Enfermidade Eterna




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Capítulo VI
Enfermidade Eterna


Sarah até que era uma boa companhia; Anne também seria se abrisse aquilo que chamasse de boca. Sentadas no topo das caixas, conversávamos – ou tentávamos – sobre tudo que estava acontecendo, que aconteceu e que pode acontecer. Sarah já soltou que tinha acabado de beijar um moleque e nem perguntou o nome, Anne, nas poucas vezes que falou, disse que nunca tinha ido a festas assim.

Engraçado seria ver alguma delas bebadas. Mal chegaram na escola e já na primeira festa, teriam que voltar para a cama carregadas por alguém. Não vi Mc durante as duas horas que tinha ficado ali. Aí, já me bate aquela pequena culpa e aquele pensamento de ter feito a coisa errada.

Mas ele foi o estúpido da história, se não sabe respeitar minhas opiniões, não posso fazer nada.

Distraída com qualquer outra coisa, uma sombra se fez em cima de mim; Sarah agitou-se do meu lado e Anne agiu com indiferença. Ao erguer meu olhar lentamente, lá vi Tony, cruzando os braços e erguendo uma de suas sobrancelhas.

- O que está dando em você?! – Pegou num dos meus braços e tentou me arrastar para dançar mas eu o impedi.

- Não, Tony, não tô muito a fim de ficar dançando... – Resmunguei voltando a me sentar.

- Tá aí uma coisa que eu nunca pensei que ouviria de você. – Sentou-se ao meu lado e ao lado de Sarah que virou um pimentão se agitando ainda mais. – O que houve?

- Briguei com Mc. – Olhei ara meus próprios dedos os mexendo lentamente.

- A coisa foi séria?

- Sei lá. – Soltei com desdém mirando meu olhar em outro lugar. – Ele me tira do sério com aquele superego.

- Entendo. Ele é assim mesmo, nunca irá mudar. – Meneou com a cabeça. – Estão gostando da festa? – Perguntou a Sarah e Anne.

Anne acenou sorrindo já Sarah suspirou num pequeno sorriso bobo e já abriu a boca para tagarelar mas foi impedida por uma garota que se aproximara de Tony – detalhe: que menina é essa que chega num menino quando está rodeado de outras meninas?! – o pegou pela mão e o levantou de lá para a pista de dança. Uma das questões que me surgiu, foi se ele conhecia realmente aquela menina.

Sarah fechou os punhos em cima de sua coxa e bufou logo em seguida.

- O que foi? – Perguntou Anne piscando algumas vezes.

- Nada, esse é problema! Não aconteceu absolutamente nada! – Soltou aborrecida passando uma das mãos na nuca e se levantando. – Eu vou dançar. – Saiu dos nossos olhares.

Sarah estava cada hora mais esquisita. Tá, não sou cega ou burra, dá pra ver que ela tá afim do Tony, está praticamente escrito em sua testa quando ele se aproxima. O problema é que, pelo que aparenta, ela sofrerá uma decepção já que o moreno se intitula um 'homem de uma mulher só'.

- Harry Potter sem a namorada? – Perguntou Anne me cutucando e apontando para Harry conversando com alguns garotos. – Por que não vai lá? – Foi inocente na sua pergunta, mas eu não encarei assim.

- Porque não. – Respondi prontamente.

- Mas vocês são amigos.

- E por isso tenho que ficar com ele? – Perguntei erguendo uma de minhas sobrancelhas. Anne fechou sua boca e abaixou seu olhar. – Me desculpe, é que quando eu toco nesse assunto eu fico meio- - Rolei olhos. – Vamos dançar!

***


Enfim, foi a festa mais monótona que eu já presenciei. Saí de lá quando quase todos tinham ido embora. Sim, estava com sono. Bocejava inconstantes vezes.

