Anormal




Capítulo XVIII


Anormal




Respirava tão profundamente que sentia o cansaço dos meus pulmões. Sentada naquela poltrona a algumas duas horas, eu pude pensar exatamente em tudo que estava acontecendo. Chorei tudo o que tinha para chorar, xinguei tudo que tinha para xingar, quebrei tudo que tinha para quebrar. Não era para menos que quem entrasse naquele quarto, naquele momento, pensaria que um furacão tinha passado por lá. Bichento estava dormindo tranqüilamente em cima do meu travesseiro lançado contra a parede e caído perto da cômoda.




Eu pensava que meu mundo não poderia ficar pior, que minha vida social e pessoal não poderia estar em piores mãos, mas eu vi, refletindo com muita calma, que não só brinquei com fogo, brinquei com uma labareda de um dragão, e acabei tendo queimaduras sérias e difícil de serem curadas.




Eu bebi do seu veneno, Draco Malfoy. Ele me matará aos poucos.




Estou sem amigas, sem amigos, todos nessa escola me olham torto e desejam minha morte porque resolvi arriscar uma vez na vida. Quis me entregar de corpo e alma a um moleque totalmente oposto a mim. Eu queria ter aquele poder de dizer tudo aquilo que eu quero sem me arrepender mais tarde, de fazer aquilo proibido sem nenhum peso na


consciência, mas não consigo, a velha Hermione grita aqui dentro, quer seu lugar de volta, quer deixar de ser a válvula de escape e voltar a ser a peça principal.




Mordi o lábio inferior e encarei meu reflexo naquela janela. Eu deveria colocar um ponto final nessa história. Eu deveria falar tudo que eu estou sentindo ao Malfoy e pronto, tudo está solucionado. Mas e se não era aquilo mesmo que eu estava sentindo? E se for apenas um jeito de eu esquecer Harry que me faz sofrer tanto e me entregar nesse falso amor?! E se eu falar que não quero nada e ele fizer alguma besteira?! Eu não agüentaria.




Levantei num impulso, peguei meu sobretudo, olhei no meu relógio de pulso – vi que não era tão tarde assim – e fui até a porta decidida a ter a pior conversa da minha vida. Como um impulso, abri a porta e atrás dela, estava Draco com a mão erguida para bater nela. Assustei assim como ele se assustou.




- Posso entrar?




Comparado ao meu desespero, Draco parecia estar muito bem consigo mesm


o. Dei espaço para que ele entrasse no quarto e logo depois fechei a porta sem nenhum barulho. Meus movimentos eram lentos, pausados e sem nenhuma emoção.




- Você está bem? - Perguntou se costas para mim, olhando o quarto e tudo que estava quebrado ali, enfiou as duas mãos no bolso e suspirando logo em seguida.




- Por que não estaria?! - Comecei a arrumar as coisas rapidamente, enfiando


dentro das gavetas, debaixo da cama mas ele me impediu, pegando em meu punho e me erguendo lentamente até eu conseguir encarar seus olhos.


- Fiquei sabendo que todos seus amigos viraram a cara pra você. - Virei-me de costas e juntei os braços no corpo.




- Pois é.




- E que eles não aceitam que você esteja comigo.


- Eu estou com você? - Pude ter sido grossa, mas que outra reação ele esperava de uma pessoa no meu estado?










Somewhere over the rainbow


Algum lugar além do arco-íris




Way up high


Um caminho acima




And the dreams that you dreamed of


E os sonhos que você sonhou




Once in a lullaby


Uma vez numa canção de ninar




Somewhere over the rainbow


Algum lugar além do arco-íris




Blue birds fly


Pássaros azuis voam




And the dreams that you dreamed of


E os sonhos que você sonhou




Dreams really do come true


Sonhos realmente se tornam realidade






- Isso depende.




- De quê?




