A Despedida



 Então tudo estava resolvido. Enfim, descobriram a forma animaga de Colapogge. Harry sentiu seu estômago afundar ainda mais, e de repente descobriu como estava cansado. Largou-se na poltrona, sem falar nada.
 -Eu devia ter imaginado! – exclamou Hermione com um murro que fez a mesa bambolear. – Se ele é herdeiro de Ravenclaw, ele se transforma no animal-símbolo de Corvinal! É uma relação próspera com os antepassados, assim como Tom Riddle tinha afecção por serpentes.
 -Bem, isso não ajuda muito, não é? – disse Rony desanimado, sentando-se na poltrona ao lado de Harry. – Existem milhões de águias na Grã-Bretanha.
 -Não sei se percebeu, Rony – censurou Hermione. –, mas os animagos em geral têm características em comum, em suas formas animal e humana. Veja Rita Skeeter, por exemplo – adicionou com a voz embrenhada.
 -O quê tem Skeeter? – indagou Harry.
 -Não sei se repararam na cara de besouro dela, mas havia dois contornos em volta dos óculos. E isso é conseqüência dos óculos de aro que ela usa.
 -Então o quê sugere? – indagou Rony, de cara emburrada. – Que procuremos uma águia com asa decapitada?
 O sorriso fraco de Hermione se acentuou de leve.
 -Exatamente.
 -Faz sentido – concordou Harry. – Mas, vejamos, águia sem asa não voa.
 Aparentemente, nem Hermione tinha argumentos para responder a essa questão.

 Com a chegada de maio, o clima gélido se fora completamente. Em grande parte do tempo Harry e os amigos passavam na sala de aula ou na biblioteca fazendo os deveres, esquecendo-se completamente das defesas contra Colapogge. Os exames de nivelamento estavam assustadoramente próximos: Em menos de um mês precisariam prestar os NIEM’s, consequentemente Hermione não parava de falar dos exames nem por um segundo.
 Por outro lado, estava impossível praticar Quadribol nos últimos dias. As chuvas de verão geralmente faziam Harry adiar os treinos, além da falta de tempo. Nas últimas duas semanas, o time Grifinório só praticara três vezes, e a cada dia que se passava estavam mais próximos do jogo contra a Sonserina.

 Quando Rony, Harry e Hermione chegaram à aula de Defesa Contra as Artes das Trevas na terça, o professor já esperava pelos alunos na porta da sala. A franja muito negra e espessa cobrindo o rosto carrancudo. Carregava uma suspeita maleta de couro forjado, e usava uma capa preta e comprida como uma cortina que se arrastava pelo chão do castelo, esvoaçante à brisa da janela escancarada.
 A turma entrou na sala de aula, e o professor, em silêncio, dirigiu-se ao quadro negro, onde depositou sua maleta sobre a escrivaninha.
 Harry sentou-se junto dos amigos em uma mesa à frente, a poucos metros do professor. Gina se sentara ao seu lado, onde o casal estava de mãos dadas, assim como Rony e Hermione. Dividiam a aula com a turma de Corvinal. Luna Lovegood se sentara a poucos metros deles, junto de uma garota da Grifinória com quem Harry não identificou.
 -Bom dia – disse a voz gélida e ressonante do professor.
 O professor sentou-se defronte à escrivaninha e abriu sua maleta. De relance Harry viu alguns objetos de prata desarrumados e um pequeno ovo dourado, reluzente. Franziu a testa para o objeto, mas desviou rápido o olhar quando o professor fechou a mala abruptamente.
 -Hoje, queridos alunos, é um grande dia – disse o professor Malvett. – Provavelmente a aula mais importante de Defesa Contra as Artes das Trevas que já tiveram nos últimos anos. A matéria de hoje é, sem dúvida, indispensável caso vocês queiram boas notas nos NIEM’s.
 Harry engoliu em seco; Porém, ainda tinha uma ligeira esperança, deveria ser uma aula e tanto. Hermione franzira o cenho também, e Harry pode ver cada veia pulsando em sua têmpora, excitada pela aula.
 Apressadamente, o professor puxara uma caixa que outrora esteve escondida sob a escrivaninha. Era de uma madeira tosca, esverdeada, e possuía vários símbolos rúnicos espalhados pelas bordas maquiavélicas.
