Something Right

Something Right



Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D









Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 19: Something Right


- Tom! – gritou uma voz aguda. Rapidamente Tom se voltou para ver a irmã mais nova a andar na sua direcção. – Está tudo bem por aqui, maninho?


- Sim, já tratei de tudo, Claire, relaxa. – ela respirou fundo algumas vezes.


- Vou tentar. Não disseste que tinhas convidado a Liz? – perguntou, depois de uma pausa.


- Disse, ela deve estar mesmo a chegar. Ela ofereceu-se para dar uma mãozinha e eu não recusei. – Claire sorriu ao lembrar-se do aspecto da amiga do irmão.


- Potencial namorada? – perguntou, marota.


- Não! – respondeu Tom, com os olhos arregalados. – Claro que não. Apenas amigos. Conhecemo-nos em Roma, quando lá fui em negócios. – acrescentou.


- Está bem. E Cissa? Onde está ela? Avisaste-a de que não a irias buscar? – perguntou Claire, ansiosa. Tom riu.


- Claire, respira! Vai correr tudo bem, Cissa vai estar aqui. – olhou por cima do ombro da irmã. – Olha, Liz acabou de entrar. Liz!


Ouvindo a voz grave e alta de Tom, Liz olhou na direcção dos irmãos Barclay com um sorriso e apressou-se na sua direcção. Estava muito bonita, envergando um longo vestido cinzento com decote à barco, que se moldava ao seu corpo fantástico. Tinha apanhado o cabelo no rabo de cavalo bem arranjado, deixando uma mecha de cabelo solta à frente, emoldurando-lhe os brilhantes olhos verdes.


- Muitos parabéns, Claire! – exclamou, abraçando suavemente a mais nova dos Barclay. Claire sorriu.


- Obrigada. E obrigada por teres vindo, Liz.


- Não tens de quê. Como estás, Thomas? – acrescentou, depois de uma pequena pausa, abraçando-o também.


- Estou óptimo.


- Ainda bem. Então agora, digam-me em que vos posso ajudar.


- Oh Liz, nem penses que te vou pôr a pendurar enfeites nesse vestido fabuloso! – exclamou Claire. A morena riu.


- Thomas pode fazer isso. E que tal se eu tratar das mesas? – Claire assentiu. – E tu tens de te ir vestir. Está quase na hora.


- Sim, tens razão. – voltou-se para o irmão. – Se quando Cissa chegar eu não estiver aqui, manda-a ir ter comigo lá dentro, sim?


- Sim, Claire, vai lá. – Claire virou costas e começou a andar. – E respira! – exclamou, fazendo a irmã voltar-se e responder-lhe com um sorriso.


- Ela está mesmo nervosa. – comentou Liz, quando Claire desapareceu da vista de ambos.


- Pois está. Mas isto é só uma cerimónia simbólica, porque, tecnicamente, ela já é curandeira efectiva no hospital.


- Não deixa de ser importante, no entanto. Além disso, ela teve todo este trabalho a decorar a sala. – Liz olhou em volta. - Que, deixa-me dizer-te, está magnífica.


Estava mesmo. Claire conseguira transformar uma das sujas e decrépitas caves do hospital num espectacular salão de baile. As paredes, antes cinzentas e deprimentes, tinham sido pintadas com um bege claro, cor de pérola. Duas janelas enormes, do chão a meros centímetros do tecto, magicamente criadas para que apresentassem uma paisagem de um enorme lago (o da herdade de Thomas), figuravam na parede da direita, e estavam emolduradas por cortinas douradas, presas de lado com pequenos ganchos com o brasão do hospital. Na parede oposta, perto de onde Liz e Thomas se encontravam, grandes mesas rectangulares cobertas por toalhas de um branco imaculado, bordadas com fios de ouro, esperavam pacientemente que os cozinheiros e mordomos lhes colocassem em cima todas as iguarias que iriam ser servidas nessa noite. Ao fundo da sala, um pequeno estrado elevava-se a meio metro do chão, onde uma pequena orquestra já preparava os seus instrumentos. E no meio da sala, rodeadas por tudo aquilo, encontravam-se dúzias de mesas redondas, cobertas com as mesmas toalhas que as outras, onde figuravam bonitos pratos, ladeados por ornamentados talheres de prata, e uma pequena jarra de cristal no centro da mesa cheia de rosas rubras, que contrastavam com a palidez do branco das toalhas e das cadeiras.


