Um Novo Inferno Chamado Keiko




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Capítulo IV
O Novo Inferno Chamado Keiko



- DROGA! – Enchi a boca para dizer.

Meu despertador tinha sido alvo da minha mão pesada durante aquele começo de manhã, e misteriosamente, não tocou mais. Consegui uma façanha incrível! É o terceiro aparelho em menos de seis meses. Acabei perdendo a hora.

Ao descer da cama, acabei indo ao chão, ralando os joelhos no tapete áspero. Livrando-me das cobertas amaldiçoando-as, entrei no banheiro e saí de lá depois de cinco minutos, já colocando a minha camisa e a procura das minhas sapatilhas. Bichento observava tudo, calmamente, de cima da minha poltrona, balançando seu rabo de um lado ao outro.

Queria eu ser um gato pra não ter que se preocupar com tais coisas como acordar na hora em plena segunda feira.

- Onde estão?! – Gritei para eu mesma, me abaixando para olhar embaixo da cama.

Revirei meu malão e embaixo de muitas coisas praticamente inúteis, lá estavam. Coloquei-as e cacei minha maquiagem dentro da minha bolsa. Maquiagem? O que eu estava fazendo?! Estava mais de meia hora atrasada e pelas palavras de minha tia, ela não quer mais ver uma carta no meio do ano dizendo que estou indo completamente mau.

Belo jeito de começar o ano, Hermione, belo jeito...!

O desespero fazia parte. Ao terminar de passar meu lápis, me analisei na frente daquele meu espelho. Abri uma gaveta da minha penteadeira e peguei meu horário. Por Merlin! Colei chiclete na Cruz! Não pode ser, minha primeira aula era com Snape.

Enfiei meus livros dentro da bolsa e corri até a porta. Verificando se tudo estava lá dentro, saí deixando a porta quase escancarada.

Vá pensando na bela desculpa. Pense na cara de desprezo, nojo, ódio e amargura que Snape te olhará e lembre-se de nunca mais atrasar. Mais que inferno! O que eu fiz de tão errado para merecer isso?! Não respondam, por favor. Era engraçado correr nos corredores vazios. Apenas o eco dos seus sapatos atritando com o chão, a sua respiração totalmente acelerada e alta e sua mente quase tomando uma forma física. Talvez a voz de uma velha bruxa chamando pelo seu nome, mas é besteira.

- SENHORITA GRANGER! – Não era besteira. Virei-me lentamente com meu peito oscilando e uma leve vontade de querer cair no chão. – Não ouviu eu lhe chamar? – A voz ao sair, estava realmente cansada. – O que a senhorita ainda está fazendo nos corredores? – Suspirei e fitei o chão, parecendo estar mais longe. – Senhorita Granger!

- Professora, eu só quero chegar a minha adorável aula de Poções, se a senhora me der licença, estou um pouco atrasada. – Ela não tinha gostado da minha ironia, podia ver por sua expressão de reprovação.

- Se é assim que pretende começar o ano letivo-

- Foi um pequeno deslize. – Disse prontamente voltando a andar.

- Se continuar a dar deslizes, não me importarei de dar um pequeno deslize na sua nota, senhorita! – Disse as últimas palavras gritando. Eu estava há quase vinte metros de distância quando tive certeza que ela não me seguira.

Sobe escada, desce escada. Pula degraus, atravessa corredores sem olhar para atrás. Essa era minha rotina de quase todas as manhãs.

Parei em frente à porta velha, maciça e escura da sala de Poções. Podia ouvir a voz de Snape vindo de lá de dentro. Fria, calma e num tom que se você não fizer um pouco de esforço, não ouvirá nada. Suspirei e fechei os olhos mais uma vez. Encostei a maçaneta e quando a girei, meu coração quase pulou para fora.

- Já era de se esperar... – Nem tive tempo de terminar minha entrada pelos fundos que já fui alvo de todos os olhos daquela grandiosa sala. – Menos cinqüenta pontos, Granger. – Abri a boca para protestar. – E detenção, esteja na minha sala hoje à noite.

As coisas estavam acontecendo numa rapidez digna de hora do rush em megalópole. Sentei-me na última cadeira vaga, ao lado de algum garoto que não sabia o nome e de – por que essas coisas só acontecem comigo, Deus?! – Adam. Do outro lado de Adam, Draco. Esse que nem me olhava, apenas meneava a cabeça aborrecido.

