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Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D




Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 24: Calendar


Outubro


- É só uma carta, Draco. – respondeu calmamente Narcissa, acenando ao loiro com um pedaço de pergaminho.


- Uma carta do Fowles. – disse ele, irritado.


- É uma carta de desculpas. Ele diz que gostava que continuássemos amigos. – explicou a morena.


- Ele quer ser teu amigo tanto quanto tu gostarias de enfrentar um Dementor. – retorquiu Draco, cruzando os braços e sentando-se no sofá oposto ao de Narcissa. Ela revirou os olhos.


- Esta casa é enorme. E se fosses ver se por acaso não deixaste uma das tuas amigas fechada num armário?




 


Novembro


- Não acredito que foste fazer queixinhas à minha mãe! – exclamou ele, irritado.


- Não fiz queixinhas coisa nenhuma. A tua mãe perguntou-me se estava tudo bem connosco e eu disse a verdade.


- E que verdade foi essa?


- Que tu eras um idiota e que cada vez mais se me esgotava a paciência para te aturar!


- Não me digas! E o que é que ela respondeu?


- Perguntou-me se planeava casar de branco. Ao que eu lhe respondi que não planeava casar-me de todo. – ele riu, com desdém.


- Então se eu te pedisse em casamento neste preciso momento, tu recusavas?


- É óbvio que sim!


- Casa comigo.


- Está bem.




 


Dezembro


- Não ouvi o teu maravilhoso cacarejar quando entrei, querida. – disse Draco, assim que viu a cara de poucos amigos de Narcissa.


- Podias ao menos ter avisado que não vinhas para casa, imbecil.


- Tiveste saudades minhas? – retorquiu ele, sorrindo e pousando a pasta e o casaco na cadeira em frente à cama onde ela estava deitada.


- Odeio-te.


- Sexo de reconciliação? – sugeriu ele, despindo-se rapidamente.


- Pode ser.




 


Janeiro


Eu dissera 'o sim', mas não falara realmente a sério. Quer dizer, claro que me queria casar com ele. Mas não imediatamente. Um dia, talvez. Dali a alguns anos, quando decidíssemos formar família.


E expliquei-lhe isso, com toda a calma, para que ele percebesse perfeitamente que eu ainda não estava preparada para dar esse passo. Ainda nem sequer vivíamos juntos. É lógico que ele não gostou muito da minha resposta. Ou melhor, não gostou nada. Ainda para mais quando o casamento de Daphne e Thomas se aproximava a passos largos. Mas com alguma ajuda de Narcissa, acabou por aceitar. No entanto, a palavra casamento (e todos os elementos dessa família) estava expressamente proibida na mansão Malfoy (onde eu agora passava bastante tempo), só para prevenir.


Mas mesmo tendo banido a palavra C, era complicado evitar esse assunto. Daphne reclamara como seu todo e qualquer tempo livre que eu tivesse para a ajudar a planear o casamento. Não que houvesse muito para planear. Thomas não queria nada em grande, apenas a família e amigos mais chegados numa pequena cerimónia no Ministério, seguida de um belo jantar na casa da costa. A minha mãe quisera encarregar-se do jantar e a mãe de Daphne dissera que tratava de marcar a cerimónia. Portanto, o que é que faltava?


O vestido. Merlin, andava há quase três meses à procura do raio do vestido. Já correra toda a Inglaterra. E a Escócia. E a Irlanda. E ainda não achara o tal. Ou dizia que fazia a sua barriga de grávida parecer ainda maior, ou que era demasiado curto, ou que o decote era longo de mais, ou que era demasiado branco. Eu estava tão farta de vestidos de noiva que até já lhe dissera que, se ela comprasse um qualquer, eu teria todo o gosto em alterá-lo para que ficasse parecido àquilo que ela concebia na sua cabeça (e que eu, três meses depois, ainda não sabia muito bem o que era). Mas ela limitara-se a ignorar-me e a sugerir que devíamos começar à procura no resto da Europa. Que foi precisamente o que fizemos. Ora, não se pode contrariar a noiva!


Muito menos uma noiva com a barriga daquele tamanho.




