Fly Away



Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D




Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 25: Fly Away


- Pára imediatamente de te preocupares comigo, mãe.


A voz de Scorpius despertou-me dos cenários loucos que eu estava a imaginar na minha cabeça enquanto o ajudava a fazer as malas para o seu quarto ano em Hogwarts. Ora, é claro que eu tinha de fazer aqueles filmes, é isso que as mães fazem! Olhei na sua direcção para verificar que nem sequer se dignara a olhar para mim quando falara. Porque, ao contrário do que acontecia comigo, não lhe era necessário.


Tinha sido poucos dias após o seu quinto aniversário que percebêramos que ele herdara o meu Dom. Ou, pelo menos, uma mutação qualquer do mesmo. Scorpius, tal como eu, possuía extraordinárias habilidades mágicas. Déramos-lhe a escolha, aos onze anos, de adquirir ou não uma varinha, e ele escolhera a primeira hipótese. Ao contrário de mim, era bastante exímio com ela. E também ao contrário de mim, Scorpius não conseguia fazer nada quanto à invisibilidade (pelo menos, não sem um feitiço ou um manto) e também não possuía nenhum dos sentidos mais apurados.


Mas podia ler pensamentos. No entanto, fazia-o de uma forma muito mais conveniente do que a minha: ele não precisava de olhar para a pessoa para lhe ler a mente, bastando-lhe apenas estar presente no mesmo espaço físico que a dita. E não me refiro à mesma divisão. Eu podia estar na sala de estar e ele no quarto - dois pisos acima, uma ala à esquerda - e mesmo assim ele conseguiria perscrutar a minha mente. Felizmente, com o tempo descobríramos que esse grande alcance da 'antena' de Scorpius só funcionava em espaços fechados. Ao ar livre, ele só conseguiria ouvir os pensamentos das pessoas que estivessem mais perto de si no momento.


Sim, por que enquanto Daphne levava Lyra ao parque, Scorpius gostava de ir testar as suas habilidades para sítios diferentes – fora devido a isso que descobríramos todas as peculiaridades do seu Dom. Mas, certo dia, disposto a satisfazer o desejo da prima e melhor amiga, Scorpius acordou em testar as suas habilidades no Louvre. Digamos apenas que depois de 5 minutos, o meu filho jurou só lá voltar quando tivesse o seu Dom sobre controlo. O que realmente acontecera, dois anos antes. Desde essa altura que, tal como eu e James aprendêramos a fazer, ele só 'activava' a 'função' da leitura de pensamentos quando achava necessário.


Ele era muito mais disciplinado do que eu alguma vez fora. Eu ensinara-lhe tudo aquilo que a minha avó me tinha ensinado a mim – e que se podia aplicar ao seu Dom mutado -, mas ele preferia a técnica de tentativa e erro. Experimentava várias coisas e finalmente decidia qual era a melhor opção. Gostava particularmente de o fazer sozinho. Se eu lhe pedisse, deixava-me sempre observar, mas avisando-me de todas as vezes que não queria qualquer tipo de ajuda. E era perfeccionista! Não parava de tentar até arranjar a solução ideal. O espírito inteligente, independente e introspectivo dele fazia-me muito lembrar James.


- Scorpius, acordámos que se eu não lesse os teus pensamentos, tu não lias os meus. – respondi, sorrindo e fechando-lhe o malão. Ele sorriu de lado, exactamente como Draco. Merlin, aquele rapaz era a fotocópia do pai.


- Não te li os pensamentos, mãe. – retorquiu ele, acabando de arrumar uns livros e voltando finalmente o seu olhar cinza para mim. – Estavas a murmurar a minha canção de embalar. Fazes isso sempre que te preocupas demasiado comigo.


- Uma mãe nunca se preocupa demasiado. – disse, sentando-me na cama. Ele veio até mim e ajoelhou-se no chão à minha frente, pousando as mãos e a cabeça no meu colo.


- Tu preocupas. É só Hogwarts, mãe. Além disso, nem vai dar tempo para que sintas a minha falta. Em Dezembro estou de volta. – Sorri-lhe e passei as mãos pelos seus caracóis loiros.


- Eu sinto sempre a tua falta, nem que estejas fora só umas horas. - Ele levantou-se e, sorrindo, deixou-me beijar-lhe a testa e abraçá-lo suavemente.


- Prometo que te escrevo todas as semanas, mãe. E sabes que de Lyra vais receber relatórios diários. – disse, enquanto se voltava e tentava colocar Persephone na gaiola, enquanto a gata se debatia e miava ruidosamente.


- Lyra escreve – e pinta também - de modo assustadoramente perfeito para uma garota de catorze anos. Estou a pensar suborná-la para ir trabalhar por mim n'O Profeta. – comentei eu, vendo-o finalmente domar a gata. – Ela vem cá ter a casa com os gémeos?


- Não creio que precisasses de a subornar. E não, ela e os gémeos passaram a noite em casa de Areana e Damien. Encontro-me com eles em Kings Cross. – ele olhou em volta. – Parece que já está tudo. Vou dizer ao pai que estamos prontos para ir. – acrescentou, deixando o seu olhar pousar em mim. – Este ano não vais connosco, está bem? Não queremos que a tua Visão se realize.


