Old Letters, New Revelations

Old Letters, New Revelations



Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D




Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 12: Old Letters, New Revelations


- Hoje, mais cedo, encontrei-me com Claire na casa da minha avó. – começou Cissa, tentando olhar para todos os presentes enquanto falava. - Foi por completo acaso. Seja como for, eu tinha lá ido porque precisava de estar sozinha e Claire porque a nossa querida mãe a encarregou de lá esconder estas duas cartas. – acenou com os dois envelopes. – Quando Claire se foi embora, dizendo que vinha à herdade ter contigo, Tom, eu fiquei na casa da avó. Fui ao seu quarto, apenas para recordar. Mas, e, de novo, por acaso, quando me sentei na cama, sentei-me em cima destes envelopes. Peguei-lhes, claro. Olhei para a frente de ambos e vi que só tinham algumas letras: 'NPBJ' e 'AQTV'.


- São ambas as tuas iniciais. – disse James, perspicaz. Narcissa assentiu.


- Eu só abri uma. A outra queria lê-la convosco. Principalmente contigo, James. – ele assentiu, mas Claire fez uma cara confusa.


- Porquê principalmente com ele?


- 'AQTV' significa 'A Que Tudo Vê'. Apenas uma pessoa me chamava assim. – esclareceu Cissa.


- Aled. – disse Daphne. Claire fez um esgar de compreensão.


- Exacto. As cartas estão dirigidas a mim mas dizem-nos respeito a todos. – fez uma pausa, e limpou mais uma lágrima que teimava em cair. – Isto vai ser difícil de ouvir. Vai contra algumas coisas que demos como certas ao longo dos anos. Vai contra aquilo que nos ensinaram. – suspirou. - Estão prontos? – Todos assentiram.


- Força, Ci. – Narcissa desdobrou a primeira carta, a que já lera, e tornou a lê-la, desta vez em voz alta, para que todos ouvissem, e rezando para não chorar antes de chegar ao fim.


"Minha querida e adorada Narcissa,


Se tens esta carta em teu poder é porque, por uma razão ou outra, não possuo condições ou recursos para estar na tua presença e falar-te pessoalmente, tal como sempre planeara fazer.


Provavelmente, quando leres este pequeno primeiro parágrafo, achá-lo-ás irónico. Como posso eu afirmar que gostaria de te falar pessoalmente quando nunca troquei mais de vinte palavras contigo ao longo da tua vida? Quando te via apenas um par de horas por semana se, por algum acaso, ainda estivesses acordada? Quando te entreguei à tua avó para que ela te educasse e fizesse aquilo que eu sabia que não ia fazer?


Peço-te que me perdoes, Narcissa. Se puderes, se algum ia achares que queres fazê-lo, rogo-te que me desculpes. Bem sei que para ti estas palavras, escritas na véspera do primeiro dia do teu décimo terceiro ano de vida, são vazias, ocas e não significarão nada para ti. Mas, por favor, lê-as como se tivessem sido escritas pela mão de outro que não o teu pai ausente. Lê-as como se se tratasse de uma carta de um amigo com quem há muito não falas e que definha de saudades tuas. Que te ama, a ti e aos teus irmãos, mais do que tudo neste mundo. E que tem muito, muito para te explicar.


Neste momento consigo ver-te pela janela. Estás no jardim, com Jack, deitados no relvado a olhar as nuvens que vão cruzando o céu devagar. Imagino-me no papel do Jackson. Como será ouvir-te dissertar sobre o exacto tom de azul do céu? Ou sobre as formas redondas das nuvens? Ou ainda sobre o facto de teres poder para alterar ambas? Não, sobre isto é impossível. Não sabes ainda, querida Narcissa, aquilo que és capaz de fazer e as coisas que poderás conquistar quando abraçares o teu Dom completamente.


Sim, minha filha, eu sei que o teu Dom te permite ser muito mais do que uma simples leitora de pensamentos. E sim, conheço-te muito bem, melhor do que pensas. Sei também que deves ter muitas perguntas para as quais achas que as respostas são impossíveis de encontrar. Não são, querida. Mas sem sinais a indicar o caminho, nunca as procuramos no sítio certo. É por isso que escrevo estas linhas. Não te poderei indicar o caminho a seguir, mas posso, pelo menos, no mínimo, mostrar-te a direcção para a qual deves caminhar.


