The Ugly Truth



Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D


N/A: Claire, Draco, Thomas




Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 11: The Ugly Truth


De volta a casa, Tom não sabia o que esperar. Estariam aqueles dois a discutir ou a beijarem-se? Sorriu. Narcissa matava-o se soubesse que Draco lhe tinha contado tudo sobre os tempos de Hogwarts. Mas talvez fosse uma morte menos dolorosa se soubesse como Draco tinha descrito as situações; talvez o torturasse menos se ouvisse aquelas palavras, que até a Tom espantaram. Nunca tinha ouvido o melhor amigo falar assim, e já o conhecia há muitos anos. A maneira como ele não o olhava enquanto contava um episódio demonstrava o seu nervosismo. As palavras 'mágica', 'brilhante', 'perfeita', soaram ainda mais mágicas, brilhantes e perfeitas aos ouvidos de Tom, já que não constavam do vocabulário habitual do loiro.


Estaria Draco, aquele Draco, a falar da sua irmã? Da criatura que ele se habituara a 'domar' para que não cometesse alguns disparates sem sentido? Daquele mustang, como ele a apelidava carinhosamente, daquela mulher (ainda lhe custava acreditar que já era uma mulher) com uma força e determinação sem limites, sempre pronta a lutar pelo que estava certo, mesmo que isso a magoasse? Teria Draco a certeza de quem estava a falar? Quando lhe perguntou, Draco mostrou-lhe uma das suas sobrancelhas arqueadas e nada disse. Tom gargalhou. Draco Malfoy apaixonado por uma mustang! Está claro que não lhe disse tal coisa. O melhor amigo não aceitaria bem saber por outra pessoa que estava apaixonado, embora Tom soubesse que muito deste amor já vinha desde Hogwarts. E agora via o melhor amigo melancólico, sentado nos grandes beirais das janelas com a sua pose altiva, a olhar para a imensidão de verde que rodeava a quinta, claramente pensando em alguma coisa importante.


E Narcissa? Nunca vira a irmã tão desassossegada! Desde que chegara ali, mal tinha trocado duas palavras com ela, tal não era o esforço da irmã para evitar o loiro. Suspirou, e pegou nas chaves. Subitamente, veio a si. Ao passar pelos estábulos, não ouvira o normal resfolegar de Thorn! Voltou a trás desconcertado. Estava tão habituado ao 'cumprimento' do seu sangue-puro que não o ouvir era estranho, como se faltasse qualquer coisa. Abriu a porta do estábulo e respirou fundo ao ver Thorn a comer calmamente na sua box ao lado de Athena e Goldeneye. Encheu os bebedouros de todos com água fresca, apaparicou-os durante uns segundos e tornou a sair.


Enquanto fazia o caminho de volta ao casarão, pensava nela. A cor da crina de Goldeneye fazia-lhe lembrar os cabelos dela, ondulando ao vento. Como sentia a sua falta! Há tanto tempo que não a via, já devia estar muito mudada. Talvez até já nem se lembrasse de nada. Não. Nisso não acreditava. Aquele amor tinha sido forte demais, apaixonado demais, para não ter deixado marcas. Tinha a certeza de que ela se lembraria. Apenas não sabia se ela ainda sentia o mesmo. A esperança de ser feliz nunca o abandonava, mas o sentimento de culpa em relação a Alexis e o medo que tinha em relação à sua mustang deixava-o com um pé atrás. Forçou-se a esconder estes pensamentos num canto da sua mente. Ao fazê-lo, viu, ao longe, o que procurava.


- Draco? – O loiro levantou a cabeça, espantado por ouvir aquela voz.


- Tom? Só te esperava mais tarde.


- Decidi vir um pouco mais cedo. E tu? O que estás fizeste durante a tarde? Os cavalos pareciam ter sido selados. Tu e a minha irmã foram montar? Juntos? – Perguntou, matreiramente. Draco bufou de irritação.


- Não, Tom, eu só a encontrei quando trouxe Thorn de volta… - Draco hesitou em terminar a frase e Tom percebeu-o.


- E? Há aí mais qualquer coisa, não há? O que é que aconteceu? - Perguntou, caminhando agora ao lado do amigo, de volta a casa.


- Discutimos. Nada a que já não estivéssemos habituados. – Disse Draco, secamente e com um encolher de ombros.


- Então onde está Narcissa?


- Não faço ideia. – Respondeu, desinteressadamente. – Quando se foi embora eu fiquei aqui a tratar de Thorn. Mas tu conheces a tua irmã, Barclay. Provavelmente, materializou-se daqui para fora. – Draco disse esta última frase com raiva. Tom olhava-o, tentando imaginar qual seria o (estúpido e insignificante?) motivo da discussão. – Mas Claire está cá em seu lugar.


- Claire? Mas que raio de semana esta! E como é que Claire veio cá parar?


- Não tenho a mais pálida ideia.


- Merlin. Mas quanto a Cissa, acho que sei onde ela está. – Olhou para Draco e viu que este esperava a localização exacta da morena. 'Talvez para ir atrás dela.' Não, não era isso. Via preocupação nos olhos do amigo. Ele temia por ela. Tom sorriu.


- Não te preocupes. Ela está…razoavelmente bem…- apontou para Draco como quem indica que era por sua causa que empregara a palavra ' razoavelmente'. - … e segura. E aposto que não quer ser incomodada. Pelo menos, não por ti. – Terminou, passando pelo amigo e dando-lhe uma palmadinha nas costas, abrindo-lhe a porta em seguida. Draco revirou os olhos.


- Vamos para a sala? Eu, tu, e um bom firewhisky? – Perguntou Tom, sorrindo.


- Vamos.


- E se quiseres, eu massajo-te os pés, para te acalmares. – Disse Tom, num tom meloso.