- De muitas coisas. - Andou pelo quarto, pegou um bichinho de pelúcia que estava em cima do abajur e o encarou com um pequeno sorriso no rosto. - Você não estava pronta, Hermione.




- Você não pode afirmar isso. - Voltei a olhá-lo.




- Se você estivesse pronta, não ficaria tão abalada como está, ficaria tudo bem, relevava como releva muitas coisas que acontece na sua vidinha.




- Você me odiava, Malfoy, você jurava minha morte! Como é que você acha que eu estou me sentindo com você dizendo a todos os minutos que me ama?




- Você não acredita que as pessoas podem mudar?




- Acredito sim, não é a toa que eu acreditei. Se não acreditasse, não estaria no meu quarto nesse momento. - Deixou o bichinho em cima da cama zoneada e andou pelo quarto mais uma vez.




- Você não acredita que essas coisas, algum dia, aconteceria com você. - Deu uma pequena risada e suspirou alto. - Se apaixonar, desejar estar com a pessoa cada minuto da sua vida. Ficar pensando que se algo acontecer com ela, você mataria o culpado, mesmo que o culpado seja você. - Me encarou nas últimas palavras.




- Você não conhece muito da minha vida.




- Conheço o suficiente para gostar e querer fazer parte dela.




Silêncio. E também, depois dessa frase, não tinha mais o que falar. Draco Malfoy será meu carma, será meu consolo, meu porto seguro nessa maré de azar que estou enfrentando.




Continuo seguindo a minha vida desse modo errante, ou tomo uma decisão que marcará minha história para sempre? E que história, Hermione..! Que história...




- Então, o que você decide?




Corri até ele, colei meus lábios no seu e deixei que aquele momento me levasse.




***




Penteei meu cabelo lentamente, olhando meu reflexo no espelho. Um reflexo do cansaço. Podia estar realmente muito melhor por dentro, mas por fora, as horas de choro, a noite não dormida e a preocupação excessiva, tomou conta da minha aparência. Terminada a maquiagem, me levantei, arrumei meu uniforme, fiz carinho entre as orelhas do gato e logo corri para fora olhando que estava quase em cima da hora.






Someday I'll wish upon a star


Algum dia eu desejarei sobre uma estrela




Wake up where the clouds are far behind me


Acordar onde as nuvens estejam longe atrás de mim




Where trouble melts like lemon drops


Onde problemas se derretam como balas de limão




High above the chimney tops thats where you'll find me


Bem acima do topo da chaminé é onde você me encontrará




Somewhere over the rainbow bluebirds fly


Algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam




And the dream that you dare to,why, oh why can't I?


E os sonhos que você desafia: oh por que eu não posso?






Ao girar a maçaneta, tive aquele impulso de querer encontrar Tony a minha porta gritando para que eu fosse logo para não poder perder a primeira aula, mas nada nem ninguém estava lá. Não vou até o quarto do Draco, me deixa acordar primeiro, me deixa ver como está Hogwarts.




***




Sentei-me longe de todos. Todos me olhavam feio. Só queria comer em paz, apenas isso! Parvati e as meninas comiam no mesmo lugar de sempre, quase sem notar que eu estava no final da mesa, totalmente isolada do mundo. Tony nem estava no salão e Harry e Ron tinham acabado de entrar.




Passaram por mim sem ao menos descer o olhar. Gina estava no centro da mesa, conversando animadamente com Luna. Os meninos se aproximaram, cumprimentaram e se sentaram. Ao ver Harry beijando Gina, perdi totalmente a fome – o que sempre acontece, convenhamos. Afastei meu prato e peguei minhas coisas rapidamente para zarpar daquele lugar. Atropelei uma comitiva do primeiro ano e corri para minha primeira aula.




***




- Sabe o que nós podemos fazer?




- Não, o que?