- Quero um resumo dos capítulos trinta e oito ao quarenta em cinco em vinte minutos. – Sentou-se a sua mesa e pegou sua grande pena. Jogou um profundo olhar de desgosto sob mim e não duvido nada que assinou minha detenção. Larguei-me totalmente naquele encosto duro. Enquanto todos se debruçavam em cima dos livros, eu ainda estava por abrir o meu.

Adam me olhava num sorriso malicioso, prepotente e possuidor. Queria amaldiçoá-lo ali, na frente de todos. Levaria Snape comigo, não seria tão ruim assim.

- O que tanto espera, Granger? – Mais uma vez todos os olhares viraram-se para mim.

- Nada, professor. – Sussurrei pegando meu livro e abrindo na página certa.

***


- Justo na aula desse maldito! – Soltei com toda a minha raiva.

Andávamos apenas eu e Tony. Tinha dividido a primeira aula com ele, mas não tinha reparado que estava nas primeiras fileiras. E como reparar?! Se eu não fizesse aquele resumo, seria mais um motivo para mais dias em detenção.

- Esse é um ponto ruim dos quartos separados. – Concordei ainda aborrecida. – Vamos fazer assim? Eu passo no seu quarto todas as manhãs para te dar bom dia, se você não estiver acordada, eu te acordo.

- Não, Tony! – Ri. – Isso seria totalmente fora de mão para você! Não, não se incomode!

- Incômodo? – Riu. – Incômodo seria ver você todos os dias de detenção, a Grifinória indo pro espaço e a cara de satisfação do Snape! Eu irei sim.

- Eu tenho que tomar um pouco de responsabilidade, Tony, não precisa mesmo, obrigada. – Ele era persistente.

Não desistiu até ouvir um 'Tá bom, você venceu' da minha boca. Tony é assim mesmo, sempre quer ver o meu bem.

De repente, pareceu que o chão e as paredes tremeram. Um grande estrondo ecoou pelos corredores. Abaixamos alguns milímetros com medo que algo nos atingissem, como se fosse um mero impulso. Logo após um silêncio quase que concluinte do que tinha acontecido, gritos e xingamentos. Logo, a porta há quase vinte metros de nós, é arrombada de dentro para fora. Slughorn foi o primeiro a sair junto com a grande nuvem de fumaça. Tossia e protegia seu rosto com a capa com a mesma mão que segurava sua varinha. Alunos do sexto ano saíram em disparada.

- GRANGER! ME AJUDA AQUI! – Queria saber como ele tinha me visto. Saltei de onde estava também chamando Tony. Saquei minha varinha e comecei a atropelar os alunos que queriam sair, dispersando a fumaça com um feitiço que produzia um vento considerável. A sala de Feitiços estava praticamente destruída.

As cortinas pegavam fogo, os quadros estavam caídos, muitos dilacerados. Paramos ainda na porta, deixando o último aluno sair. Estávamos atônitos. Tony logo se moveu e apagou os focos de incêndio e fiz com que uma pilha de livros ficasse suspensa e não caísse em cima daquela bagunça. As carteiras estavam reviradas, livros, pergaminhos, penas, sapatos jogados pelos cantos. A mesa do professor estava uma tremenda bagunça.

- Meu Merlin, o que aqueles pestes aprontaram?! – Soltou Tony. Começamos a abrir as janelas para aquele cheiro de carvão com enxofre não nos deixassem totalmente debilitados. Slughorn adentrou a sala, ainda com sua varinha em mãos, pude ver agora que seu rosto estava coberto por fuligem e seus cabelos arrepiados. – O que aconteceu, professor? – Logo nos aproximamos dele.

- Um feitiço que deu errado, apenas isso. – Apoiou-se em uma das carteiras viradas no meio da sala. Pegou um lencinho vermelho de seda do seu bolso e enxugou o suor da sua face.

- Alguém está ferido? – Perguntei.

- Não, não. Creio que não. – Ele não era um professor totalmente responsável, dava para se notar.

Pensando que estávamos seguros, respirei aliviada. Mamãe sempre disse: não cante vitória antes do final da partida. Como estava certa, como estava certa! Um rangido forte sobre nossas cabeças floresceu. Lentamente, alguns retos de madeira queimada caíram nas nossas cabeças e ombros. Erguendo a cabeça calmamente para cima, assim como aqueles dois, pude ver que o teto desabaria.

Um grande barulho invadiu a sala novamente e um peso sobre meu corpo me tirou daquele lugar. Metade do forro do teto tinha caído onde estávamos exatamente. Tony tinha se jogado e caído em cima de mim, em cima de livros, penas e papeis queimados. Protegeu-me segurando na minha cabeça contra o seu ombro, podia sentir os restos ainda caindo nas minhas pernas. Ao ouvirmos um grito, saltamos de onde estávamos tirando os destroços de cima de nós e vimos que Slughorn tinha sido soterrado.

