RUMO A AMÉRICA



Viagens sempre entusiasmaram Hermione. Sua sede insaciável de conhecimento era parcialmente satisfeita quando conhecia outros países. Nunca havia estado na América, e desde que recebera a notícia que iriam para lá, passara as noites lendo “Hábitos dos Bruxos do Novo Mundo” de Charlotte Mannings, sua autora preferida quando o assunto era pesquisar sobre hábitos estrangeiros. Diziam que a Sra. Mannings já havia viajado o mundo todo e conhecia tudo sobre a vida de bruxos e trouxas de todos os continentes.

Ainda sonolenta às onze horas da manhã (por causa das leituras noturnas e outras “atividades” não tão acadêmicas, afinal ainda estava no apartamento de Rony), Hermione dirigiu-se até a casa dos pais. Iria comunicá-los da viagem e explicar porque não iria passar o tempo prometido na companhia deles. Organizada como era, já havia separado todos os pertences necessários à viagem. Agora esperava apenas mais uma discussão desgastante com o Sr. e a Sra. Granger, que não aprovavam o novo emprego da filha, que na opinião deles lembrava desagradavelmente alguma aventura perigosa e irresponsável, como fugir com o circo ou fazer parte de alguma trupe de teatro mambembe.

O que viu na sala de estar dos pais, entretanto, fez o seu queixo cair vários centímetros e deixou-a estática por vários segundos sem saber o que fazer ou o que dizer. Sentados, conversando com o Sr. Granger de maneira muito responsável estavam dois homens vestidos impecavelmente com ternos escuros idênticos, camisas brancas imaculadas, gravatas laranjas com um discreto distintivo dos Cannons e sapatos tão lustrados, que provavelmente ela poderia retocar a maquiagem mirando-se neles. Eram Toni M’Bea e Draco Malfoy.

- Oh, Srta. Granger, que surpresa! – disse afetadamente Toni. Provavelmente o jeito pomposo fazia parte da encenação. Depois, levantando-se, beijou a mão da garota, que se esforçou para manter-se séria.

- Srta. Granger – disse Malfoy com um ligeiro aceno de cabeça.

- Ah, olá querida – disse animadamente o pai de Hermione – Esses dois jovens estavam me explicando a natureza do seu trabalho no time de... como é mesmo o nome?

- Quadribol – explicou educadamente Toni.

- Isso mesmo – concordou o Sr. Granger animadamente – Eles estavam falando da importância do seu trabalho para a equipe. De como o Governo Bruxo coordena as atividades dos médicos dos esportes mágicos. Achei realmente um trabalho muito sério e estou muito orgulhoso de você.

- Está? – perguntou Hermione, chocada demais para poder articular algo mais inteligente.

- Todos nós estamos – disse a Sra. Granger, que trazia uma bandeja com refrescos, depositando-a na mesinha de centro da sala de estar – Você poderia ter nos contado, querida.

- Poderia? – perguntou novamente Hermione, ainda aparentemente muito chocada.

- Os senhores devem perdoar a Srta. Granger, mas ela estava apenas seguindo as instruções – disse Draco de maneira muito profissional.

- Exatamente – concordou Toni – A cláusula quatro da Convenção Bruxa Para Assuntos Esportivos proíbe que informações privilegiadas sejam transmitidas a pessoas que não sejam bruxas, mesmo parentes próximos. Na verdade é uma lei antiquada e nós da equipe não concordamos muito com ela, mas é a lei. Não podemos fazer nada – acrescentou o africano, olhando de maneira cúmplice para os pais de Hermione, que pareciam encantados com os seus modos.

Claro que tudo aquilo era uma mentira deslavada. A maioria dos times da Inglaterra nem mesmo possuíam um curandeiro profissional no elenco. E essas leis e cláusulas que o amigo mencionara, certamente havia inventado agora.

- E a Srta. Granger, com toda a excelente reputação que goza no mundo mágico não poderia ir contra a lei – disse Draco com sua voz arrastada, que para quem não o conhecia de outros tempos como Hermione, certamente pareceria muito séria e profissional.

- Oh, claro, claro! – concordou o Sr., Granger.