Estávamos juntos longe do castelo, nem sabia como tínhamos parado ali. Andávamos calmamente, abraçados, conversando coisas bobas, refletindo tudo aquilo que passou. Draco tinha confessado que também estava com medo quando saiu do seu quarto. Se sentiu uma presa entrando no cativeiro do predador. Disse também que teme mais as pessoas do que as piores criaturas já vistas nesse mundo.




- Podíamos sair um pouco desse lugar.




- Draco, já estamos, praticamente, no limite com o Oceano Atlântico! - Brinquei.




- Tô falando ir para outro país, sair um pouco desse mofo. - O encarei séria.




- Tá louco? Sabe o que aconteceria se fizéssemos uma coisa dessas?!




- Meu pai é um dos caras mais influentes nesse meio da bruxaria, nada aconteceria com a gente. - Parei de andar me soltando levemente dele.




- Você já pensou no que seu pai irá fazer quando ele descobri que estamos juntos? - Parou também e voltou a me encarar. - Esqueça um pouco que ele é 'um dos caras mais influentes nesse meio da bruxaria'.




- OK, não vou discutir com você!






Well I see trees of green and


Bem eu vejo árvores de verde e




Red roses too,


Rosas vermelhas também




I'll watch them bloom for me and you


Eu assistirei elas florirem pra mim e pra você




And I think to myself


E eu penso comigo mesma




What a wonderful world


Que mundo maravilhoso






Enquanto fingia estar um pouco aborrecida, me deu um abraço me tombando pro lado e me arrancando risadas.




- Eu acho que nenhuma outra pessoa serviria. - Não entendi muito bem o que ele quis dizer, apenas coloquei meus braços em volta do seu pescoço e colei meus lábios nos seus.




Enquanto dávamos nosso passeio, me ensinou sobre várias coisas inúteis ao meu ver. Me ensinou sobre montaria, sobre vinhos, sobre coisas que a classe exageradamente alta tem o dever de saber.




Elegante, culto, rico e te ama, quer coisa melhor, Hermione?! Pare de pensar naquele desqualificado do Potter e se case logo com o Malfoy! Tenha vários 'Malfoyzinhos e Grangerzinhas' e tudo fica bem. É fácil falar e sonhar, fale com a certeza de ser ouvido e sonhe com a certeza que não irá se deixar levar pelo mais leviano pensamento.




Com ele, eu me senti segura, mas apenas com ele. Quando estava sozinha, me sentia desamparada, me sentia desprotegida, com medo daquilo que estava por vir. Normal, não é mesmo? Mas no meu caso, nada era normal.




***




- Vamos, Hermione! - Disse pela nova vez.




- Se você me apressar mais uma vez, eu não vou! - Bufou e saiu do quarto.




Terminava de me arrumar para ir a Hogsmeade. Hoje completaria uma semana que estamos juntos publicamente. Draco queria comemorar; Normalmente, os casais comemoram em um mês, um ano, dez anos, essas datas mais simbólicas, mas já que ele quer assim, que seja!




Pegando meu casaco em cima da cama, mandei um beijo carinhoso pra Bichento que observava a cena deitado em sua almofada fofa e saí do quarto num tiro. Draco estava nos pés das escadas, olhando constantes vezes para o relógio.




- Pronto. - Disse sorrindo.




- Você vai à Hogsmeade, não à um casamento! - Rolei os olhos e grudei meu braço no seu.




- Por favor, Draco, sem ataques de histeria!




- Eu não estou dando ataques de histeria! - Gritou que todos olharam para nós. - Enfim, podemos ir? - Depois de ficar séria e irritada, sorri largamente e o arrastei correndo para os jardins.






Well I see skies of blue and I see clouds of white


Bem eu vejo céus de azul e nuvens de branco




And the brightness of day


E o brilho do dia




I like the dark and I think to myself


Eu gosto do escuro e eu penso comigo mesmo




What a wonderful world


Que mundo maravilhoso






O jardim estava repleto de alunos. Desta vez, o sexto e sétimo ano se juntaram a uma visita cultural a Hogsmeade. Estava tendo um Festival de Música naquele pequeno povoado e o professor Flitwick queria enfiar a música em nossa cabeça. Quem somos nós para questionar? Além de estarmos perdendo um dia inteiro de aula, estamos passeando...!