- Cala-te, sua criatura ressabiada! Acho que o sol de Roma te deve ter feito mal. – Tom riu e seguiu com o loiro até aos confortáveis sofás.


Depois de entrarem e acenderem a lareira na sala de estar do piso inferior, sentaram-se confortavelmente nas poltronas. Tom serviu Draco e a si próprio um belo copo de firewhisky e, por momentos, pareceu a ambos apenas mais um dos seus serões em Hogwarts, na Sala das Necessidades, que tinham de utilizar visto serem de Equipas diferentes e não poderem partilhar uma sala comum; pareceu-lhes outra simples noite a falar bem de Quidditch e mal dos professores. 'Os bons velhos tempos!', pensou Tom. Era, de certa maneira, um pouco lamechas, mas eles pareciam não se importar.


Aquela amizade, embora esquisita e quase sempre incompreendida pelas pessoas, era verdadeira, uma das poucas (ou talvez a única) que Draco Malfoy achara que valera a pena manter e preservar. O loiro olhou para o amigo que contemplava o fogo, perdido em pensamentos. 'Quase que lhos consigo adivinhar'. Sabia que a situação do amigo não era, nem de perto, parecida à sua. Era mais complicada e envolvia uma história sobre a qual Tom não gostava de falar.


Mesmo sem saber, Draco era da mesma opinião de Narcissa: compreendia a situação de Tom, mas achava que estava na hora de este parar de se culpabilizar e seguir com a sua vida. Verdade seja dita, nunca percebera muito bem porque é que Tom ainda não tinha superado toda aquela situação, passada há já alguns anos. Era novo, tinha ainda muita vida pela frente. Mas Tom só lhe contara aquele episódio por alto e, provavelmente, era essa a razão para o seu pobre entendimento da questão.


Cada vez que pensava no assunto, queria perguntar-lhe o que realmente acontecera. No entanto, não o fazia. Sabia o que Tom tinha sofrido e não queria fazê-lo reviver tudo só para satisfazer a sua curiosidade. Mas havia o resto. Tom não perseguia a sua felicidade por causa daquele seu sentimento de culpa. E Draco irritava-se por isso. Ainda para mais, quando a felicidade do seu melhor amigo e estava ali, à mão de semear. Sorriu. Ela nunca lhe tinha dito nada, mas agora, vendo bem as coisas, sempre estivera lá, sempre fora óbvio. Engraçado como Cissa nunca tinha reparado. 'Engraçado?' Verdade seja dita, Draco sabia perfeitamente porque é que Cissa nunca tinha reparado.


Olhou o fogo, continuando a matutar no assunto. Alguns minutos depois, Tom falou, olhando para si.


- Estavas a pensar naquilo de novo, não estavas? – Draco olhou-o com um certo espanto, o que fez com que Tom soltasse uma gargalhada. – Tens um tique. Os teus dedos tamborilam sempre ao mesmo ritmo, formam uma espécie de melodia. Também tens outro para quanto estás a pensar na minha irmã. - Disse, trocista.


- Eu não tenho tiques, Barclay, muito menos penso na tua irmã. – Retrucou Draco, olhando-o mortalmente. - E mesmo que tivesse, tinhas de me estar a observar durante muito tempo para te serem perceptíveis. Começo a achar que jogas na outra equipa, Tom. – Tom riu-se. – Mas sim, estava a pensar naquilo.


- Porquê?


- Tu sabes porquê.


- A minha felicidade. – Afirmou Tom, sorrindo tristemente. – Sabes que não depende de te contar ou não o que aconteceu, Draco.


- Talvez. Mas sei que contares-me a tua história é a parte mais difícil. Quanto ao resto…


- Não sabes isso, Malfoy. – Disse Tom, sério. – Já passaram oito anos, não podes saber isso.


- Aposto 10 galeões em como a escolha daquele local para passar férias não foi aleatória. – Tom riu. – Mas teve azar. Desencontraram-se.


- Ainda bem que assim foi. – Draco olhou-o interrogativamente. – Não ia resistir. Tenho este sentimento cá dentro há tanto tempo que, assim que a visse, ia ter de lhe dizer. E não posso. Não consigo, não sem…


- Sem o quê? – Tom não respondeu. Draco revirou os olhos. – Eu sei que te culpas, Barclay, mas tens de seguir em frente. A Alexis é passado. - O amigo sorriu tristemente.


- Draco Malfoy a dar-me conselhos. Quem diria! – Draco sorriu de lado. – E pareces a minha irmã. Ela é que está sempre a bater no mesmo duende: 'seguir em frente, seguir em frente…'. Mesmo sabendo a história toda, não diz outra coisa.


Houve um estranho silêncio durante uns minutos. Draco atiçou o fogo com a varinha e recostou-se na poltrona.


- Não me respondeste. – Tom olhou-o. – Sem o quê? O que mais precisas para transformar tudo numa má recordação?


- Porque queres tanto saber o que aconteceu, Malfoy?


- Porque… - Draco respirou fundo. Não era normal para si mostrar os seus sentimentos. – Porque és o meu melhor amigo. – Tom sorriu largamente.


- Eu sei. Só queria que o dissesses. Tens de te abrir mais, Draquito! Assim nunca vais conseguir conquistar a minha irmã! – Disse trocista. Draco bufou.


- Amoroso da tua parte, Barclay, mas eu não quero conquistar a tua irmã. E não estávamos a falar de mim, pois não?


Tom suspirou, mas não falou logo. O que iria contar a Draco, só o tinha repetido 3 vezes e só porque tinha sido absolutamente necessário. Tinha de se preparar. Fechou os olhos e bebeu o firewhisky que restava no seu copo. Draco sorriu de lado.


- Para ganhar coragem? – Tom riu.


