Maybe Tomorrow



Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D




Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 22: Maybe Tomorrow


Já com o banho tomado e a roupa trocada, preparava-me para sair do meu apartamento quando o patronus da minha irmã apareceu mesmo à minha frente, assustando-me.


'Temos de adiar. Muito ocupada. Desculpa.'


A voz grossa e quase fantasmagórica do patronus - que nada tinha a ver com a da minha irmã e muito menos com o animal cujos contornos prateados se afiguravam à minha frente –, ecoou vagamente no meu hall de entrada e depois desapareceu, arrastando atrás de si um brilho metálico.


Dando-me então conta que já não tinha de passar por S. Mungus, decidi dar um pequeno passeio pela Diagon-Al, olhando as montras e quiçá fazendo algumas compras. Como tinha tempo, saí do meu apartamento calmamente e comecei a atravessar, a pé, as ruas da Londres bruxa, que naquele sábado de manhã estavam tão atarefadas e alegres como sempre.


Com um sorriso a bailar-me nos lábios, apercebi-me de que finalmente conseguira obter daquele mundo que era o meu, aquilo que aquele meu mundo nunca me deixara conseguir, por uma razão ou outra: uma enorme tranquilidade, um estado de espírito mais elevado, uma clarividência que nunca tinha experienciado antes. Compreendi também, quase imediatamente, que, no entanto, o facto de ter atingido aquele nirvana trazia óbvias consequências. Quais? Não sabia dizer, naquele momento. Tudo aquilo era novo para mim. Sentia-me uma criança. Olhava em volta e reparava em tudo como se da primeira vez se tratasse. Todas as divisões de mim gritavam em êxtase: estavam finalmente completas. Totalmente mobiladas e com as paredes pintadas e sem qualquer mossa.


Podem pensar que estou a exagerar, mas depois de tantos anos no escuro, na conformidade, na rotina, na infelicidade, no tédio, com papéis de parede rasgados e paredes esburacadas, sentir-me daquele modo era absolutamente fantástico. Ondas de felicidade percorriam-me desde a ponta dos cabelos às unhas dos pés. Os pêlos dos meus braços e do meu pescoço estavam eriçados, desta vez não de medo, de insegurança nem de raiva, mas sim de alegria, esperança e expectativa. Começava a achar que podia dar-me ao luxo de esperar que o amanhã fosse não tão bom quanto aquele dia, mas melhor. Muito melhor. Definitivamente melhor.


Oh, é claro que eu não era ingénua. Era nova, sabia que ainda teria que suportar alguns (se não muitos!) dissabores até ao fim da minha vida. Tinha noção de ainda iam aparecer pessoas com martelos pneumáticos, e situações tão más que nem precisariam de qualquer ferramenta para me destruir as paredes. Só que, há uns tempos, acharia que teria de as defender sozinha, como em tudo o que acontecera até àquele ponto da minha vida. Mas agora sabia que teria Alguém para passar por tudo comigo. Alguém que eu amava com todas as células do meu ser e que me amava de volta. Alguém esse que era precisamente o causador de toda aquela minha felicidade, de todo aquele meu novo sentir.


Quando, há noites atrás, eu entrara num qualquer pub para me embriagar até esquecer os problemas, vira o álcool como uma possível salvação. E ele salvara-me, é certo, mas apenas até certo ponto. Tinha sido um remendo temporário nas minhas paredes, que ameaçavam desmoronar completamente, de tão debilitadas que estavam. E eu conseguia sentir isso, conseguia sentir que apenas metade – talvez até menos! – das minhas divisões estavam próprias para ser usadas. No entanto, vivera assim tanto tempo, a funcionar a meio gás (ou melhor, com paredes esburacadas e cheias de remendos mal feitos), que aquele sentimento era familiar e já quase não me fazia diferença. Habituara-me a ele, como a tudo o resto na minha vida. Mas isso acabara.


Reencontrara o meu centro. Reaprendera a amar. Revira tudo debaixo de uma nova luz, muito mais brilhante e resplandecente do que aquela que me iluminara durante quase toda a minha vida. Sorri, pronta a abraçar o meu novo ser.


Eu acabara de renascer.