Hagrid estava separando os alunos em grupos para irem nas carruagens; Por fim, sobrou nós e mais três alunos da Grifinória, Ron, Deena e Tony. Certo, conspiração total sobre mim.




- Vocês dois! Andem! - Gritou para nós que estava mais atrás do grupo.




- Por que nós temos que ir com eles? - Sussurrou um pouco irritado.




- Não pergunte para mim.




- O Weasley-Pobretão, sua namoradinha Pela-Saco e o Idiota do Antônio! - Olhei mortalmente para ele. - Qual é, Hermione?! Eles nem olham na sua cara!




- Mas já olharam! - Disse um pouco decepcionada. Ao ver que eu tinha entrado numa onda de depressão, mudou rapidamente de assunto, contando alguma coisa que me faça rir.




Entramos na carruagem e logo tudo ficou em silêncio. Eu olhava fixamente para aqueles três seres a minha frente e eles olharam simultaneamente para mim e para Draco. O clima estava pesado e nenhum ruído – nem um suspiro mais alto – era ouvido naquele lugar. Óbvio que eu queria morrer naquele instante, não teria solução melhor para um ser humano tão azarado como eu, mas Tony – pode ter sido acidental – esbarrou um dos seus pés no meu e me chamou a atenção. Engoliu seco e encarou outra coisa no mesmo momento.



Ignorei, seria a coisa feita por todos nessa ocasião. A carruagem deu o leve tranco de partida e pegou seu caminho e mais uma vez, seu pé tocou no meu. Olhei agora com uma ponta de irritação e desta vez, olhava e me encarava. Discretamente, olhei Draco, estava concentrado de mais na paisagem de fora, nem estava mais ali. Voltei a olha-lo e fez um gesto que queria falar comigo depois, bem depois.




Ele só pode estar brincando comigo...! Fala aquelas atrocidades, me humilha, me xinga, vira as costas e joga areia em cima quando eu mais preciso e, depois de ficar mais de uma semana me evitando, fingindo que eu não existo, quer ter uma 'conversinha' em particular?! Isso é motivo para arrancar-lhe a cabeça com os dentes e servir aos Hipogrifos!




Revoltas a parte, depois desse contato, nunca mais cruzou o olhar comigo e nem se manifestou através de chutes. Ron e Deena estavam imparciais, conversavam entre si, ignorando a presença de nós três.




Já no vilarejo, a primavera já dava seus sinais mais fortes. Hogsmeade estava totalmente enfeitada com flores, ramos, arbustos e pequenas fadas da colheita que passeavam de um lado para o outro. O clima mais ameno, pediu que os estudantes deixassem seus casacos em casa e a tirassem a animação da gaveta. Draco e eu pulamos da carruagem primeiro do que os outros e logo nos distanciamos. Mesmo com o bichinho da curiosidade me roendo por dentro, não quis dar o braço a torcer para Tony. Se for importante, ele me procura.






Well I see skies of blue and I see clouds of white


Bem eu vejo céus de azul e nuvens de branco




And the brightness of day


E o brilho do dia




I like the dark and I think to myself


Eu gosto do escuro e eu penso comigo mesmo




What a wonderful world


Que mundo maravilhoso




The colors of the rainbow so pretty in the sky


As cores do arco-íris tão belas no céu




Are also on the faces of people passing by


Também estão nos rostos das pessoas passando por ali




I see friends shaking hands


Eu vejo amigos se cumprimentando




Saying, "How do you do?"


Dizendo, "como você vai?"




