Se Ela Tivesse Assas




Capítulo XXVIII


Se Ela Tivesse Asas


 


 


Tudo estava acontecendo de um modo tão rápido que qualquer pessoa não acompanharia. Minha cabeça dava giros, pensando em tudo ao mesmo tempo. No colar que apareceu, na revolta do Ministério, na possibilidade de Harry não estar mais aqui para contar história...


 


Era tanta coisa absurda que estava quase jogando tudo para o ar e seguindo minha vida tranqüilamente. Paramos atrás de uma estátua, na frente do Salão Comunal onde a maioria das pessoas que vieram estavam concentradas. Pude reconhecer vários aurores, secretários, até mesmo o Ministro na Magia, que estava agitado e muito irritado, andando de um lado para o outro, a espera de Dumbledore, possivelmente.


 


Tentávamos ver quem mais estava por lá, mas tínhamos que ser discretos. Claro, meu vestido dourado é muito discreto...!


 


Naquele instante, Dumbledore apareceu, junto com Minerva, Snape e mais alguns professores.


 


- Rufus, o que está acontecendo aqui? - Perguntou o velho cheio de raiva.


 


- O Ministério está fazendo uma revista na sua escola, Alvo.


 


- Com que propósito?


 


- Segundo o processo número 3159.753, aberto em 3 de janeiro deste ano, por Rufo Scrimgeour, atual Ministro da Magia de Londres, Inglaterra, parágrafo um: Os Aurores do Ministério da Magia de Londres, Nifadora Tonks e Remo Lupin, estão sendo investigados pelo uso incorreto da magia. Abrange objetos de magia negra e omissão de fatos relevantes ao próprio Ministério. - Leu Shacklebolt em um pedaço grande de pergaminho.


 


- E o que isso tem a ver com Hogwarts, Ministro? - Perguntou Dumbledore finalmente.


 


- Merda... - Soltei arregalando os olhos lentamente para aquela cena.


 


- É meu dia de sorte! - Uma voz mofada gritou atrás de nós nos empurrando para frente. - Professor Dumbledore, esses delinqüentes estão fora da cama com a sua ordem expressa para- -


 


- Senhorita Granger, - - Começou Dumbledore. - a senhorita sabe de alguma coisa?


 


Sabe quando a atenção vira exatamente para você? Quando você espera que outra pessoa seja o ponto de atenção, e de repente, todos estão interessados no que você tem a dizer? É estranho, eu sei.


 


- O que eles estão fazendo aqui, professor? - Perguntou Harry ficando a minha frente.


 


- Se acalme, Harry.


 


- Potter, não se meta nesses assuntos.


 


Harry apertou os punhos, segurei em seu braço e o trouxe para trás com um pouco de força, depois sendo ajudada por Ron e Gina.


 


- Professor, se eles estão procurando o- -


 


- Não fale nada, Granger! - Ouvi a voz de Moody aparecer ao fundo. - Saiam todos da frente! - Gritou aparecendo a nossa esquerda.


 


- Oras! - Rufo bufou. - Alastor, eu pensei que tinha dado um jeito em você e sua arrogância!


 


Nunca tinha ouvido o Ministro falar desse jeito.


 


- Não fale mais nada, Granger! Não se complique mais! - Disse entre os dentes segurando nos meus dois ombros. - Ela só falará sob julgamento.


 


- Sob O QUÊ? - Gritei assustada.


 


- Calem-se! - Pediu Dumbledore nervoso. - Os quatro, Ministro, Alastor, vamos a minha sala, há muita gente aqui. - Jogou um olhar sobre todos nós pegando o caminho para sua sala.


 


- Hermione, no que você meteu? - Perguntou Ron num sussurro perto do meu ouvido.


 


- Na pior encrenca da minha vida.


 


***



Na sala de Dumbledore, uma grande mesa oval com dez cadeiras aproximadamente, apareceu enquanto entrávamos. O bruxo cacique mandou que sentássemos, o Ministro não calava a boca, dizia coisas que nem prestávamos mais atenção. Sentando eu, Harry, Ron e Gina, a frente de Dumbledore, ao lado de Moody e o Ministro. Logo depois, Minerva e Snape fizeram companhia.