Eu sou assim: até que não me deito – independente de onde – não paro de bocejar e de xingar. É incrível! Acho que sou a única a conseguir tal feito memorável. Que seja, todas as minhas amigas me abandonaram e foram juntas para os dormitórios.

Restou minha solidão nos corredores mais gelados de Hogwarts. Contraía os braços de frio, tremia as pernas trincava os dentes. Devia estar fazendo uns cinco graus negativos! É quase uma tortura psicológica e física. Mas como Tony diz quando está com frio: o frio é totalmente psicológico... Tá bom, não é tão psicológico assim, as dores e os calafrios são bem reais.

Apertei ainda mais os braços contra o corpo e apertei os olhos para esquecer do frio e me concentrar em outra coisa. Meus passos se aceleravam como a minha respiração. Andar por aí, com os olhos fechados, tentando se encolher o máximo para não sentir frio, não é uma boa.

Não é a toa que, após pensar nisso, não senti mais o chão e desci alguns degraus rolando escada abaixo. Não tinha percebido que já tinha alcançado as escadas principais e lá estavam aqueles dez degraus com que desci tão sutilmente que não lembro de mais nada depois disso.

***


- É, professor! Ela estava caída perto do Saguão desacordada! – Ouvi uma voz ao longe.

Voz desgraçada! Pare, minha cabeça está explodindo...

- Mas o que ela fazia lá? – Outra voz, velha e mofada.

- Não sei, só a achei esticada pela manhã. E se algum aluno a visse?!

Assim não dá, minha cabeça tá quase explodindo e esse pessoal aí fica gritando na minha orelha?! É sacanagem!

- Dá pra calarem a boca?! – Gritei me levantando da maca no mesmo instante. Ao abrir os olhos, a claridade da sala branca invadiu meus olhos e quase me cegou.

Botei uma das mãos na frente do rosto e contrai os olhos. Com o passar dos segundos, reconheci a face assustada de Madame Pince, e o pior, Dumbledore. Analisemos os fatos: acabo de acordar num lugar, provavelmente a enfermaria, onde pede silêncio e tudo mais e eu mandei o diretor dessa escola e a bibliotecária calarem a boca.

Dumbledore abrira a boca para falar novamente e soltar suas 'comidas de rabo' quando fingi desmaiar e cair de costas na maca novamente. Congratulations, Hermione! Essas coisas, só você faz.

***


Acabei pegando no sono enquanto esperava Dumbledore e Madame Pince saírem de lá – duas pessoas que irá demorar para eu voltar a encarar. Acordei com um copo quebrando no chão, não muito longe de mim e logo, algumas reclamações de Madame Pomfrey. Abri um dos olhos ainda deitada, as manchas do teto pareciam ter aumentado, não sei. Já que acordei tantas vezes ali, poderia comparar cada uma delas. Minha cabeça ainda doía como o resto do meu corpo.

Tentei me levantar mas senti duas mãos em meus ombros forçando com que eu fique deitada.

- Fique quieta, senhorita Hermione! Afinal, foram mais de dez degraus! – Meus olhos cresceram no mesmo momento.

- 'Pera aí! – Soltei-me no mesmo momento. – Eu caí da escada?! – Perguntei assustada.

- Caiu sim, perto do saguão.

Mexi meu braço direito e percebi que tinha uma agulha enfiada em minha veia e um vidro de soro ligado por um fio, pendurado em pedestal.

- Por que eu estou com isso?! – Perguntei pegando no fio tentando me sentar.

- A senhorita está com um grau avançado de anemia, precisa ficar aqui alguns dias.

Meus olhos voltaram a crescer e meu queixo a cair.

- Aqui?!

O engraçado era que eu tinha ficado visivelmente abalada não pelo fato de eu estar mais doente do que antes, mas sim, por ficar aqui, alguns dias, nesse pedaço de fim de mundo isolada de tudo e todos.

- Senhorita Granger, será que tenho que lhe dar uma Poção Esclarecedora?! – Disse aborrecida colocando as duas mãos na cintura. Encostei as minhas costas novamente na cama e suspirei.

