Sem Coração




Capítulo XXX


Sem Coração


 


Minha cabeça é motivo de várias dores quando eu acordo, mas desta vez, me senti dentro de um rolo compressor, esmagando todos meus ossos. A claridade não era o meu maior obstáculo, pois mesmo tendo certeza que estava com os olhos bem abertos, tudo estava escuro. Naquele segundo, pensamentos como da possibilidade de eu estar cega veio a minha mente.


 


Mexi a ponta dos dedos dos pés e movi a cabeça para o lado. Acostumando-se com a escuridão, meus olhos começaram a enxergar figuras, contornos e sombras. Com o olfato aguçado, logo senti aquele cheiro de mato, de chuva, qualquer coisa que você não encontra em Londres.


 


Droga, aonde eu fui parar?!


 


Sentei-me naquela cama enchendo os pulmões de ar. Aos poucos, com uma das mãos na cabeça, fui reconhecendo o lugar. Eu estava de volta a Ordem.


 


Lembrava de tudo, até a grande luz surgir no meu jardim e de repente, tudo ficar escuro.


 


A procura dos outros, olhei todo o quarto e não vi sinal de nenhuma alma viva. Levantei-me pondo uma mão na nuca e fui até a porta. Ao abrí-la, escuto meu nome numa conversa lá em baixo.


 


- Iremos adiantar esse processo ao máximo, senhora Weasley!


 


Oh, não, Senhora Weasley, não!


 


- Enquanto ao meu filho e o Harry? Eles também estão envolvidos nessa história, como eles sairão dessa? - Encostei-me ao corrimão da escada, apenas ouvindo a conversa.


 


- Eles já estão em Hogwarts, presumo que eles não sofreram muitas punições, apenas por ter saído da escola sem a permissão de ninguém.


 


- E isso já é de mais!



- Ouvido a conversa dos outros! - Uma voz surgiu atrás de mim e meu coração deu um salto.


 


- Que coisa feia. - Concluiu Jorge.


 


Eram Fred e Jorge. Não sei como eles chegaram até mim, nem sei o que estavam fazendo lá.


 


- Soubemos que está bem encrencada.


 


- Encrencada até o pescoço!


 


- Pois é, garotos... - Voltei a me apoiar no corrimão olhando lá para baixo.


 


- E o que vai fazer? - Perguntou Fred se apoiando de um lado.


 


- Tem que pensar em algo! - Soltou Jorge se apoiando do outro lado.


 


- Vou deixar rolar.


 


- Deixar rolar? - Perguntaram juntos.


 


- É, deixar essa bola de neve que eu criei, me soterrar por completa.


 


Desci as escadas fazendo um barulho considerável para que soubessem que eu acordei. Olhei no grande relógio que ficava no meio daquelas escadarias e li nove e meia. Ao terminar o a escada, Shacklebolt e Moody saíram da sala de reuniões evitando me olhar, lá dentro, estava senhora Weasley que saiu em retirada quando me viu.


 


Porém, parou na minha frente; pensei que ia me bater, que ia me espancar! Mas passou a mão no meu rosto e me deu um abraço apertado.


 


- Você está magra de mais! - Soltou indo para a cozinha.


 


Torci os dedos e a companhei. Fez com que eu sentasse na mesa vazia e pegou um copo dentro dos armários, colocou leite quente e parou-se em frente o fogão passando a mão algumas vezes na testa enrugada.


 


- Senhora Weasley- -


 


- Apenas tome seu leite, Hermione. - Soltou um pouco aborrecida. Não questionei e a obedeci. - Você ficou um bom tempo desacordada.


 


- Como eu vim para cá?


 


- O Ministério soube que você, Harry e o Rony fugiram da escola. - Engoli o leite mais doloroso da minha vida. Apoiou-se na mesa a minha frente. - Arthur agiu antes de todos, pediu que Fred e Jorge tirasse você de lá antes que o Ministério a enfiasse numa cela.


 


- E os garotos?


 


- Arthur os mandou no primeiro trem rumo a Hogwarts. - Disse entre os dentes. - Graças a Merlin, eles não se envolveram mais nessa história...!