- Eu sei. Claire está aqui desde manhã a tratar de tudo. Não deixa nenhum pormenor escapar-lhe.


- Uma qualidade sem dúvida apreciada num Curandeiro. – retorquiu Liz, sorrindo. – Vamos ao trabalho, então? Não queremos que Claire tenha um esgotamento por não termos arranjado as mesas a tempo. – Tom riu.


- Bom, não podíamos estar em sítio melhor para isso acontecer.


E rindo, os dois afastaram-se e começaram a dedicar-se às tarefas de que Claire os encarregara.




 


- James, isto começa a tornar-se simplesmente irritante. – comentou Adam, apertando o laço negro ao pescoço, em frente ao espelho. – Espero que tenhas noção de que não estou assim vestido para nada. Eu vou à cerimónia de Claire. Ela é minha amiga, e estou-me pouco marimbando para o facto de a tua mãe aparecer lá ou não. – James suspirou.


- Tens de compreender que não é fácil para ela aceitar aquilo que somos.


- Eu compreendo, James. Os meus pais passaram pelo mesmo, e muito mais cedo que a tua mãe. – o moreno abanou a cabeça.


- Não é a mesma coisa. – Adam acabou o que estava a fazer e olhou-o de sobrancelha erguida.


- Como assim?


- Verita, lembras-te? – questionou James, apontando para ele próprio. Adam encolheu os ombros.


- Sim, e depois?


- E depois que não te podes esquecer de que sou o único em Inglaterra. Talvez até da Europa, segundo os inquéritos do Ministério. – Adam não respondeu, não percebendo onde James queria chegar. – Adam, o Winzegamot foi dissolvido porque eu existo. Porque vejo a verdade nos outros, mesmo que eles a escondam de todas as maneiras possíveis e imaginárias. E porque, como muito bem sabes, não consigo mentir. Sou a personificação da Justiça! – exclamou, sarcasticamente dramático.


- Continuo sem perceber. O que raio tem isso a ver com a tua mãe nos aceitar? – James olhou Adam, tristemente.


- Eu tenho de ter filhos, Adam. Tenho de deixar descendência. Senão, o meu Dom perde-se com a minha morte. – Adam sorriu.


- Sim, eu também quero filhos. Foi por isso que falámos em adoptar, James. – retorquiu, voltando-se de novo para o espelho e alisando a camisa.


- Não, Adam. Os meus filhos têm de partilhar o meu sangue. Senão, não possuirão o meu Dom.


Adam fitava-se no espelho, evitando olhar para James. 'Então é isso. Seja como for, nunca vamos poder ficar verdadeiramente juntos. Ele tem de tomar uma mulher qualquer para poder ter filhos.' Suspirou, apoiando as mãos na mesa à sua frente e olhando para o chão. 'E eu? Estarei disposto a aceitar essas condições? A partilhá-lo com outra pessoa? Mesmo que essa pessoa não desperte nele qualquer tipo de interesse?'


- Adam… -chamou James, prostrando-se atrás dele e colocando-lhe as mãos nos ombros. – Não tens de te preocupar com isso agora, podemos falar mais tarde.


- É indiferente quando falamos sobre este assunto, James. Não vai alterar nada a forma como as coisas vão acontecer. – retorquiu, afastando-se do moreno e pegando no casaco negro, vestindo-o.


- Não sabemos o dia de amanhã, Adam. Tudo pode mudar.


- Para alguém tão inteligente, às vezes és terrivelmente ingénuo. – comentou Adam, voltando-se para ele, agora totalmente vestido e pronto para sair. – Então não vens, é isso? Aposto que Claire vai ficar contentíssima quando souber o que Kathryn te faz fazer apenas devido aos seus preconceitos idiotas. – James limitou-se a suspirar. – Muito bem, então. Não esperes acordado.


Irritado, Adam desmaterializou-se, deixando para trás um James desconsolado.




 


- Estou a começar a ficar preocupado com Narcissa. – disse Tom, enquanto se dirigia à dispensa na companhia de Liz.


- Porquê? Está doente ou algo do género? Realmente não me pareceu muito bem da última vez que a vi.


- Não, nada disso. Mas, como tive de ficar aqui com Claire, não a pude ir buscar. Mandei Draco em meu lugar. E não sei se isso vai correr bem ou não. – respondeu Tom. Ela parou-o, puxando-o pelo ombro.