Por esta altura, e embora ainda não saibas, Cecília está a morrer. Não quero sequer imaginar a dor que sentirás quando a pessoa que mais amas desaparecer para sempre. No momento em que leres isto, provavelmente já se terão passado largos anos desde a sua morte, mas arrisco-me a dizer que sentes a sua falta todos os dias. E que te sentes mais sozinha que nunca, sem a única pessoa que te compreendia verdadeiramente. Espero que, entretanto, já tenhas encontrado alguém merecedor de partilhar o teu segredo, ou melhor, o teu ser; alguém que te apoie quando as coisas começarem a ficar difíceis. Porque, e acredita em mim, querida, vão ficar.


Mas como é que te posso pedir que acredites em mim, quando fui apenas um estranho na tua vida? De novo, imploro o teu perdão. Tudo o que fiz foi para te proteger e proteger a nossa família.


Deves estar confusa com estas frases enigmáticas. Não te aflijas, não me odeies ainda mais, pois passarei a explicar-te o onde, o quando, o como e o porquê de algumas coisas. Quero que saibas, no entanto, que tudo o que eu não revelar nesta carta serão assuntos que não me dizem respeito e que te devem ser revelados por outrem.


Como sabes, há pouco mais de um mês, Voldemort regressou aos seus plenos poderes. E deves estar também lembrada de que esta não é a primeira vez que isto acontece. Essa aconteceu quando eu e a tua mãe estávamos ainda em Hogwarts. Eu era um Gryffindor do sétimo ano e a tua mãe uma Slytherin do quarto. Por essa altura, Voldemort ainda andava apenas a recrutar, mas o sentimento que havia na época era muito parecido ao que em breve se vai abater sobre nós: o de uma guerra eminente.


Lucius Malfoy era um Slytherin do meu ano, e toda a gente sabia que ele fazia parte do grupinho de vassalos do Senhor das Trevas, e que em breve se tornaria Devorador da Morte. Nunca tive problemas com ele, não directamente, mas odiava e condenava tudo o que ele e os seus capangas representavam. O meu sangue, e o de muitos outros, estou certo, era tão puro quanto o deles, mas eu não queria viver num mundo onde apenas isso representasse todo o ser de uma pessoa. E portanto, logo após a minha formatura, juntei-me à Ordem da Fénix.


Durante os quase três anos que se seguiram persegui, capturei e matei (embora não me orgulhe disso) muitos daqueles que se intitulavam Devoradores da Morte. Contava pelos dedos de uma mão os que me conseguiam escapar. Eu era realmente muito bom no que fazia, talvez fosse o melhor. E por isso, e com alguma ajuda de Dumbledore, tornei-me oficialmente um Auror.


Alguns meses depois de adquirir esse título, decorria o mês de Março e estávamos em '79, dei por mim, e sob ordens da Ordem, na peugada de uma rapariga chamada Julie Prince Barclay. Alguns membros da Ordem que vigiavam Severus Snape tinham-na visto com ele em várias ocasiões e começaram a ficar com algumas suspeitas. Enquanto a procurava, fui investigando a sua vida, e descobri algumas coisas curiosas.


Afinal, Julie e Snape eram primos. A mãe de Snape, Eileen Prince, era irmã da muito conhecida Cecília Barclay, única portadora viva do Dom de Victoria e amiga íntima de Dumbledore. Logo aí comecei a achar que havia ali qualquer coisa que não batia certo. Como é que Dumbledore podia ter como amiga íntima a mãe de uma Devoradora da Morte? Se ela o fosse realmente - mãe de uma Devoradora da Morte, quero dizer – com certeza que, tal como Eileen, já não estaria viva. Então, e disposto a não arriscar o meu novo posto de Auror, reportei as minhas descobertas à Ordem. Mas, mesmo assim, fui encarregado de capturar Julie e levá-la para interrogatório, só para prevenir. Franzi o sobrolho àquela ordem, mas eles eram mais velhos e mais experientes e por isso assenti. Não o teria feito se soubesse que Dumbledore não tinha conhecimento da missão que eu iria levar a cabo.