 


Eu estava completamente tensa, torcia os dedos, mordia os lábios, ajeitava o vestido, coçava a cabeça, não ficava quieta um minuto só. Harry era outro, queria falar mas Dumbledore lançava-lhe um olhar mortal e ele quietava. Várias vezes isso aconteceu, até que um pedido fez-se silêncio.


 


- Eu não entendo a presença desses alunos nessa sala, Alvo. - Disse com desprezo.


 


- Eu não entendo a presença dele nessa sala. - Soltei cruzando os braços.


 


- Senhorita Granger, menos. - Disse Minerva.


 


- Releve, Minerva. - Brandou Dumbledore. - Eles acabaram de sair de uma festa, creio eu. Estão cansados, um pouco 'altos'...


 


Encolhemos os ombros.


 


- Esse é o menor problema de vocês. - Aquela frase me fez gelar a espinha. - Eles serão de grande ajuda, Rufo.


 


- Eles são de confiança?


 


- Eles são apenas crianças, Rufo, por favor. - Disse Dumbledore parecendo estar farto.


 


O Ministro bufou, torceu os dedos e cedeu.


 


- O Ministério veio com um só motivo a essa escola, Alvo. Temos suspeitas de envolvimentos de alunos com magia das trevas, que causou a morte do David Scott e de mais alguns trouxas por Londres. - Ron e Gina ficaram com os olhos arregalados, olharam para mim e para Harry, o moreno soltou um 'depois te explico' e tentaram se acalmar.


 


- O pingente sumiu da minha sala no ano passado, nunca mais o vi, não sei o porquê desse mistério todo.


 


- Por que invadiram a escola a noite? Sem nenhum aviso?! - Perguntou Minerva. - Vocês poderiam causar pânico entre os alunos, eles não tem nada a ver com isso.


 


- Creio que eles não são o que parecem ser. - Olhou para nós.


 


- Está insinuando o quê?


 


- Nifadora e Remo, dois dos meus melhores Aurores, membros daquela Ordem da Fênix...! - Deu uma risada óbvia. - Ainda não sei porque não fechei aquela coisa!


 


- A Ordem é a responsável pela captura de mais da metade dos bruxos das trevas que o Ministério faz. - Soltou Harry num tom nervoso. - Eles são mais competentes do que seus 'capangas'.


 


- Harry, se acalme. - Pediu Dumbledore.


 


- Oras, Alvo! Vai deixar esse moleque insultar o Ministério?! - Quase levantou.


 


- Não viemos aqui para brigar! - Interviu Minerva. - Senhor Potter, controle-se. - Harry estedeu o punho fechado na mesa, encostando-se totalmente naquela cadeira.


 


- Fica calmo que a coisa ainda nem ferveu... - Sussurrei me inclinando para ele.


 


- O Ministério tem nomes?


 


- Nem Ninfadora, nem Lupin disseram. - Engoli seco. - Nós nunca usamos de interrogatório, eles sempre soltam depois do terceiro dia isolados. - Apertei os punhos por debaixo da mesa.


 


- Mas eles estão bem? - Perguntou Minerva parecendo preocupada.


 


- Um pouco mais magros do que costume.


 


- Como vocês podem? - Soltei até sem perceber.


 


- Eles sabem de mais, Senhorita, eles precisam contar ao Ministério.


 


- Para vocês fazerem o que? Invadirem uma escola a noite sem ter nenhum fundamento das suas 'teorias'? - Tinha um tom irônico na ponta da língua.


 


- O que fazemos ou deixamos de fazer não é da sua conta, Senhorita. - Fechei os punhos ainda mais, cravando as unhas nas palmas da mão.


 


- Ninguém sabe se esse pingente é ou não perigoso. - Concluiu Snape.


 


- Tudo indica que é. - Por que ele tinha todas as respostas prontas?!


 


- Ele não some desse jeito, tem que haver alguma ligação humana. - Disse Dumbledore. - Alguma ligação daqui da escola, quem sabe. O senhor tem alguma suspeita?


 


O Ministro torceu os dedos molhando os velhos lábios e piscando os pequenos olhos algumas vezes. As sobrancelhas grossas ficaram serrada e logo olhou para a pessoa ao meu lado.


 


- Harry Potter. - Meus olhos cresceram.