- Não, senhora. – Respondi encarando o teto.

Pensei que já estava livre dessa maldita anemia.

- Anda tomando os remédios regularmente? – Voltou a conversar comigo examinando um outro aluno que estava desmaiado na cama ao lado.

- Bom, é que-

- Não, como eu suspeitava. – Tirou o termômetro dele e o deixou dentro de pires de metal. – E ainda, deve estar tendo aulas com aquela Keiko... – Comentou para si mesma. – Já tive cinco pacientes de suas aulas, me espantei pela ausência da senhora. – Ergui uma das sobrancelhas ainda encarando o teto. – Onde tinha ido ontem a noite?

- Hã- - Comecei já gaguejando. De repente, um aluno que estava num dos cantos, começou a gritar de dor.

- Senhor Smith, fique quieto, por favor! – Correu até ele para silenciá-lo.

Voltei a me sentar analisando que ainda estava com a mesma roupa de ontem, apenas sem as minhas sandálias. Passei o olho por toda a enfermaria, pousei em cima de uma ruiva, olhando fixamente para mim com grandes olheiras e uma faixa em volta de sua cabeça. Cena, no mínimo, assustadora.

Gina estava do outro lado da enfermaria, quase de frente para mim. Estava com seu pijama e ao seu lado, um quilo de livros, provavelmente, insistencia de seu namorado.

Droga, se Gina está aqui, daqui a pouco Harry aparecerá e isso não é nada bom. E cadê o Mc falando nisso?! Ele não é meu namorado perfeito?! Por que ainda não me fez uma visita?! Não se esqueça que você feriu mortalmente seu ego, Hermione. Mas enfim, dane-se ele.

Olhei no relógio: nove horas e dezessete minutos. Tinha muito tempo pela frente...

***


- Mas e daí? – Devorava uma caixinha de bolinhas de chocolate feito um animal que nunca viu comida. Parvati, Deena e Sarah estavam me fazendo uma visita em plena cinco da tarde em um domingo gelado. – Vocês estão juntos?

- Não sei, acho que não. – Respondeu Parvati um pouco desanimada.

- E a Anne? – Perguntei de boca cheia.

- Ressaca assim como metade das pessoas que foram na- - Deena cutucou Sarah que logo parou. – OK, desculpe!

- E ela? – Sussurrou Deena apontando discretamente para Gina na outra maca.

- Não sei, não fala, não come, parece um urso hibernando. – Rolei os olhos pegando mais chocolates. – Viram o Mc por aí? – Já estava começando a ficar preocupada.

- Não, eu não vi. – Negou Parvati e logo depois Deena e Sarah. – Pensei que já tinha vindo aqui, não é ele o namorado de 'contos de fada'? – Brincou.

- É, também pensei isso. Se o virem, avisem que eu quero falar com ele. – Concordaram.

***


Terminara de ler meu horóscopo quando Madame Pomfrey avisa que vai dormir e qualquer coisa, é só chamar. Concordei, já que era a única acordada na enfermaria inteira - enfermaria que tinha apenas quatro alunos. Olhei no relógio e eram mais de onze horas da noite. Apenas as luzes das velas iluminavam aquele grande quarto. O silêncio era o que mais me incomodava.

Deixei a revista em cima da mesinha e bocejei me espreguiçando esquecendo do soro enfiado na minha veia. Nesse movimento, acabou escapando e pingando um pouco de sangue nos lençóis. Soltei um gemido e segurei na ferida. Ótimo, só porque a enfermeira foi dormir.

Saí da cama segurando o braço e fui até o armarinho de curativos e remédios. O abri sem fazer o mínimo barulho e procurei um esparadrapo, peguei na mão um vidrinho que nem sabia o que era para poder alcançar uma gaze quando escuto a voz de alguém e tudo vai ao chão fazendo um barulho alto.

