JOVENS E SENHORES



Coluna de Marla Donovan, publicado no “Profeta Esportivo”:


Hoje retorna à Inglaterra o novo time dos Cannons depois de uma excursão vitoriosa pelos campos de quadribol do Novo Mundo. As partidas nos Estados Unidos, Peru e Brasil talvez apaguem a imagem que nós ingleses projetamos de um país sisudo, sorumbático, que deu ao mundo os principais bruxos das trevas que se tem notícia.

Liderados por esse extraordinário Harry Potter, sem sombra de dúvida o maior jogador de quadribol surgido no mundo nos últimos tempos e inegavelmente o maior deste início de século XXI, o time laranja, além do jogo excitante e ofensivo como não se via há muito tempo, esbanjou simpatia por onde passou, arrancando aplausos e admiração tanto dos exigentes ianques quanto dos calorosos latino-americanos. E que jogos eles fizeram!

Ninguém se arrependeu de ficar acordado até tarde para acompanhar pela TV Bruxa o jogo contra o selecionado norte-americano ou contra o Combinado de jogadores da América do Sul. Aquilo foi quadribol do mais alto nível! Os ingleses que ficaram preocupados quando assistiram no mês passado pela TV o jogo sensacional entre brasileiros e ianques e se perguntavam se teríamos time para enfrentá-los na próxima Copa Mundial de Quadribol agora já sabem. Temos!

Tudo bem que teremos que passar pelo martírio de dois jogos das eliminatórias européias sem os nossos principais jogadores, por obra e graça do nosso “amado” ministério, deposto graças à ação de Rony Weasley (só isso já valeria para ele um lugar no selecionado nacional, na minha opinião). Tudo bem. Restarão seis jogos, o suficiente para conquistar uma vaga para a Copa dos Estados Unidos do ano que vem.

Essa colunista (insuspeita, pois nunca escondeu seu apreço pelas Harpias, como boa galesa) deseja para os Cannons toda a felicidade do mundo e espera uma Liga Britânica como há anos não se via.

E espera ardentemente, como fã de quadribol, que Nilus Peters, o técnico que passará à história como o homem que barrou Harry Potter da seleção, seja devolvido ao anonimato de onde nunca deveria ter saído e dê o seu lugar para alguém que realmente conheça o esporte mais popular dos bruxos.
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Extraído do jornal “O Pasquim”. Depoimento de Melvin Peterhood para Luna Lovegood, que perguntou a alguns torcedores se eles iriam recepcionar o time dos Cannons no seu retorno à Inglaterra.


Realmente é uma beleza ver esse time dos Cannons jogando. Meu pai quase teve um troço quando Harry Potter marcou aquele gol nos ianques. Sim, nós assistimos o jogo pela TV Bruxa. Não conheço um bruxo que não tenha assistido aquele jogo. E esses americanos tavam achando que iam começar a nos ensinar a jogar quadribol. Era só o que faltava! Ora, nós inventamos o jogo. Eles que fiquem lá naquele trancabola deles!

Sim, dona, eu sempre torci pros Cannons, mas a gente já tava meio que desistindo do quadribol, sabe? Foi uma tristeza danada quando o time fechou. Também, ele não ganhava de ninguém. Não senhora, eu não tenho vergonha de dizer que eu chorei quando vi o Potter, os Weasleys, o M’Bea e o Krum vestindo aquele uniforme laranja. Dá uma coisa na gente, sabe? Uma coisa boa, é verdade. A senhora viu aquele africano daquele tamanho com a camisa laranja e o bastão? Eu fiquei emocionado! Finalmente a gente tem batedor. Sem falar do Potter, né? O garoto é fera! Há tempos eu não via um artilheiro marcar os gols que esse menino marca. E é bom o governo parar de encher o saco dele!