 


- Eu não tenho nada a ver com isso! - Soltou apontando para o próprio peito. - Por que acham que sou eu?!


 


- Por que você está metido em tudo. - Soltou Ron olhando para a mesa.


 


- Obrigado, Ronald...! - Suspirou irritado. - Eu nem sei do que vocês estão falando! Professor!


 


- Calma, Harry. - Fez um gesto com e mão. - Rufo, Harry me conta tudo o que acontece, ele também tem feito aulas de Oclumência comigo, eu saberia se ele estivesse envolvido.


 


- O Potter sumiu durante uma semana.


 


- Fui resolver assuntos do meu padrinho, Dumbledore sabe disso. - Disse prontamente ainda mais nervoso.


 


- Hagrid também sumiu com ele!


 


- Ele me ajudou. - Respondia rapidamente, antes que destilasse ainda mais seu veneno.


 


- Um Professor e guarda costa de Hogwarts some com um aluno que, como seu amigo disse, sempre está metido em tudo!


 


Droga, por que eu não consigo dizer nada?!


 


- Você devia ficar agradecido, Rufo, - - Começou Moody. - pela primeira vez, não tem nenhuma ligação com Harry Potter, pare de pressionar o menino.


 


- Ele tem razão, Rufo, tudo que acontece nesse mundo, tem alguma ligação com ele, é a primeira vez que Harry Potter não é mencionado. - Concluiu Dumbledore.


 


- Temos que achar o culpado por esses crimes!


 


- Não acuse pessoas disso. - Corrigiu Minerva. - Vários artefatos das trevas causam a morte de pessoas diretamente. Não precisa de um assassino humano.


 


- A causa da morte de David Scott foi a maldição Cruciatus. Uma pedra não é capaz de pronunciar, nem ao menos realizar essa maldição.


 


Meu coração deu um salto. Aquelas foram as palavras mais belas que saiu da boca daquele velho. Ele tirou o peso das minhas costas, livrou o mal que me perseguia a noite.


 


- Então, por que quer encontrar quem trouxe essa pedra para cá? - Perguntou Minerva.


 


- Essa pessoa pode ser uma aliada das trevas. - Rolei os olhos.


 


- Fracamente... - Soltei cruzando os braços.


 


- Alguma coisa a acrescentar, senhorita Granger?


 


- Eu acho- -


 


- Não acha nada, Granger! - O clima ficou tenso, muito, muito tenso.


 


- O que você não quer que a Granger fale, Alastor? - Perguntou Scrimgeour.


 


Todos miraram seus olhos nele e depois em mim. Minhas mãos voltaram a suar e meu coração bater bem forte.


 


- Você sabe de algo que eu não sei? - Scrimgeour levantou uma sobrancelha e o encarou longamente. - Você também faz parte da Ordem, você está diretamente ligado a Ninfadora e ao Remo, você pode saber também!


 


Senti que Moody ia explodir naquele momento. Serrou os pulso em cima da mesa e deu um murro assustando todos.


 


- O que você faz com eles é covardia!


 


- Eles são meus empregados! Eles são empregados da Nação Bruxa!


 


- Não apele pra Nação Bruxa! - Disse quase explodindo apontando para o velho.


 


Moody, como todos ali, éramos panelas de pressão. Ele, já estava saturado.


 


- Então, me fale quem é, Moody! Me fale! - Gritou.


 


- Se você fosse capaz, você descobriria! - Levantou-se.


 


- Alastor, se acalme. - Pediu Dumbledore.


 


- E as suas contantes visitas a Hogwarts? Presumo que não seja para falar com Dumbledore! - Droga.


 


- Visitas a Hogwarts? - Perguntou Snape virando-se para Moody.


 


O seu olho girou por completo, bufou e sentou-se novamente.


 


- Vamos, Alastor! Assim você não está colaborando! - Bateu na mesa mais uma vez. - Você não está vendo que pessoas como você só vai fazer esses idiotas acabem matando massas e massas! Hoje pode ser um aluno, amanhã um professor, depois uma chacina sem tamanho...!


 


- E quem te garante que o dono desse colar foi quem matou David Scott? - Perguntou Minerva.


 


- Não garanto nada. Pode ter sido os mesmo que mataram os pais da Granger.