- O que você tem na cabeça?! – Perguntei num sussurro berrante a Gina que tinha acabado de se sentar na cama cruzando os braços.

- Vai fazer o que? Se drogar? – Ergueu uma sobrancelha.

Estava pálida, mas não aquele pálido de doente, aquele pálido de morta mesmo. Os lábios vermelhos e os olhos fundos. À luz de velas, praticamente uma imagem do inferno, principalmente com aquele cabelo vermelho.

- Porque só falta isso, né... – Riu tossindo e se levantando da cama com dificuldade.

- Volta pra cama, cenoura, não quero ser culpada por uma súbita morte no meio da enfermaria. – Abaixei-me catando os vidrinhos e pegando um pano para limpar o chão.

- E você acha que eu irei morrer assim? – Riu mais uma vez. Escorava-se nas camas até mim.

- É melhor você voltar, não está falando coisa com coisa.

- Não sou eu que fico doente de propósito para chamar a atenção do pobre namoradinho... – Suas piscadas eram lentas e com grandes intervalos, seu riso já nem era muito intenso. – Mal sabe que ele tá te traindo com uma menina do sexto ano... – Minha vontade era de ir para cima dela e partir em duas aquela cara pálida. Ainda abaixada, apenas vi seus pés ficarem a minha frente. Quando me ergo, lá estava ela, parada com os braços cruzados.

A olhava de baixo, era mais baixa do que eu. Deixei os cacos de vidro em cima da cama e também cruzei os braços.

- Não quero perder meu tempo com você. – Passei por ela esbarrando em seu ombro e indo até a mesa da enfermeira atrás de um curativo ou gaze que parasse o sangramento.

- Não está querendo ouvir ou não está querendo acreditar?

- Nenhum dos dois. – Peguei um curativo e logo o coloquei pegando uma gaze umedecida e limpando o sangue que tinha corrido. Voltei até a minha cama e me deitei me cobrindo.

- Qual é?! Vamos ter que nos aturar aqui por um bom tempo... – Riu indo ate minha cama. Apoiou-se nos pés da cama e abriu um sorriso malicioso. – Amanhã Harry vem aqui... – Engoli seco me cobrindo por inteira e me deitando dando as costas para ela.

- E com isso?

- Pensa que eu não sei que você fica perturbada na presença dele? – Riu. Gina era mais esperta do que eu pensei. – O que aconteceu no Natal, hein? – Andou até meu lado e abaixou-se para olhar no meu rosto. – Harry, Ron, você, tão estranhos como nunca vi... – Voltei a me sentar na cama começando a ficar aborrecida. – O que aconteceu? Posso saber ou só o trio-maravilha pode ficar a par das últimas novidades?

- Só um trio-maravilha pode ficar a par das últimas novidades, satisfeita? – Disse no mesmo sorriso malicioso.

- Não, não estou. – Voltou até a sua cama. – Ok, Granger, um dia eu vou descobrir, e quando eu descobrir, saia de perto. – Isso soou como uma ameaça. O pior que ela nem sabia um pingo do que acontecera lá e nem precisa saber, não é mesmo?!

Deitei-me rapidamente cobrindo quase minha cabeça inteira, comprimindo os olhos e tentando aliviar meus pensamentos.

***


- Por que não me chamou?! – Perguntou Madame Pomfrey aborrecida já enfiando outro soro na minha veia.

Eu estava um pouco tonta, um pouco cansada e dopada pelos remédios que andava tomando. Era um coquetel de dez comprimidos e duas poções. Estava praticamente movida a eles, por isso que senti muita fome quando me deram aqueles chocolates.

- A senhorita não pode ficar sem o soro!

- Desculpe, Madame Pomfrey, não queria incomodá-la. – Menti.

- Não é incomodo, é a minha obrigação. – Segurou no braço com força e enfiou a agulha, gemi e logo mandou que eu deitasse. – E você, senhorita Weasley? Como anda se sentindo?