Sim, senhora, eu tive dois filhos que lutaram na Força Aérea durante a guerra do lado dele. É claro que eu não queria, mas os dois moleques já tinham mais de dezessete anos. O mais velho, Thomas, morreu sim sem senhora. Desculpe, ainda é difícil falar nisso... Não, imagine se eu poderia culpar o Potter ou o M’Bea pela morte do menino... Eu culpo aqueles desgraçados dos seguidores de “você-sabe-quem”, sim senhora. Já pensou se eles tivessem ganhado a guerra? Pra mim o menino Potter e aquele africano grandalhão são heróis e a senhora pode ter certeza que eu dou uma nas fuças do salafrário que disser o contrário! Assim como o meu menino mais velho eles lutaram pra que os bruxos de caráter pudessem levar uma vida decente.

É verdade, eu sou mestiço. Meu pai é bruxo e minha mãe era trouxa. Minha mulher é trouxa também, mas ela entende direitinho o mundo bruxo agora. Ela até gosta de quadribol, a danada! Não senhora, a patroa fica contente agora com os jogos que a TV Bruxa passa. Ela diz que assim pelo menos eu fico sossegado em casa e não fico por aí tomando umas e outras com aquele pessoal lá da Travessa do Tranco.

Sim senhora, eu recebi uma ajuda do ministério no fim da guerra por causa do meu menino.Eu não queria aceitar, sabe? Foi muito duro. Mas Harry Potter em pessoa veio aqui em casa falar comigo. É, ele mesmo. Tava com aquele amigo ruivo dele. É, o goleirão ruivo. Como joga bem esse garoto, né? Foi muito emocionante, sabe? Não senhora, não foi a primeira vez que vi Harry Potter. A primeira vez foi no enterro do Tommy (era assim que a gente chamava ele). Eu vi o Potter de longe. Ele tava junto com aquela namorada ruiva dele. Menina bonita. E como joga bem! Nossa, ela parece um raio! Mas, voltando ao assunto, ele tava chorando, sabe? O africano, a namorada e o ruivo consolavam ele. Não era verdade o que diziam que ele não se importava com as pessoas. É isso mesmo. Tudo intriga daquela gente que tinha parte com “você-sabe-quem”. Ele não tava fingindo que tava chorando. Ele realmente sentia. Deu até pena dele.

Quando ele veio aqui me convencer a aceitar o dinheiro do ministério, ele me pediu desculpas, sabe? Pra mim e pra Nora (é o nome da minha mulher). A gente disse pra ele que não tinha nada de desculpas. Que ele não tinha do que se sentir culpado. Afinal, foram os seguidores de “você-sabe-quem” que mataram o meu garoto. E eu nem sabia na época que a maior parte do dinheiro que eu pensava que vinha do ministério vinha do bolso dele mesmo. Dá pra acreditar?

O Potter é um grande garoto, sabe? De um coração imenso. Acho um absurdo o que tentaram fazer come ele. Roubar o rapaz e ainda espalhar aquela boataria... Golpe baixo mesmo!

O que eu digo pra senhora é que por conta da pensão que eu recebo graças ao Potter, eu consegui tocar a minha oficina de consertos de vassoura. É, ela vai indo bem, sim senhora. O meu menino mais novo, que também lutou na guerra ta estudando engenharia de vassouras na Escócia e ele tem me dado uma mão. É, ele recebeu uma bolsa. Sei que o Potter é que batalhou pra que os veteranos da guerra recebessem isso. A minha caçula ainda ta em Hogwarts. É, ela quer ser jogadora de quadribol. Ela adora a Gina Weasley e a Angelina Johnson. Vamos ver se dá certo.

Se eu vou lá receber os Cannons? Claro que vou! A senhora não ta vendo a minha bandeira laranja e esse boné aqui? Vou lá sim e se der eu vou dar um pulo em Chudley para ver alguns jogos. É, vou ver se levo a minha menina. Tomara que o pai do Rony Weasley vire ministro da magia, como dizem por aí. Bom, o cara é pai da garota do Potter, não é mesmo? Espero que os políticos parem de encher o coitado.
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Carlinhos Weasley apareceu no seu sonho novamente. Só que desta vez ele não tinha uma aparência sombria e acusadora. Ao contrário. Ele se vestia como Harry se lembrava de tê-lo visto na Toca pela primeira vez há anos atrás. Roupas descontraídas e botas de couro de dragão. Quando Harry esticou a mão direita, aceitando o cumprimento que o outro lhe dava, sentiu a aspereza da mão imensa do irmão do seu melhor amigo, provavelmente cheia de bolhas ou queimaduras produzidas pelos dragões.