 O professor depositou a caixa sobre a mesa e esperou por alguns segundos. Harry teve a impressão de que a caixa vibrava levemente, como se seu conteúdo lutasse para sair.
 -Queria pedir uma coisa a vocês antes de abrir a caixa - disse o professor. - Por favor. Abram o armário no fundo da sala e cada um pegue um par de luvas.
 [i]Luvas?[/i] Repetiu Harry para si mesmo. O que seria tão perigoso a ponto de precisarem de luvas para tocá-la?
 Receoso, Harry junto dos amigos pegou um par de luvas, vestiu-as e voltou novamente à sua carteira no norte da sala.
 -Muito bem - Continuou o professor após um breve suspiro. - O conteúdo desta caixa está completamente infectado com Magia Negra. O quê precisarão fazer é simples...
 -Desinfetar os objetos - completou Hermione num sussurro.
 O professor apontou o dedo para ela, assentindo.
 -Agora, o método mais simples para se fazer isso não é lá tão simples. Imagino que a melhor maneira de ensiná-los é com uma demonstração prática.
 O professor abriu abruptamente a tampa da caixa, e instantaneamente uma luz vívida e opaca expandiu-se iluminando cada canto da sala de aula. Usava luvas de couro de dragão; Silenciosamente, ele agitou a varinha para o conteúdo da caixa, e um pequeno bisbilhoscópio levitou e logo pousou sobre a mesa. Emanava uma estranha aura prateada, como se estivesse enfeitiçada. Era engraçado que um objeto feito para detectar Magia Negra e coisas ocultas não funcionasse quando este mesmo estivesse amaldiçoado.
 -Prestem atenção, pois não é uma coisa agradável de fazer. - disse, por fim, o professor e encostou a ponta da varinha no objeto.
 [i]-Opus![/i]
 Ele começou a circundar o objeto com a varinha de madeira, fazendo movimentos igualáveis e constantes, e lentamente, como se o bisbilhoscópio amaldiçoado fosse um brinquedo cuja bateria enfraquecia, a luz emanada pelo objeto enfraqueceu, até apagar-se completamente.
 -É só isso? - perguntou Rony indignado à Harry.
 A resposta de Rony veio quase imediatamente: Numa rápida explosão sobre a mesa do professor que fez metade dos alunos se sobressaltarem (inclusive Harry, Rony e Hermione), o bisbilhoscópio se ergueu no ar, levitando silenciosamente, seu auxílio de feitiço algum.
 Alguns dos alunos presentes gritaram – mas os gritos foram abrangidos mais uma vez pela voz ressonante do professor:
 O corpo amaldiçoado... – disse ele com a voz embrenhada, se empenhando ao extremo ao tentar controlar o bisbilhoscópio. -... Oferecendo resistência!
 Havia um certo prazer demente em sua fala: Como se achasse fascinante o objeto voar(agora a pelo menos dois metros do chão).
 O bisbilhoscópio novamente voltou a brilhar. Desta vez emitia uma estranha aura branco-perolada simultânea ao giro constante e vazio. Um piscar avermelhado inocentemente tentava sobrepor-se à aura do objeto.
 -Só mais alguns instantes... Vejam... – disse o professor com a voz rouca e lenta.
 Novamente, uma explosão que iluminou o rosto aparvalhado de cada um na sala; Naquele momento Harry não sabia o que fazer, se ajudava o professor ou se corria para a porta. No instante em que se decidiu pela primeira opção, a mão do professor Malvett ergueu-se no ar, ordenando que o garoto ficasse sentado.
 -Não façam nada! Fiquem onde estão, está tudo bem!
 Pela terceira vez, o bisbilhoscópio explodiu; Desta vez chegou a chamuscar os papéis espalhados pela mesa tal sua intensidade.
 -É agora! – disse o professor com a voz estranhamente calma. – Se preparem! Um... Dois...
 ’’[i]Três![/i] – Finite Incantatem!
 [i]Tac[/i]. O bisbilhoscópio caiu daquela altura e espatifou-se sobre a mesa. O professor ergueu os olhos para a turma, e mesmo ao ver que todos o encaravam como se ele fosse um doido, havia um sorriso em sua face, inexplicável, bondoso, como se tudo aquilo fora planejado.
 -Não se preocupem – ele descansou a varinha sobre a carteira; Neste momento Harry não pode deixar de notar o movimento discreto do professor ao lacrar a caixa com os objetos infectados com mais força, e circundou a escrivaninha, passeando pela sala. – Não poderia ocorrer tão bem.