Dumbledore e Minerva entraram naquela sala totalmente aterrorizados. Apenas a mão do professor ficou de fora, seus gritos abafados e pedidos de socorro foram atendidos pelo velho bruxo que retirou aquelas figas de madeira jogando-as contra a parede com um leve balançar das mãos.

- MEU BRAÇO! MEU BRAÇO! EU NÃO ESTOU SENTINDO MEU BRAÇO! – Seu braço estava torcido em cima de seu peito.

- Vocês estão bem? – Perguntou Dumbledore ao se aproximar de nós.

- Professor, a gente- - Ia começar a explicar, mas Slughorn continuava a gritar, reclamando de seu braço, provavelmente, não era a única coisa que tinha sido quebrada. – A gente só-

- PELAS CALÇAS DE MERLIN! NINGUÉM ESTÁ VENDO QUE EU ESTOU MORRENDO?! – Cuspiu sangue longe, tentando se levantar com a ajuda de Minerva.

- Oh, sem exageros, Horácio! – Resmungou alto em resposta. – Saiam depressa e por favor, tirem os curiosos da frente da sala. – Pediu Dumbledore. Minha boca se abriu para protestar mas Tony me puxou para fora da sala. Por que discutir?! Foi o que disse quando começou a espantar muitos alunos dali.

Ao longe, pude ver Gina encostada numa das pilastras, escorregando até o chão passando a mão num corte que tinha na altura da testa. Ninguém a ajudava, não serei eu que vou ajudar.

- Tony, vai ajudar a Gina. – Pedi rapidamente.

- Por que você não vai lá? – Não queria ser grosseiro e não entendi de uma forma grosseira. Abaixei a cabeça e comecei a tirar alunos do primeiro ano dali.

Sabe o que faltaria para essa cena ser uma típica de contos policiais da década de sessenta? Aquelas fitas amarelas escritas Police - Keep Out. Logo, uma legião de professores. Mesmo com um olho dentro da sala e outro nos pequenos alunos, pude ver muito bem Tony ajudando Gina e logo Harry chegando, desesperado, ajudando a namorada a se levantar e olhando aquele corte mais de perto. Não sabia o que estavam dizendo, mas sabia que estava realmente preocupado. Sua expressão, seu modo de falar, seus gestos. Pegou a namorada no colo que estava quase desmaiando.

- Não há nada o que ver aqui! – Disse para mais três alunos do segundo ano. Minha primeira reação quando Harry se aproximou com Gina em seus braços, era de ajudar.

O que eu estava fazendo?! Ajudar quem? Os dois devem ter um profundo ódio de você. Madame Pomfrey estava ali do lado, era só pedir auxílio a ela. Peguei minha varinha e comecei a dispersar a fumaça que tinha no corredor. Fiquei estática quando Harry passou por mim, entrando na sala no mesmo momento, chamando por socorro.

Aproximei-me lentamente da porta comprimindo os lábios. Guardei a varinha dentro do meu sobretudo ainda com os olhos lá dentro. Ao encostar a porta, professores pediram licença para logo saírem carregando uma maca com Slughorn gritando de dor, choramingando e se contorcendo. Voltei a prestar atenção na sala. Gina estava sentada em cima da mesa de Slughorn, Madame Pomfrey usando seu indispensável kit de primeiros socorros no seu machucado e Harry ali ao seu lado, segurando em sua mão, ouvindo algumas coisas que Dumbledore dizia como 'essa sala estava mesmo precisando de reformas'.

Não sei como me senti, talvez enciumada, talvez culpada. Ah, lógico! Foi você que fez um idiota dizer um mero feitiço errado, Hermione... Francamente, você não sabe nem mais o que pensa.

Harry dava um beijo em Gina e brincava dizendo que nunca mais deixaria ela sozinha numa aula 'totalmente' perigosa como essa. Sacudi a cabeça de um lado para o outro fitando o chão, quando olho, vejo algumas folhas de alguma planta esparramas perto da porta, embaixo de uma das carteiras viradas. Abaixei-me e peguei uma daquelas folhas; aparentemente, nenhuma que eu conheça de olho nem de cheiro. Engraçado era como uma planta sobreviveu a essa explosão, ficando intacta.

- Oh, Senhorita Granger! – Enfiei, assustada, a folha dentro do meu bolso, disfarçando num mero sorriso. – Obrigada, acho que já pode ir.