 


Fevereiro


Dois dias antes do final do mês, Daphne aparecera à porta da mansão Malfoy - onde eu me encontrava a trabalhar num artigo sobre o novo perfume que empresa da minha futura sogra e do meu futuro marido ia lançar – a chorar copiosamente. Pensando que tinha acontecido algo de realmente perturbador, levei-a rapidamente para dentro de casa e chamei por Narcissa, que ouvindo o choro mais do que audível de Daphne, também se apressou a vir ver o que apoquentava a sobrinha.


Depois de passarmos uma boa meia hora a acalmá-la, Daphne revelou finalmente o que a deixara naquele estado: naquela manhã, a minha cunhada e o meu irmão tinham estado a discutir nomes para a filha. Daphne queria uma coisa bonita e elegante, como era costume na sua família. Thomas queria que tivesse mais significado, e estava a pensar dar o nome da minha mãe à criança. Daphne logo dissera que Julie não era um nome bonito (observação que teve todo o meu apoio), e que se iam nomear a minha sobrinha de modo a homenagear a sua ascendência, Bianca, o nome da mãe de Daphne, soava deveras melhor.


Depois de nos contar esta primeira parte, Daphne recomeçou a chorar incontrolavelmente. Tornámos a acalmá-la e pedimos um pequeno resumo, para prevenir mais choros. Então, e sempre com uma lágrima a ameaçar cair, ela explicou-nos que a discussão tinha ficado feia e que eles haviam decidido deixar a escolha do nome da criança ser tomada por mim.


Fiquei estupefacta, porque era uma responsabilidade enorme. Mas Daphne logo me serenara dizendo que, já que iria ser a madrinha, era meu direito tanto quanto meu dever escolher o nome da bebé. E que também já falara com Adam, o padrinho, e que ele dissera que confiava no meu bom gosto. Portanto, acabei por concordar, pensando que teria de devotar algumas horas a pensar seriamente no assunto.


Só Merlin sabia como não seriam precisos mais que dez minutos.




 


Março


Há noites e noites seguidas que não conseguia dormir. Já tentara de tudo: poções, banhos quentes, leite com chocolate, livros enfadonhos, sexo selvagem. Mas nada parecia funcionar. Andava completamente exausta, e para perceber isso bastava olhar para a minha cara. Debaixo dos meus olhos haviam aparecido dois sacos negros que, pelo andar das coisas, pareciam planear ficar ali para sempre. Assim que me vira, Catherine mandara-me imediatamente para casa para dormir durante dois dias. E eu rezara a Merlin para conseguir cumprir as ordens da minha chefe de redacção. Mas, como sempre, Merlin parecia ignorar as minhas preces.


Faltavam dez minutos para as quatro da manhã de uma sexta-feira no final de Março, e eu estava de novo acordada. Draco respirava suavemente do meu lado esquerdo, o seu braço pousado por cima da minha cintura. Não me queria levantar para não o acordar, e por isso deixei-me ficar quieta (e, infelizmente, acordada), a olhar o tecto. Lembrei-me de que, já que não conseguiria dormir, ao menos faria algo produtivo e poderia começar a pensar num nome apropriado para a minha sobrinha. Comecei por analisar os nomes de toda a gente da nossa família para não haver repetições. Terminada essa lista, preparava-me para começar a pensar efectivamente no primeiro nome da bebé, quando, subitamente, adormeci. Ou pelo menos, assim comecei por pensar.


Apercebera-me que acontecera algo, porque já não estava a fitar o tecto nem a pensar em possíveis nomes para a minha sobrinha. Sentia o meu corpo leve e relaxado, e a minha respiração era regular e quase inaudível. À minha volta, era tudo escuro. Parecia-me que adormecera. Mas depois logo reparei que, se tivesse adormecido, não me estava a dar conta de tinha efectivamente acontecido. Só ia descobrir quando acordasse na manhã seguinte. Então se não estava a dormir, o que raio acontecera!