 


- Senhora Weasley, eu não queria--


 


- Não precisa pedir desculpas, e nem me dar explicações, Hermione. - Sorriu amigavelmente. - E eu sinto muitíssimo pelos seus pais. - Sorri e me levantei.


 


- E a Rowan e o Belby? - Senhora Wealsey molhou os finos lábios e suspirou.


 


- Provavelmente, em alguma cela esperando o julgamento.


 


- Eles vão ser julgados como bruxos maiores de idade?


 


- Eles mataram uma pessoa, eles têm que ser julgados como maiores de idade. - Concordei com a cabeça e peguei o caminho para o quarto onde eu acordei.


 


Eu só queria um banho, roupas novas e esfriar um pouco a cabeça, mas isso estava longe de acontecer.


 


- Seu julgamento foi marcado para amanhã, as nove horas. - Disse Shacklebolt me pegando antes de subir as escadas. - A Senhorita tem direito a um representante para defendê-la.


 


- Dumbledore. - Respondi prontamente.


 


- Certo. Até amanhã, senhorita Granger. - Fez uma reverencia e aparatou na minha frente e na frente de Moody que aparecera na sala naquele momento.


 


- Tentamos adiar o irremediável. - Eu não queria ouvir nada daquele velho. - Tonks e Lupin estarão lá amanhã. - Parei no terceiro degrau e voltei a encará-lo. - Reze por eles.


 


Continuei a subir as escadas suspirando fundo.


 


***


 


É, Hermione, desta vez, você se ferrou mesmo.


 


Eram mais de meia noite quando ouço uma voz muito familiar vindo lá de baixo. Já tinha tomado meu banho e colocado meu pijama sem esperanças em dormir. Saltei da cama, abri a porta e já comecei a descer as escadas como um tiro.


 


- Tia! - Soltei pulando em seus braços.


 


- Oh, minha querida! - Dizia passando a mão nos meus cabelos, numa voz chorosa e cansada. - Eu não estou entendendo nada! - Me separei dela e encarei senhora Weasley.


 


- Mione, meu bem, Moody trouxe sua tia para Ordem para ele assinar os papeis necessários, como você é menor, ela terá que resolver algumas coisas.


 


- Mas ela não entende nada do nosso mundo.


 


- Tudo bem, querida, eu tentarei entender. - Disse sorrindo. - Por onde eu devo ir, Molly? - Senhora Weasley lhe mostrou o caminho, se fechando com ela dentro da sala de Sirius.


 


Eu fiquei o tempo todo lá fora, sentada nos degraus, esperando minha tia sair de lá e me contar o que achou de tudo isso. Sua sobrinha será julgada num mundo completamente estranho do seu. É, as coisas estão começando a ficar bem confusas. Em um momento, Moody me acompanhou, sentando-se demoradamente ao meu lado, dizendo que estava assustado com amanhã.


 


Estranho. Aquele poço de frieza se abrindo desse modo. Contou também que minha tia quase o atingiu com uma frigideira e culpou a família Granger por ser desacostumada com visitas surpresas.


 


Quando a porta se abriu, estava sozinha novamente naqueles degraus. Minha tia enxugava as lágrimas e era consolada pela senhora Weasley.


 


- Tudo bem? - Enxugou as últimas lágrimas com um lencinho e se aproximou de mim.


 


- Precisamos conversar, mocinha. - Disse num tom um pouco aborrecido.


 


Subi com ela me seguindo, até o quarto onde eu passaria a noite. Ela se assustou com a Senhora Black aos berros, eu disse que era normal e não precisava se assustar. Sentei-me na cama enquanto ela ficava em pé, chocada de mais com todas essas notícias.


 


- Hermione, você tem idéia que você só tem dezessete anos?! - Colocou as mãos na cintura.


 


- Por que para certas coisas eu sou muito nova e para outras eu sou muito velha? - Rolei os olhos. - Eu fiz isso para investigar a morte dos meus pais, tia, não fiz porque sou uma idiota! Eu queria distância desses assuntos.


 


- Pelo que Molly disse, a pior coisa é o beijo de um Dementador-


 


- Ele suga sua alma e você não passa de uma carcaça viva. - Disse isso antes que ela terminasse a frase.