- Como eu dizia, Sr, Granger, por causa dessas leis antiquadas de sigilo, é que nós visitamos os nossos funcionários para esclarecer as famílias. Não queremos que pensem que os seus entes queridos estão fazendo algo irresponsável ou ilegal – explicava didaticamente Toni. Os pais de Hermione olhavam-no maravilhados. Provavelmente imaginavam todos os bruxos barulhentos e bagunceiros como os Weasleys. E aquele homem negro extremamente elegante e falando como um diplomata era para eles uma surpresa muito agradável.

- Queremos todos os integrantes da nossa empresa em paz com os seus familiares – disse Draco, e Hermione teve certeza que ele se controlava para não rir – Nós valorizamos muito a família. Sim, Sr. e Sra. Granger – continuou o loiro de maneira solene – Não somos um simples time de quadribol, somos uma empresa e fornecemos aos nossos empregados uma carreira promissora e estável.

Se faltava algo para convencer os Grangers da seriedade do quadribol, aquela última frase de Malfoy os havia fisgado de jeito. “Carreira promissora e estável” era algo que trouxas ingleses de classe média valorizavam mais do que o chá às cinco horas da tarde ou arenque durante as refeições.

Na despedida os dois “almofadinhas” apertaram firmemente a mão do Sr. Granger, como se espera de homens sérios de negócios, e beijaram a mão da Sra. Granger, como se espera de homens sérios de negócios que também são cavalheiros refinados.
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- Eu vou matar esses dois! – disse Hermione, entrando na sala de jantar da Mansão Malfoy, onde os dois “executivos” gargalhavam até as lágrimas, juntamente com Gina, Harry, Helga e as crianças M’Bea. Rony ocupava o seu lugar na mesa, mas estava sério e tinha a comida à sua frente intocada, uma coisa extraordinária em se tratando dele.

- Ora, Granger – disse a voz arrastada de Malfoy – Aposto que agora o seu pai não tem mais nenhum preconceito quanto à sua profissão.

- Claro que não – disse Hermione, ela própria se contendo, mas achando graça na história toda – Se eu dissesse que iria para Marte com vocês, eles não fariam nenhuma objeção. Quem teve a idéia brilhante?

- A modéstia me impede de revelar a criatura genial que teve essa idéia... – disse Helga misteriosa – Eu ouvi você dizendo que teria mais uma discussão desagradável com os pais. Apenas achei que poderia evitar isso.

- Bem, acho que no final tenho que agradecer a você, amiga – disse Hermione, abraçando a esposa de Toni – E a esses dois malucos – completou a jovem, dirigindo-se até o local onde Draco e o africano estavam sentados à mesa, beijando o rosto de cada um.

- Pelo menos agora eles aprovam alguém do mundo bruxo – disse Rony contrariado, olhando significativamente para Draco. O ruivo era o único que não estava achando graça da representação da manhã na casa dos Granger.

- Para o seu governo, Weasley, eu falei muito bem de você aos Grangers – disse friamente Draco Malfoy. Como o ruivo o encarava incrédulo, Toni confirmou:

- É verdade. Ele falou o quanto você era responsável.

- Como você fez isso? – perguntou Rony, ainda com ar de quem não estava acreditando.

- Mentindo, é claro – respondeu o loiro calmamente. Harry e Gina sufocaram o riso, fingindo um acesso de tosse – Ah, vamos comer! – falou num tom mais animado – e olhando na direção das crianças: - Há sorvetes deliciosos de chocolate esperando por bruxos bonzinhos que comerem toda a sua comida. Isso inclui você, Weasley.
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- Suponho que tenha que agradecer a você – dizia Rony, bastante contrariado, para Draco Malfoy. Após o almoço as pessoas se espalharam pela mansão, mas estranhamente o loiro pediu para ter com Rony uma conversa reservada.

- Acho que consigo passar sem isso, Weasley. E se me agradecer custa muito, então deixa pra lá. É sobre o seu amigo que eu quero falar.

- Harry?

- Quem mais? Você acha que ele pode voltar a jogar, digo, jogar bem como antes sem essas crises?

Rony precisava sentar. Draco Malfoy pedindo sua opinião era fantástico demais.

- Acho que Hermione é a pessoa mais adequada para responder a sua pergunta – respondeu o ruivo de maneira indecisa.