- Qualquer coisa do género, sim. – Fez uma curta pausa e começou a sua história. - Ora, tudo começou em Hogwarts. Conheci-te, no nosso 7º ano, naquele jogo de Quidditch. Tornámo-nos amigos. Revelei-te os meus segredos, revelaste-me os teus. Disseste que estavas contra Voldemort e que irias combater do nosso lado, se houvesse batalha. Não imaginas o orgulho que tive em ti! – Tom riu e Draco revirou os olhos. – Adiante. As coisas - tu sabes do que falo -seguiram o seu rumo. Eu, durante todo aquele tempo, nunca lhe disse o que sentia. E sentia-me agoniado, sentia-me mal por não lhe dizer. Tu dizias que sim, que lhe devia contar, que devia arriscar. E o meu coração concordava contigo. Mas a minha cabeça…Claire sempre me acusara de ser paranóico. Bom, hoje não posso dizer que ela não tinha razão. - fez uma pausa. - Comecei com a história dos ' e se…'. E se ela gostasse de outro? E se ela, mesmo não gostando de outro, não me quisesse?


- Não tinhas nada a perder, se lhe dissesses. – Comentou Draco.


- Talvez não. Mas deixei-me levar pelo medo. E então, aprisionei aquele sentimento. Vi Narcissa fazê-lo tantas vezes, por causa dos nossos pais…Tentei imitá-la e fui bem sucedido. E pensava que estava tudo bem, mas a batalha caiu sobre nós. – fez uma pausa. - Encontrei-te, a caminho do salão. Pediste-me ajuda com uns Devoradores da Morte e, juntos, derrotámos McNair. Lembras-te? – Draco assentiu. – Foi instantes antes de o Potter matar Voldemort. Assim que aconteceu, olhaste para mim e eu soube que não ias voltar atrás. Tive pena, sabes. Lamentei-o. Ainda lamento.


- Não podia fazer mais nada.


- Bom, podias ter arriscado.


- Isso era pôr a vida dela em jogo. Era um risco demasiado alto que eu não estava disposto a correr.


Houve uma pausa incómoda em que nenhum deles falou. Ao fim de uns minutos, Tom retomou a sua narrativa.


- Então, foste-te embora. Tinha visto tanta coragem em ti que decidi que, assim que a situação acalmasse, talvez no dia seguinte, lhe ia dizer o que sentia. Mas houve algumas confusões e a escola só voltou à normalidade perto do dia da nossa formatura. Decidi que ia ser aí. Se soubesses o quão nervoso eu estava…E, por fim, chegou o dia. - 'Nem me lembres…' - Lá fomos, com os nossos robes de gala, e recebemos os diplomas. As minhas irmãs felicitaram-me. Passei por elas, caminhando devagar, tentando não me esquecer de como se articulava uma palavra. Ela estava de costas. Ia tocar-lhe no ombro quando me tocaram no meu.


- Alexis. – Deduziu Draco.


- Exacto, Alexis Burnett. Deu-me os parabéns, fizemos conversa de circunstância por uns minutos, até que ela me disse que estava apaixonada por mim. Eu não fazia ideia de quem ela era, a qual Equipa pertencia ou quantos anos tinha, e ela dizia-me que estava apaixonada por mim! Eu devo ter ficado mesmo mal, porque quando dei por mim, estava sentado e a Alexis parecia muito preocupada por eu não estar a reagir. E foi quando voltei a mim e lhe ia dizer que era muito querida mas que eu não sentia o mesmo, que a vi. Não tens noção do vazio que senti. - ' Aposto contigo que o sentia há mais tempo.' - Ali estava ela, linda, mas a dançar com outro. Estavam tão próximos! E durante aquele instante, o mundo parou. Deixei de ouvir, de ver, de sentir. Até que olhei de novo para Alexis. Tinha cabelos compridos, muito negros e lisos, e uns magníficos olhos verdes, brilhando de angústia. Por minha causa! E ela estava ali, era apaixonada por mim, eu tinha acabado de ver aquilo…não pude deixar de pensar que devia tentar com Alexis o que não conseguira com… - Tom suspirou.


" As coisas evoluíram. Começámos a sair, namorámos durante um par de anos, pedi-a em casamento. Amava-a, achei que fosse a coisa certa a fazer. Foi tudo cuidadosamente planeado, mas ia ser uma coisa simples. Ela andava muito entusiasmada e eu, cheio de dúvidas. Dias antes tinha recebido uma carta. Não tinha remetente, mas ao lê-la, percebi de quem se tratava. Dizia coisas…coisas que eu tinha querido ouvir noutros tempos e que, naquele momento, só traziam confusão. Escrevinhei uma resposta que ficou esquecida numa gaveta, junto com a carta. Nunca a enviei. A Alexis era o meu futuro. Não podia continuar a viver perdido em memórias.


" Enfim. Dias depois, era o dia do meu casamento. Tu não foste, Andromeda tinha falecido uns dias antes. – Draco interrompeu-o.


- Sinto muito por não ter estado lá. Andromeda... 'Foi o meu único apoio durante um longo tempo'.


- Significava muito para ti, eu sei. Não tens de pedir desculpa. Por uma vez, seguiste o teu coração. – Tom fez uma pequena pausa. – Infelizmente, casei-me nesse dia. Estava nervosíssimo, no altar. O feiticeiro do Ministério olhava para mim de lado, esperando que eu tivesse um ataque a qualquer momento. – Riu tristemente. – Antes tivesse tido.


" O tempo passava. Diziam-me que os atrasos das noivas eram normais, eram tradição. De noivas eu não percebia nada, mas uma hora e meia já achava tempo de mais. As pessoas começavam a falar, diziam que ela me tinha abandonado ali. Até que de repente, o patronus de Joanne apareceu no saguão da entrada.