Fiquei em estado de alerta, sinos a tocarem ruidosamente na minha cabeça. A primeira hipótese que coloquei foi a de que estava a sonhar. Sim, só podia ser isso. E quando olhei para mim mesma, essa hipótese começou a revelar-se mais plausível. O meu Eu imaginário tinha vestido a máscara que eu utilizara no baile do dia dos namorados, em Hogwarts, no meu quinto ano. Relaxei um pouco, mas os meus punhos ainda se encontravam cerrados ao lado do meu corpo.


Como estava tudo escuro, não fazia ideia de onde me encontrava. Então, respirando fundo, dei um pequeno passo em frente. E, de repente, o escuro à minha frente dissolveu-se completamente, dando lugar a uma sala rectangular, de paredes de pedra, recheada de prateleiras e mapas. E pessoas. Homens, vestindo roupas semelhantes às minhas, encontravam-se sentados em pequenos bancos. Uns praticando um instrumento esquisito (que eu reparei ser o objecto que enchia as prateleiras) e outros estudando os mapas na parede (que eu percebi serem constelações). Reparei que via toda aquela cena como se tivessem colocado à minha frente um filtro preto e branco. Mas não era tudo exclusivamente preto, branco e cinzento. Havia também laivos de castanhos e azuis. Fosse como fosse, fazia todo aquele cenário ter um aspecto antigo.


Ninguém parecia ter notado que eu estava ali e, por isso, mantive-me quieta. Segundos passados, acabei por olhar à volta e por cima do ombro. O escuro aí também se dissolvera e agora, para lá da porta da sala onde eu me encontrava, eu via corredores de pedra ladeados por grandes pilares a serem palmilhados por mais pessoas. Ocasionalmente via-se uma ou outra emergir de dentro da parede, pelo que assumi que, embora eu não conseguisse ver de onde me encontrava, provavelmente haveria mais portas ao longo do corredor, contendo mais salas como aquela para onde me tornei a voltar.


Continuei quedada no mesmo sítio, só observando. Reparei que os homens que observavam os mapas discutiam entre si e, por isso, tentei ouvir a sua conversa. Mas depressa descobri que não percebia absolutamente nada do que eles diziam. Nem uma palavra. 'Mas que raio de sonho este, Narcissa', pensei.


Decidi então avançar mais uns passos. Os homens pareciam continuar ignorantes da minha presença, e por isso presumi que eles não me conseguiam ver. Aproximei-me primeiro daqueles que observavam os mapas. Eles continuavam imersos na sua discussão e por isso olhei para o mapa sobre o qual eles pareciam estar a discordar. Espantei-me ao reconhecer a constelação que ali figurava. Narcissa mostrara-ma há pouco tempo, quando me contara sobre a tradição dos Malfoy e dos Black de darem nomes de constelações aos descendentes.


- Draco. – disse eu.


Espantei-me ainda mais ao perceber que não falara inglês. Quer dizer, dissera 'Draco' tal como dizia na minha língua materna, mas algo em mim gritava claramente que o que acabara de dizer não tinha sido pronunciado em inglês.


O som da minha voz pareceu fazer os homens darem-se conta que eu estava ali. A maior parte olhou-me e rapidamente voltou aos seus afazeres, mas os dois que discutiam fixaram a sua atenção em mim. Começaram a falar, e embora eu parecesse também saber falar aquela língua, não a compreendia. Fiz uma expressão confusa, o que os fez mudar de táctica. Indicaram-me um grupo de estrelas naquele mapa, mesmo ao lado da constelação que dera o nome a Draco. 'Alguma outra constelação', pensei. Não a estava a reconhecer. Vendo que eu não reagia, os dois homens tornaram a ignorar-me e retomaram a sua discussão.


Dei então meia volta e dirigi-me calmamente ao outro lado da sala, onde os restantes praticavam aquele instrumento esquisito. Um deles, mais velho que os outros e que eu presumi que fosse o professor, fez um aceno e todos os outros começaram a dedilhar as cordas do instrumento. Sorri ao reparar que aquele som era mesmo muito bonito. Acabei por me encostar a uma parede e ficar a ouvir.