- O professor ficará bem? – Dumbledore confirmou com um aceno de cabeça e um sorriso.

- Ele é um pouco manhoso, mas ficará sim. – Retribuí sorrindo falsamente e saindo dos olhos daquele professor.

***


- E o que seria? – Estava perguntando a um especialista no assunto de plantas: Neville.

Foi duro achá-lo naquela escola. Eu procurei em todos os lugares possiveis, até na cozinha – que seria o lugar mais certo. Estávamos na torre de astronomia, ele usava uma das lunetas para ficar espionando sua namorada no pátio – uma coisa bem inútil, digo de passagem.

- É Peralvilho. – Devolveu-me.

- E pra que serve? – Limpou a garganta e guardou a luneta parecendo que não viu algo de seu agrado. Começou a sair da sala apressadamente, com as bochechas queimando em fogo. – Neville! – Descíamos as escadas tão rápido que pensei que voaria. – Neville!

- Ela serve pra- - Parava a todo o momento, olhando pelos corredores, atentamente. – Serve pra-

- Pra o quê? – Começamos a correr. – Neville!

- Ela serve para causar pequenas- - Parou novamente, entrando no jardim como um tiro.

- Pequenas... ?

- Pequenas combustões em experimentos quase insignificantes! – Encontrou Romilda Vane, sua namorada numa conversa um tanto quanto intima com um garoto do sexto ano. Pude ver os olhos de raiva daquele garoto redondo. – Não sei onde encontrou, são proibidas em Hogwarts. – Parei, não o segui mais. Neville pegara no braço de sua namorada e tirara do jardim a força.

Proibidas em Hogwarts? E o que estava fazendo aqui, então? Passei na primeira lixeira que encontrei, joguei a folha fora e continuei meu caminho. Pare de ficar se preocupando com um assunto que não absolutamente nada a ver com você. Pela primeira vez, você não é o pivô da catástrofe, pense nisso.

***


A professora dizia, eu nem ouvia. Ficava limpando levemente a manga da minha camisa que estava coberta por fuligem. Os cantos das minhas unhas também estavam sujos, descobri que as costas do meu sobretudo estavam imundas e ainda tinha mais algumas aulas para assistir. Parvati se demonstrava uma pessoa atenta à aula e eu nem tinha aberto meu livro.

- Alguém sabe me dizer qual é o significado do número sete na camada onze da constelação delta? – Ninguém tinha erguido as mãos. – Ninguém? – Nada. – Senhorita Granger? – Todos viraram suas atenções a mim. – A senhorita não sabe? – Perguntou um pouco surpresa.

Ergui meu olhar da minha manga e logo depois uma sobrancelha.

- Não. – Voltei a limpar a minha manga suspirando. Aquela professora tinha me olhado com compaixão, engoliu grandemente e voltou a escrever algumas coisas no quadro negro cabisbaixa.

Eu tenho cada de enciclopédia por acaso?! Se eu não levantei a mão, é porque eu não sei ou nem tenho idéia o porque de estar naquela aula.

***


- Oh, que horror! – Soltou Deena quando terminei de contar o episódio com o professor de feitiços. – Ele não poderá lecionar por um tempo, quem entrará no lugar dele?

- Podiam fazer várias mini cópias do Flitwick! – Brincou Parvati fazendo eu rir. Um pio de coruja invadiu o salão.

- Corujas na hora do almoço? – Perguntei olhando para o teto que se enchia delas.

- É mais uma coisa que mudou em Hogwarts. – Parvati mexeu o prato com a ponta do garfo para logo uma caixinha cair ao seu lado. – Profetas Diário de manhã, cartas, embrulhos e coisas do tipo no almoço.

- Pobres corujas... – Disse a loira pegando uma carta que tinha caído em mãos.

Como era de costume, eu não recebi nada. Estava até me acostumando com a realidade. Terminei com meu suco quando algo pia bem baixinho, um canto agradável, pousando a boca do copo que estava suspenso pela minha mão. Eram aqueles malditos Pássaros da Paixão.

- De novo não... – Comentei jogando o copo na mesa e passando as duas mãos no rosto.

- Você não recebeu um ontem? – Perguntou Parvati.

- É, recebi. – Peguei aquele passaro com brutalidade, amassando um pouco suas asas. Ao desembrulhar, um aroma um pouco enjoativo mas bem campestre.

'Espero que esteja bem'. Apenas isso e mais nada, bem diferente dos outros.

- Que estranho. – Limpei a garganta entregando a Parvati. – Quase ninguém sabe que o teto desabou na minha cabeça.