 


- Isso é de mais para minha cabeça! - Sentou-se ao meu lado. - Seus pais tinham todo esse trabalho antes?


 


- Não. - Ri. - Bom, as vezes. - Sorri encarando o chão.


 


- Olha, eu estou realmente muito furiosa com você, mas- - Pegou no meu rosto e o virou para ela. - você fez o certo, você ajudou a prender criminosos, você está viva e isso que conta. - Beijou minha testa. - Boa sorte amanhã, querida.


 


Levantou-se.


 


- Bom, eu vou- - foi até a porta. - como se fala?


 


- Aparatar?


 


- É, eu vou aparatar até em casa com o 'simpático' senhor Moody. - Sorriu e saiu do quarto.


 


***


 


Quando o sol bateu pelo vidro da janela, eu apenas levantei da cama. Não tinha pregado o olho um minuto se quer. Tantas coisas passaram pela minha cabeça que pensei que ela poderia explodir a qualquer momento. Separei a melhor roupa que tive oportunidade de pegar naquela correria e rumei para o banheiro.


 


A água do chuveiro velho e barulhento estava completamente gelada. Isso foi bom para acordar todos os neurônios adormecidos pela sobrecarga de pensamentos. O gelo arrepiava minha espinha mas deixava uma sessação muito boa depois. Sai do banho enrolada numa toalha e corri para o quarto. Me sequei, me troquei e sentei de novo na cama penteando meu cabelo molhado.


 


Olhei no meu relógio de pulso e vi que faltava mais de três horas. Coisas como 'todo mundo bruxo parou por sua causa, Hermione' e 'amanhã, seu rosto em todos os jornais' foram decorrentes e presentes na minha mente. Eu não sentia medo, eu sentia ansiedade. Do que eu seria acusada? Não tinha muitas provas contra mim, mas aquele Ministro fará de tudo para tentar acabar comigo.


 


Dumbledore também não deve estar muito satisfeito comigo por ter fugido da escola daquele jeito, mentindo para ele, mas era isso ou coisa muito pior. Se eu não tivesse fugido, não descobriria com meus próprios olhos que Meg foi a real culpada pela morte de David. Também não descobriria coisas como o envolvimento de Belby com tudo isso, mas também não colocaria Harry e Ron nesse rolo sem fim.


 


Nesses pensamentos, já se passaram meia hora e alguém bate a minha porta.


 


- Está pronta, querida? Arthur já está aqui para levá-la. - Engoli seco me levantando. Peguei minha varinha e sequei meu cabelo rapidamente, sem me preocupar com a perfeição dos cachos.


 


Desci as escadas e lá estava Arthur Weasley a minha espera.


 


- Olá, Hermione. - Disse sorrindo e estendendo a mão. A apartei e sorri de volta. - Nervosa?


 


- Nem um pouco. - Disse serena.


 


- Dumbledore nos encontrará lá, tudo bem? - Concordei. - Vamos lá. - Colocou a mão no meu ombro e aparatou até o Saguão do Ministério.


 


Uma agitação sem tamanho, devo lembrar. Desviando da maioria das pessoas, fomos rapidamente até o elevador. Aquele caminho não era muito familiar, tudo era quase uma novidade para mim. Eu e Senhor Weasley não trocamos uma só palavra, ele parecia mais nervoso do que eu.


 


Ao chegar no Departamento de Ministérios, Arthur cumprimentou seus companheiros de trabalho – acho que nem tinha chegado para trabalhar naquele dia – e logo subimos até o tribunal. Eu sei, faltam ainda duas horas mas, pelo que disse Arthur, Tonks e Lupin seriam julgados antes de mim, eu teria a oportunidade de assisti-los.


 


Entrei naquele suntuoso tribunal e me sentei junto a ele e mais Snape e Minerva. Era quase uma tortura, eu não gostava deles, e provavelmente eles não gostavam de mim. Pude ver pelo semblante de desaprovação de McGonagall que ela queria ter uma séria e dolorosa conversa comigo depois de tudo aquilo acabar.


 


Se é que um dia vai acabar.