Quando terminaram, o homem que estava mais perto de mim falou baixinho. Olhei para ele e ele fez-me sinal para que me aproximasse. Caminhei na sua direcção e quando cheguei perto dele, ele começou a falar devagar e suavemente. Eu não percebia nada, claro, mas nunca desviei o meu olhar do dele. A certa altura, ele apontou para o instrumento e depois para algo atrás de mim. Virei-me e deparei-me com uma janela aberta, de onde se via um jardim onde mulheres passeavam calmamente. Reparei que todas elas carregavam algo nos braços. Semicerrando os olhos, percebi serem bebés. Sorri e olhei de volta para o meu interlocutor. Ele tornara a apontar para o instrumento - que, tal como as mulheres lá fora, ele segurava como a um bebé - e depois lá para fora. Abanei então a cabeça, fazendo-o compreender que não o entendia. Inesperadamente, e ao contrário dos outros dois homens, ele suspirou, sorriu e disse uma só palavra: Lyra.


Subitamente, o escuro engoliu tudo à minha volta. Fechei os olhos, assustada, e quando os tornei a abrir, respirando rápido, suando copiosamente, e com uma dor de cabeça enorme, deparei-me com um tecto ornamentado que eu conhecia demasiado bem. Olhei para o lado esquerdo para constatar o que já sabia: Draco dormia a meu lado, com o seu braço ainda sobre mim. Respirei então fundo, limpando o suor da minha testa e olhando o relógio. Quatro da manhã.


Havia outra coisa que eu também sabia, embora me custasse horrivelmente admitir. Eu tinha consciência de que aquilo não tinha sido um sonho. Sabia que, em breve, aquele tipo de 'sonhos' se iam tornar bastante frequentes. Gemi, desconsolada.


Acabara de ter a minha primeira Visão.




 


Abril


Os dias que se seguiram àquela primeira Visão foram um alívio. Finalmente conseguira dormir uma noite descansada, e tinha até voltado ao trabalho. Dissera a Catherine que tinha sido só stress, e ela não fizera mais perguntas. Preferira antes encher-me de trabalho.


Para poupar conversas desnecessárias sobre a minha Visão, juntei a minha família (Adam incluído) num dos primeiros dias de Abril e contei-lhes o ocorrido. Houve muitas perguntas e ainda mais teorias foram formuladas, mas no meio de tudo isso, conseguimos concluir algumas coisas.


Começámos por decidir que a cor da Visão tinha significado. Na carta que me deixara, Aled dissera que eu seria capaz de ver o passado, o presente e o futuro. James concluíra brilhantemente que o facto de a Visão se ter apresentado daquela cor e de o meu Eu 'visionário' se ter apercebido do aspecto antigo da mesma, só podia significar que a minha mente teria 'viajado' até ao passado. 'A um passado bem longínquo', pensei. Por Merlin, eu fora até à Grécia Antiga!


Depois, concluímos que as minhas insónias tinham funcionado como a síndrome pré-menstrual. As ditas tinham sido uma espécie de aviso para o que aí vinha. Deduzimos então que, se estávamos a assumir que as insónias eram a TPM das minhas Visões, provavelmente não iam aparecer sempre, o que me deixaria algumas vezes sem saber se ia ter uma Visão ou não. A certa altura, Claire sugeriu que as insónias talvez só aparecessem quando eu tivesse Visões sobre o passado. Claro que só poderíamos verificar a veracidade dessa sugestão quando eu tivesse mais Visões (como se eu estivesse muito ansiosa por isso).


Finalmente, ao contar-lhes sobre o que falara com os homens da minha Visão, Draco explicou-nos o significado da palavra que o músico me dissera: Lyra era uma constelação que existia ao lado da de Draco e era também o nome dado ao instrumento que os homens tocavam. E enquanto à minha volta eram discutidos os possíveis significados desse significado, a minha mente deambulava de novo pela Visão. O músico apontara para o instrumento e para as jovens mães no jardim, repetindo o movimento várias vezes. 'Ok, temos um instrumento musical e mulheres a passearem os filhos. Como é que isso pode estar relacionado?', pensei.


