O leão e o texugo



 O primeiro dia de janeiro iluminou o dormitório dos garotos. Acabara de amanhecer, o primeiro dia do ano que prometia ser infestado de surpresas. O inverno já não era mais acentuado, da neve só fora preservada uma prazerosa brisa diária.
 O mês passado fora um mês importantíssimo para Harry. Para outros, poderia parecer um mês normal, como qualquer outro. Mas ele sabia, sabia que tinha finalmente o poder em mãos. Ele tinha uma das informações mais importantes que poderia obter. Ele sabia que Colapogge era um animago.
 Porém, conseqüentemente, Harry tratou de colocar em prática alguns cuidados extras. Raramente saia do castelo, e quando saia, ou estava voando ou na casa de Hagrid.
 As visitas na cabana do amigo aconteciam com mais freqüência desde que descobriram que Colapogge era animago. Essa, é claro, foi uma brilhante idéia de Hagrid, pois este costumava gostar muito de animais e criaturas, sem falar que vivia perambulando pela floresta proibida. Muitas vezes, como quem não quer nada, perguntavam ao amigo se não vira nada estranho pela floresta.
 -É claro que não – respondia com freqüência. – Por que haveria algo errado? É só uma floresta!
 Durante a semana, os treinos de Quadribol foram mais rígidos do que nunca. Harry sabia que, para vencerem a taça, deveriam vencer com folga o jogo contra a lufa-lufa. É claro que seria complicado, mas não era nenhum bicho de sete cabeças. A única vez que o time grifinório perdeu para a lufa-lufa, Cedrico Diggory jogava de apanhador. Sem falar, é claro, que a vassoura de Harry fora estraçalhada e que os dementadores influenciaram no jogo.
 Mas, aquilo eram águas passadas. Harry sentiu um frio na barriga ao lembrar de Cedrico. Em sua mente, ele pode reviver cada detalhe da noite mais terrível de sua vida... Quando ele e Cedrico foram teletransportados para aquele cemitério horrendo... Quando Pettigrew assassinou-o de sangue frio e fez seu mestre ressurgir... Quando Harry bravamente voltou a vencer o lorde negro...
 Sentiu novamente uma onde de fúria brotar dentro de si. Por que Cedrico tinha que morrer? Era algo inexplicável, e não tinham nem pistas do culpado. Mas tudo apontava para um único suspeito: Colapogge.
 É claro, se não fosse ele, talvez não existissem Horcruxes. Sem Horcruxes, Voldemort morreria no momento em que a maldição mortal fora rebatida contra ele, naquela noite em Godric’s Hollow. Porém, graças às Horcruxes que Voldemort outrora criara, ele ainda pode escapar com vida...
 Sem falar em Dino Thomas. A dor de sua perda ainda queimava seu coração como fogueira em brasa.
 Novamente, Harry chegou à conclusão de sempre. Colapogge era o criador de toda a desgraça, pois ele fez nascer os poderes negros mais impenetráveis de Lord Voldemort.
 Ele tinha que pega-lo, porém tateava as escuras. Onde ele estava? Se estivesse realmente na Floresta Proibida, Hagrid já o teria visto... A não ser que estivesse omitindo informações. Lembrou-se daquela noite na fortaleza de Azkaban. Quando o homem chamado Oliver o enfeitiçou, arrancando o tíbio sangue de seu rosto e o fazendo escorrer pela sua face até chegar aos seus lábios... Ele pode rever cada detalhe daquele dia, que provavelmente foi um dos atos mais complicados de se realizar que já fizera em toda a sua vida.

 Na aula de Transfiguração a professora Minerva McGonagall prometera outrora mostrar aos alunos feitiços de animação e desanimação. Harry, Rony e Hermione tinham acabado de entrar na sala seguidos por Gina, onde eles deixaram seus trabalhos sobre a Transfiguração Elementar.