 


Faltando dez minutos para a hora marcada, entrei alegremente no Três Vassouras. Estava relativamente vazio. Os alunos de Hogwarts tinham começado o ano lectivo há apenas uma semana e, se bem se lembrava, não havia visitas a Hogsmeade antes do fim do mês. Rumei até uma mesa mais ao fundo, pedi uma caneca de cerveja de manteiga a Madame Rosmerta e observei as pessoas, perdida em pensamentos.


Lembrei-me de que naquela noite teria que ir jantar com Narcissa Malfoy. Ri-me levemente. A última vez que vira Mrs. Malfoy as coisas não tinham corrido nada bem. Esperava sinceramente que ela tivesse mudado, saído daquele torpor imposto por Voldemort. Só Merlin sabia como eu mudara. Bom, é claro que não em tudo. Ainda continuava eu, apesar de tudo. A impulsividade e, muitas (demasiadas) vezes, a imprudência, permaneciam comigo. Continuava a adorar ler, viajar e ser jornalista. E ainda era leal àqueles pelos quais nutria mais respeito. Suspirei. No entanto, eles pareciam não me retribuir essa lealdade.


Não estava realmente zangada com eles. Apenas desiludida. E não por Adam e James, e Daphne e Thomas estarem juntos. Aliás, essa realidade até me deixava bastante feliz. Mas sim por me terem escondido isso. Sinceramente, não percebia o que raio se tinha passado na cabeça deles. Ok, eu também nunca lhes dissera nada sobre eu e Draco em Hogwarts. Contara apenas a Claire porque, no que me dizia respeito, e apesar de não passar assim tanto tempo comigo, a minha irmã era assustadoramente perspicaz. Nada dissera a Thomas, mas sendo o melhor amigo de Draco, este devia-lhe ter contado logo desde o início. Pensei no quão bom actor o meu irmão era.


Fosse como fosse, a dúvida permanecia. Teria sido eu? Algo que eu, em algum momento, tivesse dito sem medir as minhas palavras? Ou feito, sem pensar nos meus actos? Não me lembrava de ter dito ou feito nada que pudesse fazer os meus melhores amigos e a minha família pensar que eu era alguma espécie de homofóbica ciumenta, ou algo do género.


Madame Rosmerta pousou a cerveja de manteiga que eu pedira à minha frente no momento em que o sininho da porta da frente avisou os presentes da entrada de mais clientes. Olhei nessa direcção para constatar que esses clientes eram Daphne, Adam, James e Thomas. Agradeci à boa senhora com um sorriso e tornei a olhar para eles, que entravam a medo no pub, ainda sem me ver. Suspirando, ergui a mão direita e acenei levemente. James reparou imediatamente em mim e avisou os outros, começando depois a andar rapidamente na minha direcção, cada um com o semblante mais cheio de culpa que o anterior. Ri-me, enquanto eles se sentavam ao meu lado e à minha frente, olhando confusos para mim.


- Por Merlin, não vêm para o purgatório! – exclamei, dando depois um golo na minha cerveja. – Descontraiam.


Eles pareceram relaxar um pouco com as minhas palavras, mas o silêncio continuava. Perguntei-lhes se queriam beber alguma coisa, ao que todos me responderam com um redondo não. Bom, eu tinha a tarde toda livre, podia ficar simplesmente calada até eles decidirem dizer alguma coisa, qualquer coisa. No entanto, eles pareciam-me tão envergonhados que eu decidi dar o primeiro passo.


- Então, vão contar-me o que andei a perder?


E com isto, começaram todos a falar ao mesmo tempo. Eu olhava confusa de um para outro, não percebendo absolutamente nada do que eles estavam a dizer. Eles não pareciam, de todo, divertidos, mas eu tive de me rir perante aquela situação.


- Ei, calma! – disse, por cima das vozes deles, fazendo-os calar. – Um de cada vez, por favor. Thomas, comecemos por ti.


O meu irmão e a minha melhor amiga, sentados lado a lado à minha frente, ruborizaram ligeiramente e olharam um para o outro. Daphne assentiu e Thomas aclarou a garganta antes de começar a falar.


- Eu e Daphne estamos juntos desde aquela noite, na herdade. – assenti, percebendo que ele se referia à noite em que eu lera as cartas de William e Aled. 'Merlin, aconteceu muita coisa nessa noite'.