Sorri com a preocupação que Scorpius demonstrava por mim. A Visão a que ele se referia acontecera há um par de semanas, e tinha-me mostrado a minha pessoa num estado francamente lamentável deitada no chão plataforma nove e três quartos. Não sabia o que me tinha acontecido porque vira tudo da minha perspectiva, e deitada de costas, era impossível ver o estado do meu corpo. Mas sentira algo pegajoso na minha nunca – que mais tarde interpretara como sendo sangue -, e quando virara a cabeça para a direita, a única coisa que vira antes de a Visão se esfumar fora o relógio da estação a marcar 10h57.


- Pára imediatamente de te preocupar comigo, Scorpius. – respondi, usando as suas palavras e fazendo-o sorrir. - Murmurando despedidas e prometendo muitas cartas, Scorpius deixou o quarto com o seu malão e a gaiola de Persephone a levitarem atrás de si.


Fiquei algum tempo sentada na cama que pertencia a Scorpius desde que ele, aos quatro anos, decretara que era demasiado velho para dormir nas pequenas camas para crianças. Olhei em volta para o quarto agora semi-vazio e não pude deixar de sorrir ao verificar que ele o decorara de modo muito parecido ao que eu fizera no meu quarto na casa da minha avó quando tinha a sua idade. As paredes cinza estavam repletas de fotografias, bilhetes, cartas e bandeiras e cachecóis da nossa Equipa. Nas prateleiras escuras já figuravam alguns troféus de Quidditch e do Clube de Xadrez, assim como a sua colecção de snitches, que herdara de Draco, e muitos quadros e esculturas feitas por Lyra. Em cima da sua secretária, ao lado da janela, e dispostas de um modo particular que apenas para Scorpius tinha significado, encontravam-se todas as penas que eu lhe dera desde que, sem querer, descobrira que ele gostava de escrever poesia.


Quando finalmente me levantei, fui até à janela, observando os bem tratados jardins da propriedade dos Malfoy para lá da janela e pensando na jornada que fora a minha vida até ali.


Tinha tido uma infância complicada. Não porque tivesse passado necessidades, mas sim porque o meu Dom, e tudo o que lhe era associado, não o haviam permitido. A minha adolescência seguira esse mesmo padrão, juntando-lhe uma pitada de Lord Voldemort, outra de Umbridge, outra de irmãos Carrow, outra de Jack Sloper e ainda outra de Draco Malfoy. Quando saíra de Hogwarts e entrara na Universidade, estava tão no fundo que eram muito poucas as coisas que eu recordava desse tempo. E depois de começar a trabalhar n'O Profeta, o jornal tornara-se a razão da minha existência. Pelo menos, até Draco voltar a aparecer em cena.


A minha vida mudara em dois meses. Passara de profunda apatia a inacreditável felicidade. E tudo por causa de um loiro de olhos cinza com quem agora partilhava a maior dádiva da minha vida: Scorpius (outro loiro de olhos cinza).


Afinal, a entusiasmada Narcissa Jones, de onze anos, sentada no Expresso a caminho do seu primeiro ano em Hogwarts, é que tinha razão. Essa menina comparava a vida aos contos de fadas por que aprendera a ler. Conseguia ver príncipes e princesas, reis e rainhas, fadas e lobisomens nas pessoas que faziam parte da sua vida; via tragédia, angústia, aventura, humor e romance em cada história; mas sobre o final, nunca tinha certezas: um pequeníssimo, ínfimo pormenor poderia mudar tudo. O truque estava em não viver as histórias sozinha. Com companhia, seria sempre mais fácil de ver através dos disfarces das bruxas más e de derrotar os monstros que impediam as princesas de fugir das suas torres. Por mais difíceis que as situações se apresentassem, seria muito melhor ter alguém com quem correr, saltar, lutar, fugir, amar, rir, chorar…enfim, viver.


Foi nessa Narcissa sábia que eu me perdi e, por momentos, tornei a ter onze anos, e em vez dos jardins dos Malfoys - os meus jardins – para lá da janela semi-aberta, era a paisagem escocesa que eu fitava através do vidro embaciado do Expresso. E tal como nessa primeira viagem, eu indagava-me qual seria o final da aventura da minha vida. Mas desta vez, não me questionava se iria ser tão ou mais miserável, nem se as coisas podiam ficar melhores do que fantásticas, nem se a minha avó se orgulharia de mim, nem se o meu filho me considerava uma boa mãe, porque eu sabia que ainda seria miserável, que as coisas ainda ficariam melhores do que estavam naquele momento, que a minha avó, onde quer que ela estivesse, estava orgulhosa de mim, que o meu filho acreditava que eu era a melhor mãe do mundo (e eu tinha uma caneca que provava isso!). Na verdade, eu não me questionava de todo. Porque se ser feliz é não desejar nada, é não sermos felizes e não nos importarmos, isso só pode significar uma coisa: liberdade. Pura, simples e total. E a liberdade é uma sensação. Podemos escolher usufruir dela fechados numa gaiola, como um pássaro. E com um simples aceno, o meu corpo mutou-se rapidamente para o de uma fénix de asas rubras. De seguida, sem perder tempo, voei pela janela, sentindo o sol fazendo as minhas penas brilhar.


Mas se a gaiola estiver aberta, quem concordaria em ficar quieto quando se sente o ímpeto selvagem de voar?


FIM




N/A: C'EST FINI!


Can't believe it's finally over. It was a long long journey. Esta fic acompanhou-me durante muitos momentos da minha vida, e tem tanto de mim nela que muitas das pessoas e situações aqui descritas existem realmente. Gosh, vou ter saudades desta fic :')


Lots of love (and gratitude),
~Nalamin


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