 -Muito bem – disse professora. Ela arrancou os óculos e guardou-o no bolso. – Como prometido, com o início do semestre deixaremos para trás as Transfigurações corpóreas e partiremos direto para a Transfiguração de movimentos. Consiste em duas categorias:
 Com um floreio de sua varinha as palavras começaram a se auto-escrever pelo quadro-negro. [i]Animação / Desanimação.[/i]
 Feitiços de animação são feitiços usados em objetos e pessoas que não têm capacidade de se movimentarem por si. Você ‘’Anima’’ tal objeto, para que ele funcione como se fosse vivo. Também existem variedades de feitiços de desanimação. Alguém poderia citar alguns?
 A mão de Hermione foi a mais rápida a se erguer no ar.
 -Com licença, professora – disse a amiga. – Os feitiços de Desanimação existem em grande proporção na bruxaria. Entre eles, o feitiço [i]Impedimenta[/i], [i]Levicorpus[/i], [i]Petrificus Totalus[/i], [i]Estupefaça[/i]...
 -Exato – disse a professora. – Mas esses feitiços, como quase todos os feitiços no mundo, existem alguns contrafeitiços. Estes também podem ser considerados feitiços de animação. Como o feitiço [i]Enervate[/i].
 A professora McGonagall explicou tudo sobre cada feitiço. Aproveitou para explicar as propriedades de cada um deles e como usá-los em diversas circunstâncias.
 Ao fim da aula, todos os alunos se dirigiram ao corredor do segundo andar. No momento em que Harry colocou o pé para fora da sala, a voz clara e severa de Minerva McGonagall o fez virar novamente.
 -Potter?
 -Sim, professora? – disse.
 -Tenho que lhe mostrar algo.
 Fazendo sinal para que lhe seguissem, a professora partiu pelo corredor. Harry trocou um olhar confuso com os amigos e, relutantes, eles a seguiram.
 -Gostaria de lembrar – disse a professora McGonagall. – que talvez, Sr. Potter, você poderá não reconhecer o que vou lhe mostrar. Andei conversando com o professor Dumbledore, e ele concorda que você tem que saber.
 -Tenho que saber de que? – Harry estava começando a se sentir apreensivo.
 Sem responder, a professora seguiu em sua caminhada, deixando os três alguns passos para trás. O estômago de Harry deu uma cambalhota enquanto ele podia ver o quadro de Dumbledore falando com ele.
[i]
‘’Professor, você sabe do que aconteceu? Semana passada?
 -Sei, sim, Harry – afirmou Dumbledore. – A Profª. McGonagall me informou de cada detalhe. Presumo que ela logo terá informações a lhe dar. ‘’[/i]

 -Dumbledore sabia – disse, de repente, fora do alcance sonoro de Minerva.
 -Sabia de quê? – perguntou Rony, achando estranho.
 -Que McGonagall iria querer me mostrar algo.
 -Como ele poderia saber? – indagou Hermione, franzindo as sobrancelhas. – Afinal, quando você conversou com Dumbledore?
 -Quando fui roubar a penseira, é claro! – exclamou. – Dumbledore me disse que Minerva iria me dar algumas informações.
 -Vamos logo! – disse a professora.
 Eles já tinham andado uma boa quantidade até este momento. Resolveram atuar em silêncio para que a professora não desconfiasse de que Harry invadira a sala do diretor Richard.
 Pela segunda vez, eles entraram na sala de McGonagall. Agora a sala estava realmente mais aconchegante do que da última passada. As janelas abertas iluminando o ambiente davam um clima totalmente refinado para o local, diferentemente do clima proporcionado no dia em que eles fugiram de Hogwarts para buscar Gina em Azkaban.
 Sentando-se em sua cadeira de frente à escrivaninha, a professora conjurou três poltronas para que eles se sentassem. Imediatamente, o fizeram.
 -Harry – disse McGonagall no momento em que Harry se sentara. Seu primeiro nome soou estranho vindo da boca de McGonagall, pois normalmente ela o chamava de ‘’Potter’’, seu sobrenome, assim como fazia com todos os outros.