Passei então mais um par de meses à procura dela, mas finalmente encontrei-a numa casa decrépita situada num sujo e pobre bairro muggle. Sabia que ela estava sozinha lá dentro, pois há quase três horas que vira Snape sair e Desmaterializar-se nos degraus da porta. Então, e dado que a rua estava deserta, ergui a minha varinha defensivamente e entrei na casa pela porta da frente, disposto a tratar do assunto rapidamente. Mas o que vi não era, de todo, o que eu esperava e o que a Ordem me dissera que ia presenciar.


A casa onde eu acabara de penetrar era ainda mais pequena, suja e velha do que vista de fora. Tinha apenas uma divisão quadrada, com uma cama encostada a uma parede, estantes a desfazerem-se noutra e uma pequena depressão na parede restante, tapada com um lençol velho e que eu supus ser uma latrina. Havia livros destruídos por todos os lados. E quanto a Julie? Ela estava sentada no chão, com a cabeça apoiada nos braços, que repousavam na cama bafienta. Os cabelos arruivados e compridos dela brilhavam quando a luz dos candeeiros da rua entrava na casa pela minúscula janela. Chorava convulsivamente, tal qual uma criança, e nem parecia ter-se dado conta que eu estava ali. Reparei que a sua varinha estava caída contra a estante e fiz um silencioso encantamento de invocação, mais por instinto do que por achar que ela me ia atacar. O barulho da varinha a voar para a minha mão despertou-a do seu torpor e rapidamente se levantou, dando alguns passos atrás, ficando encostada a um dos poucos pedaços de parede livres, à minha frente.


Quando a olhei nos olhos, não consegui deixar de me espantar. Ela era, possivelmente, a mulher mais bonita que eu alguma vez vira. A sua face pálida (tão parecida com a tua!) estava molhada pelas lágrimas; as suas bochechas e nariz apresentavam um leve tom de rosa, por ter estado algum tempo a chorar. Mas o seu olhar esmeralda…Aquele olhar, Narcissa, ficou gravado na minha mente a ferro e fogo.


Como já te disse, capturar apoiantes de Voldemort era a minha vida e, por isso, reconhecia sempre aqueles olhares cheios de ganância, superioridade e ódio. No entanto, aquele olhar que Julie me lançava era cristalino, puro, inseguro e assustado, como se não fizesse a menor ideia de quem eu era e o que raio estava a fazer ali. Parara de chorar, mas eu via claramente os seus joelhos a tremer por debaixo das vestes escuras e ricas que ostentava.


Nenhum de nós falou durante algum tempo. Quando finalmente lhe disse quem era e ao que vinha (bem sei que foi imprudente, mas a beleza dela era, é, e sempre foi inebriante), ela sorriu fraca e tristemente e vi-a relaxar. Respondeu-me apenas com três palavras: 'vens demasiado tarde' (sei que fazes o possível para não estar na sua presença, mas se tomares atenção à voz da tua mãe, repararás que é idêntica à tua). Não percebi ao que ela se referia. Eu tinha vindo por ela e encontrara-a, numa posição até bastante vulnerável e vantajosa para mim. Tinha chegado precisamente no momento certo.


Ela deve ter lido tudo isto na minha expressão porque, em seguida, explicou-me o que queria dizer: Snape, seu primo, tinha estado ali mais cedo, despedindo-se e rogando para que não o procurasse nunca mais, advertindo-a de que, se o fizesse, provavelmente seria recrutada e obrigada a partilhar do seu destino: o destino de um Devorador da Morte.


Apercebi-me finalmente de que ela não fazia parte dos apoiantes do Senhor das Trevas. E quando Julie continuou, dizendo que ela e Snape eram como irmãos e que tentara de tudo para o fazer mudar de lado, e mostrando-me um tosco 'S' gravado no seu antebraço direito, concluí que não estava a mentir. Tentei então convencê-la de que, sendo assim, não tinha qualquer intenção de a entregar à Ordem e depois fi-la concordar em vir comigo para um sítio seguro.