- Mas o que é que se passa com eles os dois? Já em tua casa, aquela picardia entre eles…- Tom nada disse. – Eles estão juntos? Têm alguma coisa? – perguntou cuidadosamente. Tom demorou-se na resposta.


- Tiveram. Há muitos anos. – Liz sorriu. – Mas… - o sorriso dela desvaneceu-se.


- Há um "mas"?


- Mas há pouco tempo, as coisas tornaram a caminhar nesse sentido…O que eles tiveram…


- Mas já não têm, pois não? Óptimo. – Tom gargalhou sinistramente, abrindo a porta da dispensa.


- Sabes, Liz, é melhor não começares já a fazer planos. Não os conheces bem. Penso que não tens uma ideia bem clara de onde e entre quem te estás a meter.


- Eu sei cuidar de mim, Tom. – retrucou, levemente irritada, seguindo-o.


- Não disse o contrário. Só comentei que não conheces o 'inimigo'. Como é que podes saber qual é o melhor 'ataque'?


- Eu tenho as minhas estratégias. Além disso…. – Ele olhou-a, quando a viu hesitar.


- Além disso o quê? – ela suspirou, sorrindo.


- Além disso, eu e Draco já somos bastante íntimos, se é que me entendes.


Tom não respondeu, limitando-se a tirar o que precisava das prateleiras, enquanto a sua cabeça funcionava a mil à hora. 'Não acredito que Draco dormiu com ela depois de me dizer que ia resolver as coisas de uma vez com Narcissa! Merlin, Draco, és tão idiota! Se Narcissa descobre, está tudo perdido.'


- Seja como for, o Draco há-de cair definitivamente nos meus braços. Escreve o que te digo. – comentou, alegre.


- Sabes, não o faria nem que me pagasses. – disse, sorrindo, acordando das suas divagações.


- Ora, porquê? Não acreditas nas minhas capacidades?


- Ah não, não duvido da qualidade das tuas capacidades. - Liz pareceu confusa.


- Então?


- Só acho que não és o suficiente para competir com a minha irmã. – rematou, olhando-a directamente nos olhos.


Naquele momento, Thomas Barclay pensou que, se o olhar matasse, ele já não pertencia a este mundo.




 


Assim que me materializei em frente à entrada das traseiras do hospital, deparei-me com Adam encostado à parede ao lado da porta, de mãos nos bolsos, olhando para o chão. Eu conhecia o meu melhor amigo quase melhor do que a mim própria, e aquela pose dele só podia significar uma coisa: problemas.


- Adam! – exclamei, andando na sua direcção, ignorando o Malfoy, que se materializara ao meu lado. – O que se passa?


Ele levantou a cabeça e olhou-me com um pequeno sorriso, que não se estendeu a mais lado nenhum excepto aos seus lábios carnudos. Os seus olhos verdes não estavam brilhantes como normalmente, nem possuíam aquela alegria inata que lhes era típica. Pelo contrário, estavam mais escuros do que eu alguma vez os tinha visto, e tão tristes que quase me trouxeram lágrimas aos olhos.


- Olá, Ci. Não se passa nada. – disse ele, soando mais como ele próprio. Infelizmente, bastava apenas ter olhos na cara para ver que, apesar do seu tom confiante, os seus olhos não seguiam essa linha, mantendo-se tristes.


- Adam, por favor, não me mintas. Eu consigo ver que não estás bem. – respondi, agarrando-lhe no braço direito. Ele sorriu levemente e pousou a sua mão esquerda sobre a minha.


- Falamos mais tarde, sim? Agora vamos festejar a conquista de Claire. – Endireitou-se e olhou por cima do meu ombro. – Boa noite, Draco.


- Sanders. – respondeu o loiro, de quem eu me tinha esquecido completamente que estava ali.


- Vieste com ele? – sussurrou Adam, sorrindo maroto para mim.


- Falamos mais tarde, sim? – retorqui, usando as suas palavras. Ele riu e assentiu.


- Nesse caso, vamos para dentro? Daphne já chegou e está a vestir-se com Claire. Devias ir lá ter com elas, a tua irmã está muito nervosa.