 -Está brincando! – exclamou Rony, porém o professor estava longe e não escutou.
 -Professor – Hermione subitamente ergueu a mão no ar. – Teremos que fazer o mesmo...?
 -Ah, não creio que seja preciso – respondeu o professor. – Digo, não com os objetos, é claro. Mas imagino que precisem treinar os feitiços.
 -Professor, como treinaremos feitiços de desinfecção se não usaremos objetos infectados? – perguntou Hermione com desdém.
 -Ora, treinaremos em objetos distintos. Vocês podem usar o feitiço [i]Opus[/i] em objetos livres de magia negra. Na verdade ele serve para expor o conteúdo oculto de algo. É infalível. Somente uma magia extremamente forte pode ocultar algo do feitiço [i]Opus[/i].
 ’’Vejamos... ’’ ele ergueu com a mão um pergaminho. ‘’Este pergaminho está enfeitiçado para que, ao se escrever nele, a cor da tinta usada mude de acordo com a ocasião. Por exemplo, digamos que você escreva um texto todo com tinta verde e, ao chegar à metade do texto, a tinta acaba. Você poderá usar a tinta preta, ou de qualquer outra cor, que ela se tornará verde. ’’
 -Funciona como a Sala Precisa – disse Hermione eficiente. – Já ouvi falar nesse feitiço.
 -Aplicando-lhe o feitiço, ele será obrigado a se revelar. – continuou o professor. – Vou mostrar.
 [i]-Opus![/i] – murmurou ele.
 Instantaneamente, o pergaminho levitou no ar. Deixou soltar uma tinta metamorfa, multicolorida e espalhafatosa, indicando que poderia obter forma de qualquer cor. E então, após alguns segundos no ar, voltou a tombar sobre a escrivaninha.
 Durante meia hora a turma praticou feitiços de revelação em objetos distintos, como tinteiros, penas, livros velhos entre outras coisas.
 A sineta tocou, grave, distante da sala, indicando o fim da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas e o Início da aula de poções.
 Ao chegarem à masmorra, Horácio Slughorn já esperava os alunos em sua mesa no fim da sala de aula. Não esbanjava, como geralmente fazia, um sorriso aos alunos, mantinha a expressão fixa na porta, como se achasse que a qualquer momento algum dos alunos o atacariam.
 Harry não pode conter um esboço de sorriso ao ver a careca conturbada do professor. Sabia o porquê daquilo. Mas, ainda assim, torcia para que o professor fosse gentil e não passasse dever de casa, caso contrário teria de desmarcar o treino de quadribol marcado para aquela noite.
 -Boa tarde – disse ele com a voz fraca. Seu olhar desafixou-se da porta por um instante e ele voltou a arrumar a papelada e guarda-la dentro da mala.
 Harry, Gina, Hermione e Rony sentaram-se em uma mesa próxima a porta. Harry colocou seu material sobre a mesa, os ingredientes e outros auxílios dentro do caldeirão de estanho vazio.
 -Vamos lá, então – murmurou o professor mais para si mesmo do que para os outros. Estava pálido e aparentemente entediado. – Hoje preparemos uma poção especial. Provavelmente muitos de vocês já a conheçam, enfim, prepararemos a poção da invisibilidade.
 Houve murmúrios pela sala – a turma toda se agitou, querendo obter mais informações sobre o assunto, porém Harry deixou o pensamento tardar, pensando em sua Capa de Invisibilidade. Por ora, aquela poção não seria de tão importância.
 Harry tirou o material de dentro do caldeirão e arrumou-o pela mesa. Rony, Hermione e Gina fizeram o mesmo.
 Palavras foram surgindo no quadro – conhecidas instruções para o preparo de poções. Harry achou que nunca vira uma poção tão complicada na vida. Os ingredientes iam de casca de asfódelo picadas à solução de caramusco cozido.
 Seguindo as instruções no quadro, Harry picou algumas folhas de plantas assassinas, amassou-as fazendo uma esfera e espremeu até soltar todo o sulco dentro do caldeirão, e ao tombar no fundo do caldeirão o líquido começou a ferver. Harry adicionou a pele de ararambóia e uma pena de Fênix, e mexeu sete vezes à direita. Segundo as instruções, a poção naquele momento deveria estar vermelho vivo, porém soltava uma névoa rosada; Ao contrário de Hermione, cuja poção estava perfeita. A poção de Gina agora borbulhava ferozmente, despachando uma fumaça cinza, e Rony ainda não começara a mexer a poção.