- Este realmente sou eu, Harry – disse-lhe o ruivo – Não aqueles caras que ficam aparecendo no seu sonho. Eu nunca acusei você de nada e tenho certeza que nenhum dos meus irmãos ou os meus pais.

- Mas... – ia dizendo Harry quando Carlinhos o interrompeu.

- E pare com essa frescura de remorso, certo? Afinal, eu não quero um cara problemático casando com a minha irmã – emendou sorridente. E, depois, piscando: - Cuida bem da minha irmãzinha, Potter. Ela ama muito você.

Quando Harry acordou, Gina olhava para ele divertida.

- O que foi? – perguntou o jovem, conjurando as lentes de contato mágicas que costumava usar (abandonara os óculos após a guerra).

- Você estava sorrindo enquanto dormia.

- Sonhei com o seu irmão – explicou Harry.

- O que? – brincou a garota, fingindo-se indignada – Você dorme comigo e sonha com o Rony? Céus, Potter, nunca pensei...

- Não foi com o Rony! – cortou-a Harry – Sonhei com Carlinhos!

- Então...- perguntou Gina hesitando por um momento – Por que você estava rindo?

Ela sabia que os sonhos que Harry tinha com o seu irmão eram freqüentemente perturbadores. Mais de uma vez durante o período que passaram a ter intimidades a garota teve que acordá-lo de seu sono agitado.

- Dessa vez não foi ruim – explicou o artilheiro dos Cannons – Era o Carlinhos como da primeira vez que eu o vi, na Toca. Ele me mandou cuidar de você e disse que você me amava muito.

- Não tenho dúvida então que era o Carlinhos – respondeu a ruiva – Meu irmão me conhecia muito bem – explicou, puxando Harry para um grande beijo.
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- Esse país faz bem para a alma, mas não vai fazer bem para minha silhueta – brincou Vera Ivanova, apreciando a mesa farta, cheia de quitutes que a mãe de Andy Lopes havia preparado para a despedida do filho e dos demais jogadores dos Cannons.

O almoço era também a inauguração de uma chácara que o jovem brasileiro havia comprado para a sua mãe, nos arredores da cidade de Poente. Andy havia explicado para Harry que a maior parte do que havia recebido enviara para a mãe e um irmão mais velho que era um pequeno comerciante na cidade bruxa.

O irmão de Lopes, André, um pouco mais alto que o jogador, mas quase tão musculoso como ele, ficou encantado em conhecer Harry e os colegas de time do caçula. Andy tinha também uma irmã mais nova, uma mulata muito bonita, que não parava de lançar olhares cobiçosos na direção de Toni M’Bea, cujos músculos estavam bastante a mostra numa camisa de quadribol da seleção brasileira que André havia lhe dado de presente.

Hermione, que já entendia um pouco do idioma português, surpreendeu-a fazendo um comentário sobre os músculos do africano para Amanda. A cunhada respondeu algo que a curandeira não conseguiu captar o sentido completo, mas era uma advertência sobre o fato do homem mais velho ser muito bem casado. E sua esposa ser muito ciumenta. Quando a garota fez um comentário sobre Rony, Hermione desferiu um olhar mortífero na direção da adolescente, que percebeu imediatamente a gafe.

- Eu estou só brincando – disse num inglês quebrado, mas preferiu se afastar a pretexto de verificar se a mãe precisava de ajuda.

- Desculpe a minha cunhada – disse Amanda rindo da cara de contrariedade de Hermione – Acho que são os hormônios da adolescência.
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- Ela quer que você experimente essa torta de frango, Harry – dizia Andy, pois a mãe do brasileiro havia decidido que o rapaz precisava se alimentar melhor.