 


O Tribunal estava falante, um barulho chato e estarrecedor. Scrimgeour acabara de entrar naquela sala com sua devida beca de juiz. Todos se levantaram, eu nem estava naquele mundo quando Snape pegou no meu braço e me levantou a força. Pediu que todos se sentassem novamente e se sentou no lugar privilegiado.


 


- Bom dia a todos. - Disse num falso sorriso.


 


- Processo de número 258654, Ministério da Magia de Londres contra a Auror e Metamorfoga, Ninfadora Tonks e o Auror e ex-professor, Remo Jonh Lupin. - Disse Shacklebolt.


 


Não posso dizer que as duas horas que se passaram foram confortáveis. Também não posso dizer que eu gozava nervosismo, eu estava, simplesmente, fora do meu corpo. Como se toda a ansiedade pelo meu veredito tivesse um efeito de qualquer droga trouxa e me deixasse totalmente livre da minha carcaça. Minha alma e meus pensamentos estavam longe, pensando em qualquer outra coisa que não fosse aquele lugar.


 


Algumas testemunhas do caso como Dumbledore, Moody e mais alguns aurores do Ministério foram ouvidos. Eu não tinha visto nem Tonks, nem Lupi e eu não sabia se queria mesmo vê-los.


 


Com certeza, eu ia me sentir culpada pelo fio de cabelo da cabeça de Tonks que estava fora do lugar sem seu consentimento. Também fiquei surpresa com o fato de não me chamarem para depor. Eu sou a peça chave dessa 'investigação', Tonks e Lupin estão nessa por minha causa.


 


Dumbledore, o último a sentar naquela cadeira no meio do suntuoso salão, disse que pediria que o Tribunal entrasse em recesso até o meu julgamento. Disse também, que não há como acusá-los sem ter um depoimento meu. Scrimgeour não queria dar o braço a torcer, queria me envolver ainda menos nessa história.


 


Com certeza, ele estava com as calças na mão. Bateu o martelo pedindo recesso até o final do dia. Uma multidão explodiu em conversas, deixando tudo um pouco atordoado e um pouco tonto de mais. Dumbledore saiu de lá lançando um olhar mortal sobre mim. Não exatamente aquele olhar de predador sobre presa, mas assim aquele que te deixa com sensação de agradecimento.


 


Várias pessoas – jornalistas, aurores, o público em geral - começam a sair e eu os acompanhei, passando pela cabeça de muitos, indo atrás de Dumbledore.


 


Aquele velho era realmente rápido. Nós já estávamos no departamento de Mistérios quando, finalmente, toquei em seu ombro e o fiz parar. Seus olhos estreitos por debaixo dos óculos, sua boca formando uma linha única e uma de suas sobrancelhas erguidas me fez deixar ele falar primeiro.


 


- Bom, consegui adiar o pior até o final do dia, Senhorita Hermione.


 


- Eu fico muito agradecida, professor. - Soltei juntando as duas mãos no peito. - O senhor vai ser meu-


 


- Não deveria. - Me interrompeu. - Por que a senhorita não confiou em mim?


 


Minha respiração foi a mil e meu coração acompanhou o ar entrando e saindo.


 


- Eu já estava realmente encrencada...


 


- Nós poderíamos ter acabado com isso em um instante, uma poção da verdade pela goela daquela menina e ela confessaria seus piores segredos.


 


- Não seria válido como depoimento, professor. Ela teria que estar totalmente sã, sem ser influenciada por nenhum tipo de poção. Scrimgeour está fazendo vista grossa a tudo que estamos fazendo até agora, mas, depois dessa bomba explodir, eu tenho certeza que-


 


- Ele nunca ficou do nosso lado, Hermione. - fechei a minha boca naquele instante. - Farei de tudo para que a senhorita seja uma pessoa 'livre'. - Me olhou longamente e continuou andando.


 


Ele foi e eu fiquei. Parada naquele mesmo lugar, com um olhar morto e uma expressão vazia. Meu futuro está nas mãos de Dumbledore, eu o entreguei num grande e bonito embrulho dourado. Eu estava completamente preparada para o pior ou melhor.


 


O que seria pior? Ser condenada a uma prisão longe de qualquer vida humana, cercada por dementadores e bruxos das trevas, ou voltar a aquela escola, encarar todos aqueles para quem menti esse ano escolar inteiro? Eu não sabia o que escolher pois não estava sã para pensar, pelo menos era o que eu estava pensando.