- Joanne? – Perguntou Draco, confuso.


- A mãe de Alexis. Por um segundo, o meu coração acalmou-se. Se o patronus estava ali, devia estar tudo bem. Mas o meu mundo desmoronou-se ao ouvir a dor na voz de Joanne, quando informou os presentes de que Alexis estava no S. Mungus.


" Fiquei em choque. Valeu-me Narcissa, que se levantou da cadeira, levou-me para fora da igreja e desmaterializou-se comigo para o hospital. Perguntámos, ou melhor, Narcissa perguntou, já que eu não conseguia articular uma palavra, onde estava Alexis. Fomos conduzidos a uma pequena sala de espera, onde já se encontrava parte da família dela. A irmã mais nova, Charlotte, disse-nos que ela tinha feito um Reducto muito potente que havia ricocheteado e voltado para si.


" Sentei-me, assustado, e olhei em redor. Vi que Joanne olhava para mim com ódio. Não conseguia sequer imaginar porquê. Observei Howard, pai de Alexis, a dizer à mulher que 'aquilo' não era para ser feito nem naquele lugar, nem naquele momento. Não liguei, só queria saber do estado da minha noiva. E não precisei de esperar muito mais. Aliás, eu soube antes de qualquer membro da família de Alexis.


- Narcissa. O Dom. – Tom espantou-se.


- Sabes do Dom? Ela contou-te?


- Contou, há muito tempo. Mas não sem antes - e depois também - o usar contra mim. – Disse Draco, de cara fechada. Tom riu.


- Imagino. Narcissa fê-lo muitas vezes comigo, quando era mais nova. Espanta-me como é que nunca descobriu tudo.


- Ela respeita-te. E adora-te, és irmão dela. Duvido que use o Dom em ti só por usar.


- Mas em ti, a história é outra. – Draco revirou os olhos. – Nem imaginas como fiquei agradecido por ela o ter utilizado, naquele dia. Ela estava encostada às portas de vidro, esperando notícias dos médicos. Assim que ela o viu ao fundo do corredor, soube. Começou a chorar. E eu percebi. Só queria sair dali. Ela olhou para mim, leu-me os pensamentos, assentiu e eu desmaterializei-me. Suponho que ela deva ter explicado tudo à família de Alexis, porque ainda demorou bastante tempo para que viesse ter comigo à mansão Barclay. Desde que saíra de casa, quase logo depois de se formar de Hogwarts, aquela seria a primeira vez que lá voltaria a pôr os pés.


Draco estava confuso. Já não era a primeira vez que Tom referenciava a relação de Narcissa com os pais. Mas o moreno não se apercebeu da sua confusão e continuou a falar.


- Fiquei lá por uns dias. Não consegui voltar logo à casa que partilhara com Alexis. Quando finalmente ganhei coragem, cometi o erro de dizer a Narcissa e a Claire que queria ir sozinho. Assim que entrei naquela casa, percebi que mais alguém lá se encontrava. Subi as escadas para encontrar Joanne no meu estúdio com uma carta na mão. Pensei que fosse para mim, e por isso, chamei-a. Ela voltou-se e, do nada, começou a gritar comigo.


Tom voltou a encher o copo de firewhisky, com um aceno de varinha. Deu um pequeno gole e continuou.


- Disse que a morte de Alexis era culpa minha. Que eu nunca a tinha respeitado ou sequer amado. Que eu era um traidor e um mentiroso. Reparei que ela se segurava para não me lançar algum feitiço. Mandou a carta ao chão e saiu dali a chorar. Assim que ouvi a porta a bater, aproximei-me do subscrito. Eu nem imaginava que aquela carta era…A carta dela.


- Oh Merlin.


- Exacto. Foi isso mesmo que eu pensei. E assim que a abri, tive a certeza. Mas o pior não era a carta. Era a minha resposta. Estava lá dentro também, ligeiramente destruída numa ponta. E aí eu percebi o que tinha acontecido a Alexis.


- Alexis viu a carta e a resposta e quis destruí-las.


- Sim, mas o feitiço foi tão forte que ricocheteou e voltou para ela. Chorei que nem uma criança, quando percebi que a culpa tinha sido minha.


- A culpa não foi tua.


- Foi sim. Eu tinha uma noiva, um futuro, e andava a responder a cartas de uma velha paixão, do passado! Estava a traí-la.


- Tu amavas Alexis! – Exclamou Draco, já irritado.


- É verdade. Amava-a. Mas não no início.


- Como assim?


- No inicio, Draco, quando começámos o namoro. O primeiro ano, talvez. Eu não a amava. E era isso que dizia na minha resposta. Foi por isso que Alexis a tentou destruir. Foi por isso que morreu.


- Mas tu nunca enviaste a carta. Preferiste guardá-la e esqueceres o assunto.


- E foi por isso que ela a descobriu. Mas tinha de saber que eu a amava. Mesmo depois de ter lido aquilo, ainda queria construir uma vida comigo. Porque senão, não a tinha tentado destruir.


- Então porque é que ainda te culpas? Ela escolheu destruir a carta e casar contigo na mesma. Correu um risco, acreditou que era dela que gostavas. Duvido que ela quisesse que o feitiço tivesse tanta potência. Mas os nervos do casamento…


- Não sei, Draco. Só sei que nada disto tinha acontecido se ela não me tivesse mandado uma carta depois de anos sem me dirigir palavra. – Viu a cara de Draco. – Não estou zangado com ela, nem a culpo. Na carta ela dizia que precisava de um final para aquela história. – Draco olhou o fogo por um momento.


- Então é por isso que não segues em frente. Porque achas que ela já te esqueceu, porque te pediu um final para a vossa história.


- Ela continuou com a vida dela. Eu…


- Tu dedicaste-te aos cavalos e não seguiste em frente, como ela. Achas que era isso que Alexis ia querer?