Para ser educado o artilheiro dos Cannons serviu-se de um pedaço pequeno, o que pareceu não satisfazer a senhora. Ela apontou para Gina e com um sorriso bondoso no rosto começou a fazer algumas recomendações em português para a ruiva, que Andy, segurando-se para não rir, traduzia:

- Ela diz que o seu namorado é um atleta e precisa se alimentar como um.

- Eu digo isso pra ele o tempo todo – concordou Gina.

- Ela diz também que sabe o quanto os homens são teimosos, mas você parece ser a menina certa para colocar algum juízo na cabeça desse garoto.

- Pode crer – respondeu a ruiva, com um ar de quem estava se divertindo muito com o sermão.

- Tem certeza que a Senhora Weasley não tem alguma irmã perdida no Brasil? – perguntou Harry a Gina e Andy.

- E ela disse também... – o brasileiro hesitou e seu rosto escuro ficou visivelmente corado.

- O que ela disse agora? – perguntou Gina, divertindo-se bastante com a pregação da matrona brasileira.

- Bem... - disse Andy um pouco desconfortável – Ela falou algo sobre os homens não pensarem com a cabeça certa...

E no meio das risadas que explodiram, o batedor acrescentou: - Mas ela disse que gosta do Harry e conta com você pra tomar conta dele.

- Sua mãe é uma mulher esperta – Falou Gina, enquanto dava na boca de um Harry contrariado mais um pedaço da mencionada torta de frango.
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Quando os Cannons finalmente desembarcaram no Terminal Internacional de Portais em Londres, uma maré laranja estava a espera deles, ou foi isso o que lhes pareceu à primeira vista. Gritos dos torcedores, entoaçãoes desafinadas do hino do clube, além de declarações de amor gritadas por jovens histéricas enchiam o ar numa cacofonia confusa de sons.

Prevendo isso, o eficiente Blas Zabini, a mando de Draco Malfoy, havia contratado uma firma bruxa que fazia a segurança em eventos musicais e esportivos, composta por bruxos que mais pareciam armários duplex. Os brutamontes conseguiram escoltar os jogadores em segurança até uma área reservada onde um grupo de Weasleys sorridentes aguardava, assim como os pais de Hermione, que estavam surpresos com algazarra promovida pelos bruxos. Helga e os filhos também se faziam presentes, felizes, junto aos Weasleys e com as crianças vestindo laranja da cabeça aos pés.

Enquanto Draco anunciava à imprensa do mundo mágico que seus jogadores precisavam descansar e rever os familiares e só dariam declarações no dia seguinte, Toni, Harry, Rony, Hermione e Gina eram abraçados e beijados por parentes e amigos, enquanto a um canto, Vitor Krum e sua noiva Lilá Brown fundiam-se no que parecia ser uma única pessoa.

- Quem diria que o Krum fosse tão... como dizer? – gracejou Jorge Weasley.

- Adepto de confraternizações, maninho - completou Fred com um sorriso maroto.

- Esse é o termo! – sorriu Jorge – A propósito, Rony, você não namorou aquela garota?

- Numa outra vida, meu caro irmão – disse o goleiro dos Cannons, sorrindo e abraçando Hermione, fazendo com que o Senhor Granger arqueasse uma sobrancelha – Numa vida distante e remota.

- Isso me lembra uma coisinha... – disse a Senhora Weasley, que acabara de dar em Harry um abraço de quebrar costelas – Eu não fiquei nem um pouco satisfeita de saber pelos jornais que os rapazes e moças aqui estavam dispostos a se casar. E a menos que isso seja invenção dos jornais...

- Não é invenção, Molly – interrompeu-a Harry – Eu realmente quero me casar com Gina e gostaria de pedir a mão dela formalmente para você e Arthur.

- Oh, Harry! – disse a matriarca dos Weasleys, dando outro dos seus abraços trituradores no jovem. Depois, com os olhos úmidos, virou-se para Rony e intimou o filho: - Espero que você faça o mesmo com os pais de Hermione, mocinho!

- Eu farei, mamãe – disse o ruivo, desanimado, principalmente depois de ver os semblantes nada felizes dos Grangers.
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Arthur Weasley não pôde comparecer à festiva chegada dos Cannons. Aliás, tinha certeza que essa chegada daria muito trabalho aos aurores. Embora a Estação Internacional fosse bem protegida por feitiços antitrouxas, quando muitos bruxos se reuniam, dificilmente eram discretos.