Preparávamo-nos para sair quando Dumbledore se Materializou à nossa frente. Estava muito sério quando me perguntou o que é que eu pensava que estava a fazer, levando Julie Barclay por uma mão dali para fora. Um pouco (muito!) a medo, expliquei-lhe tudo: a missão que a Ordem me delegara mesmo depois das minhas descobertas e que eu apenas aceitara porque pensava que ele tinha conhecimento, e o meu plano para levar Julie para um local protegido. Ao vê-lo alterar a sua postura e sorrir levemente, respirei de alívio. Disse-me então que se tivesse sabido daquela missão, jamais a teria autorizado (embora não me tenha dito porquê) e que eu mostrara ser um Auror digno desse nome. E depois, fez comigo o acordo que iria mudar a minha vida.


O plano era eu levar Julie dali e mantê-la em segurança até indicação do contrário e sem a Ordem saber. Dumbledore, para manter as aparências, daria aquela missão como falhada e suspender-me-ia da Ordem durante tempo indeterminado. No entanto, eu continuaria a agir como Auror, investigando o que pudesse, capturando suspeitos e aniquilando ameaças, prestando contas apenas a Dumbledore que, por sua vez, revelaria à Ordem as informações que achasse relevantes.


É óbvio que aceitei e depois de ele, com um sorriso, se Desmaterializar, levei Julie e escondi-a numa pequena casa nos arredores de Londres que ela dizia pertencer à família da mãe, que há muito se esquecera daquele terreno e só o mantinha ali por ser uma herança antiga. Estou a falar, é claro, e como já deves ter deduzido, da casa que sempre conheceste como sendo a de Cecília.


Todos os dias passava algumas horas com Julie. Levava-lhe mantimentos e livros e, aos poucos, fui conhecendo-a melhor. Descobri que era extremamente inteligente e desenrascada, mas a sua timidez não tinha limites. Inevitável e eventualmente, acabámos por nos apaixonar. E com a bênção de Cecília (a quem, com a autorização de Dumbledore, contámos tudo sobre o meu novo 'trabalho'), casámos, em segredo, a vinte e quatro de Outubro daquele ano, partindo depois para Paris, onde ficámos até Março do ano seguinte.


Regressámos a terras britânicas perto do final desse mês, dado que a data do nascimento de Thomas aproximava-se. E no dia vinte e três, cinco dias antes do previsto, ele deu o seu primeiro olá à vida.


Vivemos o ano seguinte de forma relativamente confortável. Não me refiro ao local que habitávamos - já que desde que Tom nascera, a tua avó, muito generosamente, concedera-nos a mansão Barclay -, mas sim ao facto de estarmos constantemente preocupados com a minha vida. Cada vez passava mais tempo a rastrear Devoradores da Morte do que a apreciar a companhia do meu filho e da minha mulher. As coisas iam explodir em breve e nós sabíamo-lo, tínhamos noção de que era apenas uma questão de tempo. E, segundo Dumbledore, esse espaço de tempo era menor do que pensávamos. É claro que, como sempre, ele não se enganou.


Tenho a certeza que sabes o que aconteceu na noite de trinta e um de Outubro de '81. Todo o mundo se lembra dessa noite, em que Harry Potter, ainda demasiado novo para saber como ou porquê, reduziu o Senhor das Trevas a pouco mais que nada; toda a gente se recorda das celebrações por todo o globo, das festas pela noite dentro. Quando soubemos, eu e a tua mãe fizemos o luto pelos meus colegas, os Potter, mas ficámos aliviados por Voldemort parecer ter desaparecido, nem que fosse apenas por uns tempos.


Dado que o clima pós-guerra que decorria era o de vitória, Dumbledore, sabendo que agora eu tinha um filho para sustentar e não queria viver da herança dos meus pais e da minha mulher, conseguiu que eu ocupasse o meu actual cargo, que era o mais parecido que podia haver com o meu antigo trabalho. No entanto, e como já referi logo no início desta carta, Voldemort regressou. E agora, os meus serviços de Auror foram novamente requisitados.