 


Ele não falou isso. Ele não falou, não falou, não falou, não falou...


 


- O que?! - Soltou Harry me encarando com puro horror. Gina levou as duas mãos a boca e Ron quase se levantou.


 


Eu abaixei a cabeça e a apoiei numa das mãos.


 


- Você não contou a ninguém? - Perguntou confuso.


 


Fechei os pulsos e suspirei.


 


- Seu velho maldito, a minha vontade era te mandar para o inferno, sabia?! - As últimas palavras saíram gritando deixando todas aquelas pessoas assustadas.


 


- Seus pais estão- - Perguntou Minerva.


 


- Você não contou a ninguém mesmo?!


 


Levantei-me deixando as lágrimas escorrerem.


 


- CALA A SUA BOCA, SEU IDIOTA! - Harry segurou no meu pulso, impedindo que eu fosse embora. - ME LARGA, HARRY! AQUELE FILHO DA MÃE CONSEGUE ACABAR COM A VIDA DE QUALQUER PESSOA! - Gritei apontando para ele.


 


Harry se levantou e me olhou nos olhos.


 


- Fica, - Sussurrou. - vamos acabar com isso.


 


Eu não pude negar que fiquei realmente muito abalada com as poucas palavras de Harry, afinal, ele queria que eu ficasse ali, sofrendo em silêncio, enquanto ouvi as pessoas debaterem sobre o meu futuro.


 


- Senhorita Hermione, Tonks me falou que seus pais estavam em Congresso de Dentistas, me trouxe um documento assinado por eles! - Começou Minerva.


 


- Por favor, McGonagall...! - Soltei caindo nos ombros. - Você acha mesmo que falsificar um documento é difícil nos dias de hoje?! - Disse me apoiando na cadeira suspirando fundo e deixando as lágrimas caírem. - Eu não queria que ninguém soubesse, eu os envolvi nisso, não os culpe de eu querer guardar um 'segredo'.


 


- Você devia ter falado, Mione! - Soltou Ron.


 


- Então, o assunto aqui não sou eu e sim essa merda desse Aimer.


 


Voltei a me sentar. Um silêncio e o espanto de alguns deixou a dúvida pairar no ar.


 


- Espera, - fechei os olhos lentamente. - como você sabe o nome dele? - Perguntou Snape.


 


- Dumbledore me explicou uma vez, professor. - Eu estava completamente nervosa, responderia tudo na maior grosseria, sem me importar com nada. - Então, podem continuar. - Fiquei com os olhos fixos na mesa, tentando esclarecer a minha cabeça.


 


Incrível. Esse não foi um jeito que eu sonhei para contar isso a Harry, Ron e Gina. Eu queria ter contado, não um verme idiota que eu tenho nada mais do que ódio. É um assunto sério, delicado e pessoal. Aparece um velho numa vassoura e estraga com tudo! INCRÍVEL!


 


Por que as coisas insistem em acontecer desse jeito, por que eu ainda não acordei para vida?!


 


- Enfim, como eu ia dizendo, vários trouxas já morreram- -


 


- Lúcio e Narcisa Malfoy mataram meus pais. - Disse lentamente, com todo ódio que tinha dentro do meu coração. No final, ergui os olhos para aquele velho. - Não foi colar nenhum.


 


- Como a senhorita sabe, senhorita Hermione? - Perguntou Dumbledore.


 


- Namorar Draco Malfoy serviu para alguma coisa, não? - Ironizei apertando os punhos.


 


- Bom- - Limpou a garganta.- isso muda algumas coisas.



- Pelo amor de Merlin! Caiam na real! Aquela merda de colar não mata ninguém!


 


- Você sabe mais do que imaginamos, Senhorita. - Se aquele velho abrir a boca mais uma vez, eu não respondo pelos meus atos.


 


- Mas ainda não sabemos quem o trouxe para cá. - Disse Minerva.


 


Eu já estava ferrada mesmo, não é?!


 


- Eu trouxe. - Todos viraram instantaneamente os olhares para mim. - Estão satisfeitos?!


 


- Pelo Amor de Merlin, Granger! Você só pode estar pirada...!