Ele, entretanto, estava numa situação que nunca havia imaginado. À sua frente estavam Severo Snape, atual ministro interino da magia, Alvo Dumbledore, ex-diretor de Hogwarts e certamente o membro mais influente Grande Conselho dos Bruxos, seu velho companheiro da Ordem da Fênix, o auror Quim Shacklebolt, mais alguns burocratas. E todos estavam ali para convencê-lo a aceitar a nomeação do Grande Conselho para ser o novo ministro da magia do Reino Unido.

- Eu não sou um político, Severo – explicava-se o patriarca dos Weasleys.

- Pois é por isso que querem nomeá-lo, Arthur – refletiu o Professor Snape – Os bruxos estão cansados dos políticos e dos seus truques e artimanhas.

Arthur Weasley era considerado acima de tudo um homem íntegro e honesto. Durante anos trabalhara na Divisão de Mau Uso de Artefatos Trouxas, até chegar muito merecidamente à sua chefia. Tirando a sua estranha obsessão pelos trouxas e a tudo que estivesse ligado a estes, era considerado um funcionário exemplar, e que nos últimos anos dirigira um importante departamento que realizava a ligação com o ministério dos trouxas da Grã-Bretanha. Este departamento crescera em importância em função da maior interação comercial entre bruxos e o mundo não mágico, uma vez que alguns bruxos nascidos trouxas começaram a comercializar junto a comunidade mágica artigos que até então eram desconhecidos e até desprezados, tais como roupas de grifes, computadores, telefones e eletrodomésticos em geral. O crescimento da TV Bruxa (“toda a magia da vida ao seu alcance”) e a conseqüente proliferação entre bruxos dos aparelhos de televisão ocasionara complicadas negociações de tecnologia trouxa adaptadas ao mundo mágico e produzira tensas discussões a respeito dos direitos dos programas televisivos, ao mesmo tempo em que os bruxos faziam questão de manter o seu mundo a salvo dos trouxas.

Arthur Weasley, com paciência e diplomacia, conseguira aparar as arestas entre os políticos dos dois mundos e chegar a acordos que foram considerados vantajosos para todas as partes envolvidas. Os homens da TV Bruxa o idolatravam e esta não escondia, para contrariedade do próprio, a sua preferência por ele para liderar a comunidade mágica britânica. Os comerciantes, que estavam lucrando horrores com a venda dos novos produtos para o público bruxo jovem o tinham como herói. Ainda mais que ele se recusara a receber qualquer comissão ou “presentes” pela sua atuação. Não havia representante deste “novo comércio” que não estivesse em campanha em favor de Arthur Weasley.

Embora fosse o Grande Conselho que nomeasse o ministro da magia, este era eleito diretamente a cada quatro anos e eram sempre sensíveis às pressões da opinião pública, que poderia muito bem tirá-los do cargo nas próximas eleições.

- O grupo de Blackwell está totalmente desarticulado – explicou Severo Snape com a sua conhecida voz desprovida de emoção – Seria lamentável se o fortalecêssemos com a nossa indecisão.

- Eu não entendo porque você não fica no cargo – retrucou o Senhor Weasley.

- Eu já expliquei, Arthur. O conselho teria que votar novamente e os partidários do ex-ministro iriam dizer que um comensal da morte está usurpando o ministério Não que eles já não digam no momento... – acrescentou o antigo professor – Mas isso apenas lhes daria margem de manobra. Quanto a você...

- E há o fato que muitos representantes conservadores do Conselho não terão problemas em votar em você que é de uma família sangue-puro – ponderou Shacklebolt.

– Eu não quero ser eleito por este motivo! – sibilou Arthur contrariado.

