando um choque devastador da artilheira dos Cannons contra o paredão atrás dos aros. De repente uma outra vassoura se interpôs entre a garota e o muro e apenas a vassoura da ruiva concretizou o impacto, sendo feita em pedaços. Harry segurava Gina nos braços no instante seguinte, recebendo uma ovação ensurdecedora do público. Poucos perceberam que ao fazer a curva fechada para apanhar a artilheira, seu ombro havia se chocado com violência contra a muralha, quase derrubando-o da vassoura e atirando-o contra o aro central, de onde se desviou no último momento, não sem um impacto bastante doloroso, pois usara o pé esquerdo sobre o aro para evitar um choque de corpo inteiro, arremessando a vassoura para cima.

Ao fazer uma nova curva fechada, percebeu em pânico que a vassoura, como havia lhe dito Rony, simplesmente travara e rumava agora desgovernada em direção às arquibancadas. Numa atitude desesperada, Harry conseguiu baixá-la, desacelerando-a por poucos segundos a cerca de dois metros do chão, soltando Gina, que caiu no gramado, rolando alguns metros, mas se levantando em seguida, gritando por ele. Não conseguia virar a vassoura para o lado direito, para longe das arquibancadas. Seu braço direito estava dormente, reflexo certamente do ombro quebrado por causa do impacto contra o muro. Seu pé esquerdo latejava, provavelmente também quebrado. Gina pelo menos estava bem, como podia ver.

Num último e desesperado gesto tentou saltar da vassoura, que totalmente sem controle, ganhara de novo velocidade e altura. Aquilo certamente iria doer muito e poderia ser fatal. Então Harry sentiu uma esperada e desagradável explosão de dor num momento e no outro tudo ficou frio e escuro. Havia realizado o vôo mais difícil e perigoso da sua vida.
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BEM, ESSE CAPÍTULO DEMOROU MAIS DO QUE EU PLANEJAVA. OUTRA GRIPE (A SEGUNDA EM POUCO TEMPO. EU ODEIO INVERNO!). PROMETO NÃO DEMORAR PARA POSTAR O PRÓXIMO.

AH, SIM: O QUE ACONTECEU COM HARRY?








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