- Mas já estamos apaixonados há muito tempo. – acrescentou Daphne, em voz baixa. Revirei os olhos.


- Por Merlin, Thomas, quantos anos andei a dizer-te que devias continuar com a tua vida? Se estavas apaixonado por Daphne, porque é que não disseste logo?


- Porque eu pensava que ela não sentia o mesmo por mim. – respondeu-me o meu irmão, como se fosse óbvio. Notícia do dia, Tom: não era nada óbvio.


- Mas Daphne acabou de dizer que já estão apaixonados há muito tempo. – Vi a minha melhor amiga suspirar.


- Há sete anos. Desde Hogwarts. Também estivemos juntos nessa altura, tal como tu e Draco. – explicou-me ela, sucintamente. Arregalei os olhos, pensando em como tinha mesmo de treinar o meu radar no que tocava a namoros e coisas do género.


- Bom, isso explica muita coisa. – admiti. Ambos olharam para mim, confusos. – Daphne, eu podia andar irritantemente apaixonada pelo teu primo, mas não sou completamente distraída. Dava-me conta que desaparecias durante horas seguidas.


- Então e nunca disseste nada? – encolhi os ombros.


- Imaginei que fosse um rapaz. E como não tinhas estado com ninguém depois do Robert, pensei que talvez quisesses o teu espaço. – fiz uma pausa, sorrindo. – E também porque não queria que soubesses que eu andava a escapulir-me tantas horas quanto tu.


- Eu sabia que te escapulias. E sabia que era um rapaz. Mas nunca iria adivinhar que era o Malfoy. – comentou James. – Só descobri depois, por puro acaso.


- James ouviu-nos a conversar na torre de astronomia, Ci. Dois dias antes da batalha, lembras-te?


- Lembro, claro. Mas eu não falei de Draco. – James sorriu.


- Mas mentiste a Daphne. Pelo menos, em parte. O meu Dom fez o resto.


- Daqui a pouco lês pensamentos, como eu.


- Já o faço, apenas não da mesma maneira que tu. – fixei-o, espantada.


- Mais um upgrade? – ele assentiu. – Conta lá, então. Isto faz o casório de Daphne e Tom perder completamente a piada. – acrescentei, olhando para eles com um sorriso maroto. James riu.


- Bom, posso-te dizer que estás a mentir. Na verdade, o que queres é mesmo saber porque é que a relação de Daphne e Thomas acabou em Hogwarts. Ah, e também queres saber, se eles namoravam, como é que Alexis entrou na história. – respondeu, desta feita fazendo-me mesmo abrir a boca em estupefacção.


- Eu nem sequer estava a pensar isso!


- Não tem a ver com o teu pensamento consciente. Tem a ver com o subconsciente. Os verdadeiros desejos, aqueles que umas vezes camuflamos de propósito, e outras nem sabemos que existem. – disse ele, erudito.


- Isso é fantástico! Absolutamente soberbo, Jamie. – ele fez uma pequena vénia com a cabeça.


- Um elogio sincero. Obrigado, cara prima.


- Não tens de quê. – olhei para o meu irmão. – Retomemos a tua história, Thomas. Achas que podes responder às perguntas que o James disse, e muito acertadamente, que eu tinha?


- Penso que sim. – ele respirou fundo antes de continuar. – Eu e Daphne não tínhamos aquilo que tu tinhas com Draco. Vocês namoravam, ainda que ninguém, excepto eu e Merlin, soubesse. Eu e Daphne estávamos profundamente apaixonados, mas nunca nos beijámos, nem sequer uma vez.


- Porquê! – inquiri, extremamente confusa.


- Porque nunca dissemos um ao outro aquilo que sentíamos. – esclareceu Daphne. – Ambos sabíamos, claro, era óbvio. Mas nunca o dissemos em voz alta. E isso acabou por matar a nossa 'não-relação'.


- Eu planeava declarar-me a Daphne no dia da formatura. – continuou Thomas. – Mas quando o ia fazer, deparei-me com Daphne abraçada a outro rapaz. – Suspirei, percebendo o que tinha acontecido a seguir.