Ri-me, ao imaginar a ansiedade da minha irmã mais nova, e entrei no complexo, não conseguindo conter uma exclamação de espanto. Claire tinha-se esmerado, sem dúvida. Já tinha ido a muitos jantares e festas e bailes da mais alta sociedade bruxa mas, mesmo assim, nunca me tinha deparado com uma sala tão magnificamente decorada. Sorri, enquanto andava na direcção dos balneários, pensando que se Claire algum dia quisesse deixar de ser Curandeira, teria futuro como decoradora de interiores.


Atingindo rapidamente a porta com o símbolo feminino desenhado, abri-a e imediatamente ouvi um pequeno grito. Reconheci-o como sendo da minha irmã e caminhei rapidamente para o interior da divisão.


- Claire? – chamei.


- Cissa! Oh Merlin, ainda bem que chegaste! – foi a voz de Daphne que me respondeu, aparecendo vinda de um corredor à direita. Envergava o meu vestido preto, com brilhantes, que eu lhe dera quando éramos mais jovens. Não pude deixar de me rir.


- Adorei a escolha da indumentária, Daph. – comentei, deixando-a levar-me pelo pulso pelo corredor onde viera.


- Obrigada, querida. Mas agora temos de nos despachar.


Rapidamente chegámos ao final do corredor ladeado por bancos de madeira e cacifos, e virámos à direita. Claire encontrava-se de pé, em frente a um espelho de chão, com as mãos na boca.


- Claire, mana, o que foi? – perguntei, suavemente, aproximando-me dela.


- Oh Cissa, olha-me só para o vestido! Completamente destruído! – respondeu-me, apontando para o seu reflexo no espelho.


Quis gargalhar quando vi que ela se referia a um pequeno deslize na bainha, onde a linha tinha rebentado. Era quase tão imperceptível que tive de semicerrar os olhos para o conseguir ver. Sorrindo, coloquei a minha mão no seu ombro e falei calmamente.


- Claire, acalma-te. Vá, respira fundo. – ela obedeceu-me, não tirando os olhos da enorme falha do vestido. – Eu arranjo-te isso, está bem?


- Obrigada mana! – exclamou ela, extremamente contente, enquanto eu me ajoelhava aos seus pés. – Está muita gente lá fora?


- Sim, a sala já está bastante cheia. – respondi, passando a minha mão sobre o bocado de bainha descosida e vendo-a ficar novamente perfeita. – Já está.


Levantei-me, enquanto a minha irmã rodava o vestido, claramente à procura de mais falhas. Nessa altura pude olhar bem para o aspecto do dito. Era salmão, pregueado e muito comprido, tapando-lhe os pés. Não tinha alças, mas Claire envergava um casaco de renda da mesma cor do vestido, que lhe caía até meio das costas e lhe escondia os ombros. Deixara os seus cabelos soltos, mas tinha uma pequena rosa a enfeitar-lhos do lado esquerdo.


- Estás tão bonita, Claire. – elogiei, com um sorriso.


Ela sorriu para mim e pegou numa fita azul escura que estava caída numa cadeira a seu lado. Era larga e bastante comprida, e eu não fazia ideia nenhuma do que raio iria ela fazer com aquilo. Respondendo às minhas dúvidas, Claire colocou cuidadosamente a fita sobre os ombros, deixando as pontas caírem suavemente até quase aos seus joelhos.


- É mais ou menos como na Universidade, Ci. – explicou ela, provavelmente fitando o grande ponto de interrogação que era a minha expressão. - A fita azul escura é para os internos, a azul clara para os residentes e a branca para os efectivos. Temos esta cerimónia precisamente para recebermos as novas fitas que simbolizam a nossa nova posição.


- Por isso é que está tanta gente lá fora. Não são só os residentes que vão receber as fitas. Os internos também cá estão. – deduziu Daphne. Claire assentiu e olhou o relógio na parede.


- Devíamos ir. Ainda temos de encontrar a nossa mesa.


- Estamos todos juntos? – questionou Daphne, seguindo a minha irmã pelo corredor. Apressei-me a fazer o mesmo.


- Sim, claro. Penso que a nossa mesa é a que está mais perto da orquestra. – Ri-me, ao perceber porque é que aquela mesa em especial era a nossa mesa. Ela sorriu para mim ao perceber que eu compreendera. – Só para o caso de haverem…picardias. Assim, terão dificuldades em nos ouvir por cima do barulho dos violinos. – explicou Claire, vendo a cara confusa de Daphne.


- Muito bem pensado, Claire. – comentou Daphne, quando retornámos ao salão, que, entretanto, tinha enchido por completo.