- Embora eu confie na avaliação da Granger, eu não estou falando da condição física dele. Sua namorada me assegurou que ela vai cuidar disso. Falo disso aqui – apontou Draco para a própria cabeça – Você sabe que quadribol não se joga só com uma vassoura e um corpo sobre ela. O cara tem que estar em paz consigo mesmo.

- Sinceramente não sei. Acho que Harry já passou por tanta coisa... Mas eu tenho certeza que ele vai ficar legal. Ele já se recuperou antes.

- Claro, com sua ajuda e da Granger. Ele decididamente precisa de vocês. E de uma certa ruiva, é claro.

Por um momento, Rony não disse nada. Depois, desabafou falando bem baixo:

- Ainda não acredito que você se preocupa mesmo com o Harry.

- Então não acredite. Sinceramente eu estou pouco me lixando. Mas, o importante é que você se preocupa. Eu me preocupo com o time, então é ótimo que alguém se preocupe com o “garoto que sobreviveu”.

- Escute aqui, Malfoy...

- Não, escute você, Weasley – interrompeu bruscamente Malfoy – Pare com a idéia de que eu vou roubar sua garota e seu melhor amigo! Você não é mais o pobretão indefeso que eu conheci em Hogwarts. Já está na hora de você crescer. Harry é seu amigo, não meu amigo. Eu vou ter muita sorte se o sujeito tiver por mim um dia uma fração da consideração que ele tem por você. E Hermione, bem, não vou negar que eu me sinto um pouco atraído por ela. Escute primeiro, depois você me mata, se quiser – disse o loiro, fazendo um gesto de paz para Rony que parecia querer agredi-lo – Mas, ela escolheu você. Não há como mudar isso. Sonserinos não lutam batalhas perdidas, sabe? Isso nós deixamos para vocês grifinórios.

- O que você quer de mim afinal, Malfoy? – perguntou Rony com ligeiro cansaço na voz

- Nada demais. Apenas cuide do seu amigo. Você parece ser o cara que o entende melhor. E você poderia estar ganhando dinheiro há muito tempo, mas não fez isso para ficar com ele. Agora ele quer retribuir isso. Apenas deixe que ele se sinta bem. E aproveite e ganhe algum dinheiro enquanto isso. Eu não quero que a gente seja inimigo, Weasley. Não estou pedindo para você gostar de mim, apenas me dê uma chance de administrar as coisas. E eu deixo você quebrar a minha cara se eu sacanear o Potter.

- É um bom trato – disse Rony maliciosamente.

Quando ia saindo do escritório de Malfoy, Rony virou-se de repente, com um sorriso nos lábios, o mesmo sorriso sacana que fazia tanto sucesso com as mulheres. Ele disse:

- Você se importa, mão é mesmo? E você gosta de agradar as pessoas. Eu vi você todo gentil com os filhos do Toni. Você não chamou o pessoal aqui para almoçar apenas para discutir negócios, você gosta da companhia das pessoas.

- Ora, Weasley, não seja ridículo! – disse Malfoy friamente. Mas o seu rosto assumiu uma leve coloração rosada de constrangimento.

- Tudo bem, cara – espetou Rony ainda sorrindo – Seu segredo está bem guardado. Eu não vou espalhar que você é quase um ser humano decente – finalizou o ruivo e saiu do aposento rindo bastante, deixando Draco, de maneira excepcional, sem resposta.

“Maldito grifinório!”, pensou, “Quando que ele ficou assim tão inteligente?”.
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A entrevista coletiva na Mansão Malfoy prometia ser um furo sensacional. Centenas de jornalistas se aglomeravam nos jardins quando Harry e Gina voltaram de um passeio de mãos dadas. Os fotógrafos literalmente pisotearam-se uns aos outros para flagrar a cena.

“Você viu? Mergulho Potter e a Garota Weasley juntos?”. “Mas o Potter não é gay?”. “Se é ele tá fingindo bem que não é”. “Primeiro a Baby Jane, agora a Weasley!”. “Pegador esse Potter, não?”.

Indiferentes aos comentários maliciosos, Harry e Gina passaram pela multidão como se essa não existisse. De repente uma vozinha esganiçada se fez ouvir:

- Hei, Harry, Gina! Uma foto, por favor!