- Só querendo sair daqui. – Olhou mortalmente para mim.

- Isso não será possível e não foi isso que eu perguntei. – Tirou o curativo que tinha na testa e viu que já estava melhorando. – Dores?

- Todas. – Respondeu olhando fixamente para mim.

- É, estou vendo que as duas teimosas passarão mais tempo do que imaginam aqui dentro. – Caí nos ombros e me afundei nos travesseiros.

- Bom dia, Madame Pomfrey. – Uma voz grossa surgiu na enfermaria. Meus olhos se arregalaram olhando para o teto.

- Bom dia, Potter! Sua namorada é muito teimosa! – Ergui minha cabeça lentamente e lá estava Harry e Madame Pomfrey à frente da cama de Gina que tinha um pequeno sorriso nos lábios.

- É, eu sei, senhora. – Sorriu e logo foi ao encontro dela lhe dando um beijo rápido e sentando ao seu lado. – Como passou a noite?

- Horrível, foi uma das piores noites. – Senti uma ponta de indireta mais do que direta para mim.

- Não está melhorando? – Preocupado de mais.

- Não sei, Harry, ela disse que ficaremos mais do que imaginamos aqui dentro.

- Ficaremos...? – Perguntou confuso. Disfarcei na mesma hora quando percebi que Gina olhava para mim e Harry tinha acabado de virar a cabeça para mim. Meus olhos cresceram e engoliu seco; Levantou-se da cama e começou a gaguejar. – Hermione, eu-eu nem te vi aí.

- Nem precisava. – Deitei dando as costas para aqueles dois.

- Não liga pra essa grossa, Harry, afinal, você veio aqui para me ver ou ver ela? – Perguntou enciumada sem motivos porque se depender de mim, pode ficar com 'seu' Harry.

A conversa daquele dois me deu enjôos profundos mas fiquei na minha. Não tenho idéia quanto tempo eles ficaram conversando, só sei que Madame Pomfrey chegou e mandou que Harry saísse já que Gina tinha que descansar. Ergui minha cabeça e a ruiva já estava dormindo e Harry terminara de beijar sua testa. Tá, foi bonitinho, mas o que eu tenho a ver com isso? Voltei a deitar quando algo senta atrás de mim, na minha cama! É, as pessoas começam a criar uma intimidade que até numa cama de hospital não respeito a linha de espaço físico...

- Por que você está aqui? – Ainda me mantive imóvel. – Hermione? – Posou a mão no meu ombro e logo me esquivei me sentando na cama.

- Por que está interessado? – Cruzei os braços.

- É a anemia? – Não ia desistir tão cedo assim, tinha que concordar. Olhei para outro lado e depois Gina que ainda dormia e suspirei.

- Caí da escada. – Uma resposta tão original. – E também por causa da anemia. – Passou uma mão na nuca e meneou com a cabeça.

- Você não anda se cuidando.

- Não me venha com sermão, estou presa nessa merda de sala tomando mais de dez remédios! – Quase gritei. – Isso é a última coisa que eu preci- - Tocou meus lábios e pediu silêncio.

Aquele toque macio me fez sentir alguma coisa aqui dentro, como se tinha soltado um diabrete no meu estômago e ele estava fazendo o que queria. Mesmo depois de eu ter emudecido, continuou com os dedos ali. Meus olhos fixos nos seus e vice versa. Deixar continuar aquele momento ou interromper?

- É melhor você ir. – Tirei sua mão e deitei novamente.

Apertei os olhos e suspirei. Senti uma mão no meu ombro e logo um corpo se inclinar sobre o meu, beijou minha têmpora e se levantou. Com o toque, voltei a apertar os olhos e deixar uma pequena lágrima escorrer. Cobriu meu ombro e em passos rápidos, saiu de lá.

