Smile



Disclaimer: O Draco e o mundo mágico são da J.K. O resto é tudo meu 8D












Ser Feliz
Fanfiction by Nalamin


Chapter 2: Smile


Se houve alguma coisa boa que veio com a Segunda Guerra foi a união. Não a união que nos levou a lutar todos juntos por aquilo que acreditávamos e achávamos justo, mas sim aquela que veio depois. Depois de vermos tanta morte e tanto sofrimento, agarrámo-nos àqueles que tinham sobrevivido. Pessoas que nem sequer se conheciam tornaram-se amigas, confidentes, e até amantes. Pessoas que já se conheciam tornaram-se ainda mais íntimas, de uma maneira ou de outra. Foi o que aconteceu comigo e com Edwin.


Ele e Blaise, não participaram na batalha. Foram evacuados. Mas quando chegou aos seus ouvidos que Voldemort estava morto, voltaram imediatamente para Hogwarts. Não me lembro de os ver lá nos dias que se seguiram. Mas, em boa verdade, as minhas memórias dos dias depois da batalha são vagas, confusas. A única coisa que me recordo com clareza é de acordar na enfermaria, quase duas semanas depois. Thomas contou-me posteriormente que, enquanto caminhávamos para a sala comum, logo depois da batalha, eu tinha desmaiado num corredor, claramente esgotada. Tinha dispendido tanta energia que fiquei a dormir durante todo aquele tempo. Madame Pomfrey dizia que era um milagre eu ter sobrevivido todas aquelas horas de batalha apenas com uma tablete de chocolate e toda a adrenalina que me corria nas veias.


Seja como for, Blaise e Edwin acabaram por saber que eu estava na enfermaria e apareceram para me visitar. Visto que eram Slytherins, as pessoas não gostavam muito de os ter por perto, mesmo que eles estivessem a ajudar a reconstruir uma parte de Hogwarts ou a limpar as salas. Portanto, eles passavam a maior parte do tempo a meu lado. Mas, depois de uns dias, Blaise acabou por se aborrecer e decidiu ir ter com a professora McGonagall e informá-la de que, se não requisitava dos seus serviços, completamente desprovidos de segundas intenções, ele ausentar-se-ia de Hogwarts até ao dia antes da formatura, já que ele, como finalsita, estava encarregue da organização. Portanto, só o tornei a ver nessa altura.


No entanto, Edwin ficou. Conversávamos bastante, sobre tudo. Nunca lhe contei sobre Draco, claro, ou sobre o que sentia verdadeiramente. Mas estar com ele aliviava-me a cabeça desses pensamentos. A sua companhia era bem-vinda a qualquer hora do dia ou da noite, e ele parecia estar sempre disponível para mim.


Chegou o dia da formatura. Eu sentia-me quase doente. Draco estava presente. Era como se tivesse vindo esfregar na minha cara o que fizera semanas antes. Não conseguia olhar para ele. Não conseguia olhar para nada. Mas quando optei por fingir que ele não existia, as pessoas começaram a reparar em mim. Uma delas foi, claro, Edwin. Quando a festa acabou, levou-me a dar uma volta pelos jardins. Acabámos por nos beijar e estamos juntos desde então.


Oito anos. Estou com Edwin há oito anos. Às vezes acho que é apenas conformidade, que estou com ele simplesmente por hábito: por ele já me ser conhecido, por já saber os seus defeitos e qualidades, por já saber o que gosta e detesta, por ter sempre as mesmas conversas com ele, por fazer amor com ele sempre da mesma maneira; por já estar acostumada a ser 'a namorada do Edwin', ao invés de ser 'Narcissa Jones, jornalista d'O Profeta, 24 anos, que namora com Edwin Fowles'.


Há oito anos. Há oito anos que me perdera, e em oito anos não achara qualquer razão para me encontrar.




 


Um pequeno aviãozinho de papel acabava de cair na mesa de Daphne. Rapidamente outro se lhe seguiu, caindo na mesa a sua frente, a de Adam. Olhando um para o outro, rapidamente desdobraram o que sabiam ser um memorando interdepartamental, como os que eram usados no Ministério. A letra elegante de Narcissa figurava neles.