- É, bem estranho. – Ficamos nesse comentário por um bom tempo.

***


Uma grande agitação ocorreu na hora do jantar. Boatos como o nome do nosso novo professor substituto de feitiços avançados seria anunciado por Dumbledore. Os mais conservadores diziam que seria um grande velho chato que sentaria numa mesa e mandaria que nós copiássemos folhas e folhas de livros grossos e fedorentos. Os mais esperançosos, diziam que essa matéria seria tirada do currículo escolar até a recuperação pena do professor. Tinha aqueles que gostavam de fantasiar sobre tudo, começaram a dizer que seria um professor descolado, como Hogwarts nunca teve.

Cansada das aulas vespertinas, eu não queria ficar mais naquele salão. O jantar não foi servido até Dumbledore comparecer, coisa que estava deixando muitos mortos de fome. Ao meu lado, Meg sentou-se, trocamos apenas alguns sorrisos ainda com aquela barreira da timidez. Com o pedido de silêncio aplicado numa das taças de cristal, todos se calaram.

Dumbledore estava de pé num pequeno sorriso satisfeito, McGonagall não se encontrava no Salão, assim como Hagrid, coisa que me chamou um pouco a atenção. Estendeu as mãos brevemente e suspirou logo em seguida.

- Acho que todos sabem do incidente de hoje de manhã com o professor Slughorn. – Burburinhos. – O seu estado não é absurdamente grave, mas creio que não poderá lecionar por alguns meses. – Alguns gemidos e mais comentários. – Como os alunos do sexto e sétimo ano não podem ficar sem essas aulas totalmente essenciais, arranjamos, com muita sorte, uma professora substituta. – Professora?! – A partir da próxima quinta feira, a professora Keiko Mayumi lecionará no lugar de Horácio.

Não sei o que tinha acontecido com alguns alunos, mas muitos estavam assustados, outros faziam comentários desesperados. Essa tal aí é algum monstro? Dumbledore sentou-se um pouco frustrado com a reação dos alunos. Até Parvati tinha mudado sua expressão, Meg estremeceu ao meu lado e parecia que Neville estava começando a ficar roxo.

- Você sabe quem é ela? – Perguntei a Parvati mas Meg surgiu de seus espasmos e inclinou-se para mesa.

- Ela não tem uma reputação muito boa. Segundo os tablóides, ela já foi expulsa de várias escolas.

- Por que ela foi expulsa de várias, isso que eu quero saber. – Virei-me a Parvati para ter uma 'resposta'.

- Indisciplina. – Por isso que eu te admiro, morena. Meg engoliu seu suco rapidamente, como se tivesse uma laranja no meio da garganta. – Sabe, ela é tipo de mulher que os homens se afastam, entende?

- Não sei, isso não acontece comigo. – Fui engraçada, fazendo apenas Deena e Parvati rirem.

- Mas se prepare, as aulas dela não são as melhores. – Pronunciou-se Meg.

- Já teve para dizer? – Concordou num mero sorriso significativo no rosto.

- Ela não é o que aparenta.

***


Era patético. Toda o sétimo ano da Grifinória já estava na sala de Feitiços e nada daquela nova professora. Era o terceiro período, muitos já estavam cheios. Quarta feira, meio da semana, coisas monótonas acontecem a todo o momento, tornando-se uma livre rotina. Já tínhamos perdido quinze minutos de aula, como se eu estivesse importando. Voltei a cruzar meus braços me ajeitando em cima daquela carteira. Nossas conversas altas, xingamentos, coisas idiotas, foram interrompidas com o 'quase' arrombamento da porta da sala. Todos os nossos olhares miraram naquela figura que acabara de entrar.


Four letter word just to get me along
It's a difficulty and I'm biting on my tongue and I
I keep stalling, keeping me together
People around gotta find something to say now


A Hermione aqui de dentro ria, a Hermione de fora estava surpresa. Cadê a parte de 'tipo de mulher que os homens se afastam'? Tony, que estava conosco, deixou seu queixo cair e sua expressão dizer tudo. Não era o único totalmente surpreso com aquela professora, era o sonho de consumo de muitos ali que nem deu seu primeiro beijo.

- Me desculpem pelo atraso, classe, quero todos nos seus devidos lugares, em silêncio. – Tinha uma voz um pouco grossa, por um lado doce, diferente do grunhido que eu pensava ser. Sentamos em nossos lugares com pequenas conversas. – Eu disse: silêncio! – Ergueu sua varinha para a boca de Simas, a boca do garoto como metade de sua cabeça, ficou envolta em uma tira de pano velho, impedindo que o ele falasse. – Alguém mais? – Olhou toda aquela classe assustada.