Mesmo perdida em pensamentos, conseguia discernir algumas coisas da discussão que decorria. James e Thomas discutiam sobre a palavra Lyra. James afirmava, sempre erudito, que 'o genitivo, usado para formar nomes de estrelas, é Lyræ', e Thomas retorquia perguntando o que raio isso importava. Mas, de repente, toda a gente se calou quando Daphne gemeu sonoramente.


Olhámos todos na direcção dela, preocupados, mas Daphne, apoiando a mão direita na barriga redonda (onde eu adorava deitar a cabeça e conversar com a minha sobrinha), deu um pequeno sorriso, explicando que tinha sido só um pontapé da bebé.


Subitamente, tudo fez sentido na minha cabeça. Devo ter dado uma exclamação bastante sonora, porque toda a gente desviou o olhar de Daphne e o fixou em mim. Falando rápido, tal não era o meu contentamento por ter finalmente feito sentido de tudo aquilo, expliquei a todos o que a Visão me quisera mostrar. E, com toda a autoridade que ser madrinha de uma criança me conferia, declarei que decidira qual seria o nome da minha sobrinha.


Lyra.




 


Maio


Lyra Rosier Jones viera ao mundo há um mês, no dia 13 de Abril, com perto de três quilos e um choro estridente. Nascera com oito meses e meio, como se não pudesse esperar mais quinze dias, como se tivesse uma pressa louca de sair do ventre quentinho e acolhedor e dar-se a conhecer ao mundo. Com ou sem pressa, todos a recebemos com um sorriso e muitos miminhos.


Quando a vi pela primeira vez, percebi que os seus cabelos iriam herdar o tom de castanho que eu e Thomas também herdáramos do nosso pai. Os seus olhinhos estavam fechados nessa altura, mas mais tarde abriram-se para revelar uma íris azul-esverdeada, típica dos Rosier e dos Malfoy. A minha mãe dizia que ela era parecida comigo quando eu nascera, e Claire corroborava essa afirmação dizendo que conseguia ver o meu nariz ligeiramente arrebitado em Lyra.


A minha sobrinha e os seus pais babados saíram do hospital dois dias depois do seu nascimento. Fizemos um pequeno jantar na herdade para comemorar a chegada de Lyra a casa, jantar esse que se arrastou tanto pela noite dentro, que alguns de nós acabaram por acampar em casa de Tom, eu e Draco incluídos.


O meu futuro esposo tinha acabado de adormecer em cima do meu peito quando, de novo, mergulhei para o vazio negro, que agora eu reconhecia como uma Visão. Respirando fundo, o Eu que habitava a visão olhou à volta e depois para si própria. Desta vez estava vestida com um vestido preto, bastante rodado, e com um pequeno casaco de malha que me cobria os ombros. No entanto, estava descalça e a minha mão direita estava ligada. Retirei a ligadura devagar e vi que a minha palma tinha um corte desde o espaço entre o polegar e o indicador até ao lado oposto da minha mão. Percebi imediatamente que aquela visão não ia ser igual à anterior. Não pelo corte, ou pelos meus pés descalços, mas sim pelas roupas, que eram diferentes da Visão anterior e, acima de tudo, contemporâneas.


Tornei a respirar fundo e dei um passo em frente. O escuro dissolveu-se e deu lugar a um corredor ligeiramente apertado, com um guichet mesmo ao fundo. Não precisei de olhar para mais lado nenhum para saber onde me encontrava. Estava em S. Mungus, no piso da maternidade, em frente ao local onde se registavam as crianças que acabavam de nascer. Tinha estado ali há dois dias, quando fora registar a minha afilhada. Avancei devagar, parando em frente ao balcão. Atrás deste, um feiticeiro pequeno e careca escrevia furiosamente num pedaço de pergaminho. Quando olhou para cima e me viu, revirou os olhos e colocou à minha frente o formulário de registo, uma pena e um tinteiro.