- O Quim só está constatando um fato, Arthur – disse calmamente o Professor Dumbledore – É compreensível que você, que é um homem de princípios, não queira ser escolhido por suas origens puro-sangue. Mas, infelizmente, muitos bruxos raciocinam dessa forma. E, se você me permite, prefiro que eles elejam você pelos motivos errados, que é um homem íntegro, a algum ex-adepto do Lorde das Trevas ou alguma figura desprezível do círculo de amizades de uma Dolores Umbridge ou de um Georgius Blackwell.

- E não adianta olhar para mim – disse com sua voz grave o auror Shacklebolt, vendo que Arthur lhe lançava um olhar cheio de esperança – Você sabe que eles não votariam em alguém que nasceu na Jamaica, mesmo um sangue puro.

- Muito bem então – concordou Arthur Weasley derrotado – Mas, á vista do que Tonks me relatou eu gostaria de tomar algumas providências. E elas não são negociáveis – acrescentou o velho funcionário, encarando de maneira intimidadora os burocratas presentes na reunião, que se encolheram surpresos nos assentos.
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- Então você vai aceitar, Arthur? – perguntou Molly Weasley, mas já sabendo de antemão a posição do marido.

- Nos meus termos – respondeu sombriamente o Sr. Weasley.

- Apoiaremos qualquer decisão que você tomar – falou Gui, que tinha a seu lado sua esposa Fleur e no colo desta a pequena Monique, sua filha de dois anos.

- É claro, papai – disse alegremente Fred – Mas é lógico que você daria um ministro muito melhor do que o Blackwell.

Eram sete horas da noite e todos estavam à mesa de jantar da família Weasley. A família toda, mais Hermione e Harry, que dizia que tinha algo importante a dizer a todos. Esses dois e Gina, mal tocaram na comida deliciosa da Sra. Weasley, pois ainda sentiam os “efeitos” do almoço no Brasil. Às nove da noite, Rony iria encontrar-se com o Sr. e Sra. Granger para ter uma conversa semelhante a de Harry com os pais e irmãos de Gina. Tudo indicava, porém, que a conversa (ou comunicado) de Rony seria muito mais tenso.

Se a postura dos Grangers no desembarque fosse uma termômetro da atitude do casal, Harry desconfiava que o amigo estava em maus lençóis. Não pareciam nem um pouco felizes com o xodó que o casal demonstrava um para o outro. Com um semblante carregado, o Sr. Phillip Granger chamara Rony para uma conversa séria às nove horas da noite daquele dia. Hermione ficara tão contrariada que se recusara a acompanhar os pais de volta a casa deles.
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- Você tem certeza que quer fazer isso, Harry? – perguntou-lhe Gina quando o rapaz contou à futura esposa os seus planos – E, principalmente, você tem certeza que Rony e Hermione querem que você faça isso?

- Eu devo pelo menos isso a eles – respondeu o jovem calmamente, dando um beijo na testa de Gina e desaparatando a seguir.

“Maldito complexo de salvador do mundo!”, pensou a ruiva. Ma estava sorrindo ao pensar isso. Não havia sido exatamente por esse motivo que ela se apaixonara por Harry? É claro que os olhos verdes e o seu jeito tímido também eram bem atraentes...

Poucos minutos atrás, Harry havia pedido ao Senhor e à Senhora Weasley sua mão em casamento. Os gêmeos fizeram uma cara muito séria e perguntaram como ele tinha a coragem de querer roubar a “irmãzinha” deles. A “irmãzinha” mencionada ameaçou os dois com azarações dolorosas. Angelina, noiva de Jorge, que havia chegado naquele momento encarou o noivo de maneira significativa. Hermione, atenta à cena, intuiu que um outro casamento não iria demorar muito. Ou uma separação traumática.

Gui, o Sr. Weasley e Rony cumprimentaram Harry, ressaltando que era uma honra recebê-lo na família. A Senhora Weasley, depois de perguntar se a aquela decisão não era muito apressada, vendo que os jovens mantinham-se irredutíveis, deu um grande abraço na filha e no futuro sogro, os olhos marejados pela emoção.

Para contrariedade de Gina, Fleur começou a matraquear no seu inglês com sotaque sobre o vestido que ficaria mais bonito e que combinaria com os cabelos ruivos da noiva. A esposa de Gui perguntou a um Harry distraído e com uma aparência feliz sobre vestidos, festas e coisas do tipo.