 Cinco minutos depois, a poção de Harry ganhara uma cor incógnita: A mistura de um negro exuberante com o azul pardo. Era algo parecido com roxo – talvez lilás. Não saberia dizer.
 Ao fim da aula, o professor pediu que cada um dos alunos colocasse um exemplar com sua poção sobre sua carteira, e para o desânimo de Harry, pedira trinta centímetros de pergaminho sobre Poções Redutivas.
 -O que temos agora? – perguntou Rony desanimado, enquanto deixavam a sala.
 -Tempo livre – informou Hermione. – Vou até à Sala Comunal terminar o dever de transformação. Vocês vão?
 Concordando com a cabeça, eles seguiram Hermione até a Sala.

 Com a chegada de sábado, o clima em Hogwarts não era mais o mesmo. Não só a ventaria de ultimamente fora embora, mas também as pessoas se deixavam descontrair com o início do fim de semana, deixando de lado os deveres e se divertindo ao invés de estudar.
  Aquele sábado, porém, era um sábado diferente; O dia que todos ansiaram desde o início do ano letivo. Grifinória contra Sonserina, a final da Copa de Quadribol, o que significava que aquela era a despedida de Harry aos gramados que tão bem conhecia.
 Será que, um dia, ele voltaria a jogar? Fosse profissionalmente, ou só por diversão no jardim da Toca.
 -Harry! – uma voz chamou-o distante, ofegante, trazendo-o de volta ao Salão Comunal, onde faziam a segunda refeição do dia.
 -Harry, a professora McGonagall está te chamando lá na mesa dos professores – disse Hermione.
 -Tudo bem – respondeu Harry, se levantando, inconsciente de que não tocara na comida.
 -Professora McGonagall? – chamou Harry ao chegar à mesa.
 -Olá, Potter – disse a professora, o encarando. – Espero que não se esqueça do horário do jogo novamente – acrescentou ela com os lábios crispados.
 -Não – apressou-se a dizer Harry.
 -Pois bem – disse ela. Deu uma olhava em volta do Salão para ver se ninguém estava olhando, e continuou: – Você não soube mais nada sobre... Ele... Soube...? – indagou a professora, temerosa.
 -Ele? – Harry franziu o cenho. Então entendeu: - Ah... Não, senhora.
 -Têm certeza?
 -Absoluta – respondeu com sinceridade.
 -O Professor Dumbledore acha que você não deve ficar passeando pela escola à noite – acrescentou a professora.
 Harry teve um assomo de pânico: Será que a professora sabia que ele tinha saído em plena madrugada duelar com Glanmore e seu amigo? Será que ela sabia que saíra de noite e atacara o professor Slughorn, roubando um documento de sua sala?
 -Ahn... – engasgou-se ele. – Bem, professora, eu sei me cuidar.
 -A questão não é essa. Você está lidando contra poderes das Trevas, Harry, e têm de se proteger mesmo que esteja armado com uma varinha as mãos.
 -Tudo bem – respondeu Harry.

 Ao alvorecer do dia, o sol imperou no castelo. Harry não sabia se o suor que encharcava seus cabelos era conseqüência do calor ou do nervosismo antes do jogo.
 Harry estava sentado no jardim de Hogwarts. Gina estava ao seu lado. Rony e Hermione tinham ficado no castelo.
 -Sabe – começou Gina. –, eu sei que não têm culpa, mas com todos esses problemas... Essa história de Rey Colapogge, o Quadribol e os NIEM’s, é raro a gente ficar sozinho assim, sabe.
 Harry sorriu para ela. De repente, reparou como era bonita.
 -Eu estive pensando – continuou ela. – como será nossa vida depois que sairmos do castelo.
 -Como assim? – perguntou Harry sem entender.
 -Sabe... Teremos que começar a trabalhar... E eu voltarei para a Toca. É claro que mamãe te receberia de braços abertos se quisesse passar uns tempos por lá – acrescentou esperançosa.
 -Acho melhor não – respondeu Harry. – Eu tenho algum ouro. Acho que em breve, poderei construir uma casa em Godric’s Hollow e morar por lá. Ou talvez eu volte ao Largo Grimmauld.