Sabendo algures dentro de mim que era o que devia fazer, peguei na pena e molhei a ponta no tinteiro, movendo-a depois até à primeira linha do formulário, onde se deveria escrever o nome da criança. A minha mão começou subitamente a mover-se, como se tivesse vontade própria. Vi as minhas letras curvas aparecerem e formarem quatro palavras: Malfoy, Scorpius Hyperion Prince. Em seguida, a minha mão desceu uns centímetros e começou a preencher a alínea que dizia respeito à data de nascimento do bebé. Segundos depois, podia ler-se 21-08-2006. Com os olhos a começarem a encher-se de lágrimas, tornei a observar a minha mão a descer e completar a informação que dizia respeito aos pais da criança. Aquele meu Eu sorriu. Como se fosse necessário aquela Visão mostrar-me quem seriam os pais da criança! Mas impossibilitada de terminar com a dita, vi o meu nome e o de Draco aparecer rapidamente. Gargalhando, deixei a minha mão continuar a escrever pormenores como o nome dos avós, dos padrinhos, o peso do bebé…


Aquele meu Eu fechou os olhos e desejou que a Visão terminasse rapidamente. Não queria descobrir tudo. Gostava de ter algumas surpresas. E como se tivesse ouvido essa prece, a Visão dissolveu-se, eu acordei – respirando rápido e suada como anteriormente -, corri para a casa de banho, e debrucei-me na sanita, vomitando todo o jantar. Draco apareceu rapidamente à porta, ensonado, perguntando se eu estava bem. Peguei numa toalha molhada, limpei a boca, puxei o autoclismo e atirei-me para os seus braços, rindo e chorando ao mesmo tempo.


- Estou grávida!




 


Junho


Na noite em que contei a Draco que estava grávida, ele quis dormir com a cabeça em cima da minha barriga, dizendo que queria estar a postos caso o bebé decidisse, de alguma forma, 'comunicar' com ele. Ri-me perante esta afirmação tola, mas ele parecia tão feliz que o deixei fazer o que queria.


Claro que na manhã seguinte contámos aos membros da família que ainda estavam na herdade. Daphne abraçou-me durante o que pareceu uma eternidade, agradecendo-me várias vezes por ter presenteado Lyra com um companheiro de brincadeiras. Deixei também os meus pais me puxarem para um apertado abraço, e senti-me bastante melhor do que estava à espera. E depois de todas as congratulações, eu e Draco desmaterializámo-nos para S. Mungus, dispostos a pedir à minha irmã que me fizesse os exames de rotina.


Depois de gritar em choque e relembrar-me de que teria de chamar Claire ao bebé se fosse menina, a minha irmã ordenou a Draco que aguardasse na sala de espera e levou-me para uma sala, onde efectuou em mim os procedimentos de rotina. Quando acabou e obteve os resultados, explicou-me rapidamente que eu concebera em fins de Dezembro ou no início de Janeiro e que parecia estar tudo bem comigo e com o bebé. Perguntei-lhe então porque é que, durante o período de tempo que separava o momento da concepção até ao dia em que nos encontrávamos, eu continuara a ter a menstruação e não apresentara qualquer sintoma de gravidez. Claire explicou-me que, provavelmente, tinha sido devido ao Dom, que era possível que o dito me estivesse mais no sangue do que pensáramos. Mandou-me então subir para cima da balança, momento em que verifiquei que tinha engordado dois quilos e não fazia ideia. Finalmente, a minha irmã estimou que o parto se daria em finais de Setembro ou inícios de Outubro.


Depois de mais umas recomendações e um abraço rápido, saí da sala e apressei-me a contar as novidades a Draco, sentindo-me mais feliz que nunca.




 


Julho


Se Narcissa ficara ligeiramente frustrada com o facto de eu não a deixar organizar o meu casamento num futuro próximo, toda essa frustração se dissolveu quando lhe contei que lhe iria dar um neto. A minha futura sogra ficou tão feliz que, pela primeira vez desde que nos conhecêramos, se lançou ao meu pescoço e me abraçou, murmurando ininterruptos agradecimentos. Por alguma razão que eu desconhecia, toda a gente parecia agradecer-me por ir ter um filho.