- Ah, Fleur, eu estarei bem – respondeu o rapaz distraído.

- Mas o vestido que eu falei... – insistiu a esposa de Gui.

- Ela ficará linda – respondeu com ar sonhador.

- Como você sabe? – perguntou a francesa, impaciente.

- Ela já é linda agora – explicou Harry com um sorriso.

“Ahs!”, ohs!, e “ai, que fofo!” foram ouvidos à mesa. Angelina, olhando abismada de Harry para Gina, disse:

- Acho que eu vou chorar!
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Eram oito horas da noite, passados talvez alguns poucos minutos. Harry orientara Gina para segurar Rony e Hermione até que ele desse o “sinal verde”. Hesitou por um momento diante da porta da casa dos Grangers. Uma típica habitação da classe média suburbana londrina. Quando enfim tocou a campainha foi uma surpresa Senhora Granger quem atendeu a porta e o introduziu na sala de estar. O Senhor Granger, que alternava a sua atenção na leitura do Times daquele dia e umas olhadelas em algum programa da BBC, apertou os olhos quando reconheceu o visitante ilustre, como se estivesse diante de uma miragem. Por fim, comentou cheio de sarcasmo:

- Ora, ora, se não é a celebridade do mundo bruxo em pessoa...

“Essa vai ser uma longa conversa”, pensou Harry.
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Para a surpresa de Harry a conversa não foi assim tão desagradável. Os Grangers eram exemplares bem típicos da classe média inglesa. Tinham empregos respeitáveis, fizeram economias no tempo certo a ponto de hoje possuírem uma vida tranqüila, liam o Times, assistiam os programas “sérios” da BBC e com certeza tomavam chá às cinco horas da tarde. E, é claro, preocupavam-se com o futuro de sua única filha. Que achavam que não possuía um futuro num mundo que eles não conseguiam compreender. Mas, como Harry descobriu satisfeito, eles eram infinitamente mais abertos que os Dursleys, seus tios trouxas detestáveis que o haviam criado.

- Me fale de novo sobre esse negócio de quadribol – disse o Sr. Granger – É esse o nome, certo?

- Sim, senhor – concordou Harry, educado – É um esporte tão popular quanto o futebol no seu mundo. Hermione, o senhor pode dizer, é a médica do time.

- E não é perigoso? – quis saber a senhora Granger, que servia nesse momento uma xícara de chá para o visitante.

- Não para os médicos ou treinadores – explicou o jogador – Mesmo para os jogadores, não acontecem freqüentemente acidentes graves.

- E esse time de vocês? – indagou de novo Phillip Granger.

- Bom, o senhor viu a recepção hoje. O senhor poderia dizer que somos hoje uma espécie de Arsenal ou de Manchester United, se fôssemos fazer uma comparação com o futebol.

- E você e seu amigo são bem famosos, pelo que eu pude ver – disse Elisabeth Granger, com uma ponta de divertimento.

- Bom, no seu caso, parece que você já era famoso, não é mesmo? – questionou o marido.

- Eu fiquei famoso por fatores alheios à minha vontade, senhor – disse Harry de maneira sombria.

- Hum... eu lamento muito – desculpou-se o Senhor Granger, lembrando-se do que a filha havia contado sobre a “fama” de Harry. A Sra. Granger parecia também desconcertada.

- Tudo bem – disse o rapaz, tentando desanuviar o ambiente – O que eu quero dizer é que os senhores não deveriam ter uma idéia errada a respeito de Rony por minha causa. Eu e ele não somos aventureiros em busca de fama ou de prestígio. Lutamos numa
guerra porque não tivemos escolha, como sempre diz o meu amigo Toni M’Bea.

- O Senhor M’Bea é seu amigo? – perguntou surpresa a Sra. Granger, que havia ficado impressionada com o africano e com Draco Malfoy quando ambos os visitaram há algum tempo atrás, antes do embarque dos Cannons para os Estados Unidos.

- É como um irmão mais velho – admitiu Harry.