They're really saying, I...I love you


Eles estão realmente dizendo, eu.... eu amo você




I hear babies cry and I watch them grow,


Eu ouço bebês chorarem e vejo-os crescerem




They'll learn much more


Eles aprenderão muito mais




Than we'll know


Do que nós sabemos




And I think to myself


E eu penso comigo mesmo




What a wonderful world


Que mundo maravilhoso






Procurando um espaço menos cheio, entramos na Madame Puddfoot. Lugarzinho romântico, não? Não tínhamos muita escolha, o Três Cabeças fervilhava e o Cabeça de Javali fora de cogitação. Não queríamos nos entupir de doces muito menos de livros. Enfim, entramos lá. Sentamos numa mesa perto da janela que facilitava a vista para a rua.




- Esse lugar me dá arrepios. - Disse olhando os lados e se encolhendo da cadeira.




- Por que? - Perguntei num sorriso no rosto.




- Essa ternura no ar! - Fez uma cara de nojo e lhe dei um tapa de leve no braço.




- Se contente com isso, Ok? - Riu também e pegou o cardápio.




Também querendo algo para tomar, peguei o outro e o coloquei em frente meu rosto. Ultimamente, acho que preciso de óculos.




- Ah, não, esquece! Vamos embora daqui. - Ouvi uma voz grossa dizer perto a porta.




- Harry, larga de ser criança!




Abaixei lentamente o cardápio do meu rosto e vi Harry e Gina entrarem naquele local e se sentando em uma mesa perto da nossa, para não dizer, ao lado.




- Não é porque tem 'vira-casaca' nesse lugar que vamos deixar de comemorar, não é?




Comemorar o que, Cenoura? A descoberta de um cérebro nessa sua cabeça oca?!




- Não quero estragar isso, Gina! - Disse quase se levantando novamente.




- Harry, pelos nosso 8 meses!




Oito meses?! Como ele a agüenta tanto tempo assim?!




- Ah, já escolhi! - Disse Draco num sorriso abaixando o cardápio e encarando os olhos enfurecidos de Harry. Gina e eu ficamos estáticas.




Acima do Draco estar namorando a sua melhor amiga e também 'namorada', Harry sentia aquela rivalidade estudantil falar bem mais alto. Deixei o cardápio em cima da mesa e respirei fundo. Gina tento chamar a atenção de Harry mudando de assunto mas o moreno nem a escutou.




- Perdeu alguma coisa, Potter? - Por que você sempre tem que começar?!




- Não sei, Malfoy, e você? Perdeu a vergonha na cara e assumiu logo esse joguinho?




Essa rebateu em mim.




- Draco, se acalma. - Pedi pegando em sua mão. Harry abaixou o olhar para o meu gesto e depois me encarou. Me senti envergonhada e recolhi a mão.




- Esse local era melhor freqüentado.




- Harry, não começa! - Disse Gina bufando.




- O que foi, Potter? Virou dono dessa espelunca por acaso?




Agora, os dois já falavam alto, chamando a atenção de alguns por ali.




- Os incomodados que se mudem. - Continuou. Fechei os olhos lentamente respirando bem fundo.




- Quem está incomodado aqui, Malfoy?! - Abriu os braços.




- Harry, já chega! Todos estão olhando para nós... - Sussurrou perto do seu ouvido.




- Vamos embora. - Soltei me levantando e pegando a minha bolsa.




- Espera. - Pediu impedindo com uma das mãos que eu fosse até a porta.




Levantou-se lentamente, Harry também levantou. Eu e Gina estávamos a postos para segurar qualquer um que fosse avançar em cima do outro. O local ficou em um extremo silêncio, alguns trincar de xícaras em cima do pires e de colherzinhas parando de mexer o chá.



- O que está esperando, Malfoy?




Draco deu uma pequena risada e cruzou os braços.




- Eu tenho certeza que se não fosse pela sua namoradinha, você teria avançado em mim.




- Draco! - Soltei pegando em seu braço. - Pára com isso.




- Não sou só eu que tenho uma 'namoradinha' para mandar em mim.