Saltei da cama num salto chamando pelo seu nome um pouco alto. Foi um impulso besta, ignorante e involuntário. Levei uma mão a boca e fiquei olhando fixamente para a porta com a respiração alterada, olhei Gina e os outros que continuavam a dormir.

Deitei novamente e pus as duas mãos no rosto, escondendo as lágrimas.

***


- Acorde, senhorita Hermione, acorde. – Pediu delicadamente a enfermeira interrompendo meu sono. Sentei-me bocejando e esfregando um dos olhos. O coquetel desceu como água, já estava até acostumada. – Seu amigo veio aqui hoje de manhã, mas você ainda estava dormindo.

- Quem?

- Ronald Weasley. – Gina que lia alguma coisa, ergueu seu olhar para mim e ergueu uma sobrancelha.

- Rony acordando cedo num domingo?! – Perguntei para mim mesma rindo.

- Disse que antes do almoço passaria aqui. – Concordei me espreguiçando lentamente e olhando para a janela ao longe.

A neve caia contínua e grossa. Estiquei-me e peguei a minha blusa mais grossa. Não a alcançava quando uma mão a pegou e a entregou para mim. Ao erguer meu olhar, senti como se um caminhão tivesse saído das minhas costas. Derrubei os braços e o puxei para um abraço apertado.

- Desculpe não ter vindo antes, estava de cabeça quente... – Peguei em seu rosto e lhe dei rápidos beijos nos lábios.

- Tudo bem, tudo bem, só fica aqui comigo. – Me deu mais um abraço.

- Me desculpe, Mione... – Sussurrou em meu ouvido.

- Tudo bem, Mc, tudo bem! – Lhe dei mais um beijo. Olhei levemente para Gina, meneava com a cabeça folheando as páginas daquela revista.

Agora, eu fiquei mesmo pensativa naquilo. E se for verdade que ele esteja me traindo com uma menina do sexto ano? Pare de pensar nisso, Hermione, irá ficar louca, aposta quanto?! Mas tem a sua lógica, é sempre tão perfeito e tão carinhoso, é meio estranho.

- Me conta tudo, eu quero saber dos detalhes, o que aconteceu? – Sentou-se ao meu lado segurando nas minhas mãos e logo fui desenrolando a história.

***


Com os olhos fixos na janela, fiquei pensativa em tudo que estava acontecendo. Principalmente no Mc, aquele loiro que me deixa sem paciência quando quer. Era de noite e tinha esfriado ainda mais. Madame Pomfrey já tinha dado os remédios para Gina, que era a última e já trocado meu soro. Disse que se eu melhorar, amanha a noite poderei ir para o quarto, mas ir para a aula, só no meio da semana.

- Hã, é rapidão! Não deu tempo de eu vir de dia, é rapidão, tia! – Mirei meu olhar na porta e lá estava Tony tentando entrar e a enfermeira não deixava. – Vai, por favor!

- Deixa ele entrar, Madame Pomfrey! – Disse rapidamente antes que ela fechasse a porta na sua cara. A enfermeira se deu por vencida e abriu a porta ordenando só alguns minutos.

- Princesa! – Me abraçou fortemente. – Sério que 'ce rolou da escada? – Perguntou abismado.

- É, terrível... – Ri.

- Nossa, quando o Potter me contou eu nem- - O cutuquei já que Gina estava realmente acordada e prestando atenção em tudo. – E aí? Tá melhor? – Mudou de assunto rapidamente.

- O que você acha?! Só quero sair daqui.

- Deve ser uma merda ficar nesse lugar... – Olhou a enfermaria inteira. – E ela? – Inclinou-se lentamente para mim apontando para Gina.

- Soltando seu veneno como sempre. – Rolei os olhos. Olhei dos lados, me inclinei lentamente alguns centímetros e serrei as sobrancelhas. – Será que é um tipo de conspiração? – Fez o mesmo, mas com uma expressão confusa e engraçada.

- Dos molhos de ketchup? – Rolei os olhos.