Há dois dias, contei à tua mãe e a Cecília que voltara ao activo. E foi aí que Cecília nos revelou uma descoberta que fizera há anos mas que pensara nunca ter de precisar de nos contar (sobre a descoberta em si não me cabe a mim falar). Aquilo que nos disse fez-nos perceber tudo aquilo que ela tinha feito e que nós vínhamos a questionar desde que nasceras; fez-nos compreender que afinal, Cecília tinha razão em querer encarregar-se da tua educação e não nos deixar participar, em querer fazer-te pensar que ser uma Barclay não era motivo de orgulho, em querer que te sentisses diferente e alienada (mas especial, apesar de tudo) dos teus irmãos e do resto das pessoas. Em suma, fez-nos repensar totalmente a nossa vida, e a segurança da nossa família, e a tua especialmente, tornou-se o mais importante.


Infelizmente, nem tudo o que Cecília ou nós fizemos (e o que vamos ainda fazer!) para esse efeito foi benéfico para ti e para os teus irmãos. Com certeza que a tua mãe te saberá explicar tudo isso melhor do que eu poderei fazer por carta. E suponho que, para além desta, tenhas outras missivas a receber. Não te apoquentes, querida filha, em breve saberás e compreenderás tudo. Serás, finalmente, 'A Que Tudo Vê'.


Olhei pela janela para constatar que já está a anoitecer. Mas tu continuas deitada na relva, agora sozinha, mas ainda a olhar o céu. Penso no quanto lamento o facto de, quando leres isto e tiveres perguntas a fazer, Cecília, Aled, ou até mesmo eu, não estaremos por perto para te responder; no quanto me dói saber que – e demasiado cedo! – terás de te habituar a ficar (ainda mais) sozinha. A tua mãe falou-me de Daphne, mas penso que Daphne nunca será suficiente. Cecília é tudo o que precisas, certo? Ouvi-te dizê-lo muitas vezes. Mas agora que Cecília te abraça e te convence meigamente a ir jantar, sem tu fazeres a mínima ideia de que poderá ser o último jantar que partilhas com ela…


Gostava de te poder livrar da tua dor. Gostava que, um dia – espero que não daqui a muito tempo -, me deixasses amar-te como Cecília te ama. Por agora, só me resta pedir perdão. Por tudo o que fiz, o que não fiz e por tudo o que ainda vou deixar ou não de fazer. Tenta compreender que foi tudo pela única coisa pela qual vale a pena viver.


Amor. A ti, aos teus irmãos, à tua mãe.


Longe ou perto, trago-vos sempre comigo. Nunca te esqueças disso, Narcissa. Nunca esqueças este teu pai que te ama e que reza para um dia te ver feliz.


Mais uma vez (seja quantas vezes forem, nunca serão suficientes), perdoa-me.


'It's a shame that it had to be this way
It's not enough to say I'm sorry
It's not enough to say I'm sorry'
(Goodbye – Secondhand Serenade)


Feliz 13º aniversário (e todos os outros que virão)!


Com amor,


William Stuart Jones"


'Before the truth will come to fill our eyes
The wool comes down in the form of fire
And when the answers and the truth have cut their ties
Will you still find me
Will you still see me through smoke


- Ele era Auror… - conseguiu dizer Tom, depois de alguns minutos.


A sala estava silenciosa. Ninguém conseguia processar aquela informação rapidamente. Cissa limpava os olhos com a mão, sendo observada por Adam, que ostentava uma expressão de tristeza. Daphne estava de boca aberta e olhava o vazio, provavelmente fazendo as suas próprias suposições. James estava sério, como sempre, e Claire parecia simplesmente furiosa.


I was born in a house in a town just like your own
I was raised to believe in the power of the unknown
When the answers and the truth have cut their ties
Will you still find me
Will you still see me through smoke


- Ele sabia o que estava para vir e não nos disse. – murmurou, raivosa, apertando as mãos.


- Ele sabia que a avó ia morrer e não me avisou. – disse Cissa, suspirando.


When their whispers have painted pictures
That make you doubt what you once believed in
Even stories that hide your glory to keep us searching


- Nós somos primos de Severus Snape, possivelmente o homem mais corajoso que alguma vez conheci, partilhamos o nome com ele, e não fazíamos ideia. – disse James, ao fim de uns segundos.