Era Colin Creevey, antigo colega do casal em Hogwarts. Junto com o irmão Denis havia montado recentemente um estúdio de fotografia com a ajuda dada pelo ministério (e principalmente por Harry) para veteranos de guerra. Denis quase morrera durante o conflito, mas agora ambos estavam bem. Suas fotos de Harry e de Rony em ação nas partidas de quadribol ilustravam revistas e jornais bruxos de todo o mundo. Apesar da pouca idade de ambos, eram dois dos mais requisitados fotógrafos bruxos da Grã-Bretanha. E não apenas para eventos esportivos. Harry e Gina pararam por um momento, deixando que o rapaz baixinho tirasse a fotografia com uma grande máquina bruxa.

- Legal! – exclamou com a mesma alegria que tinha na escola quando tinha a atenção de Harry.

Os dois se postaram ao lado de Malfoy, enquanto a trupe de jogadores e familiares se colocava em volta ou atrás deles. As crianças M’Bea se divertiam a beça, fazendo caretas engraçadíssimas aos fotógrafos. Draco, em pé com um terno azul marinho muito elegante, se preparava para fazer a primeira declaração como presidente dos Cannons. A idéia de juntar jogadores titulares e reservas, familiares e namoradas era para dar a idéia de um time coeso como uma grande família e os fotógrafos esmeravam-se em contorcionismos para pegar o melhor ângulo dos casais Rony e Hermione ou Andy e sua bela namorada brasileira. Harry e Gina tinham que fechar os olhos por causa dos inúmeros flashs disparados na direção deles.

- Como foi que você conseguiu dinheiro para comprar o time, Malfoy? – perguntou um jornalista com um chapéu enterrado até os olhos.

- Eu roubei o dinheiro, é claro – caçoou o loiro, arrancando risadas da imprensa. A pergunta era obviamente estúpida. Todos sabiam a extensão da fortuna dos Malfoys – E, Dan Carter – disse Draco cinicamente - É impossível você passar desapercebido com esse chapéu ridículo enterrado na cara. O seu mau cheiro é inconfundível. Da próxima vez tente um par de óculos. Isso parece que deu certo com um certo super-herói trouxa de histórias em quadrinhos. E tome um banho também.

A entrevista seguiu nessa linha. Draco dando respostas sarcásticas, arrancando risos e até aplausos da imprensa. Os jornalistas estavam começando a adorar o sujeito. Jovem, bem-vestido, engraçado com um certo toque de maldade. Até Rony e Gina pareciam se divertir com as tiradas do dono dos Cannons.

- E você, Potter, não se sente idiota se juntando a um Comensal da Morte? – perguntou de repente Dan Carter a Harry, que se assustou com a pergunta, pois entediado, havia se distraído olhando as árvores distantes da propriedade de Draco.

Não era a primeira pergunta maldosa de Carter. Gina já o havia ignorado quando ele insinuou se ela não estava junto com Harry por interesse. No começo ele parecia desconcertado com o fiasco do seu disfarce e deixou o time em paz. Depois, imaginaram que a lição da última entrevista havia dado resultado, quando havia quase sido espancado e azarado pelos torcedores dos Cannons. Mas parecia que hematomas e azarações não eram suficientes para conter o Sr. Carter. E ele voltava à carga usando todo o seu armamento pesado.

- Eu nem vou responder... – ia dizendo Harry, quando, de maneira surpreendente, Draco desceu os degraus da propriedade, passou por alguns repórteres e parou a poucos centímetros do asqueroso jornalista:

- Repete isso, seu bastardo! – disse, quase cuspindo as palavras.

- Hoje você não vai me expulsar como da outra vez, seu fedelho mimado – disse Carter de maneira desafiadora.

Imediatamente três brutamontes mal-encarados, que estavam se passando por fotógrafos, aparataram em volta do loiro, prontos para agredi-lo. Goyle tinha dificuldade em chegar até o chefe, pois uma pequena multidão se fechara em torno da confusão. Foi aí que o time grifinório entrou em ação e Draco Malfoy agradeceu aos deuses pelo fato deles estarem agora do seu lado. Rony deu um salto com as suas longas pernas e aterrisou em frente a um dos gorilas, no qual o ruivo acertou um grande soco. O grandalhão dobrou-se de dor, aproveitando para enfiar a mão do bolso para tirar uma varinha. Foi impedido por uma azaração certeira de Gina Weasley, que o derrubou e fez com que estranhos caules começassem a brotar de suas orelhas.