- Não, cabeção! – Me inclinei mais um pouco num olhar apreensiva. – Eu dar entrada na enfermaria justamente quando ela entra, ficarmos praticamente uma na frente da outra e ainda por cima, ela e seu namoradinho são as ultimas pessoas que eu sonho em ver nessa escola. Então, ou alguém lá em cima me odeia ou é uma conspiração tão bem feita que estou abismada.

Tony ficou me olhando descrente com tanta besteira.

- Tá bom, filha, quantos remédios 'cê tá tomando? – Saiu de perto de mim mas peguei na gola da sua camisa e o trouxe para perto de novo.

- Eu estou avisando, Tony, mais uma semana nessa merda de enfermaria e eu piro, piro mesmo, e não adianta vir com o papinho de eu estar apenas achando pêlo em ovo! É a pura verdade, não agüento mais acordar dos meus cochilos e encontrar aquele ser laranja na minha frente. – Estava assustado com meu tom de voz ameaçador, não era para menos, o moleque não tinha culpa de nada e estava descontando tudo nele.

- Ok, Ok... Que seja, mas me solte antes que eu pare de falar com você! – O soltei suspirando.

- E o que anda acontecendo pela escola? – Perguntei interessada.

- Nada de mais, essa escola é monótona sem você. – Sorri largamente apertando seu nariz.

- Fofinho...

- Fofinho, pra mim, é cachorrinho de perua! – Ri novamente.

- Ok, não será mais fofinho-

- Nem bonitinho porque é feio arrumadinho! – Ele só me fazia rir e era isso que eu precisava.

- Vamos indo, vamos indo!

- Ah, Madame Pomfrey! – Agiu feito uma criança. – Mas eu nem tive tempo de-

- Nada disso! Vamos, vamos! Amanhã você pode vir aqui nos intervalo das aulas! Agora, vá! – O arrastou de fora. Mandou um beijo e eu mandei outro piscando. Fechou a porta e suspirou. – Mande seus amigos respeitarem os horários!

- Desculpe, senhora. – Disse ainda rindo.

- Tudo bem, eu vou me retirar, qualquer coisa, me chamem. – Saiu da enfermaria e fechou a porta. Não deu dois segundos pra Gina já grunhir.

- Namoradinho, Granger?

- Não, Weasley. É um amigo, ao contrário de você com muitos caras aí. – E é na base da provocação que levamos esse impasse.

- Ah, lógico, acho que invertemos os papéis, não acha? – Ergui meu olhar novamente para ela. – A certinha Hermione Granger, que se enfiava nos livros, agora tenta agir como se fosse a mais popular de toda Hogwarts, esquecendo suas origens.

- Nunca esqueci minhas origens, cenoura.

- Tem certeza? – Deitei-me dando as costas para ela. – Você pode tentar disfarçar e ignorar, Granger, mas está na cara que você só faz isso para agradar os outros. – Minha vontade era de levantar daquela cama como um animal e pular no pescoço de Gina, estrangulá-la e dar os restos mortais para o primeiro canibal que visse.

***


- Ok, senhorita Granger, só tome esses remédios durante uma semana e nada de aulas de Feitiços Avançados até se recuperar totalmente.

Aquilo era o que eu queria ouvir. Soou como música para os meus ouvidos. Já tinha se passado mais de três dias que estava enfiava naquela enfermaria tendo que acordar e dormir olhando para a idiota completa da Gina e ficar sem fazer absolutamente nada.

Saí da enfermaria abrindo as duas portas num largo sorriso no rosto. 'Quem te viu, quem te vê', era isso que a minha consciência resmungava. Fechei meu casaco ainda sorrindo, olhava e fechava botão por botão, totalmente distraída. Meus passos aceleravam-se meu sorriso aumentava-se até que senti minha cabeça parar ao esbarrar em algo. Ergui meu olhar e lá estava Snape.