'Já que não vou de férias convosco, gostava que viessem até à mansão Barclay passar o dia. A minha família vai estar fora e nós temos uma piscina do tamanho de um pequeno país e muita comida a descrição. Aceitam o convite? Cissa x'


Sorrindo, Adam e Daphne rabiscaram as suas respostas noutro memorando e lançaram-no no ar, observando-o planar até entrar no elevador e o perderem de vista.


- Este é o meu tio Aled. Sei que já vos falei algumas vezes dele, mas creio que nunca tinham visto o seu retrato. Morreu repentinamente há alguns anos.


Cissa estava a meio da tour pelas propriedades dos Barclay. Já mostrara os enormes jardins a Adam e Daphne, e agora, acabados de entrar na mansão, começava por lhes indicar a sala dos retratos.


- É parecido com a tua avó. – comentou Adam, apontando para o quadro que se situava imediatamente ao lado.


- Só fisicamente. – assegurou Cissa, com um sorriso. – E não tenho a certeza se alguma vez o viram. Eu própria não o vejo há anos. – disse, segundos depois, mais para si do que para eles, apontando para uma moldura mais pequena alguns passos adiante. – Mas este é o meu pai. - Daphne e Adam juntaram-se-lhe e ficam a observar William Jones a seu lado.


- És igual a ele, sabias? – afirmou Daphne, pensativa. Cissa franziu o sobrolho.


- Toda a gente diz que sou igual à minha avó.


- Percebo que digam isso por causa dos teus olhos. Mas, de resto, és o espelho do teu pai. - respondeu, virando a cara mais para o lado, olhando o retrato de Julie. – Embora sejas tão pálida quanto a tua mãe.


- Concordo com ela. – corroborou Adam.


- Os olhos de Cecília eram azuis. Como é que os meus podem ser parecidos? – questionou Cissa, olhando para o retrato da avó e do pai, alternadamente, tentando aperceber-se das parecenças que Adam e Daphne pareciam ver.


- Não é pela cor. – disse Adam, afastando-se e andando pela sala, olhando os quadros.


- São tão profundos quanto os dela, Ci. Revelam algo que nem todas as pessoas têm. – acrescentou Daphne, sorrindo à amiga.


- Poder. – alvitrou Adam, lá do canto. – Coragem.


- E sabedoria. – terminou a loira


Cissa não respondeu e deixou-se ficar mais uns momentos observando os quadros. A verdade é que começava a ver que os amigos tinham razão. A sua aparência pouco tinha a ver com a de Cecília. Mas William apresentava as mesmas pestanas longas, o mesmo nariz pequeno e ligeiramente arrebitado, os mesmos lábios bem delineados e rubros e o mesmo sorriso alegre que Narcissa. E o tom escuro dos cabelos do pai era igualzinho ao seu. Já com Julie apenas partilhava a mesma tez pálida, muito difícil de ganhar alguma cor, como descobrira ao longo dos anos.


- Narcissa? – chamou Daphne, atrás de si. A morena não se voltou, continuando a contemplar os quadros. Reparou que Aled, tal como ela própria, só partilhava com Cecília a profundeza do olhar.


- Sim?


- Porque é que não vês o teu pai há anos? - Suspirando, Cissa voltou-se para a amiga, e Adam aproximou-se delas, também disposto a ouvir a explicação, se é que haveria alguma.


- Porque ele desapareceu há anos. – respondeu simplesmente. – Sem deixar qualquer rasto.


- Desapareceu? – perguntou Daphne, incrédula. – De repente?


- Para nós foi de repente. Suponho que para ele não. – Cissa saiu lentamente da sala, sendo seguida pelos amigos.


- Quando é que isso aconteceu? – inquiriu Adam.


- Depois da Guerra. – fez uma pausa. - Não sei exactamente quanto tempo depois. Até pode ter sido mesmo no dia seguinte. Mas nós ficámos em Hogwarts até à formatura e estávamos tão habituados a nunca o ter em casa que não notámos a sua ausência durante várias semanas, depois de voltarmos de Hogwarts. – acrescentou, tristemente, abrindo uma enorme porta dupla e entrando na biblioteca.


- Tentaram procurá-lo?


- É claro que sim, Daphne. Mas não fez qualquer diferença. Não íamos encontrá-lo simplesmente porque ele não queria ser encontrado. – respondeu, sentando-se numa das quatro poltronas junto à janela e indicando-lhes que deviam fazer o mesmo. – Desistimos dois meses depois.