Afinal, ele e Draco até eram parecidos. Draco dormira com Liz por pensar, erradamente, que eu não retribuía os seus sentimentos. Thomas ficara com Alexis por pensar exactamente o mesmo de Daphne. No entanto, eu sempre achara o meu irmão incrivelmente devotado à rapariga que durante muito tempo eu encarei como minha cunhada, embora nunca o tenha sido oficialmente.


- Esse rapaz, Ci, se bem te lembras, era Pierre. – elucidou Daphne, despertando-me das minhas divagações.


- O afilhado da tua mãe, certo? – ela assentiu. Olhei de novo para o meu irmão. – Deixa-me adivinhar: viste Daphne íntima com outro rapaz e não puseste a hipótese de que fosse família? Dado, Thomas, que estávamos numa formatura? – ele suspirou.


- Fiquei completamente desorientado. E quando me dei conta, Alexis estava a meu lado a dizer que me amava.


- Eu pensei que Tom não me tivesse dito nada naquela noite talvez porque planeava despedir-se no dia seguinte, longe de olhares curiosos. Mas isso não aconteceu. E um tempo depois, vieste-me contar extremamente contente que o teu irmão se tinha finalmente apaixonado. – terminou Daphne, olhando para mim com um sorriso triste.


- Se eu soubesse o que sentias por ele, é lógico que nunca teria dito nada. E se eu fizesse ideia do que de quem ele gostava verdadeiramente eras tu, nunca o teria deixado cometer a imprudência de deixar a sua relação ficar séria com Alexis. Eu gostava muito dela, não quereria vê-la magoada.


- Não penses que não amei Alexis, Narcissa. Porque amei, muito mesmo. – disse ele, um tudo ou nada ríspido. Abanei a cabeça.


- Não foi isso que quis dizer. Eu sei que a amavas. Eu estava contigo no dia em que ela morreu, lembras-te? A dor que vi nos teus olhos não era falsa, Thomas. – suspirei. – Era a mesma que bailava por detrás dos meus.


Fez-se um pequeno silêncio enquanto todos nós absorvíamos a informação dita até àquele momento. O caso Daphne - Thomas estava arrumado. Eles tinham um passado e, tal como eu e Draco, nunca o tinham esquecido. E agora, também tal como eu e Draco, estavam juntos e felizes.


- Bom, suponho que agora é a vossa vez, meus caros. – disse eu, quebrando o silêncio, olhando de Adam para James.


- Adam, queres fazer as honras? – o meu amigo riu.


- Claro. – olhou para mim, ligeiramente envergonhado. – Vou fazer-te um resumo, está bem?


- Como quiseres.


- Como já deves ter percebido, nós somos homossexuais. Praticamente desde que nos conhecemos como gente. – fez uma pausa. – Quando te conheci em Hogwarts, já o sabia. Não te contei por não confiar em ti, mas porque prometera a mim mesmo que os primeiros a saber seriam os meus pais. E também porque achava que, dado que o apocalipse se aproximava, não era boa altura para fazer tal declaração. – acrescentou ele, no seu típico tom de 'é óbvio, mas eu vou dizer na mesma só para o caso de não estares a acompanhar'. Nesse momento apercebi-me de que isso era extremamente gay. Como é que eu tinha deixado aquilo passar-me ao lado durante tanto tempo!


- Compreendo. Então por que é que me convidaste para o baile? – perguntei, rindo. Ele encolheu os ombros.


- Apetecia-me ir e gostava de ti. Acho que é o melhor dos motivos. – sorri-lhe.


- Concordo. Continua a tua história. – ele suspirou.


- Bom, eu não fazia ideia de que James era gay até há uns meses atrás. Apercebi-me disso no aniversário de Claire.


- Ninguém fazia ideia de que James era gay até há bem pouco tempo. – comentou o meu irmão. James colocou as mãos unidas em cima da mesa antes de falar.


Adam aproximou-se do meu ouvido e disse baixinho que tinha sido por causa daquele mesmo gesto que ele se apercebera da homossexualidade do meu primo. Sorri.


- A razão pela qual não vos disse é simples: eu conheço-vos, meus caros. Quando Adam vos contar a história toda, tenho a certeza de que terei uma mão cheia de inimigos e vai-se realizar um motim. – toda a gente olhou confusa para ele, mas depois os olhares voltaram-se para Adam.