Tom permaneceu calado por uns instantes, pensando da pergunta do loiro. O que quereria Alexis? Ela era aquele tipo de pessoa que era feliz ao ver os outros sorrir; que se sentia bem a ajudar alguém a realizar um sonho. Fechou os olhos. Às vezes, sentia tanto a sua falta. Mas como Narcissa lhe dissera uma vez, as pessoas que amamos estão sempre connosco, dentro de nós. Alexis era parte de si. Sem ela, não seria o Tom Barclay que sabia ser. Sorriu.


- Ela só queria que eu fosse feliz. Com ela.


- Mas já que não pudeste ser feliz com Alexis, porque é que não tentas com…


- Não sei. Isto é 7º ano de novo.


- Verdade. Pensei que nunca mais íamos voltar àquilo.


- Também eu. Parece que as mulheres hão-de ser a nossa ruína.


- Só se for a tua, Barclay, porque eu sou maravilhoso. – Disse Draco, sorrindo de lado.


- Maravilhoso? – Tom riu.


- Sim, meu caro. Sem falhas. – Respondeu, convencido.


- Sem falhas? Então e aquele…


- Barclay! Não vamos falar disso.


- Porque é que nunca me deixas dizer por que é que lhe acho piada? – Draco lançou-lhe um olhar mortífero. – Pronto, já não está cá quem falou! - Tom acabou o seu firewhisky e esperou que Draco fizesse o mesmo.


- E se fôssemos jantar?


- Vais cozinhar? – Perguntou Draco, trocista.


- Não, mas convidei uma amiga para vir cá. – O loiro olhou-o desconfiado. – Até parece, Draco. Não é nada disso. Conheci-a em Roma. Foi ela que me mostrou as coisas por lá. E foi com ela que saí hoje.


- É italiana? – Perguntou, interessado.


- Inglesa. O pai é italiano. Ela deve estar aí a chegar.


- Quem é que deve estar aí a chegar, Thomas? – ecoou a voz de Claire, que acabava de entrar na sala.


- Olá, mana! – disse ele, abraçando-a e beijando-a nos cabelos cor de cobre. – O que é que te traz à minha humilde casa?


- Uma quinta deste tamanho é tudo menos humilde, Thomas. Ora, vi Narcissa, ela disse que tinha estado aqui e pronto, decidi cá vir.


- E onde é que ela está? – inquiriu Tom. Claire viu Draco virar a cabeça na direcção deles e sorriu.


- Em Londres. – o loiro revirou os olhos.


- Que precisa, Barclay.


- Obrigada, Malfoy. Mas conta lá, Tom, quem é que está aí a chegar? – perguntou, traquina.


- Uma colega. Vem jantar connosco.


Subitamente, ouviram a campainha.


- Vais abrir, Draco? Vou avisar Sasha que já pode servir o jantar. E Claire, podes ver se está tudo bem na sala de jantar?


Claire anuiu e saiu. Draco levantou-se, dirigiu-se à porta e, quando a abriu, conteve uma exclamação de espanto.


- Boa noite! O meu nome é Liz Medicci, procuro Thomas Barclay. Espero não me ter materializado no sítio errado.


Draco não podia deixar de ficar espantado com a figura feminina que se encontrava à sua frente. Não esperava que Tom fosse arranjar uma amiga daquelas! Os seus cabelos rubros, muito lisos e escadeados, emolduravam-lhe a bonita face ebúrnea que parecia brilhar.


Reparou nos seus olhos verdes muito claros e no seu corpo bem feito. Envergava um vestido simples, verde-escuro, curto, que a favorecia em todos os aspectos. Era uma mulher muito bonita, mas não conseguiu deixar de a comparar com Narcissa. O vestido verde que ela usava lembravam-no do que Narcissa usava na noite em que lhe contara do Dom. Abanou a cabeça tentando afastar a morena dos seus pensamentos e se concentrar na ruiva que estava à sua frente.


- Na...Não, estás no sítio certo. Entra.


Liz sorriu-lhe suavemente e entrou. Esperou que Draco, ainda um pouco chocado, lhe indicasse o caminho e seguiu-o. Claire esperava por ambos perto da mesa.


- Olá! – exclamou, rodeando a mesa e parando à frente de Liz. – Claire Barclay, muito prazer. Sou a irmã mais nova do Tom.


- Eliza Meddici. Já ouvi falar muito de ti, Claire. Também venho a tempo de conhecer Narcissa?


- Infelizmente não. – ecoou a voz de Tom, vinda da esquerda. – Ela teve um...compromisso. Olá, Liz, como estás?


- Oh, que pena! Gostaria imenso de a conhecer. Falaste tão bem dela. Tudo óptimo, Thomas, e contigo? – perguntou alegremente, enquanto se desfazia do casaco.


- Sim, ela é mesmo especial, não é, Draco? – Draco franziu o sobrolho. - Eu estou muito bem, melhor agora, que chegaste. – acrescentou, cortês. Liz deu um risinho.


- Especial? Bom, suponho que é um dos inúmeros adjectivos que a descrevem. 'Tais como casmurra, teimosa, orgulhosa, convencida…' - Tom sorriu.


- Volto já, então. Ah, peço desculpa, não vos apresentei devidamente. Liz, este é o meu melhor amigo, Draco Malfoy. Draco, esta é Liz Medicci. – Draco e Liz apertaram rapidamente as mãos. E Tom saiu da sala.


- Prazer, Liz.


– O prazer é todo meu, Draco. – o loiro sorriu-lhe sedutoramente e não ficou espantado quando ela lhe devolveu o sorriso com um piscar de olho. Claire revirou os olhos.


