Aqueles que Nunca Bocejam




Capítulo XXIV



Aqueles que Nunca Bocejam




 





 


Não posso dizer que eu estou vivendo os melhores dias da minha vida porque já vive coisa melhor, mas tudo estava indo como eu queria e como eu planejava. Já estávamos na metade da semana, a melhor notícia do dia, seria que amanhã Deena já estava de volta. A pior era que amanhã tínhamos prova de Poções.


 


Tudo bem, ainda não me afetei por completo.


 


As quatro horas daquela fresca tarde de quarta-feira era embalada por carinhos que Tony fazia em mim enquanto deitava em meu colo, eu estava perdida de mais em meus pensamentos para prestar atenção em qualquer coisa. O jardim estava repleto de pessoas, nada melhor do que não fazer nada em uma tarde como essa.


 


- O que tanto pensa? - Perguntou desprendendo a minha atenção.


 


Naquele momento, Adam, Draco e Dylan passavam não muito longe dali, conversando brevemente, apenas de passagem. Incrível, apesar de tudo que aconteceu entre eu e Draco, todas as brigas, todos os beijos, parece que nada aconteceu. Nenhum olha na cara do outro, ninguém mais pensa no outro, era pelo menos isso que eu imaginava.


 


Eu fui alvo de criticas; todo mundo pensa que eu mudo de idéia como mudo de roupas. Era muito bom enquanto no mundo só cabia nós dois e mais ninguém, onde andávamos sem nos olhar e nos pegávamos quando ninguém tava nos olhando. Era tão estranho e ao mesmo tempo tão bom. Não estou fazendo apologia a nenhum tipo de adultério, mas Draco sim era aquele que eu amei e fui amada.


 


 


If all our life is but a dream, fantastic posing greed.


Se toda nossa vida não fosse mais que um sonho, fantástica pose de cobiça.


 


Then we should feed our jewellery to the sea.


Então nós deveríamos ceder nossas jóias ao mar,


 


For diamonds do appear to be.


Pois diamantes parecem ser


 


Just like broken glass to me.


Apenas cacos de vidro para mim.


 


 


- Você acha que eu mudo de idéia como mudo de roupas? - Perguntei abaixando meu olhar para ele. Ponderou, sentou-se no banco e olhou para todos ali.


 


- Um pouco. Você se 'cansa' de mais, por que pergunta? - Foi sincero.


 


- Se você estivesse na pele de Draco Malfoy, o que você faria? - Me olhou engraçado.


 


- Me comparando com ex? - Perguntou rindo.


 


- Não, apenas responda, o que você faria?


 


- Em relação a você? - Concordei. - Não olharia na sua cara mas não pararia de pensar em você até outra aparecer na minha vida.


 


- Isso é o que Draco Malfoy faria ou que todos os homens fariam?


 


- Que todos os homens fariam. Nós estamos biologicamente programados para amar uma de cada vez, não somos como as mulheres que saem com vinte de uma vez só. - Riu. - Não é uma indireta para você, não se preocupe. Você tem ex espalhados por essa escola, só nesse jardim, reconheci três!


 


- E isso me torna 'galinha'?


 


- Não, quer dizer, não porque você é minha namorada e eu não diria isso de você, e não também porque você não foi assim sempre, você veio metendo os dois pés na porta. Eu te chamaria de 'sortuda'.


 


- Obrigada. - Sorri.


 


- Mas, e aí, não sente mais nada por eles?


 


Eu podia ser totalmente sincera com Tony, mas eu tinha medo.


 


- Até que não. - O olhei. - O Draco ainda mexe um pouco, eu acho que é porque é muito recente.


 


- Ou foi esse que você realmente gostou, porque eu tenho certeza que os outros foi só pra dar uns pegas! E pelo que eu sei, o seu lance com o Malfoy tem meses! Mesmo sendo escondido.


 


- Ah, e o David também me faz parar para pensar.


 


- Cara, acredita que eu ainda não engoli a história dele ter que mudar de escola de uma hora para outra, sei lá, é estranho! E ainda levo a irmã dele junto e nem deu tempo de eu conhece ela direito, se é que você me entende... - Sentei erguendo minhas pernas e as colocando em cima do banco, apoiando meus braços e queixo em cima dos joelhos.


 


E será que ele deve saber toda a verdade? Afinal, Tony é uma das pessoas que eu mais confio depois de Harry e Ron. Não queria envolvê-lo, mas também queria me abrir um pouco com alguém que não seja o insensível do Ronald e o Harry, que já sabe de muita coisa.