Não contara nada a ninguém sobre aquilo que tinha descoberto com a Visão. Claro que explicara que tinha sido através de uma Visão que compreendera que estava à espera do meu primeiro filho, mas não dera mais detalhes. Lá por a minha surpresa estar arruinada, não queria estragar a deles. No entanto, havia uma coisa que me preocupava imenso, e sobre a qual ultimamente tinha andado um pouco obcecada.


Na Visão, a data de nascimento do meu filho constava como 21 de Agosto. Mas Claire, e muito bem, se eu ainda me lembrava correctamente da matemática básica e do tempo de gestação do ser humano, previra o parto para, pelo menos, no mínimo, um mês depois.


Aquela tinha sido apenas a minha segunda Visão. Eu era uma completa novata naquela coisa de poder andar, de certa forma, a viajar pelo tempo. Tinha tirado algumas conclusões a partir da Visão do passado (e começava a desconfiar que seria dessas que eu mais ia gostar), mas que não se podiam aplicar àquela Visão do futuro, com excepção da 'regra' que criáramos no que dizia respeito à cor: se a Visão do passado se tinha apresentado num preto e branco antiquado, a do futuro era precisamente o oposto. Milhões e milhões de cores, muitas das quais eu nunca vira da minha vida. E tudo parecera mais vivo, mais palpável. Naquela visão eu sentira que se respirasse com um pouco mais de força, isso poderia causar um qualquer distúrbio no ar colorido que me rodeava.


Fosse como fosse, colorido ou a preto e branco, a Visão preocupava-me de sobremaneira. Aled explicara na carta que, independentemente do que a Visão me pudesse mostrar, estava em mim, nas minhas escolhas, tornar essa Visão real ou não. Eu já me proibira de fazer tudo que pudesse causar algum distúrbio e acelerar o parto. Até explicara a situação a Catherine e pedira-lhe que não me mandasse em 'missão de reconhecimento', ou seja, entrevistar pessoas e aproveitar para lhes ler os pensamentos.


Draco, ao contrário do que eu esperava, tornara-se muito paciente e exigia sempre que eu vivesse aqueles meses delicados no limite do confortável. Por isso, numa noite nos finais de Maio, eu encontrava-me na sua enorme cama, encostada a uma dúzia de almofadas, lendo um livro, em silêncio. Ele estava encostado ao meu ombro a rever relatórios da empresa de perfumes, mas há minutos que eu não ouvia a sua pena a arranhar os pergaminhos. Virando suavemente a cabeça, para que ele não notasse, olhei para os papéis que ele tinha na mão. Afinal, o que eu pensava serem relatórios eram cartas, pedidos de clientes para essências personalizadas. Lendo mais umas linhas, descobri que aquele que ele aparentava estar a ler naquele momento era de uma mulher que acabara de ter o primeiro filho. Quase toda a primeira página era apenas sobre a dificuldade que tivera em escolher o nome da criança.


Sorrindo, descobri porque é que ele parara de escrever: perdera-se em pensamentos sobre o nome do nosso primeiro filho. Tornei a virar a cabeça devagar e esperei uns segundos antes de falar.


- Não achas Scorpius um bom nome? – inquiri, tentando não começar a gargalhar. Ele voltou-se imediatamente para mim.


- Leste-me os pensamentos? – perguntou, franzindo as sobrancelhas. Revirei os olhos, coisa que fazia sempre que ele me colocava aquela pergunta.


- E como é que eu faria isso se não estavas a olhar para mim? – ele não respondeu e continuou a olhar-me.


- Eu estava a pensar precisamente nesse nome. – sorri.


- É um óptimo nome. E mantém a tradição da tua família.


- Da nossa família. – corrigiu-me ele. Beijei-o suavemente.


- Da nossa família.




 


Agosto


Merlin, se eu pensara que a tortura dos Carrow era dolorosa era porque ainda não tinha tido um filho. Daphne estivera a meu lado o tempo todo, segurando a minha mão e sussurrando palavras calmantes que eu estava a escolher ignorar. A dor era tudo o que ocupava a minha realidade naquele momento. A dor e o medo. Porque apesar de todos os planos que eu decidira seguir para me sujeitar ao menor esforço possível, a minha Visão realizara-se: era dia vinte e um e eu estava em trabalho de parto.