- Eu e James estamos juntos também desde a noite na herdade. Parece esquisito, eu sei, com tudo o que aconteceu nessa noite. – disse ele, ecoando os meus pensamentos de há pouco. – Mas com estas coisas não dá para perder tempo. – terminou, com um sorriso.


- Então e é agora que nos vais revelar a razão para que o meu querido primo tivesse mantido segredo por tanto tempo? – Adam respirou fundo e vi uma rugazinha formar-se na sua testa. O motivo, fosse lá qual fosse, irritava Adam profundamente.


- James não cumpriu as regras do código dos gays. – apesar da expressão séria de Adam, comecei a gargalhar, sendo seguida por Daphne e Tom.


- Desculpa, Adam, continua. – disse eu, olhando para ele. Ele sorriu-me.


- Segundo o código – que é totalmente metafórico, Ci -, é aconselhável que se dê aos pais algum espaço de manobra antes de lhes revelarmos que não vamos chegar a casa com uma noiva pelos braços. Nunca. – fez uma pausa. – Temos de ir dando algumas dicas subtis e preparando-os mentalmente para a declaração final. Eu fiz isso com os meus pais. E, por isso, eles até aceitaram tudo bastante bem.


- Depreendo que James não fez tal coisa. – interrompeu Daphne. Foi James quem lhe respondeu.


- Como devem saber, sou só eu e a minha mãe. Portanto, seria sempre mais complicado de lhe contar, apenas porque ela não teria ninguém em quem se apoiar.


- Aled estava vivo até '99. – atestei eu. Ele suspirou.


- Sabes bem que a minha mãe e o meu avô nunca se deram bem.


- E os meus pais? – questionou Thomas.


- O teu pai odeia a minha mãe. A tia Julie acha-a ligeiramente insuportável. E Narcissa também não é grande fã. – disse, olhando sorridente para mim.


- Não me vale de nada mentir, pois não? – inquiri, rindo.


- Não, nada.


- Então, mas a tua mãe ainda não sabe? – questionou Daphne.


- Claro que sabe. Eventualmente, tive de lhe contar. Infelizmente, fi-lo mesmo antes de me ser entregue a responsabilidade de Supremo Juiz. – Fiz um esgar confuso.


- Infelizmente? Isso não devia até atenuar a grandeza da revelação da tua opção sexual?


- Sim, claro, se não houvesse um pequeno problema.


- O pequeno problema, é que vocês os dois são os únicos com Dons em Inglaterra e arredores. – interrompeu Adam, olhando em seguida para mim. – Contigo não há problema. Em primeiro lugar, porque o teu Dom não é muito importante para o mundo mágico, pelo menos não agora que estamos em paz. E, por isso, também não há problema que só de transmita de avó para neta. E em segundo lugar, porque és mulher. Ter filhos é uma coisa natural para ti, sendo homossexual ou não. – eu continuava sem perceber patavina.


- Não estou a compreender. Estás a dizer que James não nos contou isto tudo porque tem de ter filhos? Isso faz sentido?


- O Verita é um Dom que passa de pai ou mãe para filho ou filha. Não há restrições de hereditariedade. – disse James.


- Sim, eu sei, e então?


- Cissa, quando ele morrer, quem achas que vai tomar conta da justiça no nosso país? – disse Thomas, de repente. Uma luz acendeu-se na minha cabeça.


- Estás a dizer-me que te vão obrigar a procriar apenas para que o teu Dom não se perca? – perguntei, tão espantada quanto repugnada.


- Exactamente! – confirmou Adam. – E Kathryn adora essa ideia. Tanto que até conseguiu convencer James que é a sua responsabilidade deixar descendência. Para que a Inglaterra fique sempre livre de qualquer criminoso! – exclamou, dramático.


- A tua mãe é louca, James. – ele suspirou e revirou os olhos.


- Mesmo que não possas mentir, um bocadinho de cortesia é sempre bem-vinda, Cissa.


- E tu também estás completamente fora de ti. – continuei, ignorando-o. - Para alguém tão inteligente, como é que isto pode fazer sentido na tua cabeça?


- Veritas Caussa Beatitas. – respondeu ele, simplesmente. Bufei.


- Isso é deturpar o lema pelo qual o teu avô vivia. – ele olhou-me, sério.