 


- Como você- -


 


- O colar foi encontrado junto ao corpo da minha mãe. Tonks e Lupin pegaram o caso no mundo bruxo. Os policiais londrinos me disseram que tinha sido assalto a mão armada. - Dei uma risada óbvia enchendo os olhos de lágrimas. - Eles deviam ter achado uma desculpa melhor...!


 


- O que isso tem a ver com o que estamos dis- - Naquele momento, saquei a varinha, pronunciei um feitiço mentalmente e colei seus lábios, impedindo que ele continuasse a falar. Harry, Ron e Moody riram, Gina e McGonagall ficaram assustadas e Snape e Dumbledore nada fizeram. Ele gemia e tentava descolar os lábios.


 


- Não me interrompa mais, você já ferrou com a minha vida o bastante, fique quieto.


 


- Bom, - Dumbledore suspirou. - se você não fizesse, eu faria. Continue, Hermione, posso te chamar assim? - Concordei.


 


- Tonks me entregou uma caixa, já quando estava em Hogwarts, o colar estava dentro dela. Tinha uma carta dela dizendo o que era aquele colar e pediu que eu pesquisasse mais. - Suspirei. - Eu o usei, depois que descobri pra que servia. Eu o usei com David Scott, queria que ele me convidasse para o baile, e aconteceu. Ele morreu duas semanas depois. - Deixei uma lágrima cair. - Eu penava que era culpa do colar, mas agora- - Solucei. - eu sei que eu não sou totalmente culpada...!


 


- E o colar apareceu novamente?


 


- No pescoço da Meg Rowan. - Respondeu Gina. - Ela estava usando hoje a noite.


 


- Mas ela vem usando antes, eu reparei. - Soltou Harry. - Ela usou para me conquistar.


 


- E como ela teve acesso a esse colar? - Perguntou confuso a nós.


 


- Ele aparecia e sumia, várias vezes. Eu o peguei e o selei com o Selo Inominável. - McGonagall ficou surpresa.


 


- Como sabe fazer esse feitiço?


 


- Eu posso ter ficado rebelde, mas eu era a menina mais inteligente dessa escola. - Soltei num meio sorriso.


 


- Então, você roubou ele da minha sala? - Chegamos a pior parte.


 


- Tecnicamente.


 


- Tecnicamente? - Repetiu Snape.


 


- Tonks, Moody e Lupin pediram que eu o pegasse. Usei Marcos Belby, como ele sabia a senha e tinha acesso livre a sua sala, foi fácil. - Mordi os lábios. - O senhor está bravo? - Ele me encarou longamente e abriu um pequeno sorriso.


 


- Como posso ficar bravo com uma menina de dezessete anos que conseguiu me enganar por tanto tempo? - Riu.


 


- Isso era motivo para ficar bravo. - O corrigi.


 


- Guardar esse tipo de segredo é uma virtude, é quase um dom. Você sofreu em silêncio esse tempo todo, Hermione. - Dumbledore sabia dizer as coisas certas nas horas certas.


 


O Ministro livrou-se do feitiço e levantou-se apontando para mim, nisso derrubou uma cadeira e esbarrou a grande barriga na mesa, fazendo um grande barulho.


 


- Sua insolente!


 


- Oh, por favor, olha o papelão que você está fazendo! - Harry e Ron riram.


 


- Pode ter certeza que você vai ser, no mínimo, expulsa dessa escola, Granger! - Esbravejou.


 


- Ela não será expulsa se depender de mim, Rufo. - Disse Dumbledore se levantando também.


 


- Ela irá passar por um processo, ela, Ninfadora, Remo e meu querido amigo Alastor! - Disse num tom repulsivo.


 


- Eu serei seu advogado. - Dumbledore estava me ajudando ao máximo.


 


O Ministro ficou sem palavras, olhava para mim com extremo desprezo, queria explodir minha cabeça ali. Eu sou a pedra que entrou em seu sapato e não sairá tão fácil de lá.


 


- Onde está o colar, Hermione? - perguntou Dumbledore.


 


- No meu quarto.


 


- Pode ir pegá-lo? - Concordei.


 


Saí sem querer ser seguida por ninguém.


 


***


 


Entrei no quarto batendo a porta com força. Eles podem esperar mais um pouco. Procurei Bichento pelo quarto e não o encontrei, deve ter saído para caçar ratos novamente.