 -Pois não, professora. – disse o garoto.
 Minerva abriu a gaveta de sua escrivaninha, e de lá tirou uma pequena estátua de bronze.
 Harry pegou o objeto em suas mãos. Não era muito pesado, provavelmente não tinha mais que três quilos. Harry cerrou os olhos para poder ter maior certeza do que enxergava.
 Ele tinha uma vaga impressão de que já vira aquilo antes. Tratava-se de uma estátua de uma mulher. Sua mente vasculhava suas lembranças, pois ele sabia quem era aquela mulher, só não se lembrava...
 Os lábios de Hermione moveram-se silenciosamente, e de relance Harry viu se formarem as palavras ‘’Helga Hufflepuff’’.
 -Um instante – disse Minerva.
 A professora de Transfiguração tocou com a ponta de sua varinha o patamar onde a bruxa se exaltava. Ali começaram a se destacar palavras, como se saíssem do bronze puro.
                         [i][b]''Helga Hufflepuff - 15/12/0968''
               ''É a fundadora da casa Hufflepuff ou Lufa-Lufa, que tem seu
             seu nome em homenagem a ela, da escola de Magia de Hogwarts
             Cerca de 1000 anos após sua existência, seu igual aparecerá para
             acabar com a criação de Salazar Slytherin. Sua família por gerações
                 Será intocada, até o dia em que o herdeiro resplandecer.''


 Hermione iria gritar, mas tampou a boca em tempo de transformar esse grito em um grunhido. Harry também sentiu seus olhos saírem de foco ao terminar de ler a informação.
 Se aquilo fosse verdade... Não, não poderia ser. Não precisava ser muito inteligente para notar que, se Hufflepuff nascera em 968, segunda a escritura, sua família permanecera intocada até hoje, significando que ainda corria sangue de Helga Hufflepuff em um bruxo da atualidade.
 É claro que não poderia ser exatamente mil anos. Caso fosse, o que é muito improvável, o herdeiro de Hufflepuff teria exatos trinta anos. Mas ele poderia ser bem mais velho... Ou quem sabe, bem mais novo.
 -Gostaria que levasse esse objeto, Harry – disse Minerva. Seu olhar permanecia duro e inflexível. Provavelmente ela já saberia do que se tratava, e, é claro, Dumbledore também. Isso significava que em breve Harry teria de voltar a fazer uma visitinha ao diretor.
 -Você sabe o que significa? – perguntou McGonagall.
 Harry hesitou. Receava que mais alguém suspeitasse que Colapogge estivesse em Hogwarts. No pior dos casos, poderia acontecer que a escola se fechasse para sempre.
 Ao ver o olhar confiante de Hermione, Harry decidiu que era melhor abrir o jogo com Minerva também.
 -Sim, professora. Acredito que sim.
 -Eu esperava que soubesse – disse a professora, se levantando.
 Harry também se levantou, junto de Rony e Hermione.
 -Muito obrigado, professora – disse, saindo da sala.
 -Um segundo! – disse Minerva.
 A professora se aproximou só de Harry, e falou muito baixo para que os amigos não a escutassem.
 [i]-Tenha cuidado. Ele está atrás de você, Potter, você sabe. Quando puder, tente conversar com Dumbledore através do retrato.[/i]
 -Tudo bem – Harry se virou e já ia sair.
 -Só mais uma coisa.
 O olhar de McGonagall era suplicante, temeroso. Harry olhou nos olhos da professora.
 -Sim?
 Ela suspirou. Hesitou por alguns segundos.
 -Tenha cuidado com essa estátua – disse, por fim. – Ela não é uma [i]simples estátua.[/i] Estou com ela desde o começo do ano, a professora Sprout encontrou-a enterrada no lago das plantas assassinas. É [i]muito[/i] valiosa, [i]muito mesmo.[/i] Tem poderes mágicos indescritíveis, inimagináveis. Espero que a deixe guardada, pois acredito que...