 


- Hermione – Senhor Weasley me puxou para a realidade. - está nervosa? - Sorriu amigavelmente.


 


- Nem um pouco, senhor. - Sorri falsamente. Me conduziu até sua mesa e me fez sentar a sua frente.


 


Estava amarrotada de papeis, pergaminhos, folhas, penas, lápis, coisas que eu nem reconheci. Tateou um envelope sob os outros e me entregou. Era uma carta de Harry.


 


- Chegou logo após que você entrou.


 


- Eles ficaram bem, não é? - Abri o envelope com força e logo comecei a ler.


 


 


Querida Hermione,


Já estamos em Hogwarts, estamos bem e – com certeza – furiosos por não poder estar aí com você. Pensamos nos piores planos de fuga mas estamos encrencados até o pescoço. Pegamos detenções até o final do ano, e provavelmente, você também. Eu sei que detenções são o seu menor problema, mas quero que saiba que estamos do seu lado e que você vai voltar para essa escola para arrasar com mais algumas cabeças. Não contamos a ninguém sobre seus pais, esperamos que você conte. Ron encontrou Bichento, estava numa gaiola no vestiário masculino, está sã e salvo. Estarei esperando por você.


Com amor, Harry.


 


 


Fechei a carta e suspirei. Senhor Weasley tinha os olhos cravados em mim, esperando que eu dissesse alguma coisa, mas não o fiz. Enfiei a carta no bolso da blusa e sai andando até o elevador. Antes de apertar o botão, ouvi meu nome ao longe.


 


- Onde pensa que vai, Granger? - Era Snape.


 


- Sei lá. - Soltei apertando o botão.


 


- Você já está com a corda no pescoço, quer mesmo que puxem para você? - Encarei meu turvo reflexo na parta dourada aquele elevador e depois aqueles olhos negros.


 


- Senhorita Granger, seu julgamento será em cinco minutos. - Shacklebolt surgiu colocando uma de suas pesadas e negras mãos no meu ombro.


 


- Ok, estou indo. - Disse encarando os olhos de Snape e depois meus próprios pés.


 


Julgamento era uma palavra tão forte. Percorria meu corpo causando leve arrepios, até parece que fui eu quem matou David Scott. Pegando o mesmo caminho que fiz a poucos minutos, entrei naquele tribunal, em vez de me sentar com todos, me sentei naquela cadeira posicionada na frente da mesa do Ministro, onde todos poderiam me ver e eu não poderia – e não queria – ver ninguém.


 


E o que eu deveria fazer naquela hora? Começar a chorar e pedir perdão está fora dos meus planos. Queria que tudo aquilo acabasse logo, que aquela humilhação acabasse e eu poderia voltar a minha vida normal.


 


Quando Ministro entro, todos tiveram que ficar de pé e só nos sentamos, quando ele sentou.


 


Seus finos olhos me encaravam com uma certa malicia. Ele tinha alguma coisa muito forte contra mim. Shacklebolt continuou de pé com um pedaço de pergaminho nas mãos.


 


- Processo de número 1854682, Ministério da Magia contra Hermione Jane Granger. - Eu comecei a roer as unhas, como um impulso bobo.


 


- Bom – Começou Scrimgeour colocando seus óculos sobre o nariz. - Senhorita Hermione Jane Granger está sendo acusada de possuir, usufruir e esconder um artefato das trevas. - Ergueu seu olhar para mim. - Estou certo, senhorita?


 


- Pela parte do usufruir e esconder sim, senhor. - Vi Moody levar uma das mãos ao rosto.


 


- Esse artefato não é seu?


 


- Não. - Respondi prontamente.


 


- Então, como teve acesso a ele? - Olhei em volta por um minuto.


 


Mas de cem olhos vidrados em mim. Canetas e penas de repetição rápida eram os únicos barulhos depois da velha maquina de escrever da escrivã. Engoli uma laranja e suspirei.


 


- Tonks me entregou. - Alguns buchichos.


 


- Prossiga.