Uma palavra descreveria toda aquela pessoa: ousada. Usava uma saia até o joelho com uma grande fenda na sua coxa direita, bem justa que ainda me perguntava como andava. Uma sandália com um salto astronômico, altura não era seu forte. Um colete com os dois primeiros botões abertos revelando um grande decote e por debaixo disso, uma camisa social branca, com as mangas quase arregaçadas. Era oriental, seu rosto fino com os olhos bem puxados. Os lábios em forma de coração e o nariz bem pequeno, sobrancelhas arqueadas e um forte delineador. Seus cabelos bem pretos, presos num coque onde só alguns fios caiam sobre seu rosto. Uma professora normal, você diria. Eu também disse quando ela entrou, mas com o passar dos segundos, ela se revelava uma pessoa completamente diferente da sua aparência.

- Professora Keiko Mayumi. – Escreveu com a ponta da varinha naquele quadro negro. – O pobre acidente com o professor Horácio me fez retornar a Hogwarts. – Abri um sorriso sonhador. – Para essas mentes perturbadas, lecionei em Hogwarts há quase vinte anos.

Depois dessa, eu estou me sentindo uma centenária! Olhando para ela, daria uns vinte e cinco, no máximo.

- Fantástica essa Hogwarts... – Suspirou olhando em volta de toda a sala, começou a andar do seu jeito quase 'rebolando' entre as carteiras individuais. – Meu único propósito é que cada um de vocês sejam os melhores em Feitiços! Pelos históricos que tive a oportunidade de ver esses últimos dia, acabei reparando que- - Parou ao lado do pobre Neville que já olhava com todos seus hormônios aflorando. – alguns de vocês não se dão muito bem com essa matéria, não é Senhor Longbottom? – Neville concordou lentamente hipnotizado pelo sorriso sarcástico da professora. – Porém- - Voltou a andar até o centro da sala. – pior do que está, impossível ficar. – Mera impressão de conhecer essa frase.


Holding back, everyday the same
Don't wanna be a loner
Listen to me, oh no
I never say anything at all
But with nothing to consider
They forget my name (ame, ame, ame)


Juntou as mãos e sorriu largamente.

- Oh, quem temos aqui! – Parou em frente Mc, fazendo eu erguer uma sobrancelha. – Como está sua mãe?

- Es-está bem. – Respondeu engolindo seco.

- Não o vejo desde que era um garotinho, senhor McLaggen! Tomava chá todos os finais de semana com sua mãe, mulher muito respeitosa. - Mc apenas sorria. Pude ver o sorriso malicioso e engraçado no rosto de Ron, adorava quando Mc era tratado como um bebêzinho. - Eu lembro de quando você perdeu aquele seu bichinho de pelúcia! - A sala poderia explodir em risadas, mas com a pressão que essa professora exercia sobre nós, era inadmissível risadas. - Eu que o achei para você! Você tinha quantos anos mesmo? Ah, oito anos! - Ron colocou uma das mãos na boca para não explodir.

- Pois é... - Disse aborrecido o bastante.

Já tive uma leve impressão de como seria essa professora. Keiko olhou mais adiante e levou as duas mãos a boca.

- Tirei sorte grande! Ensinarei os melhores bruxos do século! – Era Harry, que já se encolheu naquela cadeira aborrecido. – Harry Potter, um prazer conhecê-lo. – Esticou a mão para logo Harry a apertar sem jeito. - Sabia que eu já tive a honra de dar aula para seus pais? Seu pai era muito arteiro e sua mãe um doce. - Sorriu encantada.

Mirou seu olhar na minha direção. Muito bom, o que falará sobre mim? 'Oh, quem é você, desconhecida?!'.


They call me 'hell'
They call me 'Stacey'
They call me 'her'
They call me 'Jane'
That's not my name!
That's not my name!
That's not my name!
That's not my name!


- Hermione Granger, até que emfim pude conhecê-la. - Ela tá falando comigo...?

Parou a minha frente cruzando os braços e se inclinando lentamente.

- Se eu falar que tive que ouvir de Tonks, de dez palavras, vinte ao seu respeito, você acredita?

Meu mundo virara naquele momento. Todos me olhavam como se fosse uma estranha, até eu me via como uma estranha.

- Conhece Tonks? – Murmurei assustada.