 -E se isso acontecer? E se você se mudar para Godric’s Hollow, o que será do nosso namoro?
 -Eu pensei nisso há algum tempo. Mas não se preocupe... Não é a distância que irá nos separar.
 Houve um instante em que Harry e Gina se olharam, apaixonados.
 -Você vai estar comigo?
 -Até meu último dia – e dizendo isso, a beijou.
 Era como se tudo o que estivesse em volta desaparecesse repentinamente. Harry segurou os cabelos flamejantes de Gina, apertando-a contra o seu peito. Sentia o calor do corpo da namorada passando para o seu. Não poderia solta-la naquele momento, ela fazia parte dele, e se esqueceu completamente de todos os problemas, e de que estavam em um jardim apinhado de gente.
 Então seus lábios se descolaram. Harry continuou ali com ela, observando o sol sorrir para eles à sombra do arvoredo que os protegia.

 O time estava pronto: Harry, Gina e Hermione esperavam Rony se aprontar no dormitório. Sara, Coote e Joey já haviam descido ao campo. De relance, Harry espiou pela janela, e pode ver o time Sonserino se preparando para o jogo. Voavam baixo, lentamente, jogando a Goles de um para o outro. Um pomo (mais lento do que o normal) voava a alguns metros de Keller, o apanhador da Sonserina. Os batedores travavam uma espécie de luta com espadas, usando os bastões.
 Finalmente, Rony surgira descendo a escada circular.
 -Já não era sem tempo! – exclamou Hermione.
 Juntos eles saíram pela escadaria, apinhada de gente. Todos se preparando para assistir ao jogo.
 -Boa sorte, Harry! – disse uma garota da Lufa-Lufa que Harry não reconheceu.
 -Boa sorte – disse Denis Creevey, dando um tapinha em seu ombro.
 Entre outros desejos de sorte ao time, eles desceram até os jardins, e logo chegaram ao campo.
 A primeira visão do campo foi espetacular: As arquibancadas lotadas, parte delas urrava ‘’Grifinória’’, e a outra parte ‘’Sonserina’’. O time Sonserino sobrevoava o campo, cumprimentando os torcedores. Coote, Sara e Joey esperavam com suas vassouras nos ombros próximos ao vestiário.
 Harry andou o mais rápido que pode, tentando evitar o olhar dos torcedores; Um formigar incômodo nasceu em seu estômago, deixando-o nervoso, e ele entrou no vestiário, seguido de perto por Gina, Hermione e Rony.
 -Tudo bem – tranqüilizou Harry, a voz abafada pelos gritos da torcida que agora dizia ‘’Potter, Potter!’’. – É mais um jogo. Precisamos vencer por [i]280 pontos[/i] de diferença.
 Dito isso, pareceu-lhe que o ânimo do time despencou; A partir daí, a mente de Harry parou de absorver os gritos vindos de fora.
 -Sara e Coote, visem o apanhador do time Sonserino. Precisamos de tempo para que Hermione, Joey e Gina abram os duzentos e oitenta pontos. Gina, tente voar próxima de Hermione pelas laterais, deixando Joey livre pelo centro. Rony, tenha cuidado com as balizas laterais, pelo que tenho visto os artilheiros Sonserinos, que por sinal têm ótimas vassouras, visam essas balizas.
 Novamente, os gritos voltaram a ecoar lá por fora. Harry suspirou e, com um gesto longo de incentivo, atravessou a porta.
 No mesmo instante, houve um grito geral; Pessoas acenando para eles enquanto subiam nas vassouras.
 -E agora entra o time Grifinório! – disse a voz suave de Luna, insensível aos urros da torcida. – Comandado por Harry Potter!
 Neste instante foi impossível conter a euforia; Parecia que as arquibancadas iam desabar.
 Harry subiu na vassoura, seguido pelos outros jogadores.
 -Capitães, apertem as mãos! – disse Madame Hooch.
 Harry hesitou por um segundo; Não tinha visto Keller desde o duelo de semanas atrás. O Sonserino lançou-o um olhar penetrante, e Harry viu que conservava um olho roxo.
 Keller apertou sua mão com uma força desproporcional; Harry imaginou que os ossos da sua mão estavam sendo moídos. Então, o apanhador soltou-o.