- E você, pelo visto é uma espécie de David Backham do quadribol – disse o Phillip Granger mais descontraído.

- Dizem que sou bom – falou Harry incomodado – Mas também sou o dono do time agora.

- Sério? – perguntaram os Grangers ao mesmo tempo;

- É uma longa história, que tenho certeza que Hermione terá prazer em relatar.

- Você realmente parece um bom rapaz, Harry – disse-lhe a Senhora Granger – Houve uma época que eu e Phillip acreditávamos que nossa filha estava apaixonada por você.

- Ah, não – negou Harry – Nós sempre fomos como...

- Sei. Irmãos. A Mione dizia isso sempre – cortou-o o Sr. Granger - Mas, sem querer ser rude, pois você é realmente uma boa companhia, qual o motivo da sua visita?

- Como os senhores já devem ter adivinhado, Rony e Hermione estão juntos e de maneira muito séria – explicou Harry.

- Quão séria? – quis saber Phillip Granger.

- Séria o suficiente para ele pedi-la em casamento – respondeu Harry, o silêncio enchendo a sala por alguns segundos – E, se eu conheço a Hermione, e eu acho que a conheço, ela está mais do que disposta a aceitar.

- Então não há nada que possamos fazer – disse derrotado o pai de Hermione – Você conhece muito bem a determinação da minha filha. E ela é maior de idade tanto pelas suas leis quanto pelas nossas.

- Hermione já fez a sua escolha, Sr. Granger – reafirmou Harry – Eu apenas não sei porque ela deveria escolher entre os pais e o homem que ama.

- Qual o seu interesse nisso, meu jovem? – perguntou Elisabeth Granger.

- Todos os dias eu me pergunto se Rony e Hermione não seriam mais felizes se nós não tivéssemos nos conhecido.

- Desculpe a franqueza, mas nós também fizemos a mesma pergunta várias vezes, em relação à nossa filha, digo – confessou o Senhor Granger.

- Eu sei – concordou Harry – E exatamente por isso eu não quero que os meus amigos paguem o preço da minha proximidade com eles. Acreditem, hoje a sua filha corre menos risco por ser minha amiga do que em qualquer outro momento desde que nos conhecemos.

- Aquele bruxo que perseguia você está morto, segundo Hermione nos contou – disse a Senhora Granger.

- Sim, eu o matei – explicou Harry friamente – Não senti prazer algum nisso – disse rapidamente, vendo o espanto do casal – Mas o faria de novo se tivesse que defender as pessoas que eu prezo.

- Você gosta dela tanto assim? – perguntou a Elisabeth Granger impressionada.

- Eu amo Hermione. E o Rony também – retrucou Harry – Eles foram a primeira família que eu tive realmente. Pensei que isso havia ficado claro.

- Ficou muito claro, meu rapaz – respondeu o Senhor Granger – Você realmente faz jus à fama de herói – disse o homem mais velho, mas agora sem nenhuma sombra de malícia na afirmação.

- Então, Harry, fale-nos desse seu amigo que pretende pedir a nossa menina em casamento – pediu a Senhora Granger, que continuava impressionada com o jovem.

E Harry falou. E muito mais do que isso, pois quando estava terminando, a campainha tocou. Tudo indicava que Gina não havia conseguido conter Rony e Hermione pelo tempo desejado por Harry.
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OI!!! FELIZ ANO NOVO PRA TODO O MUNDO!!! ESTOU ESPERANDO OS REVIEWS!!!!

QUANTO AOS NOMES DOS PAIS DE HERMIONE, EU NÃO SABIA!!! POR ISSO TOMEI A LIBERDADE (COM PERMISSÃO, É CLARO!) DE USAR OS NOMES QUE A SALLY OWEN CRIOU NA SUA SHORT-FIC. OBRIGADO, SALLY!

PROVAVELMENTE A FIC TERÁ MAIS UNS DOIS OU TRÊS CAPÍTULOS NO MÁXIMO. MAS ELA CONTINUA!!! ACOMPANHEM EM BREVE “LEMBRANÇAS DO VELHO MALFOY”!!!!!!




















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