- Vamos sentando-nos? – perguntou, levando-os para a mesa. Segundos depois Tom juntou-se-lhes, sentando-se à cabeceira.


- Sasha! – chamou.


- Sim, amo? – perguntou a pequena elfo.


- Podes servir o jantar, por favor?


- É para já, amo! - retrucou, com a sua vozinha estridente. Liz fez uma cara esquisita.


- Tens elfos domésticos?


- Só Sasha. Porquê?


- Acho uma estupidez as pessoas fazerem destes seres seus criados. Sem te querer ofender, claro. – Tom sorriu amigavelmente.


- Não ofendes nada. A minha irmã é da mesma opinião que tu, sabes. Mas concorda em manter aqui Sasha. Temos medo de a libertarmos e ir para alguém pior. – Claire anuiu, em concordância.


- Sim, isso também é verdade. E vejo que a tratas muito bem.


- Sasha é como uma segunda mãe para nós. Está com a nossa família desde que nascemos.


- Não sabia que eras tão pro-elfo, Claire. – comentou Draco.


- Thomas referia-se a Cissa, Malfoy. É facto que também odeio o tratamento que alguns feiticeiros dão aos elfos, mas Narcissa simplesmente abomina isso. Se algum dia vir alguém a maltratar um elfo…Bom, penso que imaginas o que pode acontecer.


- Tom, tens mesmo de me apresentar a tua irmã!


- Prometo que quando a vir, te corujo. – Houve uma pequena pausa em que só os sons da mastigação eram audíveis. Draco foi o primeiro a falar.


- Diz-me Liz, que fazes em Itália? – Tom deu um sorriso enviesado. ' E Draco Malfoy ataca!'


- Dou continuidade ao negócio do meu pai: crio cavalos. Puro-sangues, principalmente. – Liz fez uma pausa para comer alguma pasta. – Thomas contou-me que estás a estudar para Curandeira. – comentou, voltando a sua atenção para Claire, fazendo Draco franzir o sobrolho, levemente irritado.


- Sim, é verdade. Vou fazer o exame para ficar efectiva em S. Mungus daqui a duas semanas.


- Isso é fantástico, Claire! – exclamou Tom, apanhado de surpresa.


- Muitos parabéns! – congratulou Liz.


- Obrigada. – agradeceu, com um sorriso.


- Então e Narcissa? Qual é a profissão dela?


- É jornalista, n'O Profeta. De certeza que já viste o nome dela muitas vezes a assinar os artigos de primeira página. – respondeu Claire. Liz abriu a boca de espanto.


- Narcissa Jones é tua irmã? Eu sou fã dos artigos dela há anos. Bem, têm uma família de gente muito talentosa, estou a ver. – Tom e Claire riram. – E tu, Draco? Também és tão talentoso quanto os Barclay? – ele sorriu de lado.


- Eles têm os seus talentos, eu tenho os meus. – disse, olhando significativamente para a morena. – Mas irei, em breve, pegar nos negócios da família. Estou há espera há já alguns anos, mas só agora é que tudo ficou esclarecido e legalizado. – Tom tossiu, visivelmente espantado.


- A sério? Eu não tinha conhecimento disso! Quando é que planeavas contar-me? – perguntou, ligeiramente despeitado.


- No dia da inauguração da sede da empresa em Londres. - respondeu, com indiferença.


- E de que é que tratam as tuas empresas? – inquiriu Liz.


- Perfumes. – Claire ia cuspindo a comida que tinha na boca. Draco olhou-a de lado e continuou. – Essências personalizadas. – Liz fez um esgar de espanto e Claire tentava segurar o riso. Draco Malfoy e perfumes! 'Que combinação fantástica!'


- Tu és a cara por detrás de Victoria et Salazar? – Tom olhou para Claire, que rapidamente parou de rir.


- Chamaste Victoria et Salazar à tua empresa? Victoria? – questionou Tom, olhando para o amigo, descrente.


- O que posso dizer? Ambos deixaram legados que…mudaram a minha vida. – comentou, sorrindo de lado.


- Ai sim? E quais foram esses legados, Malfoy? – perguntou Claire, colocando os cotovelos em cima da mesa e apoiando o queixo nas mãos. Liz olhava para eles, percebendo que havia ali qualquer coisa que lhe estava a escapar.


- Salazar criou a equipa de Slytherin, obviamente. E Victoria foi a primeira. – Tom franziu o sobrolho.


- A primeira?


- A primeira portadora do Dom. E a primeira por quem ele se apaixonou.


Seguiu-se um silêncio desconfortável. Claire e Tom não sabiam bem o que dizer perante aquela afirmação mais do que explícita de Malfoy. E, claro, Liz estava completamente a leste de tudo.


- Bom, Thomas, nunca esperei que ao aceitar o teu convite iria jantar ao lado de celebridades! – disse, quebrando o silêncio. Thomas riu.


- Foi, obviamente, tudo para te agradar. – gracejou Tom.


- Mas agora sinto-me ligeiramente deslocada aqui, ao pé de gente tão bem sucedida e incrivelmente talentosa. – admitiu, envergonhada.


- Encaixas perfeitamente, Liz. – assegurou Draco, sorrindo sedutoramente,


- Fico feliz por ver que a minha presença não te incomoda, Draco.


Draco deu um dos seus sorrisos, apercebendo-se de que a tinha na mão. Tom revirou os olhos e continuou a comer, tentando ignorar o contínuo flirt entre os outros dois ocupantes da mesa. 'Será que basta Liz para que ele esqueça Narcissa? Mesmo estando aquele amor adormecido durante quase uma década? Ou será que ela vai ser só mais um passatempo?'




 


Depois de beber calmamente o seu chá sentada numa das poltronas velhas da sala e ouvindo uma qualquer rádio que sintonizara só para lhe fazer companhia, Cissa subiu as escadas, disposta a ver o quarto da avó.