 Minerva parou por alguns segundos. Já não sussurrava mais, Rony e Hermione já a escutavam também, atentos. Harry achou estranho que Minerva não falasse logo.
 -Acredita que?
 -Potter... Não posso garantir, mas eu acredito, e Dumbledore concorda comigo, que a estátua foi amaldiçoada com Magia das Trevas.
 Harry franziu as sobrancelhas. Se aquilo estava infestado com magia negra, por que McGonagall dera a ele? Queria matá-lo, enfeitiçá-lo ou o quê?
 Pelo jeito a professora viu a mesma pergunta estampada na feição desconfiada de Harry.
 -Bom, Potter, eu sei que deve estar se perguntando por que eu lhe daria um objeto infectado com magia negra. Mas é uma resposta bem simples...
 Ela o encarou por cima dos óculos. Seus olhos estavam vermelhos.
 -Essa estátua pode ter alguma serventia desde que se saiba usá-la. E, pelo que Dumbledore me explicou essa estátua só pode ser tocada por alguém que seja puro, de alma e sangue. Quando digo isso, não estou me referindo à sua ancestralidade. Refiro-me a alguém que não tenha nenhuma maldade no coração. Para essas pessoas, a maldição colocada na estátua não será nada relevante. [i]Pessoas como eu e você![/i]
 Harry estava tão atento às palavras que não percebeu quando Minerva colocou as mãos sobre seus ombros, enquanto a mensagem digeria-se lentamente em seu cérebro embaralhado.
 Minerva fez sinal para que pudessem sair, e assim eles fizeram. Então, quem garante que o Herdeiro de Hufflepuff não estivesse em Hogwarts?
 -Harry – Hermione quebrou o silêncio enquanto caminhavam de volta ao salão comunal. – Você acha que o herdeiro de Hufflepuff está vivo?
 Harry não respondeu imediatamente. Apesar de seus olhos focalizarem a teia de aranha presa ao teto, sua mente estava totalmente distante, flutuando em meio do nada... Apenas quando foi capaz de absorver a pergunta ele pode responder.
 -Eu acho apenas que uma escritura confirma a outra. A escritura que você encontrou na câmara no ano passado e essa.
 -Foi o que pensei – disse Hermione com um arrepio. – Isso só sugere que o livro do Destino esteve correto esse tempo todo.
 -Pois é – disse Rony. – Agora teremos que procurar por um herdeiro de Hufflepuff.
 -Não sei por que, mas acho que deveríamos nos concentrar apenas em Colapogge.
 Harry pegou a estátua com a imagem de Hufflepuff do bolso interno das vestes e fixou seus olhos dentro dos olhos da bruxa. Novamente, ele releu em silêncio as palavras escritas no bronze, e aquilo não ajudou em nada em clarear a sua mente. A temperatura do objeto em suas mãos aumentou drasticamente em um espaço mínimo de tempo. Seu coração deu um tranco quando ele se lembrou: O jogo...
 Tudo aquilo tinha afastado as demais coisas de sua mente, fazendo que ele se esquecesse momentaneamente do jogo de Quadribol. Deu um tapa dolorosamente na testa e parou subitamente.
 -O que aconteceu? – perguntou Rony, também parando e encarando o amigo.
 -O jogo!
 Rony franziu as sobrancelhas.
 -Que...?
 Pela expressão no rosto do amigo, ele também se lembrara; Era hora do jogo contra a Lufa-Lufa.
 -Vamos!
 O castelo parecia ter se multiplicado em mil vezes de tamanho. Faltavam vinte minutos para o jogo e a sala comunal da Grifinória parecia mais distante a cada passo que davam.
 Ao chegarem ao salão e dizerem a senha para a mulher gorda, encontraram o time pronto, segurando as vassouras nos ombros.
 -Onde vocês estavam? – perguntou Gina. – Está quase na hora do jogo, vão se trocar!