 


Vamos, Hermione! Pode contar.


 


Ou é melhor esperar? Você está com ele apenas uma semana, ele pode se revelar aquilo que não é.


 


Uma semana e já te levou para cama, pensa nisso.


 


Sacudi a cabeça um pouco e o encarei longamente. O moreno olhava tudo a sua volta, com os olhos menores e um mero sorriso no lábio. Será que eu devo mesmo perturbar a sua vida com meus problemas?


 


- Sabe, eu tava precisando conversar... - Disse descendo as pernas e sentando melhor no banco.


 


- Pode falar.


 


- Pode ser lá no meu quarto? Tem muita gente aqui. - Consentiu e se levantou comigo entrelaçando seus dedos nos meus.


 


Já no quarto, sentou-se numa das poltronas e eu sentei a sua frente, na cama. Bichento roçava em sua perna e ele fazia carinho em suas orelhas.


 


 


Then she said she cant believe.


Então ela disse que não podia acreditar.


 


Genius only comes along in storms of fabled foreign tongues.


A genialidade só aparece com as tempestades de legendárias línguas estrangeiras.


 


Tripping eyes, and flooded lungs.


Olhos ágeis, e pulmões inundados.


 


Northern Downpour sends its love.


A trovoada noroeste envia seu amor.


 


 


- E se eu contasse que o mundo não é aquilo que a gente vê? - Me olhou engraçado.


 


- Tem certeza que hoje, você dormiu bem? - Ironizou.


 


- É serio.


 


- Eu ficaria abalado, por que? O mundo não é aquilo que eu vejo? - Riu.


 


- Mais ou menos. - Foi minguando seu sorriso aos poucos.


 


- E porque eu devo acreditar?


 


- Quando Voldemort apareceu e todos acusaram Harry de estar mentindo, eu lembro muito bem que você foi uma das pessoas que o apoiaram junto comigo e o Ron. - Encarou o chão alguns instantes. - Você acredita em várias coisas ao mesmo tempo.


 


- É, nisso você está certa.


 


- Quando você descobriu que meus pais morreram, eu pensei que tava ferrada, eu nem te conhecia direito e você sabe o maior segredo que tenho, nem Harry e Ron, que são meus melhores amigos sabem, e você, que chegou na minha vida do nada, sabe.


 


- Mas eu não contei para ninguém, ouviu?


 


- E não duvido disso e nunca duvidarei, amor. - Suspirei. - Por isso que eu acho que você deve saber de tudo.


 


- Tudo? - Perguntou confuso.


 


- Tudo, tudo. - Sorri levemente.


 


- Tem certeza que você deve confiar tão fielmente em mim? Se a notícia foi terrivelmente bombástica, eu posso surtar e nunca mais olhar para você. - Engraçado como sempre.


 


- Fique tranqüilo, não é tão assim. - Rimos. - Por onde quer começar?


 


- Por onde você quer começar? - Molhei os lábios e sentei mais confortavelmente na cama.


 


- Bom, como você tinha tocado no assunto, David não saiu da escola. - Me olhou confuso. - Um dia desses, um aluno foi encontrado- - Pensei um pouco. - Espera, melhor você saber do começo mesmo, senão, você não irá entender.


 


- Você quem sabe, sou todo a ouvidos.


 


Lhe contei sobre o colar, o Aimer, coisa que anda um pouco sumida, foi um pouco complicado, tive que contar toda a história dele para Tony finalmente entender. Contei de suas aparições até chegar ao ponto que mais me interessava contar.


 


 


Hey moon, please forget to fall down.


Hey Lua, por favor se esqueça de cair.


 


Hey moon, don't you go down.


Hey Lua, não venha abaixo.


 


Sugarcane in the easy morning.


Cana de açúcar, na plácida manhã.


 


Weathervanes my one and lonely.


Cata-ventos, meu único e solitário.


 


 


- Um aluno foi encontrado morto nos corredores dessa escola, era o David, e ele estava com o colar em suas mãos. - Dizer aquilo foi difícil. - Ninguém lembra, apenas eu, Harry e o Draco, Snape, que estava no controle da escola aquela semana, mandou que elfos colocassem poção esquecedora em todos os sucos. Antes, Dobby tinha me avisado ao mando de Harry para que eu não bebesse, não me pergunte como ele descobriu.


 


- Espera, - Estava sério de mais. - você está me contando que David Scott está morto?