 


Hermione, Hermione, Hermione... Agora, você estava mesmo muito ferrada. Papai e Mamãe devem estar adorando isso! Estou sendo punida pelas vezes que matei aula, não tirei os sapatos para pular na cama, transei antes do casamento... Incrível!


 


Passei a mão na testa e andei de um lado para o outro. Meus pés nem sentiam mais a dor que estava antes, me acostumei em cima daquele salto. Abri o guarda roupa e procurei a caixa, mas ela não estava lá. Olhei pelo quarto inteiro no mesmo lugar, arranquei todas as roupas as tacando no chão, em cima da cama, arranquei toda as gavetas e nada.


 


Fui até a comoda, tirei todas as gavetas e virei as roupas no chão. Abri o armário do banheiro, a escrivaninha, olhei debaixo da cama quase tirando o colchão do local.


 


Meu Merlin! Não pode estar acontecendo isso!


 


Olhei mais uma vez em todos os lugares, comecei a xingar por maldição. Ele não pode ter sumido, ele não pode ter sumido.


 


Corri para fora do quarto, até a sala de Dumbledore novamente.


 


- E então? - Perguntou o professor. Todos ainda estavam lá.


 


- Ele sumiu.


 


Os olhos do Ministro cresceram.


 


- Ele não pode sumir desse jeito, Granger! - Pegou nos braços braços e me sacudiu. Harry tomou a minha frente encarou mortalmente aquele velho.


 


- Não toque nela.


 


- A Senhorita procurou direito? - Perguntou McGonagall.


 


- Procurei! Revirei todo aquele quarto, Gina estava de prova, eu o coloquei dentro do armário e o tranquei! A chave eu tinha deixado- - Parei um instante. - Ele estava aberto.


 


- Onde a senhorita tinha deixado a chave?


 


- Eu, normalmente, a coloco dentro do pingente do Bichento. - Dumbledore ficou estático. Andou pela sua sala e foi até sua mesa, procurou um pedaço de pergaminho. Leu rapidamente e suspirou.


 


- Hermione, estranhou a falta do seu gato ultimamente? - Eu dei uma pequena risada e concordei. - Há quanto tempo você o tem? - Olhei Harry e Ron tentando lembrar.


 


- Desdo meu terceiro ano. O que meu gato tem a ver com isso? - Perguntei confusa.


 


- Bichento é um animago? - Perguntou Ron no mesmo instante.


 


- Ou alguém está se passando por ele.


 


- Você contava as coisas que aconteciam entre você e o Harry pra Meg? - Perguntou Gina.


 


- Lógico que não, por que?


 


- Coisas que aconteciam entre a gente?! - Perguntou confuso ficando totalmente vermelho.


 


- Ela sabia de mais, Hermione.


 


As coisas estavam começando a se encaixar.


 


- Meg era o Bichento?! - Perguntei completamente confusa. - Não! Impossível! Meu gato é um gato comum!


 


- Ela não era totalmente ele. - Corrigiu Dumbledore. - O colar sumia constantes vezes, não é?


 


- Sim, mas-


 


- E você notava a falta do seu gato nessas ocasiões?


 


- Às vezes.


 


Dumbledore se aproximou de nós novamente.


 


- Hermione, creio que a sua amiga tem trocado de lugar com seu gato.


 


- Que horror... - Soltou Gina levando uma mão a boca. Nem tinha o que falar.


 


- Era assim que o colar sumia das suas coisas, também era assim, creio eu pelo o que entendi, que a senhorita Weasley sabia do- -


 


- Ok, entendi! - Não deixei ele terminar a frase. - Mas por que ela faria isso?!


 


- Ela pode ter fugido, Alvo.


 


- Rufo, mande todos os seus Aurores procurem nas redondezas do castelo qualquer pessoa suspeita e um gato laranja. - Ele não questionou, saiu de lá rapidamente. - Minerva, os professores estarão encarregados de vasculhar os quartos, principalmente da Grifinória que é aonde ela tem acesso.


 


- Ela está transformada, Alvo, ela pode muito bem já ter escapado.


 


- Não custa tentar. - Minerva, Snape e Moody saíram em disparada. - E vocês, duvido muito que conseguirei puni-los por essa festa, já que, há muito mais pessoas envolvidas. Vou dar um desconto a vocês, só porque muita coisa aconteceu hoje aqui, então, estão liberados. Depois, quero conversar com você, Hermione. - Concordei e saímos da sala.