Sim, Snape, o cara com o nariz enorme.

- Tomara que tenha melhorado da festinha, Granger. – Como ele sabia?! Engoli seco, apertei o passo mas ouvi novamente meu nome. – Eu lhe fiz uma pergunta, Granger. – Olhei para os lados. Alunos ali, olhando a cena atônitos esperando que eu seja humilhada logo de cara. – Então, como foi a sua festinha? – E agora?

Rolei os olhos brutalmente e deixei o peso do meu corpo falar mais alto caindo no chão. Adorei essa escapada rápida as confusões. Senti meu corpo levitar e, em segundo estava em cima de algo macio e desconfortável: lógico que era a maca da enfermaria. Abri levemente os olhos e só vi semblante da enfermeira. Erguei-me totalmente, olhei dos lados e nada de Snape.

- Creio que terá que ficar mais tempo aqui, Senhorita Granger.

- ... COMO? Não, não! Eu estou ótima, aquilo foi uma des- - No mesmo instante, Dumbledore e Snape entraram na sala. Parecia que tinha uma maçã entalada na minha garganta.

Pensa rápido, Hermione, pensa rápido. E o que mais eu poderia fazer? Voltei a fingir que estava desmaiada.

***


- Como assim você teve alta e teve que voltar para cá?! – Mc não entendia nada, ria com o que eu contava.

- Segundo a Madame Pomfrey, – Disse com desprezo. – não estou totalmente curada. Talvez amanhã eu saio daqui. – Pegou nas minha duas mãos e olhou no fundo dos meus olhos.

- Não vejo a hora de ter a menina que eu amo fora desse lugar e ficar ao meu lado. – Sorri um pouco sem jeito.

***


Tudo bem, tudo bem, eu estava agora mesmo feliz. Não ia voltar para lá nem que Snape faça um interrogatório digno daqueles feitos na época nazista. Não quero saber. E ainda mais, pelas conversas que ouvi, Gina ficará por lá mais dois dias e depois ficará solta pelos corredores. Aquele ser devia ficar engaiolado, essa é a verdade.

Subi as escadas do dormitório da Grifinória e entrei no quarto das meninas rapidamente. Estavam todas lá, até aquela Meg – que eu não vou muito com a cara.

- Até que enfim! Pensei que ia virar um vegetal. – Brincou Sarah sorrindo.

- Não agüentava mais! Pelo amor de Merlin, lá é muito chato! – Deitei-me na cama de Deena olhando fixamente para o teto. A loira olhava-se no espelho, tirando e colocando roupas na frente de seu corpo. – Aonde você vai?

- Esqueceu do jogo de Quadribol? – Engoli seco. Ergui-me e olhei confusa para Deena.

- Jogo?

- É, Corvinal e Grifinória. Será amanhã. – Sentei na cama com os pés para fora e encarei o chão.

- Mc não falou nada para mim.

- Deve ter pensado que você já sabia. – Completou Anne.

- E por que você está tão preocupada com a roupa? – Perguntou Parvati a Deena.

- Bom, vai ter aquela festinha depois do jogo e o Ron me chamou. – Sorriu feito uma boba.

- Já estão juntos? – Perguntou Meg.

Alguém aqui, além de mim, notou essa intromissão dessa menina ai?!

- Não, não. – Respondeu corando levemente.

- Mas logo, logo... – Ironizou Sarah. - Nossa Deena estará amarrada. – Sorriu largamente.

- Gente, dá pra parar...? – Deixou suas roupas em cima do seu malão e parou de escolhê-las, se sentindo incomodada.

- Estamos falando alguma mentira?

A loira não respondeu ficando ainda mais vermelha. Dava para ver que Deena era iniciante nessas coisas de amor. Acho que ela olhava para essas meninas que tem vários namorados e ficava até com inveja. Mas ela é linda, carismática, simpática, que menina não namoraria ela?! Um asno, com certeza.

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