Claire, parando algumas vezes para cumprimentar os colegas, levou-nos calmamente para a nossa mesa. Adam e Thomas já lá se encontravam, conversando calmamente. Do Malfoy, não havia sinal.


Agora que me lembrava dele, toda a conversa que tivéramos há menos de uma hora na minha casa veio-me também à mente. Eu tinha admitido a mim própria que estava apaixonada por ele. De novo. E baseando-me em tudo o que havia acontecido nos últimos tempos – as nossas discussões na herdade, aquela revelação sobre os tempos de Hogwarts, a noite no bar e a conversa no meu quarto -, será que podia dizer que os meus sentimentos eram retribuídos? Dei comigo a pensar 'Merlin, espero que sim'. Suspirei. Aquela doninha realmente dera-me completamente a volta à cabeça.


Mas apesar das admissões que fizera a mim mesma, parte de mim ainda se questionava se ficar com ele era uma boa ideia. A maior parte das dúvidas sobre o seu carácter tinham-se evaporado da minha mente aquando do tempo em que tínhamos estado juntos em Hogwarts. No entanto, os tempos de Hogwarts já tinham passado há anos. E nessa altura, éramos apenas adolescentes. Todos mudámos muito, ele incluído. E o tempo que passara a conversar/discutir com ele, não tinha chegado para que eu ficasse completamente segura de que aquele Draco Malfoy era o mesmo que tinha preferido morrer a ver-me ter esse mesmo destino.


Merlin, estava tão confusa! Por um lado, haviam os factos: eu gostava dele, ele tinha-me salvo da morte certa, e a conversa dele há pouco deixara obviamente implícito que planeava ficar perto de mim sempre que pudesse. Mas por outro lado, havia aquilo que não tinha sido dito: será que ele gostava de mim o suficiente para parar de andar por aí a dormir com todo e qualquer rabo de saia? (Poupem-me, é claro que eu sabia que ele não era nenhum santo). Será que ele ia ser sempre honesto comigo?


Havia uma maneira de eu descobrir a resposta a estas perguntas. Podia simplesmente ler-lhe os pensamentos. Mas se ele não estivesse a pensar nisso, iria ser mais complicado, porque teria de vasculhar a sua mente com mais intensidade, e isso fazia com que estivesse algum tempo a olhar fixamente para ele o que, obviamente, não lhe ia passar despercebido. Nem a ele, nem a ninguém. Portanto, rapidamente tirei o meu hipogrifo da chuva.


- Cissa, estás connosco? – a voz de Adam ecoou do meu lado esquerdo, despertando-me da minha discussão interior e fazendo-me perceber que já estava sentada à mesa. 'Merlin, fiz isto tudo em modo automático!'


- Sim sim, claro, desculpa. – respondi, olhando em volta e vendo Daphne sentada do outro lado de Adam, seguida de Tom. Claire sentara-se na minha diagonal, deixando uma cadeira livre de cada lado.


- A pensar em alguém, Narcissa? – murmurou Adam, inclinando-se para mim. Suspirei, sorrindo.


- Pensei que tinhas dito que por agora íamos apenas celebrar a conquista de Claire. – retorqui, no mesmo tom. Ele riu.


- Estás a usar a carta 'só conto se tu contares'?


- Exactamente! – tornei a olhar para as cadeiras vazias que ladeavam a minha irmã. – Onde está o James? – Se eu estivesse a fixar Adam ao invés das cadeiras, tinha visto o seu semblante a ficar mais triste.


- Penso que não vem. Parece que se estava a sentir mal. – respondeu-me rapidamente, enquanto punha o guardanapo sobre o colo.


- É pena. Mas então porque é que Claire se sentou ali? Se James não vem, ficamos com uma cadeira…


Interrompi o meu discurso quando vi Draco caminhar para a nossa mesa com uma mulher pelo braço. Ela era muito bonita e estranhamente familiar. Sorria alegremente enquanto se pendurava no braço dele, que permanecia inexpressivo. Apanhando o meu olhar, ele fixou-me. Quase revirei os olhos, mas isso só ia demonstrar que aquilo me estava a afectar. Portanto, dei um dos meus melhores sorrisos quando ela cumprimentou os recém-chegados à mesa.