 


- É difícil aceitar, mas é a verdade. - Ficou alguns segundos pasmo, olhando para o nada, pensando em milhares de coisas ao mesmo tempo. - E, até hoje, eu acho que a culpa é minha.


 


- Você não pode se culpar por isso! - Disse incrédulo.


 


- Esse colar tem um efeito reverso, ele pode causar danos as pessoas que ficaram perto quando você o usou. Eu o usei para conseguir ir ao baile com o David. - E uma tristeza invadiu meu coração.


 


- Assim mesmo, você não o matou, Hermione! Não é sua culpa! Você não sabia do que aquilo era capaz. - Eu não continuei para não prolongar o assunto. - E alguém sabe disso?


 


- Ninguém sabe, desconfio de Dumbledore, mas tirando isso, ninguém sabe a real causa da morte de David.


 


- Caramba... - Ficou com uma mão a boca e a outra se segurando na poltrona. - E você guardou isso para você por todo esse tempo?


 


- Pois é. - Disse num mero sorriso. - Aquele dia tinha sido um dos mais felizes da minha vida.


 


- Por que?


 


- Tinha beijado Harry pela primeira vez. - Rolou os olhos e riu.


 


- Por que mulheres levam em consideração essas datas?! - Fingi estar abalada.


 


- Você se esqueceu do nosso primeiro beijo por acaso?!


 


- Lógico que não, amor! - Riu. - Mas esse não foi o único beijo que você deu no Potter, né? - Olhei maliciosamente para ele.


 


- Eu ficava reclamando que Gina o traía, mas eu e Harry vivíamos nos pegando por aí.


 


 


The ink is running toward the page, it's chasing off the days.


A tinta escorre pela página, os dias se esvaem.


 


Look back at boat feet and that winding knee.


Olhe novamente para os pés planos e para aquele joelho curvo.


 


I missed your skin when you were east.


Eu senti falta de sua pele quando você estava no leste.


 


You clicked your heels and wished for me.


Você bateu seus calcanhares e torceu por mim.


 


Through playful lips made of yarn


É através de lábios alegres, feitos de fios,


 


that fragiled Capricorn unravelled words


que o frágil capricórnio desenreda palavras,


 


like moths upon old scarves.


como traças em velhos cachecóis.


 


I know the world's a broken bone,


Eu sei que o mundo é cheio de falhas,


 


but melt your headaches call it home.


mas dissipe suas dores de cabeça, e chame-o de casa.


 


 


Contei minha relação com Harry até aquele ponto do acordo do 'se você não me contar seu motivo, eu não lhe conto meu segredo'. Ele disse que também acha que Harry deve ter um ótimo segredo para não ficar de vez comigo.


 


- Porque eu não agüento mais ver vocês dois nessa melação sem ao menos um beijinho em público! E eu acho que metade dessa escola também não. - Ri.


 


- É, a gente as vezes exagera. Fica se odiando por aí e depois fala que se ama.


 


- Como você e o Malfoy, né? Afinal, como começou essa pegação?! - Era muito curioso.


 


Expliquei toda complicada história que havia entre eu e Draco. Desde a primeira vez no primeiro dia de aula naquele corredor, até a briga, onde dei uma atenção especial.


 


- Eu tenho medo que ele faça alguma coisa com você, com o Harry, Ron, alguma das meninas, ou até com algum parente que eu tenha por esse mundo.


 


- Você acha que ele tem essa coragem?


 


- Ele não, mas seu pai. Foram seus pais que mataram os meus. - Seus olhos cresceram. - Esse foi um dos motivos pelo qual eu terminei com ele.


 


- Nossa, isso sim é motivo. - Engoliu seco. - E ele confessou na cara dura?


 


- A gente tava quase terminando, no meio da discussão, você fala coisas sem pensar. Ele disse que já sabia, se sabia, era porque tinha alguma ligação com isso, porque eu não deixei que nem Dumbledore soubesse, para a escola, meu pai e minha mãe estão num congresso de dentistas pelo mundo, dois anos viajando. É o suficiente para eu me mandar dessa escola e nunca mais precisar ter que dar satisfações para eles. O pessoal da Ordem me ajudou a alimentar essa mentira.


 


 


Hey moon, please forget to fall down.


Hey Lua, por favor se esqueça de cair.


 


Hey moon, don't you go down.


Hey Lua, não venha abaixo.


 


Sugarcane in the easy morning.


Cana de açúcar, na plácida manhã.


 


Weathervanes my one and lonely.