 Harry estava mudo, não saberia o que dizer naquele momento, portanto ficou calado. Subindo ao dormitório masculino junto de Rony, sentou-se rapidamente na cama e abriu o malão.
 -Não se esqueça – disse Harry, ofegante, atraindo o olhar de Rony. – Cuidado com as balizar laterais, não se concentre comente na baliza do meio, os artilheiros lufalufanos já perceberam a sua tendência em ficar sempre no meio.
 -Certo – disse Rony.
 -E não se esqueça: Não precisa ter medo.
 Aquilo era algo que era difícil de acontecer. Harry conhecia o amigo muito bem para saber que ele facilmente se deixava levar por vaias e caia na pressão fácil, mas pretendia dar a maior força possível. As orelhas de Rony, como sempre, estavam vermelhas como pimentas.
 Já trocados, desceram as escadas e encontraram um time impaciente esperando em frente ao retrato da mulher gorda. Encontraram Hermione no momento em que saíram do dormitório.
 -Temos quanto tempo?
 Harry consultou o relógio de pulso e sentiu seu coração bater mais rápido.
 -Temos dez minutos e o jogo irá se iniciar, vamos logo.
 -Espere um segundo! – Gina chamou a atenção do time. – Rony, você colocou as calças do lado errado!
 Harry olhou para o amigo, e era verdade, os bolsos estavam virados para frente. Apesar da situação não ser tão cômica quanto poderia Harry não pode deixar de abafar o riso.
 -Ah, não! – Rony deu um tapa na testa e voltando a subir as escadas. – Só levarei um segundo, esperem...
 -Não – disse Hermione, e segurou a varinha em riste apontada para as calças de Rony. – Inverte!
 Magicamente, a calça virou de lado, trazendo os bolsos novamente para o lado certo, poupando tempo para o time.
 -Certo, agora vamos – Harry chamou a atenção do grupo. Tinham muito pouco tempo, muito mesmo...
 Provavelmente o time da Lufa-lufa já esperava no campo. Toda a escola deveria estar lá, pois quando Harry saiu pelo retrato da mulher gorda encontrou a escadaria às moscas, assim como o saguão onde era visível dali. As escadas se moviam levemente quando o time desceu correndo, derrapando, trombando entre eles.
 Tal foi a corrida que eles tiveram tempo de chegar ao campo no último momento. A arquibancada toda estava lotada e madame Hooch chegou até eles, segurando uma imensa caixa de madeira onde eram guardadas as bolas.
 -Enfim vocês chegaram! Imediatamente pro jogo!
 -E a palestra antes do jogo? – Harry perguntou, sentindo nascer um involuntário desespero dentro do coração. – Não podemos jogar sem antes conversarmos.
 -Ah, podem sim, Potter. Agora, direto para o campo!
 Harry suspirou mais cedeu. Afinal, não poderia fazer nada mesmo.
 -Bem, preciso falar agora – disse, por fim. – Sara e Coote: Tentem fazer com que Gina chegue livre aos aros. Hermione, Gina e Joey: Voem alto, e de vez em quando troquem de posições para enganar os adversários.
 Com um leve aceno de cabeça eles demonstraram entendimento.
 -Rony... Como já lhe disse, cuidado com as balizas laterais.
 -Certo.
 [i]Tudo bem,[/i] Harry disse para si mesmo mentalmente. [i]É só mais um jogo.[/i]
 Guiado por este pensamento, Harry deixou que suas pernas o levassem ao centro do campo. Ergueu a cabeça e viu a multidão de grifinórios e corvinos que bradava entusiasticamente para os jogadores, gritando, aplaudindo em pé. Por outro lado, a torcida da Lufa-lufa e da Sonserina vaiavam de forma tão entusiasmada.
 -Weasley, todos estão dizendo que só está no time por que é amigo desse aí. É verdade?