- Boa noite! Oh Claire, estás magnífica. – comentou, enquanto se sentava entre Thomas e Claire. – Obrigada, Draco. – acrescentou, quando ele a ajudou a empurrar a cadeira e começou a caminhar para o seu lugar, entre mim e Claire. 'Idiota'. A mesa retribuiu-lhe rapidamente o cumprimento, mas foi em mim que o olhar verde dela se fixou.


- Narcissa, certo? Não tivemos realmente oportunidade para nos apresentarmos da última vez que nos vimos. – disse ela, simpática. Sorri, assentindo. – Eliza Meddici. – acrescentou, esticando a mão na minha direcção, mão essa que apertei suavemente.


- Prazer em conhecer-te, Eliza.


- Oh por favor, chama-me Liz.


- Não sabia que tinhas trazido acompanhante, Draco. – comentou Adam, inclinando-se sobre mim para falar com o Malfoy de modo a que Liz não ouvisse.


- Não me digas, Sanders. Ia jurar que me tinhas visto chegar com a Jones. – respondeu ele, pegando no guardanapo e tirando-o da argola que o mantinha enrolado. Adam olhou para mim e sorriu, voltando a endireitar-se e começando a falar com Daphne.


- Eu não vim como tua acompanhante, Malfoy. – disse eu, olhando para ele.


- Pensei que tínhamos um acordo, Sky. – retorquiu ele, mais baixo. – Eu usava a alcunha de que tanto gostas e tu deixavas-me trazer-te ao baile, por assim dizer. – acrescentou, com um sorriso. Bufei.


- Nunca mais faço acordos contigo, Malfoy.


- Nunca não é uma palavra despropositada? – comentou ele, apoiando os cotovelos em cima da mesa.


- Não me parece.


- É que nunca supõe que vais ficar perto de mim para sempre. – respondeu, olhando-me.


Não pude deixar de sorrir. Merlin, como é que isso era possível? A maneira como ele dissera aquela frase que, normalmente, teria uma conotação negativa – do tipo 'que horror, a ideia de ficar perto de ti para sempre faz-me vómitos' -, deixava perceber que ele queria, efectivamente, que isso acontecesse: que eu ficasse por perto para sempre.


Não respondi mas deixei a minha perna nua tocar na dele. O meu sorriso idiota aumentou quando ele, discretamente, fez com que a sua cadeira ficasse muito mais perto da minha. As minhas mãos, que repousavam unidas em cima das minhas pernas e estavam escondidas pela longa toalha, torciam-se de nervosismo. Merlin, parecia uma adolescente. A parte racional de mim sabia que aquilo era uma idiotice, mas eu não me importei, não realmente. E também não me preocupei no quão cliché era o facto da mão esquerda dele ter agarrado a minha direita e os nossos dedos se terem entrelaçado imediatamente. Ou de a orquestra ter começado a tocar precisamente no momento em que isso aconteceu.


- Adoro esta música. – comentou Daphne, olhando a orquestra.


- Eu também. Tens de prometer guardar a primeira dança para mim, Draco. – disse Liz, sorrindo.


Aquelas palavras fizeram as minhas entranhas pegar fogo, principalmente porque quando olhei para Draco, ele estava a sorrir. Só me apeteceu arrancar-lhe aquela cabeleira loira cabelinho por cabelinho, até ele ficar completamente careca e já não haver mais possibilidade de…


- Infelizmente Liz, todas as minhas danças já estão prometidas. – respondeu ele, apertando ligeiramente a minha mão, sem deixar de a olhar.


Queria rir-me, mas sabia que isso ia parecer suspeito, principalmente porque toda a mesa estava a olhar para Draco. Deixei a minha expressão permanecer imperturbável, embora estivesse a pensar que ele só tinha dado aquele sorriso idiota para me fazer ciúmes. E que tinha resultado na perfeição.


- A sério? – comentou ela, com um tom um pouco irritado. – A quem, se me permites perguntar?


Draco não teve oportunidade de responder porque, nesse momento, hum feiticeiro baixinho e anafado subiu ao palco e prostrou-se atrás do púlpito. A orquestra parou suavemente, e todas as cabeças se viraram na direcção do homem, que rapidamente começou a discursar. Após alguns minutos, desejou a todos uma óptima noite e saiu do púlpito, dando a deixa para que a orquestra retomasse a música. Nesse momento, vários mordomos apareceram junto das mesas, começando a distribuir o primeiro prato.