 


- Ela me entregou através da caixa de jóias da minha mãe. - Olhei os próprios dedos. - Disse que era para eu pesquisar mais sobre isso, mas, eu acabei 'experimentando'. Experimentando tentando fazer David Scott me levar ao baile. - Mais comentários. - Depois disso, ele apareceu na- - Olhei para Moody. - apareceu na cena do crime que o matou.


 


- E a senhorita também o roubou da sala de Dumbledore?


 


- Olha, eu não 'roubei', eu tentei livrar minha cara. - Scrimgeour deu uma risada irônica.


 


- A senhorita persuadiu um aluno que tinha plenos direitos sobre a sala do diretor, entrou lá, roubou o colar, depois, fez esse aluno esquecer tudo!


 


- Como eu disse, eu tentei livrar a minha cara. Ninguém saiu ferido nessa.


 


- E a senhorita tinha a intensão de ferir alguém?


 


- Lógico que não! - Soltei cerrando as sobrancelhas.


 


- Com licença, meu caro amigo Scrimgeour. - Ouvi a voz de Dumbledore surgir atrás da minha cadeira. Ficou a minha frente olhando todos, principalmente o Ministro. - Começaram esse julgamento sem mim.


 


- Me desculpe, Alvo, da próxima vez, siga o cronograma.


 


- Não haverá uma próxima vez, Ministro, posso lhe assegurar. - Me encarou por dois segundos e depois colocou as mãos atrás das costas e abriu um mero sorriso. - Minha cliente se declara inocente de todas as acusações.


 


- Já era de se esperar... - Soltou para si mesmo mas todos ouviram.


 


- Ainda não entendi a razão de convocar a suprema corte de Londres para esse julgamento. A garota apenas ficou com um colar que lhe dá alguns poderes, ela não tem culpa da ganância que provocou nas outras pessoas envolvidas.


 


- Alvo, essa menina escondeu de todos, principalmente de você a posse do colar, roubou da sua sala, estava envolvida com coisas de mais para não deixarmos de lado.


 


- Pela parte da posse e do roubo, ela seria punida na escola, com detenções severas e horas e horas em cima dos livros. Seu envolvimento com Ninfadora Tonks e Remo Lupin era totalmente amigável. Não só ela, Harry Potter também. - Olhou todos naquele salão. - Hermione Granger perdeu os pais, trouxas mentiram sobre a sua real morte, ela foi apenas atrás das verdadeiras origens.


 


- Ela acusa Lúcio e Narcisa Malfoy pela morte de seus pais, certo senhorita? - Concordei. - Como teve acesso a essa informação? - Eu ia responder, mas Dumbledore foi mais rápido.


 


- Draco Malfoy ainda é aluno da minha escola, Ministro. - Alguns comentários e um pedido de silêncio.


 


Sinceramente, minha vontade era de sacar a varinha e explodir aquela cabeça redonda que me olhava com olhos mortos.


 


- Bom, - Foleou alguns papeis e depois olhou longamente para mim. - quero que entrem Ninfadora Tonks e Remo Lupin. - As grandes portas do tribunal de abriram e logo ouvi barulhos de passos e correntes.


 


Meus olhos ficaram totalmente abertos como a minha boca para abrir uma chuva de protestos contra aquele sistema. Tonks estava com seu cabelo negro, sem nenhum tipo de cuidado, sua pele branca como uma folha de papel, olhos fundos com olheiras, estava pelo menos dez quilos mais magra e uma expressão de vazio. Lupin estava na mesma condição, só que machucado, com arranhões pelo rosto e nas costas da mão, únicos lugares descobertos que pude ver.


 


Duas cadeiras apareceram do chão perto da minha e sentaram-se olhando para os próprios pés.


 


- Aqui estão seus cúmplices, senhorita Granger. - Olhei para o Ministro. - Eles estão presos por sua causa.


 


- Ministro, não levante suposições.


 


- Não estou levantando suposições, Alvo. Eles estão presos por ajudar nessa conspiração contra o trabalho do Ministério em investigar esse artefato das trevas.