- Lógico! Somos primas de consideração! – Sorriu largamente. – A história é um pouco complicada, um dia, talvez, se quiser ouvir a base de muito whisky, estarei disposta. – Era pirada, totalmente pirada.

Voltou ao centro da sala e arrastou uma arca para perto de si. Ao abri-la, roupas voaram de lá de dentro. As peças cor vermelha escura foram para cima de uma mesa, caindo sobre nossos livros, dobradas, passadas e talvez engomadas. Ao ver o que estava escrito, li apenas um Grifinória em letras garrafais.

- Esses serão seus uniformes. – Foi até a porta.

- Professora, me desculpe, mas uniformes para que? – Perguntou Ron virando-se para ela.

- Ora, Senhor Weasley, um bom bruxo não é formado apenas de uma varinha e uma lista infinita de feitiços. – Sorriu e se retirou da sala fechando a porta. As coisas ainda estavam totalmente confusas. Desdobrando aquela camiseta, olhei as costas, tinha um número: dezessete. Olhando o resto da sala, cada número era diferente. No grosso casaco de moletom, a mesma coisa.


They call me 'quiet girl'
But I'm a riot
Maybe 'Joleisa'
Always the same
That's not my name!
That's not my name!
That's not my name!
That's not my name!


- O que ela quis dizer com isso? – Perguntou Parvati virando-se para mim.

- Não sei, mas estou com uma leve impressão. – Engoli assustada aquela saliva excessiva.

***


- Sem reclamar! Vamos, vocês são o quê?! Bruxos ou vampiros?!

Chutem, chutem o que estávamos fazendo naquele momento. Dou o resto da contagem para vocês adivinharem.

- Andem! Senhor Longbottom! O senhor deve pensar que está na sala de estar, não é?! Vamos! – Gritou com o pobre aluno.

Abdominais. Estávamos nos matando numa série de cem abdominais. Aqueles uniformes eram para as nossas 'novas aulas de feitiços'. Com o lema de 'Força é a base para um bom feitiço', ela está fazendo quase uma sessão de aeróbica naquela sala. Eu não agüentava mais, eu não podia. Estava com sérios problemas de saúde, eu sentia tonturas apenas por subir as escadas!

- Quarenta e cinco! Quarenta e seis...


I miss the catch if they through me the ball
I'm the last kid standing up against the wall
Keep up, falling, these heels they keep me boring
Getting glammed up and sitting on the fence now


Os meninos com calças largas, as meninas com calças legging. Cabelos totalmente presos, faixas nas franjas chatas. Sem pulseiras, colares, sem nada. Tênis hiper confortáveis e litros de suor se esvaindo. Como se uma câmera passasse na expressão de cada um, imaginei o cansaço que estavam apresentando. A face redonda de Neville estava vermelho vivo. O suor escorria pela ponta de seu nariz e seus cabelos estavam quase molhados. Deena, que estava ao meu lado direito, não estava muito diferente, Parvati estava ofegando, pedindo aos céus para que parassem logo com isso.

Até os jogadores de Quadribol estavam demonstrando exaustão. Com uma fileira de meninas a frente de uma fileira de meninos, Keiko andava no meio. Com seu salto em um barulhinho irritante, marcando as batidas oscilantes do coração de cada um.

Passado quase cinco minutos, com um descanso de trinta segundos, ela mandou que pegássemos nossas varinhas. Eu nem conseguia erguer o braço para segurar aquelas poucas gramas, bem, não só eu. Tony estava apoiado nos joelhos, com a cabeça no meio das pernas quando recebeu um forte tapa mágico em seu traseiro, fazendo ele dar um pulo e ser alvo de muitas risadas.

- Ergam suas varinhas! – Estava à frente de Dino Thomas. – Eu não quero mais saber de Feitiços de Desarmamento! Eu quero saber de atitude!

- Quem é ela pra falar de atitude? – Murmurou Ron que estava ao lado de Dino. Keiko sacou sua varinha e mandou Ron a cinco metros de distância, batendo as costas nas carteiras. Desta vez, ninguém riu. Deena levou as duas mãos a boca e se inquietou ao meu lado.

- Se fosse um bom aluno, senhor Weasley, saberia se defender de um simples feitiço de ataque como esse. – Seu olhar reprovar não foi apenas em cima do ruivo que se levantava, mas sim sobre toda a classe assustada. – Alguém aqui sabe conjurar um patrono? – Poucas mãos tímidas foram ao ar, como os participantes da extinta Armada de Dumbledore. – Oh, muito bom. Conjure um, senhor Longbottom. – Parou num ângulo de sessenta graus em relação ao redondo. Cruzou os braços e ergueu uma das sobrancelhas.