- De todo. É levá-lo à letra, tal como ele fez. É assumir a responsabilidade que recai sobre os nossos ombros, Cissa, os meus e os teus. Embora no teu caso, o peso da dita seja mais leve. Por enquanto.


- Andas a viver enganado se achas que vou dizer a alguém quando e se – e este é um enorme se – tiver o Dom da Visão. – respondi-lhe, recostando-me na cadeira e cruzando os braços.


- Tens de dizer, Narcissa. Vais saber o futuro das pessoas. E se vires alguma tragédia? – encolhi os ombros.


- Se estiver dentro das minhas capacidades, resolvo-a sozinha. – Dei um dos sorrisos convencidos de Draco. – E há muito pouco que, hoje em dia, não esteja dentro das minhas capacidades.


- Acho que estás a tomar a decisão errada. – continuou James.


- Achas? Achas que se as pessoas souberem que eu posso ver o futuro não tornarão a tratar-me como um animal de circo? Achas que sabes o que vai acontecer se eu vir um futuro, lhes contar, e depois esse futuro não se concretizar? – suspirei. – Toda a minha vida, tudo o que eu sempre quis foi um pouco de normalidade. Finalmente, consegui isso. Não penses que vou deitar tudo a perder por causa de um Dom que nem sei se vou possuir.


Tornou a fazer-se um silêncio incómodo. Dei mais um gole na minha cerveja e esperei que algum deles falasse.


- Não há mais nenhum assunto na ordem de trabalhos de hoje? – disse Adam, depois de uns segundos.


- Só um. – respondeu Thomas, fazendo-nos olhar todos para ele. – É sobre os nossos pais, Cissa. Hoje de manhã falei com eles e ficou tudo perdoado. – Sorri-lhe, contente.


- Fico muito feliz por ti, Tom. – ele olhou para James, a medo.


- Ela está a dizer a verdade.


- E com Claire também já está tudo resolvido. – fez uma pausa. – Só faltas tu.


- Thomas… - comecei, mas ele continuou a falar.


- Eles estão mesmo arrependidos, Cissa. Tudo o que querem é ter a família de volta e…


- Tom. – disse eu, levantando a mão direita, fazendo-o parar de falar. – Eu acredito no quão arrependidos eles estão. E aqui o Jamie pode comprovar a veracidade das minhas palavras. – o meu primo assentiu. – Mas não quero uma relação com eles. Não agora.


- Mas Cissa, se é por orgulho…


- Não tem nada a ver com o meu orgulho, Thomas. – suspirei. – Eu compreendo o que eles fizeram quando éramos mais novos. Não concordo, mas compreendo. E o facto de eu não querer uma relação com eles agora, não significa que não vá querer amanhã. Ou para a semana. Ou daqui a um mês ou um ano. Não lhes guardo qualquer ressentimento. Quando descobri as cartas, talvez tivesse guardado. Mas agora tudo mudou.


- Draco. – disse Daphne, simplesmente. Olhei-a e sorri.


- Eu só quero ser feliz, Thomas. Tal como tu. E, de momento, William e Julie não entram no meu ideal de felicidade. – ele suspirou, ao fim de uns segundos.


- Talvez amanhã? – perguntou, com um sorriso. Estendi a mão e pousei-a em cima da dele.


'Pode ser que seja hoje
Pode ser que hoje não
Pode ser que o destino se arme em brincalhão
Pode ser que ganhe um passe ou vá directo para a prisão
Sem passar pela partida e ganhar o meu quinhão


- Quem sabe? É um mistério!


Pode ser que ganhe juízo
Pode ser de improviso
Pode ser que arranje um guizo
para seguir o (teu) sorriso
Pode ser que seja hoje
Pode ser que hoje não
Pode ser que o destino se arme em brincalhão'
(Um Dia Destes – Da Weasel)




N/A: 'o código dos gays' é uma lista de algumas 'regras' que fui aprendendo ao longo de anos de convívio com uma melhor amiga gay x). Mas se alguém se sentiu ofendido peço muitas e encarecidas desculpas.


Isto está mesmo quase a acabar :o. Já tenho outra fic delineada, e da qual já escrevi metade. Mas os bloqueios criativos...vocês sabem como é.


Continuem a ler, sim? E deixem comentários (:


Love,
~Nalamin


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