Cata-ventos, meu único e solitário.


 


 


- Vejo que nunca estará sozinha.


 


- Não é bem assim. Tonks e Lupin estão presos por minha causa, eles me ajudaram a roubar o colar da Sala de Dumbledore, a esconder várias coisas do Ministério e da escola, eles estão pagando por terem me ajudado. O colar, segundo o Ministério, é um objeto das trevas. Lupin estava investigando e estudando esse colar quando ele sumiu, de repente, eles foram presos e o Ministério tem investigado esse colégio.


 


- Não pensei que você estivesse metida em assuntos desse jeito.


 


- Eu posso ser presa por causa desse maldito colar.


 


- Você só queria descobrir o que aconteceu com seus pais e de repente, acabou se metendo numa dessas.


 


- O colar estava com a minha mãe quando eles foram encontrados, o colar também estava com David quando ele foi encontrado morto.


 


- Alguém pode ter usado na presença da sua mãe. - Ergui uma sobrancelha.


 


- Nunca pensei por esse lado. Mas quem? Meus pais não tinham contato com bruxos, apenas eu.


 


Confabulamos como nos velhos tempos que eu, Harry e Ron sentávamos em frente aquela lareira e ficávamos conversando sobre tudo que podia tirar nosso sono. Olhei no relógio e vi que já estava na hora do jantar, conversamos um bocado, tinha que confessar, mas foi melhor, me senti mais leve, mais tranqüila.


 


 


You are at the top of my lungs.


Você é o que mais me importa.


 


Drawn to the ones who never yawn.


Destinada àqueles que nunca bocejam.


 


 


***


 


Depois de jantar, soube que teria uma festa – passa um tempão sem festas, quando voltam, voltam todas de uma vez só – eu não sabia que estava organizando mas estava aberta a todos aqueles do sétimo e sexto ano. Seria sábado, na Sala Precisa.


 


Parvati, Anne, Sarah e eu conversávamos sobre essa festa e mais um trilhão de coisas que poderiam nos interessar. Estávamos até pensando em dar uma pequena recepção aqui no quarto mesmo para Deena, que chegaria amanhã.


 


- A Meg tá tão estranha...


 


- Por que? - Perguntei.


 


- Cara, ela some do nada, ela combinou de estudar com a gente hoje a tarde e sumiu, sem dar explicações e até agora não voltou. - Explicou Sarah.


 


- Ela anda meio sumida mesmo, faz muito tempo que eu não converso com ela.


 


- Será que ela tá namorando? - Soltou Anne e nós rimos no mesmo momento.


 


- A Meg tá mais pra pegadora. - Comentei ainda rindo.


 


- Ficaram sabendo? Gina terminou com o Harry.


 


- Foi ele que terminou com ela. - Corrigi.


 


- E como você sabe disso? - Perguntou Parvati se virando para mim.


 


- Ele me falou...?! - Ironizei meneando com a cabeça.


 


- Vocês estão bem, não é?


 


Olhei aquela loira erguendo uma das minhas sobrancelha.


 


- Bem como? - Perguntei.


 


- Bem, antes os dois se odiavam.


 


- É, estamos bem. - Sorri sem graça.


 


Elas trocaram olhares cúmplices e voltamos a falar de qualquer outro assunto que não fosse eu e minha vida social.


 


***


 


Sexta feira a noite, me encontrei com Tony fora do castelo, íamos dar uma volta pelo lago, conversar, quem sabe encontrar alguma criatura assustadora, foi o que disse quando tomávamos o caminho naquela escuridão. Só não estava mais escuro por causa da lua minguante que se formara no céu estrelado, uma das noites mais bonitas dos últimos dias.


 


Ele me contava algumas teorias malucas que nutria nesse últimos tempos, sempre me arrancava alguma risada. Os assuntos foram vários até sentarmos às margens daquele lago, em cima de um tronco velho e caído.


 


- Eu ainda acho muita coragem sua me contar tudo aquilo.


 


- Eu tinha que contar para alguém, se eu ficasse guardando tudo aquilo, explodiria. - Encarei o lago.


 


A lua refletia naquela água pouco movimentada. As estrelas pareciam que brilhavam ainda mais, vento quase não tinha, deixando a noite agradável.


 


- E você? - Virei meu rosto ao encontro do seu. - Não tem nada de bombástico para me contar?


 


Ele pensou um pouco, fez caras engraçadas e encarou o lago.


 


- Você não tem recebido mais aqueles bilhetes, não é?