- Eu-eu não pratico há um tempo, professora. – Soltou num sussurro.

- Não quero saber, faça. – Neville ergueu sua varinha mediante a seus olhos e se concentrou. As meninas que estavam a sua frente, se afastaram, assim como os garotos ao seu lado. Poderia ser desastroso e matar todos ali, poderia ser fantástico e calar a boca daquela idiota. Disse claramente as palavras mas nada aconteceu. Palmas solitárias da professora invadiram o silêncio em um protesto de sarcasmo. – E é assim que pretendem concluir o último ano em Hogwarts? Assim, sem saber ao menos conjurar um simples patrono?

- O Patrono precisa de concentração, e é difícil ser conjurado sob pressão. – Harry tinha se pronunciado, passando as costas das mãos perto de sua orelha, para enxugar uma gota de suor que escorrera.


So alone all the time at night
Lock myself away
Listen to me, I'm not
Although I'm dressed up, out and all with
Everything considered
They forget my name (ame, ame, ame)


- Oh, então, o senhor Potter gosta de ser o salvador dos injustiçados? – Ironizou. – Vamos, conjure um você. – Meus passos começaram a se distanciar de onde Parvati e Deena estavam. Todos estavam muito atentos à expressão raivosa de Harry, ergueu sua varinha e sem pronunciar nada, um flash de luz azulada saiu, deixando muitos ali sem poder enxergar nada. Coloquei uma das mãos perto dos olhos e pude ver a forma de um cervo, logo correndo pela sala passando por todos e voltando a entrar na varinha de Harry.

- Boa, Harry! – Soltou Ron, orgulhoso do amigo. Keiko olhou com profundo desgosto para o moreno, suspirou e mandou que as fileiras ficassem ordenadas novamente.


They call me 'hell'
They call me 'Stacey'
They call me 'her'
They call me 'Jane'
That's not my name!
That's not my name!
That's not my name!
That's not my name!


***


Joguei a minha bolsa no ombro e apoiei minhas costas na pilastra. Deena estava usando o bebedouro e Parvati terminara de se arrumar. Dali, para o almoço. Aquela aula foi totalmente desgastante. Eu não sei como ainda estava de pé.

Meus ombros caídos, as pontas dos meus cachos molhadas e a forte vontade de uma cama, me acompanharam junto com elas para o Salão com uma pressão inigualável. Não estava com fome, era fato. Estava com sede e uma ponta de calor mesmo com a nevasca caindo lá fora.

- Mione! – Parei ao reconhecer Mc vindo a minha direção.

- Vejo vocês depois. – Murmurei para elas acelerarem seus passos. Cumprimentou-me com um beijo e sorriu.

- Essa aula será ótima! Mais preparo físico para os jogos! – Incrível, não estava cansado. – Bem que a maioria daqueles feitiços nem foram explicados teoricamente...

- Ela acha que nascemos dotados de uma inteligência absurda! – Comentei de mau gosto.

- Me lembro vagamente dela. – Lá vinham suas novelas de cavalaria. – Sempre me trazia um livro novo, era meio chato, sabe. – Apenas sorri fingindo escutar ao fundo. – Crianças normais querem receber brinquedos, – Concordava. – não livros.

- Ela era autoritária assim?

- Você achou autoritária? – Afirmei. – Para mim, ela apenas ficou agressiva porque deram motivos. Principalmente o exibido do Potter... – Minha expressão mudou.

Cuspiu as palavras com um enojamento como nunca tinha ouvido antes.

- Ele tem que fazer de tudo para aparecer, já não basta carregar aquela cicatriz idiota na testa! – Falava como um Sonserino, como um oponente a altura de Harry.

- Pensei que fossem amigos.

- O Potter não procura amigos, – Não tenho certeza. – o Potter procura seguidores.

- Você acha que, todo esse tempo, eu fui uma apenas uma seguidora dele? - Apontei para o meu peito.

- Você é uma exceção. – Ainda estava naquele jeitinho enojado. – O Weasley é praticamente uma marionete.

Sabe quando a resposta está para sair mas a coragem lhe falta? Engoli meus ressentimentos e suspirei emudecendo. Passou a mão pelo meu ombro e eu pela sua cintura, caminhamos para o jardim em poucas palavras e caricias. Percebeu que eu fiquei um pouco mudada depois do que disse, e quem não ficaria?

Dizia-se amigo de todos, mas sempre que tinha uma oportunidade, começava a alfinetar. Tenho medo do que ele fala sobre mim quando não estou perto.








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