Nessa frase, Draco ergueu o punho fechado e foi de encontro ao rosto de Harry, mas eu o puxei para trás fazendo uma força memorável, assim como Gina segurando Harry no lugar. Algumas pessoas tinham se levantado, as outras estavam esperando a briga acontecer.




- Já chega! - Pedi.




- Por favor, vocês estão pagando de idiotas! - Disse Gina começando a ficar da cor do seu cabelo.




Draco encarou longamente Harry e, num movimento um pouco brusco, pegou no meu pulso e saiu de lá quase arrebentando a porta. Parou de andar apenas onde não tinha mais ninguém. Estava visivelmente irritado, seus punhos fechados indicava a vontade de socar alguma coisa. Sentou-se numa pedra e suspirou lentamente.




- O que deu em você?! Pra que provocar ele daquele jeito?! - Perguntei apontando para a direção, também irritada.




- Só a presença do Potter me irrita, Hermione! Só isso!




- Isso é ridículo, Draco! Ridículo! Vocês já são homens e ficam agindo como duas crianças mimadas! Por favor, chega desses showzinhos!




- Eu tenho certeza que a Weasley não tá dando uma lição de moral no Potter!




Fechei a boca para não continuar aquela discussão.




- Ninguém está dando lição de moral.




- Você está. - Me encarou ainda sentado.




Respirei fundo, me acalmei em alguns segundos e sentei ao seu lado encarando o nada, com os braços e mãos caídos sobre as pernas e uma expressão cansada no rosto.




- Me desculpe, eu-




- Me desculpe você, eu não devia ter-




- Esquece. - Deitei a cabeça no seu ombro.




- Acho que vou voltar para Hogwarts.




- A gente acabou de chegar!




- Pode ficar se você quiser.




- Ficar com quem?! - Me levantei e cruzei os braços. - Todos viraram as costas para mim e- - Não continuei.




- Você acha que eles viraram as costas para você porque você está comigo?




Mentir ou omitir? Eis a questão...!




- Não.




Draco não questionou, nem sequer se mexeu.




- Pode voltar a Hogwarts. - Me aproximei e lhe dei um beijo na testa. - Eu vou ficar.






Someday I'll wish upon a star,


Um dia eu desejo sobre uma estrela




Wake up where the clouds are far behind me


Acordar onde as nuvens estejam longe atrás de mim




Where trouble melts like lemon drops


Onde problemas se derretam como balas de limão




High above the chimney top that's where you'll find me


Bem acima do topo da chaminé é onde você me encontrará




Oh, Somewhere over the rainbow way up high


Algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam




And the dream that you dare to, why, oh why can't I?


E os sonhos que você desafia, oh por que eu não posso?






Virei as costas e peguei meu caminho até o vilarejo de novo. E como não estava com ações, nem questionou, nem se mexeu, nem me seguiu. Me misturei as pessoas e parei na frentes da doces de mel. Não estava olhando nada daquela vitrine, estava pensando longe, arrumando um pretexto para ficar lá e não ter que voltar para o castelo.




- Compre chicletes, é sempre uma boa. - Nem ergui meu olhar porque sabia quem era.




- O que você quer me falar? - Disse continuando a andar, um pouco aborrecida.




- Então, você quer ouvir?




- Olha, se você não for falar nada de importante, que se dane, tá bom?! Não vou ficar perdendo meu tempo você. - Essas palavras foram quase vomitadas, num leve giro que fiz sem parar meu caminho até o Três Vassouras.




- É importante. - Pegou num dos meus punhos e me impediu de continuar. - Mas se você ficar andando por aí, não vou poder fazer nada. - Soltou-me lentamente enquanto me encarava nos olhos.




Eu estava um poço emocional, qualquer pedrinha era suficiente para fazer com que tudo desmoronasse.




- Aonde?




- Qualquer lugar. - Suspirei olhando para os lados.