A minha mão teve de se separar da de Draco para que conseguíssemos comer, mas as nossas pernas permaneceram sempre em contacto. Eu estava feliz, pela primeira vez em muito tempo. Não conseguia evitar um sorriso e, a meu ver, nunca um jantar 'em família' tinha corrido assim tão bem. A comida era óptima e as conversas fluíam perfeitamente.


Findado o jantar, as pessoas começaram a dirigir-se ao espaço mesmo ao lado da nossa mesa, que estava reservado para a dança. Adam convidou Daphne para o acompanhar, e ela aceitou prontamente, seguindo-o até ao meio daquele pequeno recinto. Ao segui-los com o olhar, reparei que a minha irmã me fixava e, por isso, olhei interrogativamente de volta. Ela olhou para cima e depois de novo para mim, fazendo-me perceber que queria que eu lhe lesse os pensamentos. Sorrindo, fiz o que me pedia.


'Vou convidar o Malfoy para dançar, para que Liz não perceba que a prometida das danças dele és tu'.


Como sempre, a perspicácia da minha irmã era assustadora. Com um sorriso discreto, anui, concordando com o que ela pretendia fazer. Claire levantou-se da cadeira e colocou-se ao lado de Draco, estendendo a sua mão esquerda para ele.


- Dás-me a honra desta dança, Malfoy?


Ele olhou-a, ligeiramente surpreendido, mas deve ter percebido a ideia da minha irmã ao ver o sorriso maroto que lhe bailava no rosto. Apertou de novo a minha mão e largou-a suavemente.


- Nada me daria mais prazer, Barclay. – respondeu, levantando-se também e aceitando a mão dela, levando-a para perto de Daphne e Adam.


- Thomas, só restamos nós. – disse eu, claramente ignorando a presença de Liz. Sim, eu sei, posso ser mesmo venenosa quando quero. – E que tal levares a tua fabulosa irmã para a pista?


Tom sorriu e levantámo-nos, lançando sorrisinhos de desculpa a uma Liz irritada.




 


- Acho que temos os pares trocados. – disse Tom relativamente alto, fazendo-me olhar para ele de sobrancelha erguida. Quando Claire se aproximou com Draco é que eu me apercebi ao que ele se referia.


- Sim, Cissa, devolve-me imediatamente o meu irmão! – ajudou Claire, afastando-me rapidamente de Tom e entregando a minha mão a Draco, que rapidamente me puxou para ele.


- É muito mais agradável poder fazer isto contigo sóbria. – comentou, sorrindo de lado, quando Claire e Tom se afastaram. Ri-me.


- Que querido da tua parte relembrar-me desse meu estado, Malfoy.


- Eu disse que te ia tornar a provar que era um rapaz simpático, Jones. – respondeu ele, fazendo-me girar.


- Já o tinhas feito. – ele olhou-me, confuso. – Na outra noite.


'Never thought that I'd be so inspired
Never thought that I'd find the higher truth
I believed that love was overrated
'Till the moment I found you


- Não, Jones, nessa noite provei que era um rapaz corajoso. – fez uma pausa, sorrindo. – E apaixonado. - Sorri e aproximei-me ainda mais dele (como se fosse possível!), vendo-o dar um sorriso maroto ao fazer as suas mãos descerem para mais baixo nas minhas costas. – Estás a planear beijar-me, Jones?


Now baby I know I don't deserve
The love you give me
But now I understand that


- Estou. Tens objecções?


If you want me I must be doing something right
I got nothing left to prove
And it's all because of you
So if you need me
And baby I make you feel alive
I know I must be doing
Doing something right'
(Something Right - Westlife)


- Apenas que já o devias ter feito.




 


- Thomas, vai buscar a Liz para dançar. – Tom olhou a irmã, confuso. – Agora! – exclamou Claire, com urgência, afastando-se dele rapidamente.


- Mas porquê?


- Ela vai interromper o beijo de Draco e Cissa!


Tom voltou-se rapidamente e reparou que, mesmo que começasse já a correr até à outra ponta da pista, Liz ainda chegaria lá primeiro. Fosse como fosse, pegou na mão da irmã e no braço de Adam, que também estava por perto, e arrastou toda a gente atrás de si até ao que ele sabia que iria ser o local de uma abismal discussão.




N/A: Faltam apenas 5 caps para o fim da saga :DD


Fiquem excepcionalmente bem e deixem opiniões, okay?


Love,
~Nalamin


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