 Rony ficou vermelho e olhou para Harry pedindo ajuda. O garoto virou o rosto e olhou de relance para os cabelos negros de Glanmore Lestrange, rindo junto de seu grupo de amigos. Ao olhar atentamente, Harry pode perceber que ainda conservava cicatrizes do dia em que o falecido Dino por acaso derrubara uma poção desconhecida sobre ele.
 Harry sentiu o delicioso cheiro da grama invadir suas narinas, sentiu a vivacidade brotar dentro dele trazendo uma nova onda de sede de vitória. Concentrou-se somente em se dirigir ao centro do campo, onde madame Hooch já os ultrapassara e os esperava com a caixa de madeira onde estavam guardados os balaços, a Goles e o Pomo. [i]O Pomo...[/i] Viria à calhar se ele conseguisse agarrar o Pomo nos primeiros minutos, queria conversar com Rony e Hermione sobre a estátua de Ravenclaw, e apesar de sua paixão pelo Quadribol o receio que ele tinha por Colapogge confundia sua cabeça drasticamente...
 Harry colocou a vassoura entre as pernas e levantou vôo: Uma sensação única, ele já tinha voado várias vezes na vassoura nova, mas nunca era demais relembrar. O vento refrescou o rosto de Harry como se alguém jogasse um balde de água fria, despenteando seus cabelos, deixando à mostra sua cicatriz, marca de dezessete anos atrás, marca do dia mais infeliz de sua vida. Um dia que nem sequer poderia lembrar...
 Afinal, que diferença isso fazia agora? Apesar de tudo, eram águas passadas, e Harry já aprendera a viver sem seus pais, mesmo que isso lhe doesse profundamente.
 O estalo metros abaixo fez que tudo em sua mente desaparecesse de repente, ele só tinha olhos para o jogo, e imediatamente percebeu que a marcação do time grifinório estava errada, o artilheiro Lufalufano passou livre próximo aos gramados e, se recebesse a Goles naquele momento, certamente marcaria o primeiro gol da partida...
 Gina voou e pegou a Goles antes de qualquer outro. Depositando-a debaixo do braço, voou certeiramente para as balizas adversárias... Hermione e Joey voavam alados, circulando-a e fazendo com que o time da Lufa-Lufa se perdesse completamente...
 Harry achou melhor voltar sua atenção para o Pomo, pois o tempo era uma arma preciosa. Circulando o campo à procura de um brilho dourado com asinhas brancas ele foi capaz de ouvir a voz de Luna chegar aos seus ouvidos, suave, mas intensa.
 -A Goles entra pelo aro! Grifinória dez, Lufa-Lufa zero!
 [i]Tudo bem[/i], disse para si mesmo. Não estava sendo fácil se concentrar, sua mente ainda estava abalada com os acontecimentos passados...
 Um zumbido próximo a sua orelha esquerda fez Harry bruscamente virar o pescoço: [i]Seria o Pomo?[/i]
 Não poderia ver mais nada: Apenas protegeu seu rosto com as mãos e tentou se afastar do local, pois negra de ferro fora arremessada diretamente para ele: Ele tentou escapar, mas não dava mais tempo, iria ser atingido...
 No mesmo instante, o batedor Grifinório Coote apareceu à toda velocidade, e acertou o balaço com uma força surpreendente no momento em que este estava à um dedo da cabeça de Harry.
 -Obrigado – disse, aliviado. – Pensei que iria ser derrubado da vassoura.
 -Não há de quê – disse o batedor. – Mas concentre-se no Pomo!
 Era tão estranho receber ordens sendo o capitão, mas Harry fez que sim com a cabeça, e voltou a circular o campo.
 Neste meio tempo o jogo correu e passou despercebido. Gina marcou mais dois gols para a Grifinória, e o apanhador Lufalufano acabou sendo atingido por outro balaço lançado por Coote, acertando em sua perna mas sem danos maiores.