 


- Os únicos culpados aqui são a senhorita Rowan e o senhor Belby que mataram, brutalmente, um aluno inocente, e assim, destruiu o que restou da vida da senhorita Hermione fazendo-a pensar que tinha ocasionado a morte do mesmo. - Disse essas palavras sábias olhando por todo o salão. - O poder que aquele colar tinha sobre as pessoas era muito forte, era tão forte que poderia enlouquecer o mais sensato bruxo. A cobiça é o pior defeito dos homens. Tentar buscar as verdadeiras razões da morte de seus pais, ajudar uma grande amiga a fazer isso, defender causas que quase nenhum bruxo sentado nessa sala teria coragem, é para poucos. Pouco bruxos tem essa atitude, e não deveriam ser julgados dessa maneira. Quero que todos aqui presentes, pensem o que fariam no lugar da senhorita Granger, o que fariam se a vida de seus pais ou de alguém que fosse muito querido de vocês fossem tirados de uma noite para outra, sem nenhum motivo a parente e esses mesmos que dizem protege-los, escondem a real verdade, dando voltas e voltas na sua cabeça.


 


Dumbledore pegou no meio da ferida.


 


- Hermione Granger é, sem sombra de dúvidas, a melhor aluna que já tive em Hogwarts, ela teria argumentos suficiente para quebrar as pernas de qualquer um aqui que tivesse alguma acusação contra ela. Se ela fez algo escondido, ela sabia muito bem o que a esperava. Ela escondeu daqueles que poderiam ter a ajudado, ela tem medo, como qualquer cidadão, que o sistema se vire contra si e destrua sua vida.


 


Tonks ergueu seu olhar para Dumbledore assim como Lupin.


 


- Por favor, Ministro, termine com esse julgamento.


 


Ele tá bem louco?! Quis gritar. Aquele velho tossiu, olhou para seus papéis, vi uma gota de suor grossa escorre por sua testa e logo limpar com a manga daquela toga.


 


- Levante a mão quem é a favor da condenação de Ninfadora Tonks e Remo Lupin.


 


Um, dois, três. Três bruxos daquela corte levantaram a mão e meu sorriso veio de orelha a orelha.


 


- Levante a mão quem é contra a condenação de Ninfadora Tonks e Remo Lupin. - A maioria daqueles que não levantaram a mão, levantaram. Meu sorriso ficou mais largo com lágrimas sobre as bochechas. Vi a coloração voltar ao rosto de Tonks e Lupin assim que ouviram que estavam livres.


 


As correntes em volta de seus pescoços, punhos e tornozelos sumiram e eles puderam se mexer lentamente. Comentários invadiram o salão, eu queria levantar para abraçá-los, beijá-los mas Dumbledore me segurou naquela cadeira.


 


- Silêncio! - Pediu mais uma vez o Ministro. - Bom, vocês estão livres mas, - Fechei meu sorriso aos poucos. - estão expulsos do Ministério da Magia de Hogwarts. - Levei as duas mãos a boca. - Eu retiro o cargo de Aurores que lhe o meu poder os concedeu. Vocês não poderão mais exigir o cargo de Aurores do Ministério da Magia enquanto habitarem como humanos esse mundo.


 


- O senhor- - Comecei a dizer mas Dumbledore fez um gesto para que eu me calasse.


 


- Entenderam? - Concordaram um pouco mais tristes, mas eu tenho certeza que estão felizes por abandonar aquele lugar.


 


Sem coração!


 


- Bom, levante a mão quem é a favor da condenação de Hermione Granger. - Disse isso sem nenhuma emoção.


 


Eu fechei os olhos, não queria ver.


 


- Levante a mão quem é contra a condenação de Hermione Granger. - Fechei os olhos ainda mais.


 


- Abra os olhos, Hermione. - Sussurrou Dumbledore perto de mim.


 


Ao abrir, meu sorriso abriu-se também. Todas as mãos, até a do Ministro estava erguida.


 


- Hermione Jane Granger é declarada inocente de todas as acusações. - Bateu o martelo e eu não me contive, pulei para cima de Tonks e Lupin deixando as lágrimas caírem.


 


- Caramba, olha só aonde viemos parar... - Sussurrou Tonks um pouco rouca.


 


- Meu Deus...! - Soltei quase sem acreditar.


 


- Tudo acabou bem, Hermione... - Soltou Lupin afagando meus cabelos.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

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