- Toda a gente sabia de tudo, excepto nós! – concluiu Claire, tentando controlar a sua fúria.


Who do you believe when you can't get through
(Through smoke)
When everything you know seems so untrue
(Through smoke)
When I'm lost in a place that I thought I knew
(Through smoke)
Give me some way that I might find you'
(Through Smoke – Needtobreathe)


- Não percebo por que é que vos ocultaram tudo isto, sinceramente. – afirmou Daphne, olhando em volta.


- Talvez a resposta esteja na outra carta. – opinou Adam, apontando para o subscrito ainda selado na mão de Narcissa.


Cissa olhou para o amigo e depois para a carta. Lentamente, fez o mesmo que fizera com a de William: rasgou o lado e puxou as folhas. Eram bastante menos do que as do pai. Mas este pergaminho era o que usava no dia-a-dia, o que significava que Aled teria escrito aquela carta pouco tempo antes de morrer.


- Quando estiveres pronta, Ci. – disse Claire. Narcissa assentiu e começou a ler.


"Queridíssima sobrinha,


Quero começar por te dizer o alívio que sinto por te poder finalmente escrever esta carta. Foram precisos alguns anos a atar todas as pontas soltas, a procurar paz interior suficiente para conseguir pegar na pena e escrever estas linhas sem me sentir culpado por aquilo que vou deixar para trás.


Pois é, sobrinha, a verdade é que assim que a última palavra desta carta acabar de ser escrita pela minha mão, eu partirei deste mundo. Irei ter com Cecília e a nossa mãe onde quer que elas estejam. Lamento muito, pequena. Mas não posso fazer nada para evitar e, mesmo que pudesse, não sei se o faria. Já vivi largos anos neste mundo, já vi tudo o que havia para ser visto, já senti tudo o que tinha de sentir, já tive uma família: pai, mãe, irmãs, esposa, filha, neto e os meus adorados sobrinhos. Tenho de dar lugar aos outros que virão, certo? Portanto, vou terminar este meu último dever e depois, seguirei em frente em paz.


'Once there was a time when we could learn
All the simple pleasantries a follower should yearn
Now all that I can do is watch them burn
And wish that I could save them all, or just one


Escrevo-te para te contar a verdade, Narcissa. A verdade que durante anos foi escondida de ti e dos teus irmãos por razões que eu nunca considerei válidas. O medo sempre foi uma justificação cobarde para a omissão de factos tão importantes como estes que te quero revelar. Fica sabendo que apenas não o fiz antes porque não me era permitido. E quem me cosia a boca, por assim dizer, perguntas tu, sobrinha. Penso que já sabes a resposta. Dei-ta há muitos anos. Disse-te: 'Cecília está cega pelo medo'. Lembras-te?


See the fake, everyday shaking hands of men, promising the end
Hear him speak of all the things that we need to hear, to adhere


Quando a tua avó se apaixonou por Phillipe e decidiram casar, a nossa mãe reuniu os três filhos – eu, Cecília e Eileen, que lamento muito que nunca tenhas conhecido -, e revelou-nos aquilo que era revelado há gerações a todos os primogénitos (e seus irmãos, se os tivessem) no dia do seu casamento: havia uma profecia, feita há séculos por um Vidente medieval pouco depois do nascimento do primeiro descendente de Victoria, que dizia que a rapariga nascida da vigésima sexta geração de Victoria – ou seja, a décima terceira neta portadora do Dom -, iria, tal como a portadora original, Victoria, possuir o Dom da Visão, e iria ser capaz de ver tudo."


Justify, your secrecies that surmise your cries
I see the way you look around the bend
Is it going to end, when?


Cissa começou a respirar pesadamente e parou de ler. Não conseguia pensar em nada e estava de novo à beira das lágrimas. James tirou-lhe gentilmente a carta das mãos com a mão esquerda, passando o braço direito pelos ombros da prima. Passado uns segundos continuou onde Cissa parara.