Se eu conseguisse ver para além da dor que me consumia naquele momento, com certeza que estaria imensamente frustrada. A Visão escolhera mostrar-me um momento que iria acontecer – esperava eu! – dali a algumas horas, ao invés de me mostrar como o prevenir ou, pelo menos, adiá-lo até à data que Claire estimara que eu daria à luz.


E por isso, uma hora antes do momento em que eu rezava a Merlin que, por uma vez, ouvisse as minhas preces e acabasse rapidamente com aquela dor, enquanto passeava pela Londres muggle com Daphne e Lyra, eu tinha escolhido salvar um cão rafeiro – que dormia pachorrentamente do outro lado da larga rua onde eu me encontrava, metido na sua própria vida - de levar com uma série de andaimes que os muggles tinham colocado à frente de um prédio para o poderem pintar. Até aí não havia problema absolutamente nenhum. O que foi decisivo foi o modo como decidi fazê-lo.


Ao invés de mover o cão dali – e nem sequer o acordaria! – decidi parar os andaimes de cair. Ergui a mão direita e os ditos suspenderam a sua queda, ficando numa posição oblíqua. Rapidamente, com um aceno, tornei a colocar os andaimes na sua posição original. Terminado o 'salvamento', Daphne repreendeu-me severamente, e com razão. Tivera muita sorte, era hora de almoço e aquela rua encontrava-se vazia, já que também ficava um pouco fora de mão. Mas não tive tempo de lhe dar razão. Uma dor aguda atravessou-me o ventre, tão aguda que tive de cerrar os dentes para não gritar. Caí de joelhos, pousando também as mãos no chão para não cair de barriga para baixo e arriscar a magoar (ainda mais!) o bebé. Soltei uma pequena interjeição de dor quando a minha mão pousou em cima de um pedaço do que outrora fora uma garrafa. Mas rapidamente me esqueci desse corte: Daphne deu um pequeno grito e eu percebi imediatamente que havia qualquer coisa que não estava bem. Olhei para baixo para ver um fio de líquido vermelho a aparecer no meu joelho, vindo de algures debaixo do meu vestido preto. Foi quando peguei no braço de Daphne com uma mão e no carrinho de Lyra com a outra e me desmaterializei para a recepção do S. Mungus. Dez minutos depois estava deitada numa maca na sala de partos, com três de Curandeiros à minha volta. E à medida que mais Curandeiros iam chegando, um dos três primeiros ia gritando sempre a mesma frase: feto prematuro em sofrimento. Nunca mais me esquecerei dessas três palavras.


Enquanto obedecia ao Curandeiro, que estava à frente da maca, entre as minhas pernas, e fazia força como se não houvesse amanhã, a minha única esperança era a de que o meu filho nascesse vivo e saudável. E foi com um grande alívio e com a maior alegria que eu ouvi o meu filho a chorar. Não era um choro gritante como o de Lyra. Soava mais a um miado de um pequeno gatinho. Mas gritante ou não, estava lá. Existia.


- Muitos parabéns! – disse o Curandeiro, sorrindo para mim por debaixo da máscara. – Para um prematuro, acaba de ter um rapaz perfeito.


Garanto estas palavras também vão ficar para sempre gravadas na minha mente.




N/A: Penúltimo capítulo!


A parte em que Narcissa tem a visão do passado foi a que mais gostei de escrever nesta fic. Não sei porquê, porque tenho noção de que já escrevi coisas bem mais articuladas e eloquentes. Bom, talvez seja por isso mesmo, pela simplicidade e leveza com que acabou por ficar aquele trecho. E pode ser que seja por gostar dessa simplicidade que resolvi escrever a fic em que estou a trabalhar num tom muito mais ligeiro do que esta ou a HYMMJ. Já para não falar de que o enredo é infinitamente mais simples.


Mas anyway, vou-me deixar de devaneios. Espero que tenham gostado do capítulo e para os que seguem a fic, preparem-se para ficar sem Narcissa e a sua crew :o


Love,
~Nalamin

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