 


O silêncio aconteceu até o último degrau daquela escada em caracol.


 


 









Trouble is her only friend


Problema é seu único amigo


 


And he's back again.


E ele está de volta novamente.


 


Makes her body older than it really is.


Faz o corpo dela mais velho do que realmente é.


 


She says it's high time she went away,


Ela diz que está mais do que na hora dela ter ido embora,


 


No one's got much to say in this town.


Ninguém tem muito a dizer nesta cidade.


 


Trouble is the only way is down.


Problema é o único caminho para baixo.


 


Down, down.


Para baixo, para baixo.


 


 


- Não podemos sair porque todos os aurores de Londres estão no jardim da nossa escola, também, dormir não iremos tão cedo pois todos os professores estão revirando nossas camas atrás de um gato... - Concluiu Ron abrindo alguns botões da sua camisa e tirando seu terno.


 


- Sinto muito, Hermione, eu não sabia. - Disse Gina colocando uma das mãos em meu ombro começando a pegar um caminho sem rumo. - Por isso que você não foi no casamento do Gui, e eu ainda achei que você não ia porque preferia ficar estudando...! - Estava com um tom triste na voz.


 


- Relaxa.. - Disse pegando em sua mão. - Só não quero que vocês sintam pena de mim.


 


- Não iremos sentir. - Soltou Ron indo do outro lado e me dando um abraço torto. - Então, por isso que você ficou desse jeito?


 


- Também. - Sorri maliciosamente.


 


- Está morando com quem? - Perguntou Ginny.


 


- Com a minha tia Josefinne, perto da estação. Foi ela que deu um empurrão final para esse produto que estão vendo. - Coloquei as duas mãos na cintura de Ron e Gina, ainda naqueles passos um pouco tortos e sem destino.


 


- Eu nunca ia suspeitar.


 


- Ninguém suspeitou, Tony era o único que sabia, também, só soube porque encontrou na minha mente e descobriu.


 


- E esse colar, então?! Eu ainda não acredito que David Scott morreu! - Soltou Gina incrédula.


 


- É uma história longa, vocês demorariam para entender.


 


- Quem mais sabe?


 


- Harry, eu, Tony e o Draco. Você também era para saber, Ginny, mas resolveu tomar a poção de esquecimento.


 


Um breve silêncio para todas as informações serem absorvidas.


 


- Eu estou com fome, e vocês?


 


- Eu também. - Respondeu Gina. - Vamos, Ron? - Disse pegando no braço do irmão e o arrastando longe de Harry e eu.


 


O silêncio era parte integrante daquela caminhada, ficou ao meu lado com as mãos nos bolsos da calça, já tinha arregaçado as mangas da sua camisa e afrouxado a gravata.


 


 


As strong as you are,


Tão forte quanto você é,


 


Tender you go.


Sensível você vai.


 


I'm watching you breathing


Eu estou vendo você respirando


 


For the last time.


Pela última vez.


 


A song for your heart,


Uma canção para o seu coração,


 


But when it is quiet,


Mas quando ele está silencioso,


 


I know what it means


Eu sei o que significa


 


And I'll carry you home


E eu o levarei para casa


 


I'll carry you home


Eu o levarei para casa.


 


 


- Entendo seu lado agora. - Engoli uma laranja. - Quando você falava que eu não sabia de nada, que nada do que estava acontecendo era da minha conta, você estava enganado.


 


- Você devia ter contado. - Disse rudemente.


 


- Ah, lógico...! E todos passaria a mão na minha cabeça e diriam que eu sofri de mais, 'vamos poupá-la do pior'! - Rolei os olhos.


 


- Eu não faria isso.


 


- Você não é a maioria, Harry.


 


- Você poderia ter me contado naquele dia que nos encontramos no Beco Diagonal.


 


- Eu fiz uma escolha, eu queria sofrer em silêncio, Ok?! O herói órfão aqui é você, não eu. - Me encarou por alguns segundos e suspirou parando numa janela.


 


- E esse era seu motivo? - Fui até seu lado, olhando a paisagem como ele.