O guiei até o Três Vassouras, se houver algum crime, irá ter testemunhas. Entramos e, por sorte, uma mesa vagou e logo nos sentamos. Enquanto as canecas voltavam flutuando até o balcão, nos ajeitamos e ficamos alguns segundos nos olhando.




- Seja breve.




- Eu não irei falar se você continuar me tratando desse jeito.




- E você quer que eu te trate como? Todos viraram as costas para mim, todos! Ninguém quer saber o que eu sinto! Ninguém quer saber como eu estou, ninguém quer saber o que eu quero.




Suspirou lentamente e apoiou os braços na mesa.




- Vocês só quiseram acreditar no que ouviram! Vocês não quiseram me ouvir, vocês não quiseram ter uma conversa franca comigo! Até minhas melhores amigas estão me ignorando por completo, até os professores me olham torto! - Dizia aquilo sem muito show, olhava fixamente para ele e cuspia as palavras bem articuladamente, para que entre na sua cabeça e faça uma lavagem cerebral. - E agora, dane-se tudo! Ela está com ele! Eu estou feliz, Tony, se é isso que você queria ouvir, eu estou feliz sim! Só não venha me dizer que você queria ter ouvido tudo que eu tinha para dizer, não foi por falta de insistência minha! Eu queria esclarecer tudo, vocês que não deixaram e-




- Você tem razão.




... Onde eu estava mesmo?




- Como disse?




- Você tem razão. - Repetiu.




- Eu- - Pausa. - tenho?




- Você apareceu com o vilão da história e nós viemos com todos os feitiços possíveis para cima de vocês. Ou melhor, eu vim. Eu acredito que o Harry, o Ron, as meninas, podem ter um sério motivo, mas e eu? Eu sou apenas seu amigo e devia estar mesmo ao seu lado.




- E por que você resolveu falar isso para mim?




- Porque- - Inclinou-se lentamente sobre a mesa. - eu não paro de pensar em você.




Devo levar isso para o lado inocente ou é mesmo o que eu estou pensando?




- Isso não justifica nada.




- Pára de ser cabeça dura, engole um pouco esse orgulho! - Disse aborrecido. - Eu sei que tá todo mundo emputecido com você, mas eu acho que isso não é razão de sumir do mapa como você tem feito.




- Eu não sumi do mapa, estou sempre no mesmo lugar, só comecei a revisar minhas amizades. - Suspirei.




- Eu queria ter essa conversa com você no mesmo dia que a gente brigou, eu falei coisas que você não deveria ter ouvido, mas eu acho que você também não devia ter escondido esse 'caso' todo esse tempo da gente.




É, por esse lado, ele tem uma ponta de razão.




- Como eu ia falar uma coisa dessas para vocês?




- Sei lá, acho melhor isso do que aconteceu, de todo mundo ser pego de surpresa por um maluco qualquer. - Abaixei meu olhar para a mesa. - Sabe, convivendo no mesmo quarto que o Potter, me fez pensar em algumas coisas que eu nunca tinha pensado antes. - Voltei a encará-lo. - Ele é um ser humano como qualquer outro, ele sente raiva, felicidade, ele pode amar e odiar ao mesmo tempo. Ele pode ter seus defeitos e suas qualidades. Eu sempre pensei e sempre o coloquei num pedestal, mas, eu acho que nada se compara a situação que o vi quando ele chegou no quarto depois de saber o que tinha acontecido...






Tony estava deitado confortavelmente em sua cama, tentando esquecer tudo que aconteceu se afundando em qualquer revista inútil que encontrara pelo quarto. Neville também estava no quarto, só que esse se encontrava estudando Herbologia, algo muito mais interessante.




- Neville, pára de bancar o nerd, cara! - Pediu Tony sentando-se na cama e encarando o roliço.




- Me esquece um pouco, Antônio! - Disse estressado.




- Já que pediu com tanta delicadeza... - Voltou a se deitar e passou as mãos no rosto. A imagem de sua melhor amiga e seu inimigo invadiu sua cabeça sem nenhuma permissão.