"E quando digo tudo, sobrinha, quero mesmo dizer tudo. E como já deves ter percebido, tu és a décima terceira neta. Serás capaz de ver o passado, o presente e o futuro com a mesma facilidade com que respiras. Saberás coisas que não vais querer saber e coisas que gostarias de descobrir e que simplesmente não conseguirás. Mas lembra-te: tudo o que vires, com excepção do passado, não será definitivo. O Destino é brincalhão, e costuma dar-nos mais do que um caminho para chegarmos seja a que lado for. Cabe às pessoas escolherem de acordo com o que acham certo. E caber-te-á a ti decidir se deves interferir nas suas escolhas ou não.


The visions that I've seen have left me torn
Between the resurrection and the prophecy unborn


É uma grande responsabilidade, pequena. E, garanto-te, se eu achasse que não serias capaz de a suportar, nunca te tinha contado e continuaria vivo, vendo-te crescer e provavelmente ajudando-te quando descobrisses esta última peça do puzzle e abraçasses o teu Dom totalmente.


Já deves ter percebido o porquê da minha morte (física!) por esta altura. Seja como for, eu prometi que te contaria toda a verdade, portanto, aqui vai mais um pedaço: como sabes, na nossa família, os Dons que nos correm no sangue e nos enchem de vida são passados de avó ou avô para neto ou de mãe ou pai para filho há muitas gerações. Mas, como também sabes, há dons, como o teu e o de Cecília, que possuem restrições de hereditariedade: apenas são transmitidos de avó para neta – de mulher para mulher - e sempre e unicamente à primeira rapariga a nascer. Portanto, quando Tom nasceu, não nos preocupámos com a profecia. Sendo que Thomas era obviamente homem, a dita não significava nada.


Mas depois vieste tu, pequena. A primeira rapariga a nascer. Ao tocar-te, Cecília descobriu imediatamente que herdaras o seu Dom. A profecia acabara de se concretizar. E aquela seria só a primeira de muitas vezes. Porque também a tua vigésima sexta descendente possuirá o Dom da Visão. E a vigésima sexta descendente dela também. A profecia só deixa de se concretizar se tu ou a tua descendência conseguirem contornar as restrições, ou seja, se, por exemplo, tiverem um filho ou neto homem que possua o teu Dom.


Mas terás muito tempo para te preocupares (ou não!) com isso. O importante agora é que compreendas o desenrolar dos acontecimentos que levaram a que, durante toda a tua vida, fosses mais protegida do que o necessário o que, em última análise, foi muito pouco benéfico para ti.


Quando Voldemort voltou ao poder em '95, Cecília achou que estavas em perigo. E apesar de ter sempre considerado a profecia verdadeira e tê-la sempre levado à letra, a tua avó decidiu ir ao Departamento dos Mistérios tirar a prova dos nove. É claro que, como mulher inteligente que és, com certeza sabes que as únicas pessoas que podem mexer ou retirar as profecias do seu lugar são aquelas a quem a profecia diz respeito. E, como é óbvio, a profecia que a tua avó procurava não lhe dizia respeito. No entanto, tal como tu agora, Cecília era incrivelmente poderosa. Não lhe foi difícil retirar a profecia do sítio e saber o que dizia em concreto. O difícil foi aceitar as consequências de tal acto.


Suponho que podemos dizer que o 'castigo' para quem tenta fazer o que Cecília fez é a morte. Não imediata, como a minha quando pousar esta pena, mas bastante rápida. Sabendo disso, Cecília veio ter comigo e contou-me que descobrira que a profecia era mesmo verdadeira e que sabia que em breve iria desaparecer permanentemente da nossa vida. Infelizmente, fez-me também prometer que nunca te diria nada. E não foi uma simples promessa. Eu fiz um Juramento Inquebrável.


Arrependi-me de o ter feito no momento seguinte. O teu pai e a tua mãe ficaram ainda mais paranóicos com a tua segurança e, ainda para mais, apenas três anos depois, estávamos em Guerra. Guerra essa da qual tu devias ter sido evacuada logo à primeira ameaça de batalha. Eu ainda lhes tentei fazer ver que só te matando é que deixarias de lutar contra Voldemort, mas tendo-me como velho excêntrico e caduco, ninguém me deu ouvidos.