 Harry inclinou o corpo dolorosamente sobre a vassoura, fazendo com que seu peito se encostasse ao cetim dourado. Assim, a velocidade que a vassoura alcançou foi muito alta e em um tempo muito curto: Voava pelo perímetro do campo à procura do Pomo, o vento prazerosamente bagunçava seus cabelos, deixando à mostra sua cicatriz...
 Enquanto Harry voava feito um idiota pra lá e pra cá, o time Lufalufano começava a esboçar uma reação. Marcaram três vezes, deixando o jogo no atual momento em cinqüenta a trinta para o time de vermelho.
 O tempo se encurtava rapidamente. A Grifinória dominava o jogo, porém algo impedia a goles de entrar pelo aro: Por mais que atacassem, por mais que lutassem, o gol não queria sair, não só pelo fato dos artilheiros não atirarem com tanta precisão, mas também pelo fato que o goleiro do time adversário não deixava passar uma.
 Cinco minutos depois, Harry já começava a se sentir tonto de tanto girar pelo campo. Por mais que procurasse, não havia Pomo, ele sumira, mas como era possível?
 Completamente sem querer, no momento em que Harry já estava começando a se sentir desesperado pelo frio que começava a fazer, ele o viu: O Pomo, voando longe, bem longe dele, próximo ao chão, no centro do campo... Tão visível que Harry tinha que pegá-lo logo, antes que desaparecesse.
 Seu mergulho fez seus cabelos da nuca arrepiarem: A brisa gélida atacou seus pulmões como se enfiassem gelo por sua garganta, numa tentativa louca de respirar aquele ar congelante. Viu-se sendo levado em direção à grama na velocidade máxima que sua vassoura poderia permitir, apesar de seus óculos protegerem seus olhos contra o vento cortante, as lágrimas brotaram em seus olhos verdes, e a franja, que tinha crescido barbaramente nos últimos dias, cobria sua visão. Mesmo assim Harry continuou sempre em frente...
 Virou o pescoço para o lado em tempo de ver o apanhador da Lufa-Lufa perceber seu mergulho. Porém, Harry já estava quase lá, esticou o braço e sentiu a bola dourada esquentar sobre o suor dos seus calos.
 Harry saltou da vassoura e caiu derrapando: A multidão bradou no instante em que ele ergueu o braço direito para o alto. Sim, ele pegara o Pomo, a torcida bradou, o time inteiro gritou, desestabilizando completamente o time adversário que agora discutiam entre eles, o capitão Lufalufano gritando com o apanhador, alguns já desciam da vassoura com o rosto sobre as mãos, mas não o time grifinório, que gritava a plenos pulmões, a sensação parecida ou até melhor do que a vitória contra o time corvino. Harry teve o prazer de poder ver o sonserino Lestrange com uma cara muito idiota, e pode rir por dentro.
 [i]Vocês serão os próximos[/i], Harry pensou. O time da Sonserina era, naquele momento, o único time que poderia tentar pelo menos competir contra a Grifinória. O único time que, assim como a Grifinória, treinara loucamente pelas últimas semanas. Seria um jogo complicado, e Glanmore Lestrange tinha entrado para a equipe: Era goleiro, a mesma posição de Rony, e neste momento o amigo poderia realmente mostrar quem é que foi que entrou no time só porque é amigo do capitão. Middle, o capitão Sonserino, era grande amigo de Lestrange.
 -Conseguimos, Harry! – a voz suave de Hermione entrou em seus ouvidos tranqüilizando e, ao mesmo tempo, multiplicando sua euforia.
 A voz de Luna fez-se perceber ao longe:
 -A Grifinória vence por duzentos a trinta! Harry Potter apanhou o Pomo de Ouro!
 Harry cerrou os punhos de modo com que o Pomo ficasse mais apertado em sua mão. Sentiu seu coração bater mais forte, numa onda de emoção incontrolável, pois todo o time se amontoava no centro do campo gritando e comemorando, e Harry, momentaneamente, esquecera de tudo o que acontecera naquele dia.

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