M’Bea, ao lado do ruivo, deu um pontapé certeiro no peito do outro grandalhão, que foi atirado, para a sua infelicidade, na direção de Goyle, que enfim conseguira ultrapassar a multidão. O empregado de Draco nocauteou o segundo brutamontes com facilidade. O terceiro grandalhão, que não sabia se corria ou enfrentava os amigos de Malfoy, sentiu-se subitamente paralisado. Um gesto de Harry o manteve preso no chão, até que o grifinório, descendo as escadas do terraço, caminhou calmamente em sua direção e o chutou forte, no baixo ventre, retirando depois o feitiço e deixando o capanga de Carter caído e se contorcendo de dor. Instintivamente vários homens presentes levaram as mãos às partes baixas, retirando-as em seguida, muito constrangidos.

- O que você ia dizendo mesmo? – perguntou Draco de maneira selvagem para Dan Carter.
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- Uau! Que soco! – dizia Daniel M’Bea em alusão a ação de Rony contra o brutamontes do capanga de Dan Carter.

- E o pé no peito do papai naquele outro? – entusiasmava-se Miriam, realizando pela terceira ou quarta vez a coreografia que terminava com um pontapé. É verdade que ela já tinha acertado alguns objetos valiosos na enorme sala de estar da Mansão Malfoy e já havia recebido uns dois beliscões muito dolorosos de sua mãe. Draco estava tão feliz com o soco que havia acertado em Carter, que nem mesmo repreendeu a menina.

- E o chute do Harry foi bem no... – ia dizendo o pequeno Owen, também imitando o golpe.

- Quieto, Owen – ralhou Helga, contrariada – Que belo exemplo o senhor dá aos seus filhos, Sr. M’Bea! E vocês três – disse, lançando um olhar maligno na direção de Harry, Rony e Draco – Não acham que já passaram da idade de brigar como moleques?

- Não! – responderam os três ao mesmo tempo e depois começaram a rir como loucos.

Hermione colocava gelo na mão direita de Draco, bastante inchada. Gina estava abraçada a Harry como se ele fosse quebrar. Hermione dissera que ele não deveria de forma alguma fazer magia sem varinha, o que demandava um desgaste de energia perigoso para alguém no seu estado. O rapaz parecia realmente muito cansado, embora estranhamente feliz.

- Nada como uma boa briga! – disse por fim. Gina sorriu, não tão surpresa assim por concordar com ele.

- E você, Srta. Weasley – Helga, agora implicava com Gina – Era de se esperar que alguém pusesse um pouco de juízo na cabeça desses “meninões”.

- Hermione geralmente cumpre esse papel. Não espere que eu não entre numa boa briga – retrucou a ruiva, ainda abraçada a Harry – Se o meu homem e os meus amigos estiverem brigando, não pense que eu viu ficar de fora!

- Seu homem? – perguntou Harry timidamente.

- Hum... – disse Gina sonhadora – Meu menino? Meu...- e disse alguma coisa no ouvido de Harry, deixando o rapaz muito vermelho.

- Nossa! – brincou Toledo – Vocês viram como a temperatura subiu de repente na sala?

Depois das risadas que o comentário da peruana causou, fato que deixou Harry ainda mais rubro, Hermione ponderou:

- Vocês realmente tiveram sorte. Se o Dan Carter não tivesse contratado aqueles gorilas com ficha criminal, provavelmente o Ministério teria mais um pretexto para incomodar vocês.

- Relaxe, querida – acalmou-a Rony – Todos os jornalistas testemunharam que foi Carter que iniciou as provocações.

- É – ponderou Helga, finalmente se acalmando – Não é segredo que esse sujeito sempre implicou com o Harry e com seus amigos.

- E você sempre disse que o sujeito merecia um chute bem onde Harry acertou o seu capanga – lembrou-a Toni – E você não vai ficar brava comigo, não é mesmo? – perguntou o africano, fazendo uma cara sedutora para a esposa.

- Acho que é hora de nós , as crianças sairmos da sala – disse Toledo com uma voz falsamente chocada.