- E vocês sabem se…. – Adam hesitou em continuar.


- Se está morto ou vivo? – a morena abanou a cabeça. – Não fazemos a menor ideia. Não há sequer boatos sobre isso.


- Isso é esquisito. Pensava que o teu pai era um funcionário extremamente competente e conhecido no Ministério. Ninguém deu pela sua falta? – Cissa riu.


- O Kingsley não se podia importar menos com a regulamentação da lei mágica naquela altura, Adam. Toda a gente andava a fazer magia proibida. Estávamos em Guerra. – olhou pela janela, suspirando. – E quando se apercebeu, já foi tarde de mais.


- E agora? – inquiriu Daphne, fazendo Cissa franzir o sobrolho.


- Como assim, 'e agora'?


- E agora, não vais tornar a procurá-lo?


- Não me parece. Porque haveria eu de procurar um homem que abandonou a própria família?


- Mas tu própria disseste que não sabes se está vivo ou morto. Não gostarias de ter a certeza? – retorquiu a loira. Cissa sorriu, amarga.


- Não creio que esteja morto. Nenhum agente ocupa o posto que ele ocupava se não for exímio em artes mágicas. Além disso, o meu pai descende de feiticeiros muito poderosos e influentes. Deve saber um truque ou dois. Tenho, portanto, de concluir que ele não quer voltar para casa para junto da família. E que, por isso, não tenho razão nenhuma para o procurar.


Seguiu-se um silêncio desconfortável. Daphne e Adam não sabiam ao certo o que dizer à amiga e Cissa estava perdida em pensamentos sobre o paradeiro do pai. 'Onde é que estás? Porque é que partiste sem deixar sequer um pequeno bilhete?'


- Bom, não era exactamente este o espírito que eu planeava ter no meu primeiro dia de férias. – comentou Adam, sorrindo levemente.


- Adam! – admoestou Daphne. Cissa riu.


- Ele tem razão. Isto já aconteceu há anos, não vamos falar mais sobre o assunto. Vamos continuar a visita? Ainda não vos mostrei o meu campo de Quidditch. – disse a morena, levantando-se.


- Tu tens um campo de Quidditch? – questionou Adam, espantando, fazendo-a rir e seguindo-a para fora da sala.




Fazia imenso calor, naquela tarde. Foi por isso que, e apesar de estarmos cansados da passeata pela propriedade dos Barclay, Adam nos conseguiu convencer a dar um mergulho na colossal piscina. Vestimo-nos a rigor e lá fomos. Mas o que começou por ser apenas o mergulho inaugural das nossas férias, rapidamente evoluiu para várias brincadeiras e acesas competições de natação.


Por uma razão ou outra, raramente saíamos juntos o tempo suficiente para fazer coisas daquelas, para nos permitirmos relaxar completamente e gozar a sério a companhia uns dos outros. Mas agora ali estávamos nós, e estávamo-nos a divertir como há muito não acontecia. Naquele momento senti-me com dez anos, despreocupada com a vida, alegre, simplesmente desfrutando o momento, sem pensar no amanhã e no depois. E senti-me algo…feliz.


'Smile though your heart is aching
Smile even though it's breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you


Durante aquele instante, apercebi-me que a minha carreira, o meu Dom, o desaparecimento do meu pai, a morte de Cecília, ali não significavam nada; apercebi-me que acabara de recuperar uma coisa que perdera há muito tempo, uma coisa que havia deixado para trás, fechada numa sala escura, e que pensava que não seria capaz de tornar a encontrar; apercebi-me de que afinal, o povo tinha razão: aquilo que se perde e é verdadeiramente nosso, acaba por voltar para nós, de uma maneira ou de outra.


Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile


E aquela pequena 'regressão infantil' na piscina tinha bastado para me fazer recordar aquilo que eu tinha esquecido há muitos anos: que gostava de viver. Mesmo tendo sido, por vezes, descontrolada, profundamente miserável e torturada pela dor, lá no fundo eu mantinha a certeza de que estar viva…


That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile'
(Smile – Charlie Chaplin)


…era algo maravilhoso.




N/A: Mais um, minha gente. Keep reading (:


Reviews? :D


Love,
~Nalamin


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