 -O jogo vai começar! – disse a voz de Luna. – Madame Hooch vai soltar as bolas.
 A professora deu um chute no caixote posicionado no centro do campo, e a Goles voou para cima. Hermione rapidamente agarrou a Goles e passou-a para Joey.
 -E a Goles está em jogo! – disse Luna.
 Um novo chute, e dois balaços subiram pelo ar, circundando o campo e tentando acertar os jogadores.
 -Agora entraram os balaços!
 Um novo chute, e Harry viu um brilho dourado, que um segundo depois já sumira.
 -E o Pomo de Ouro está em campo! Começa o jogo!
 Então tudo que permanecia fora do campo não existia mais. Eram só os quatorze jogadores e as balizas, o jogo começara. Keller procurava insistentemente pelo Pomo com sua Nimbus 2000, e Harry fazia o mesmo, porém tinha consciência de que não poderia pega-lo.
 Em um mal passe de Hermione, a Sonserina toma a posse da Goles, e parte para cima. Os artilheiros defensores ficaram para trás, deixando os Sonserinos sozinhos com Rony.
 O ânimo de Harry despencou mais uma vez ao ver a Goles entrando pelo aro esquerdo, o único que Rony não protegera: Ele tinha pedido que tomasse conta das balizas laterais!
 Harry voltou a atenção ao Pomo, e começou a circundar o campo, e de vez em quando dava alguma instrução para os outros jogadores.
 Durante alguns minutos nada de interessante acontecera. Duas vezes a Goles caiu no gramado, e outras duas foram atiradas sem precisão nas balizas da Sonserina. Apesar do placar negativo, a Grifinória parecia mandar no jogo.
 Como estava enganado.
 A Sonserina pega a Goles em um novo contra-ataque, marcando mais um gol.
 -O que é que há com vocês! – urrou.
 A Grifinória novamente ficou com a Goles. Gina raramente a pegava – estava fortemente marcada. Hermione e Joey jogavam completamente sem entrosamento, fazendo com que em alguns intervalos eles perdessem a posse da Goles.
 E numa irritante suma de azar, a Sonserina marcou mais um. A Grifinória perdia por trinta de diferença. Harry explodiu:
 -O que há? – repetiu quando o time se agrupou no centro do campo.
 Ninguém respondera.
 -Rony, eu pedi para ter cuidado com as balizas laterais!
 O ruivo encolheu os ombros.
 Gina, eu estou vendo que está marcada, mas pode usar isso a nosso favor. Tente trazer os marcadores para longe de nossas balizas, de modo que Hermione e Joey fiquem livres.
 -Certo – respondeu ela.
 -Agora, vamos voltar ao campo e jogar! – disse ele com a voz retumbante.
 Sete minúsculos pontos vermelhos agora se dispersaram pelo ar, misturados com os verdes. Harry, com um olho, observava o jogo, e com o outro procurava pelo Pomo de Ouro.
 A Grifinória finalmente começara a reagir; Gina marcara dois gols seguidos, diminuindo a vantagem da equipe Sonserina. Então aconteceu:
 O Pomo de Ouro voava há cerca de dez metros de distância dele. O apanhador Sonserino, Keller, estava a menos de três quando o percebeu. O pomo voava com velocidade, tentando fugir das mãos empertigadas e musculosas que incessavelmente lutava para segura-la.
 O resto do time também percebera; Keller voava em direção ao Pomo, ia pegá-lo, e a reação de Harry foi a única possível, torcer...
 O clarão do sol refulgiu sobre seus olhos e atravessou seus óculos, cegando momentaneamente. O reflexo...
 Era apenas uma oportunidade, não poderia errar. O silêncio nas arquibancadas era total. 
 Harry agarrou um botão dourado de suas vestes, e tacou-o na direção do adversário.
No mesmo momento ele soube que funcionara; O botão voou em sua direção, ele era liso e brilhante, e ao entrar em contato com a luz do sol refletiu diretamente no rosto de Keller uma luz dourada que o confundiu, achando que era o Pomo que passava rápido por ele.
 A próxima coisa que ouviu foi uma vaia dos torcedores Sonserinos, e o rosto massudo de Keller corar de leve. Sorriu, triunfante, enquanto a Grifinória empatava o jogo.