- Quem ainda quer sorvete? – perguntou Draco, o que empolgou as crianças, mesmo algumas crescidas como Toledo, Andy e sua namorada.
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O domingo chegou rapidamente. Malfoy realmente conseguiu os passaportes em tempo recorde. Na última hora, Apollo Cole havia convencido a cunhada a permitir que o seu filho, Dylan, sobrinho do jogador acompanhasse o time. Harry e Toni tiveram que ir pessoalmente até a casa do garoto ajudar no convencimento. Visivelmente a mulher não confiava e não gostava do irmão do seu falecido marido.

- Mulher de bom gosto – observara Toni quando Apolo lhe disse que a mãe do pequeno Dylan não gostava dele.

O menino, entretanto, era muito esperto e divertido. E como vivia no meio de trouxas, queria saber tudo sobre o mundo mágico. E gostara de Harry à primeira vista, despertando um certo ciúme nos filhos de Toni.

- Ninguém vai pegar na sua mãozinha no avião, ouviu bem? – Miriam dizia ao garoto de maneira desafiadora.

- Eu não tenho medo de avião! – respondeu o garoto corajosamente - Eu já andei em um uma vez.

- Quer dizer que o valentão não tem medo de nada – zombou Daniel.

- Bem, só de garotas – falou bem baixinho, esperando que a irmã do menino não o ouvisse.

- É, cara, elas são às vezes assustadoras – concordou Daniel, cúmplice, percebendo que ali poderia estar um grande amigo.

Gina e Harry, que seguiam com os garotos no táxi bruxo seguravam o riso com dificuldade.

- Eles tem razão, sabe? – disse Harry no ouvido de Gina. Ambos iam atrás no banco espaçoso do automóvel mágico, enquanto Toni, Helga e a menina mais velha seguiam na frente, ao lado do motorista.

Zabini esperava por todos no aeroporto, numa salva VIP que Draco havia reservado. Explicou da melhor maneira que podia a aqueles de família bruxa o que era possível e o que não se podia fazer num avião. As vassouras dos jogadores iriam via correio mágico e chegariam no dia seguinte. Para todos os efeitos eles iriam participar de um encontro religioso na América e todos estavam trajados como se estivessem prontos para um culto. Os rapazes de ternos cinzas discretos e as moças de costumes elegantes, igualmente discretos e responsáveis. Miriam teve que ser forçada a usar o seu, mas os garotos M’Bea e o sobrinho de Apolo acharam os terninhos iguais aos dos adultos muito maneiros. E Rony estava apavorado.

- Voar num troço sem magia e mais pesado do que o ar? – repetia o ruivo sem parar.

- Você e Harry voaram num automóvel quando tinham só doze anos – lembrou-lhe Hermione.

- Havia magia no automóvel, Mione! – retrucou o namorado.

Resolvidos os entraves burocráticos, todos esperavam na sala de embarque e Toni repetia sem parar a piada, que parece que só ele, a esposa e aqueles de família trouxa entendiam. Numa alusão ao terno escuro (“Cinza não combina com minha pele!”), toda hora ele fingia se apresentar dizendo:

- My name is Bond. James Bond.

- Que diabos é isso? – perguntou Rony confuso, vendo Harry, Hermione e Helga gargalharem.

- Deve ser alguma piada trouxa – respondeu Malfoy, igualmente sem entender.

De repente uma mulher alta, loira, bastante atraente entrou correndo no embarque, toda atrapalhada com a sua bagagem de mão. Quando avistou Toni e Krum, jogou a bolsa no chão com estardalhaço e abraçou e beijou os dois jogadores, chamando estranhamente Krum de “Meu menino” e Toni de “Negão Gostoso”, o que desagradou Helga enormemente. Era mais baixa que o africano, mas não muito, e era praticamente do tamanho do búlgaro.

- Desculpe. Você deve ser a Sra. M’Bea, não é mesmo? –disse para uma emburrada Helga – Nossa! Harry Potter! Você é um gatinho! Você não me conhece, mas eu ajudei a Ordem da Fênix na França. Eu jogava lá na época da guerra – atropelou as palavras a loira, com um estranho sotaque da Europa Central.

Harry não sabia o que dizer, principalmente porque Gina não parecia ter gostado da mulher mais velha dizer que ele era um “gatinho”. Ou gostou tanto quanto Helga havia apreciado a estranha chamar o seu marido de “negão gostoso”.

- Ah, vejo que já se conheceram – disse Draco Malfoy que voltava do toalete naquele momento – Vera Ivanova, a nova técnica do time - anunciou o loiro.





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