 


- Yeah. - Apoiei-me e fiquei com os olhos grudados lá em baixo. - E aí, você vai me dizer qual é seu segredo?


 


- É mais complicado do que você imagina. - Riu e se apoiou ao meu lado.


 


- Cara, mas complicado do que tudo que você ouviu hoje, impossível.


 


Harry estava com uma expressão serena. Eu me assustei por ainda não ter derramado nenhuma lágrima, eu fiquei realmente muito assutada com o que aconteceu nessas últimas horas, mas não podia domar o tempo. Se ele quisesse tomar essa velocidade, que tome.


 


 


If she had wings she would fly away,


Se ela tivesse asas ela voaria para longe,


 


And another day God will give her some.


E num outro dia Deus a daria algum.


 


Trouble is the only way is down.


Problema é o único caminho para baixo.


 


Down, down.


Para baixo, para baixo.


 


 


- Se eu te dissesse- - Virei meu rosto para ele. - que eu não consigo viver longe de você?


 


Abri um mero sorriso e voltei a olhar a paisagem a noite.


 


- Que sou obrigado a viver longe de você, e isso está me matando aos poucos?


 


É, não consegui me segurar por muito tempo. Deixei uma lágrima escorrer e logo depois ele a enxugou, com a ponta do seu dedo. Sua mão estava gelada, mas um gelado tão gostoso.


 


- Eu tentei de contar várias vezes... - Soltei me virando para ele, apoiando um braço na janela e o outro limpava as lágrimas. - Sempre acontecia alguma coisa que impedia...


 


- Eu sentia que você queria contar, eu sentia que você estava sofrendo, mas nada parecido com isso passou pela minha cabeça. - Virou-se para mim também. - Eu pensava que você tinha batido a cabeça quando rolou escada abaixo. - Rimos. - Pensei até que um cara tinha te dado um fora e você resolveu 'mudar'.


 


- Você aceita essa mudança?


 


Acariciou meu rosto com a ponta dos dedos e as costas das mãos.


 


- Aceito qualquer coisa de você. - Segurei em sua mão. - Te acho muito impulsiva, mas eu acho que irei me acostumar.


 


- Quem diria, Hermione Granger, aquele poço de sabedoria, voltava para sua cama as cinco horas da manhã, escorada nas paredes de tanto estar bêbada, pensando em qual dos namorados ia dar o fora na manhã seguinte.


 


 


As strong as you are,


Tão forte quanto você é,


 


Tender you go.


Sensível você vai.


 


I'm watching you breathing


Eu estou vendo você respirando


 


For the last time.


Pela última vez.


 


A song for your heart,


Uma canção para o seu coração,


 


But when it is quiet,


Mas quando ele está silencioso,


 


I know what it means


Eu sei o que significa


 


And I'll carry you home


E eu o levarei para casa


 


I'll carry you home


Eu o levarei para casa.


 


 


- Há mudanças que vem para o bem. - Abaixei sua mão e entrelacei seus dedos com os meus. - Só que, ainda não podemos ficar juntos...


 


- Eu nem cogitei essa possibilidade ainda. - Rimos. - Tá legal assim, uma pegação sem compromisso. - Nos aproximamos cada centímetro como se fosse único.


 


- Mas eu quero algo sério com você. - Encostou-se na minha testa.


 


- Mas desse jeito que estamos, está difícil alguma coisa séria.


 


- Você espera? - Tocamos nossos narizes.


 


E agora? O que eu respondo?


 


- Eu esperei e ainda estou esperando, só que não esperarei sentada.


 


- Não quero que espere sentada, isso pode levar um tempo. - Fechei os olhos e deixei as lágrimas caírem.


 


Acabei com a distância que havia entre nós. Grudei seus lábios nos meus colocando uma mão na sua nuca. Um beijo desejado, com ritmo, quente e sensível. Meus braços foram no seu pescoço e suas mãos na minha cintura.


 


Poderia ficar a eternidade ali, a eternidade...


 


 


And they were all born pretty in New York City lights,


E todos eles nasceram bonitos nas luzes da cidade de Nova York,


 


And someone's little girl was taken from the world tonight,


E alguém de uma garotinha foi tirada do mundo esta noite,


 


Under the Stars and Stripes.


Sob as Estrelas e Listras.

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