 


- Graças a Deus, não! - Suspirei. - Acredita que até hoje eu não sei quem mandou?!


 


Tony fez uma careta e ficou me olhando. Molhou os lábios e abriu a boca tentando dizer alguma coisa. Fez uma expressão culpada e meus olhos se arregalaram.


 


- Foi você? - Perguntei incrédula.


 


- Sabe o que é- -


 


- Por que você não me disse logo?! - Levantei-me totalmente irritada. - Eu nunca gostei desses malditos bilhetes! Quase acusei um cara que não tinha nada a ver! - Passei uma das mãos na testa até ele se levantar.


 


- Hermione, eu sempre fui apaixonado por você! Só que sempre que eu ia tentar alguma coisa, você vinha me dizer que tava com outro, ou tinha acabado de dar um pé na bunda e queria um tempo para si mesma! Eu nunca achava um momento certo!


 


- E então, por isso, você ficava me mandando milhões de Pássaros no café da manhã?! Você acha isso engraçado?!


 


- Acho romântico. - Ergueu uma sobrancelha. Suspirei, passei a mão novamente na testa e o encarei. - Pensa pelo lado positivo, poderia ser um maníaco sexual que ronda a escola. - Eu não estava achando a miníma graça.


 


- Você poderia ter me contado...


 


- Assim não ia ter graça, amor! - Tentou me abraçar mas me esquivei.


 


O encarei mais uma vez, desta vez, fingindo estar completamente nervosa.


 


- Ah, você tá sedendo, fala sério! - Me pegou pela cintura e eu coloquei os braços em cima de seu pescoço. - Prometo não mandar mais nenhum.


 


- Acho bom. - Disse num meio sorriso grudando seus lábios nos meus. - Você vai a festa amanhã, não é?


 


- Ainda tem dúvidas?! - Voltamos a nos sentar. - Te pego as dez.


 


- Perfeito. - Lhe dei mais um pequeno beijo. - Vamos maneirar na bebida, Ok? Não quero ficar com a consciência pesada novamente.


 


- Nem eu. - Rimos.


 


Ficamos um momento em silêncio, encarando toda aquela paisagem bucólica.


 


- A Sarah tem se afastado de mim, ultimamente. - Olhou-me confuso.


 


- Por que?


 


- Ela é louca por você, amor. - Deu uma risada gostosa.


 


- Não sabia do meu poder de sedução! - Ironizou. - Como você sabe disso? - Rolei os olhos.


 


- Por que ela tem se afastado de mim justamente quando eu comecei com você...?!


 


- Ah, sim, mas pode deixar, eu não vou te trair. - Sorriu largamente.


 


- Disso eu tenho certeza. - Rolei os olhos mais uma vez.


 


- Que coisa mais indelicada para se dizer, amor! - Rimos enquanto ele me dava um beijo estalado na bochecha.


 


***


 


Eu podia sentir a brisa daquele lago passando entre meus cabelos, entre as peças de roupa branca que eu usava naquele momento. Estava com os pés descalços, os dedos enfiados na lama. Abri os braços e fechei os olhos num pequeno sorriso no rosto. Quando o abri, tive uma visão horrível: Hogwarts pegava fogo, a brisa fresca tinha se transformado em fumaça e um bafo abafado. Podia ouvir gritos, pedidos de socorro. Corri para longe daquela visão, corri às margens do lago, meus pés tocavam tudo que encontravam, muitas vezes os machucando.


 


A minha frente, reconhece o gigante Hagrid. Chamei pelo seu nome mais não respondeu, caiu no chão como um grande tronco de madeira, sem vida. Corri mais uma vez, para dentro da Floresta Proibida. O dia tinha se transformado em noite, lágrimas escorriam dos meus olhos e eu só queria acordar daquele pesadelo. De repente, me encontro dentro das paredes daquele castelo, tudo estava mais quente, tudo estava mais abafado. As paredes se derretiam como se fossem de cera, o fogo avançava e uma manada de pessoas procurava a saída que não havia.


 


A única pessoa normalizada, estava bem a minha frente. Estava em um vestido vermelho, com uma grande jóia – que de princípio não consegui distinguir – era Meg. Parecia andar em câmera lenta, diferente de todos que corriam a sua volta. Parei e fiquei olhando nos profundos olhos daquela garota. Quanto mais se aproximava, mas pude perceber os detalhes: ao contrário de todos, estava limpa, arrumada, maquiada, vestida para uma festa. O colar em seu pescoço, era o Aimer. Eu queria alcança-la, mas estava ainda mais distante...