I think that I will document the fall
And say I hate to say it, but I told you all


Enfim. Sabes o que aconteceu depois disso. O teu pai desapareceu da face da Terra logo a seguir ao término da Guerra e ninguém o vê desde então. Já se passaram mais de dois anos e nem sequer um rumor sobre o seu paradeiro. O seu estado de saúde não me preocupa. Ambos sabemos que ele está bem vivo, não sabemos, pequena? Talvez um dia ele volte e te explique por que partiu. Garanto-te que não faço a mais pequena ideia. Seria de supor que, com a Guerra acabada e o perigo afastado, seria possível ser ele a contar-te tudo o que aqui te expus. Mas, e como já disse, o Destino apresenta-nos sempre várias opções. Quiçá o caminho dele acabe por coincidir com o teu, eventualmente.


Espero que sim. Espero que, um dia, os Prince Barclay Jones voltem a ser uma família. É esse o meu último e mais caro desejo.


Your side, choose wise
Your side, watch the change in time, when you whisper.
You still blame, is my message clearer?'
(Justify – The Red Jumpsuit Apparatus)


Sê forte, sobrinha. Sê responsável. Sê sábia. Sê, finalmente, e como eu sempre disse que serias, 'A Que Tudo Vê'.


Do teu tio que te adora,


Aled Prince Solomon"


- Incrível…ele conhecia-te melhor que Cecília, melhor do que qualquer um de nós. – exclamou Daphne, estupefacta.


- Espera. – disse Cissa, rindo levemente. James também sorria. – Há um P.S. – Tornou a ler onde o primo parara.


"P.S: Esqueci-me de fazer o meu testamento! Bom, aqui vai ele: a minha casa, assim como a fortuna dos Solomon, pertence ao meu querido neto, James Prince Solomon. Que lhe faça o achar mais correcto (e o Jamie sempre foi o mais correcto de todos nós)"


- É o que ando a dizer há anos, James. – comentou Cissa.


- Eu sei.


" Os meus pertences também lhe serão entregues, à excepção de uma caixa de música (e de todo o seu conteúdo), que deve ser entregue a Claire Prince Barclay Jones, minha sobrinha; de Thorn, o meu cavalo, que deve ser entregue a Thomas Prince Barclay Jones, meu sobrinho;"


- A caixa de música! Como é que ele sabia que eu adorava aquilo? – exclamou Claire.


- O Thorn era de Aled? Não fazia ideia. – disse Tom, muito espantado. – Foi a mãe que mo deu, quando construí a herdade.


"…e de um colar, que pedi a Cecília que escondesse em minha casa, que deverá pertencer a ti, pequena. Só tu o podes encontrar. Ah, sim, já me ia esquecendo: a fortuna dos Prince pertencia a Cecília, e a legítima herdeira de Cecília és tu, Narcissa. Portanto, declaro que todo o dinheiro dos Prince te seja entregue.


P.S.2: Uma pequena nota para o meu neto: perdoa-me. Amo-te. És o meu orgulho. Nunca te esqueças: Veritas Caussa Beatitas."


- A verdade para o bem da felicidade. – traduziu Cissa, sorrindo. – No final, ele acabou por morrer por isso.


- O que é que isso significa?


- É o nosso lema. O lema dos Solomon. Dos Verdadeiros. – elucidou James, deixando também escapar uma lágrima. Daphne, Adam e até Claire ainda estavam confusos.


- É o lema dos que têm o Dom de James. Significa que a verdade é o caminho. – esclareceu Cissa.


- Mas o meu Dom não é importante agora. O teu é. – disse, virando-se para Narcissa. – O Dom da Visão!


- Não tenho esse Dom, James. Não ainda, pelo menos. – suspirou. - E pela descrição, não estou com muita pressa que ele apareça. – fez uma pausa. – Mas por que raio me protegeram tanto? Continuo sem perceber. E nem o meu pai nem Aled souberam explicar isso.


- Eu sei. – ecoou uma voz, vinda da entrada.




N/A: Aí está, a explicação do apelido Prince. Espero que tenha sido clara, mas se houverem dúvidas, não hesitem ;)


Então e quanto à razão porque ela foi protegida? Suposições? A resposta a esta última pergunta vem, obviamente, no capítulo seguinte, um dos que mais gostei de escrever :D


Love,
~Nalamin


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