Avistou rapidamente a porta e abriu-a devagar. Tal como o resto da casa, tudo permanecia igual. A enorme cama de mogno estava encostada à parede à sua frente, ao fundo do quarto, junto à janela. Várias molduras com fotografias antigas embelezavam o toucador, ao lado da porta. E o enorme armário figurava alto e esguio, como sempre, do lado direito. Sorrindo, entrou no quarto. Demorou-se a ver todas as fotografias, a passar a mão pelos móveis, como se eles pudessem contar a história de Cecília.


Depois de uns minutos, sentou-se na cama. Mas quando o fez, ouviu um restolhar de folhas. Levantou-se rapidamente e deu-se conta que se sentara em cima de dois envelopes. Olhando melhor, reparou que eram os envelopes que Claire viera ali deixar, a mando da mãe. Pegou neles e analisou-os. Pareciam ser já um bocadinho antigos. Criando um foco de luz com a mão direita, Cissa aproximou os envelopes dele, para ver melhor o remetente e o destinatário. No primeiro não havia nenhum. Apenas umas letras no centro. 'AQTV'. O segundo era a mesma coisa, mas as letras eram diferentes: 'NPBJ'


'Mas que raio…'. Por alguma razão aquelas letras eram-lhe familiares, mas não as estava a reconhecer. 'NPBJ...NPBJ…NP…São as minhas iniciais!'


Cissa pousou a outra carta a seu lado e abriu rapidamente aquela. Era pesada, pareciam ser várias folhas de pergaminho. Rasgou um dos lados do envelope e puxou de lá o molho de folhas. Tinha razão. O pergaminho era feito de um material que já nem sequer se fabricava. Desdobrou então, muito cuidadosamente, as folhas antigas. E nada, naquele momento, a poderia preparar para ver aquela letra de novo.


"Minha querida e adorada Narcissa,


Se tens esta carta em teu poder é porque, por uma razão ou outra, não possuo condições ou recursos para estar na tua presença e falar-te pessoalmente, tal como sempre planeara fazer.


Provavelmente, quando leres este pequeno primeiro parágrafo, achá-lo-ás irónico. Como posso eu afirmar que gostaria de te falar pessoalmente quando nunca troquei mais de vinte palavras contigo ao longo da tua vida? Quando te via apenas um par de horas por semana se, por algum acaso, ainda estivesses acordada? Quando te entreguei à tua avó para que ela te educasse e fizesse aquilo que eu sabia que não ia fazer?


Peço-te que me perdoes, Narcissa. Se puderes, se algum ia achares que queres fazê-lo, rogo-te que me desculpes. Bem sei que para ti estas palavras, escritas na véspera do primeiro dia do teu décimo terceiro ano de vida, são vazias, ocas e não significarão nada para ti. Mas, por favor, lê-as como se tivessem sido escritas pela mão de outro que não o teu pai ausente. Lê-as como se se tratasse de uma carta de um amigo com quem há muito não falas e que definha de saudades tuas. Que te ama, a ti e aos teus irmãos, mais do que tudo neste mundo. E que tem muito, muito para te explicar."


Cissa continuou a ler, segurando as folhas com a mão direita e agarrando-se à cama com força, com a esquerda. Quando chegou ao fim daquela carta já chorava copiosamente, manchando algumas palavras escritas pela mão de William Jones. 'Merlin…fomos educados numa teia de mentiras…Como é que puderam fazer-nos tal coisa?'. Olhou para a outra carta, sem conseguir parar de chorar. Sabia agora o que significavam aquelas letras. Mas não queria lê-la. 'Não sozinha. Tom e Claire têm de saber disto. E James, Adam e Daphne também'. Suspirou, pegou nas cartas e foi para o andar de baixo. 'Não sei se vou conseguir voltar aqui alguma vez'.


'I'm alive but I'm losing all my drive
Cause everything we've been through
And everything about you
Seemed to be a lie
A guiltless twisted lie
It made me learn to hate you
Or hate myself for letting it pass by'
(Goodbye – Secondhand Serenade)


Respirando fundo e limpando as lágrimas, realizou o complicado encantamento para colocar voz no seu patronus e lançou-o na peugada de James. Escrevinhou um chamamento urgente num pedaço de pergaminho e, dando vida a uma pequena estatueta de madeira em forma de coruja, entregou-lhe a mensagem, indicando-lhe Roma como destino. Apesar das pesadas asas de madeira, a ave voou rapidamente dali para fora, fundindo-se com a noite escura segundos depois.


Então, visualizando a enorme fachada da mansão Barclay, Cissa desmaterializou-se.




 


Entrou de rompante na casa onde outrora vivera e da qual tinha tão poucas memórias felizes. Com um feitiço simples, descobriu que apenas uma pessoa estava na casa. Só podia ser a mãe. Correu rapidamente na direcção da estufa, onde o feitiço indicava que a presença se encontrava. Abriu as portas de vidro com força, o que assustou Julie Barclay que, de chapéu de palha na cabeça e umas luvas verdes, tratava com cuidado de uma roseira.


- Narcissa!


- Como é que pudeste, mãe? Como? – inquiriu, chorando copiosamente.


- Narcissa, não faço a menor ideia do que estás a falar! – exclamou, tirando o chapéu e as luvas e olhando com mais atenção para a filha. - Porque é que estás a chorar? Barclays não…


- Barclays não choram, não é, mãe? Pois não, tens razão. Barclays mentem.


- O que é que estás a insinuar, Narcissa?


- Tu, a avó e o pai mentiram-nos a nossa vida toda! – Julie tremeu ligeiramente. – Com que então ele é um Auror? E vocês sabiam que a avó ia morrer? E não acharam que isso era importante de transmitir aos vossos filhos?