 


Acordei num salto, estava ofegante e sentia uma gota de suor escorrer pelo canto do meu rosto. Felizmente – ou infelizmente – aquilo era um sonho. Mas que merda! Sentei-me na beirada da cama encarando o chão por alguns instantes, peguei meu despertador e vi que eram apenas cinco e meia da manhã daquele sábado.


 


Por que justo a Meg apareceu no meu sonho?


 


Fui até o banheiro, lavei os rosto, pensei que não teria sono suficiente para poder voltar a dormir. Acendi as luzes do quarto, vi que Bichento se mexeu desconfortavelmente naquela grande almofada roxa e logo salto para perto de mim. Sentei-me perto da janela, me ajeitando naquela poltrona macia.


 


***



- Ah, qual é, Deena?! Vamos logo! - Disse pela última vez ainda naquele dormitório e já eram quase nove e meia da noite.


 


Eu não tinha nem escolhido a roupa que eu ia e Tony passaria no meu quarto as dez. Todas nós estávamos insistindo para que Deena fosse, aliás, ela tinha que se distrair um pouco.


 


- Não estou a fim, Hermione. - Disse cansada.


 


- Se você ficar aqui, você vai pirar! - Soltou Parvati terminando de se arrumar.


 


- Podem ir vocês, eu vou ficar por aqui mesmo. - Deitou-se em sua cama e agarrou o travesseiro. - O médico disse que eu tinha que fazer repouso.


 


- Dane-se o médico! - Disse irritada. - Vamos, Deena! - Estava quase desistindo.


 


A loira sentou-se na cama, passou a mão levemente sobre a faixa que estava sobre seu pulso esquerdo e suspirou profundamente.


 


- Ok, ok! - Rolou os olhos pegando sua toalha e entrando no banheiro.


 


Eu corri para o meu quarto, afinal, tinha muita coisa o que fazer. Com parte do castelo vazia, era mais fácil pegar velocidade. Engraçado, para estudar eu não correria desse jeito.



Ao entrar no meu quarto, me assustei com a figura ao lado da minha cama. Moody estava lá, a minha espera.


 


- O que há com vocês?! Entram aqui quando bem entendem, aparecem sem avisar... - Soltei aborrecida trancando a porta atrás de mim.


 


- Trago notícias.


 


- Sério, ó mensageiro?! - Ironizei rolando os olhos e abrindo meu guarda roupa.


 


- Eu não brincaria com uma coisa tão séria, Granger.


 


- Só posso avaliar se é séria ou não, se você me contar, então, pode ir contanto que eu tenho muita coisa que fazer ainda! - Joguei para fora alguns vestidos.


 


- Tonks me mandou uma mensagem secreta, disse que o Ministério está tramando um ataque a Hogwarts. - O olhei confuso.


 


- Para a maioria das pessoas, o Ministério é o mocinho da história, por que ele atacaria aqui?!


 


- Eles já sabem desse pingente. - Ergui uma das sobrancelhas.



- Já era de se esperar.


 


- Dumbledore também. - Parei o que estava fazendo e o encarei.


 


- E como eles têm tanta certeza que está aqui?


 


- Eles não têm. - Molhei os lábios deixando mais um vestido sobre a cama.


 


- Hoje de madrugada, eu sonhei com ele. - Ouviu atentamente. - Sonhei que Hogwarts estava pegando fogo, e ele estava no pescoço de uma das minhas amigas, e ela estava intacta, diferente de tudo. O mais estranho, é que ela está cheia de segredos.


 


- Ela pode estar com ele. Já falou com ela?


 


- Lógico que não! - Voltei a procurar roupas no armário. - Ela me tacharia como louca! E se não fosse verdade?!


 


- Enfim, fique esperta, Granger. - Ajeitou sua bengala. - Dumbledore está sabendo da existência desse colar, ele está sabendo que o Ministério está atrás dele e logo, logo, saberá seu envolvimento com ele.


 


Suspirei voltando a encará-lo.


 


- E Tonks? Lupin, como estão?


 


- Até que bem, tirando os interrogatórios diários. - Foi até a janela e olhou a paisagem. - Sabe-se lá o que fazem com eles naquele lugar. - Percebi um tom de pesar em sua voz.


 


Não trocamos mais nenhuma palavra, ele aparatou e deixou o quarto vazio novamente. Droga, por que essas notícias sempre aparecem quando eu tento sair para me divertir?!


 

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