No mesmo momento, a porta se abriu com violência. Passara por ela, Harry, estava com um arranhão no rosto e muito nervoso. Seu peito subia e descia e sua vontade de quebrar as coisas era maior do que tudo nesse mundo. Chutou a sua cama, chamou a atenção dos dois, jogou longe seu travesseiro e se jogou em sua cama suspirando bem alto. Tony levantou-se e ficou imóvel. Reparou na mão sangrando de Harry, no arranhão que tinha em seu rosto e na raiva que exalava pelos poros.




- Cara, tá tudo bem? - Perguntou se aproximando.




- Você acha que está tudo bem?! - Disse entre os dentes, se levantando brutalmente e indo até a janela. Apoiou-se nela e olhou concentrado lá para fora, procurando alguma coisa para fixar o olhar. - Ela não podia...




- Tá falando da Hermione? - Disse indo até seu encontro, ficando ao seu lado na janela.




- Aquela- - Suspirou encarando seu reflexo na vidraça. - Aquela desgraçada me enganou todo esse tempo...




- Ela pegou todo mundo de surpresa, cara, todo mundo mesmo! Aposto que até ela ficou surpresa com aquela cara!




- Não venha defendê-la na minha frente, por favor! - Deu as costas e voltou a andar pelo quarto.




- Eu não estou defendendo ela, eu também achei muito errado o que ela fez! Eu ainda acho, para falar a verdade!




- Podia ser com qualquer um, qualquer um mesmo, menos Draco Malfoy! - Esbravejou passando as mãos pelos cabelos. - ELE JUROU MORTE A ELA! ELE JUROU!




- E você acha que eu não sei disso?! Você tem toda razão de ficar com raiva, eu também tô emputecido com tudo isso!




- Ela mentiu pra mim, ela me enganou... - Bateu a cabeça no balaustre de uma das camas.




Tony olhou a situação do amigo, Neville também observava a cena imóvel, sentado em sua cama. Não quis se meter, ia sobrar para todos que estivessem perto.




- Você gosta dela? - Harry o olhou mortalmente.




- Eu quero mais que ela suma desse mundo.




Naquela frase, conseguiu soltar toda sua raiva.




- Você não sabe o que está falando, cara.




- Sei, Tony, o pior que sei! Ela viveu esse ano correndo atrás de mim! Ela fez de tudo para separar eu e a Gina e agora, ela revela que sempre teve um amante! Que a pior pessoa que ela podia se relacionar nessa escola! - Mesmo não querendo, seus olhos se encheram de lágrimas e uma pulou por de baixo do seu óculos, enxugando rapidamente. - Ela mentiu para mim...






- Ele costuma fazer tempestade em copo d'água. - Soltei analisando minhas unhas.




- Ele não conseguiu dormir, ele não conseguiu ficar quieto, Hermione, ele só pensava o quão você foi falsa e essas coisas!




- Quer dizer, que eu tenho que ficar sentada, esperando a vida passar, até que, um dia, ele acorde, termine com a Gina e venha atrás de mim?! Ele não quer que eu me relacione com ninguém?! É isso mesmo que eu entendi?!




- Não, Hermione, ele ficou completamente louco quando descobriu que você estava com Draco Malfoy! Fala sério, é insólito!




Ficamos discutindo o quão minha relação com um Sonserino podia ser insólita, louca, surreal, perigosa, legal e mais uma série de coisas. Olhei no meu relógio e vi que já estávamos na hora de voltarmos a Hogwarts, já que o dia estava começando a virar noite e Draco, com certeza, estava a minha espera.




Nos levantamos e nos olhamos por algum segundo. Foi inevitável e como um impulso, pulei em seus braços e ele já me esperava de braços abertos. Como eu necessitava daquele abraço. Como um simples gesto pode fazer toda a diferença.

























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