- Só vos queríamos manter em segurança, Narcissa…


- Pára! CHEGA! Basta de mentiras! Nunca me enganei a vosso respeito. Aled dizia-me para não ser intrasigente, mas no final era eu que tinha razão: vocês nunca se importaram com mais nada a não ser atingir os vossos objectivos a qualquer custo. – disse aquelas últimas palavras com um nojo que não sabia que possuía dentro de si. Julie deu um passo atrás, de olhos esbugalhados. – Nem sequer pensaram que podíamos ter voto na matéria! No entanto, não tens de te preocupar, Thomas e Claire provavelmente perdoar-te-ão. Mas eu, Julie...se já pouco tinha a ver contigo, agora não tenho mesmo nada. Andaste toda a tua vida a fingir que só tinhas dois filhos. Pois bem. Agora a fantasia tornou-se realidade.


Dando meia volta, Cissa saiu da estufa e da casa, desmaterializando-se de novo em seguida, sem saber que deixara para trás uma Julie Barclay à beira do desespero.




 


- Encaixas perfeitamente, Liz. – assegurou Draco, sorrindo sedutoramente,


- Fico feliz por ver que a minha presença não te incomoda, Draco.


Cissa materializou-se neste momento, mesmo ao lado da cadeira do Malfoy, que saltou de susto quando ouviu um sonoro 'pop' perto do seu ouvido esquerdo.


- Narcissa! – exclamou Claire, alegre, perdendo logo essa expressão quando viu os olhos marejados de lágrimas da irmã. – O que é que aconteceu!


- Desculpem por interromper o vosso jantar, mas preciso de falar com vocês. – respondeu, limpando os olhos às costas da mão. Claire reconheceu as cartas que Narcissa segurava.


- Abriste isso?


- Eram para mim, Claire. – volveu Cissa, irritada.


- O que raio estão vocês para aí a dizer? – perguntou Tom, levantando-se da cadeira e caminhando até à irmã, segurando-a pelos ombros. – Estás bem?


- Não, Thomas, não estou nada bem. Temos de falar.


- Bom, eu acho que está na hora de ir embora. – comentou Liz, levantando-se rapidamente.


- Quem é? – perguntou Cissa.


- Uma colega. – respondeu Tom. – Desculpa Liz, mas parece que temos uma emergência.


- Não tem problema. – respondeu, sorrindo. – Coruja-me, sim?


- Sim, claro. Draco, importas-te de levar Liz à porta? – o loiro assentiu, não deixando de lançar a Tom um olhar desconfiado.


- Sim, Malfoy, e podes sair também. – disse Cissa. – E não voltes tão depressa.


- Não me dês ordens, Jones. – exclamou, irritado.


- Não me venhas com tretas, Malfoy, não hoje! Sai daqui! – ele lançou-lhe um olhar assassino e saiu da sala com Liz.


- Narcissa, calma…


- Calma nada, Thomas! Quando souberes o que eu sei quero ver onde que enfias a calma!


- Mas afinal o que raio diziam as cartas! – perguntou Claire.


- Conto-vos quando estiverem todos aqui.


- Todos?


- Já chamei o James. E Adam e Daphne também. Vamos para a sala. Eles não devem demorar.


Muito confusos, os irmãos seguiram-na para a sala e sentaram-se nos sofás, sem dizer uma palavra. Cissa apoiara os cotovelos nos joelhos e deixara o seu corpo cair para a frente. Estava exausta, e não era fisicamente. Subitamente, a lareira animou-se. Cissa levantou os olhos para ver o elegante James Solomon a aparecer na lareira do irmão.


- Foi aqui que minha presença foi requisitada com urgência? – perguntou, sacudindo a fuligem das suas roupas.


- Foste rápido. – comentou Cissa, levantando-se para o cumprimentar.


- O teu patronus é que foi. Como me encontrou no meio do nada na Irlanda foi bestial. Assustou todos os muggles com quem estava.


- O teu patronus foi até à Irlanda? – perguntou Tom, estupefacto.


- Só não foi até Roma porque eu não estou com cabeça para me concentrar.


- O que é que se passou? – questionou James, sentando-se ao lado da prima.


- Ainda não sabemos. Cissa disse que nos contava quando estivéssemos todos aqui. Faltam Adam e Daphne. – fez uma pausa. – Mas se não lhes mandaste o patronus, como é que os avisaste?


- Por coruja. Transfigurei uma porcaria qualquer numa.


- Mas assim ainda vai demorar pelo menos um dia para que eles recebam a mensagem. – Cissa revirou os olhos.


- Fui eu que criei a coruja. Dá-lhe mais vinte minutos e Daphne e Adam aparecem aqui.


Cissa falhou a sua estimativa por quinze minutos. Daphne e Adam saíram da lareira de Tom trinta e cinco minutos depois, com as suas malas a reboque e cheios de fuligem negra.


- Viagem atribulada? – perguntou James, levantando-se para os ajudar com os malões.


- Nem queiras saber.


- Viemos assim que recebemos a mensagem. Estás bem, Ci? – disse Daphne, avançando rapidamente para a amiga.


- Não. Mas agora que já estão aqui, vamos conversar.


Do lado de fora da sala de jantar, e silencioso que nem um rato, Draco Malfoy encostou-se à parede, à escuta.




N/A: Capítulo mais do que gigante, eu sei. Mas pronto, uma vez não são vezes, e realmente achei que fazia mais sentido esta parte ficar toda junta.


Foram feitas algumas revelações, mas só a seguir é que vão ser lidas as cartas e eles (e vocês) vão ficar completamente esclarecidos 8D


Comentários, okay? Críticas, elogios, sugestões, o que quiserem e o que vos vier à mente no momento 8D


Love,
~Nalamin


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