 -A Grifinória agora ataca com tudo! Blakeney passa para Gina Weasley, que devolve para ele, que dribla um jogador da Sonserina e desvia de um balaço errante, deixa cair para Hermione Granger... Mas a Sonserina pega a bola, McKillen passa para Jake, que lança para Guado na frente, mas é atingido por um bom balaço lançado por Sara Juggler e cai de cabeça na grama... É, esse não volta mais...
 Harry olhou para baixo. Viu um volume esverdeado se contorcendo no chão, a cabeça ensangüentada. Tentando desviar a imagem horripilante da cabeça o mais rápido possível, voltou a procurar o Pomo.
 Com um jogador a mais, a Grifinória marca mais trinta pontos, de modo que o jogo chega a 70 a quarenta para a Grifinória.
 Duas vezes, Harry imaginou ter visto um raio de luz dourada esvoaçar por perto. Enquanto isso, Keller estava completamente sem rumo.
 Mas então ele viu, e desta vez sabia que não se enganara. O Pomo voava há uns trinta metros de altura. Hermione passou veloz por ele com a Goles sobre o braço, sem dar atenção. Keller descia devagar em movimentos esféricos... Logo se encontraria com ele...
 Tomado por uma súbita inspiração, ele mergulhou na direção oposta, em frente ao solo.
 Neste instante o apanhador adversário percebeu seu movimento e, acreditando que Harry finalmente vida o Pomo(o que era uma grande burrice, pois Harry não poderia pega-lo), seguiu-o.
 A velocidade com a qual perdiam altitude era assustadora. A vassoura de Harry se distanciava, àquele momento, a menos de vinte metros do gramado. Em seu encalço ele podia sentir o calor(e o mau cheiro) da respiração do apanhador adversário.
 Eles iriam tombar... Harry fechou os olhos, imaginando se poderia dar errado... Estava a menos de dez metros... Cinco...
 Então, usando a força dos braços, colocou todo seu peso sobre suas costas e puxou o cabo da Flying Rex de modo que ela ficasse completamente na vertical. Sentiu os pés roçarem o chão, mas a colisão não veio. Um barulho parecido com a batida de um caminhão com concreto acompanhou, zunindo, os ouvidos de Harry, enquanto ele subia ileso em direção ao alto.
 A essa altura, a Grifinória já ganhava por uma diferença de setenta pontos que fez a respiração de Harry voltar como antes e uma chama lívida de esperança voltar a bombear sangue para seu corpo.
 Cinco minutos passados, Keller já estava bom o suficiente para voltar a jogar. Tinha fraturado um braço e, apesar das reclamações e chiliques de Madame Pomfrey o Sonserino insistiu em tentar novamente capturar o Pomo.
 Nesse meio tempo, Gina marcou mais quatro gols. Harry sentiu novamente a excitação... Precisavam de mais dois gols. A Sonserina jogava apenas com seis jogadores, pois o apanhador balaçeado ainda não voltara.
 Não teve tempo nem para cogitar a sensação de poder vencer a copa, e Hermione marcou um gol e deu passe para Joey marcar outro. Enfim, [i]poderia agarrar o Pomo[/i]...
 Nunca foi tão fácil assim. No segundo seguinte, um raio dourado esprichou-se pelas lentes de seus óculos e ele viu o Pomo de Ouro, as asas batendo alegremente, a menos de um metro de seu braço esquerdo, como se dissesse: [i]’’Eu estou bem aqui, me agarre seu idiota!’’[/i]
 Um esboço de sorriso surgiu em sua face, e no instante seguinte segurava a pequena bola dourada que tentava, incessante, fugir entre as brechas mínimas entre seus dedos, e não pode segurar a emoção. As arquibancadas explodiram lá no alto(ou seria embaixo?). Não tinha mais noção de lugar, nem de tempo. Os braços agarraram seu corpo, desequilibrando-o da vassoura, gritando, urrando, todas as vozes emitiam seu nome. Viu-se dando um grito rouco, e ao mesmo tempo dava murros no ar, extravasando a alegria.
 O esboço vermelho destacado no céu agora azul-enegrecido voava lentamente ao chão. Não tinha pressa. Os sete jogadores gritavam, comemoravam de todas as maneiras, mas não era nada comparada com a confusão nas arquibancadas. O artilheiro Sonserino ainda jazia esparramado no chão, e Keller parecia que, a qualquer momento, arrancaria a cabeça do primeiro Grifinório que visse em seu caminho.

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