A Seleção



 -Acorda, Harry! É hoje!
 Harry coçou os olhos e levantou a cabeça. Rony estava ali com ele, com as vestes de Quadribol colocadas.
 -Que horas são? – Resmungou Harry, colocando os óculos.
 -Já são oito horas! – afirmou Rony.
 -Oito horas? – Ridicularizou Harry. – Os testes começam às dez!
 Rony não falou nada. Harry se sentia levemente nervoso. Precisaria encontrar três jogadores. Dois batedores e um Artilheiro. Não seria fácil, da última vez que fizera os testes não encontrou ninguém genial. Refletiu: No sexto ano, tinha conseguido Joaquito Peakes e Cadu Coote na posição de batedores, e Demelza Robins de artilheira. Os três continuavam na escola, mas Hermione entrara, e Catie Bell saíra. Então, as posições estavam formadas. Demelza agora estava no quinto ano, e provavelmente ganhara alguma experiência. Provavelmente, estava melhor.
 -Onde está Hermione? – Harry perguntou, tentando inutilmente arrumar os cabelos espetados.
 -Está ali na Sala Comunal, nos esperando.
 Harry franziu a testa.
 -Nos esperando? Para quê?
 -Na verdade, ela acordou cedo e começou a fazer os deveres – disse Rony. – Mas pediu para eu avisar que estava nos esperando.
 -Deveres? Nós não recebemos deveres, recebemos?
 -Hermione sim. Recebeu um texto enorme de Runas para traduzir.
 Harry colocou as vestes da Grifinória e ele e Rony desceram, encontrando Hermione afundada numa poltrona próxima à lareira, um livro debaixo do nariz, um pergaminho sobre o colo.
 -Ah, vocês estão aí – disse Hermione, sem erguer os olhos.
 Harry e Rony se sentaram do lado dela.
 -Estou tão nervosa – disse Hermione. – Harry, por favor, na cometa nenhuma injustiça. Se eu não voar bem, e sei que não vou, por favor, seja justo. Não quero jogar no time sabendo que só passei por que sou sua amiga.
 -Pode ficar tranqüila, Mione. Se você não voar bem hoje, é claro que não vou te passar.
 Harry piscou para Rony, que abafou o riso.
 -É melhor mesmo – disse Hermione, colocando os deveres de lado e se levantando. – Vamos descer para o salão, então. Gina já está lá.

 Após tomarem o café, os quatro desceram em direção ao campo, e desta vez mais e mais alunos estavam decididos a tentar entrar para o time. Enquanto desciam, Harry viu várias pessoas uniformizadas para jogar. Vários alunos do primeiro ano, nervosos e com vassouras antigas da escola, vários maiores e musculosos, mas decididamente muitos jogadores, de todos os tipos.
 -Hei, Harry!
 Harry virou a cabeça, e o que viu, ele não saberia dizer se provocara imensa alegria ou incontrolável desprezo. Dino Thomas apareceu ali, um enorme sorriso estampado no rosto, com a vassoura sobre o ombro.
 -Dino! Pensei que você não voltaria.
 -Pois é, nem eu – disse o amigo. – Mas, de última hora, mandei uma carta para o diretor avisando que voltaria. Sabe, agora que Você-Sabe-Quem finalmente se foi não quero deixar tudo de lado e parar com os estudos. Resolvi voltar e prestar os NIEM’s.
 -Nós também. Quero dizer, eu, Rony e Hermione. – disse Harry.
 -Ah, sim, estou vendo. Enfim... Eu vim fazer o teste. Não tem problema, não é?
 -É claro que não – respondeu Harry.
 Dino sorriu e se virou indo à direção á um grupo de alunos. O campo se enchia rapidamente, sendo que agora só faltavam alguns minutos para o início. Harry aguardou um pouco, então resolveu agir.
 -Hei. Atenção, atenção!
 As conversas não cessaram. Harry pigarreou.
 -Atenção aqui, por favor!
 Novamente ninguém olhou. Harry começou a se sentir aborrecido!
 -Atenção! – disse, quase gritando.
 As conversas pararam, e os jogadores se viraram.
 -Muito bem – disse Harry, tomando fôlego. – Silêncio, por favor – acrescentou, quando algumas meninas retomaram a conversa.
 Harry resolveu seguir o mesmo caminho que usara no sexto ano, pediu para formarem grupos de dez alunos e que voassem em volta do campo, para ele poder avaliá-los.
 O primeiro grupo não foi bem, disse Harry para si mesmo. Pior, foi ridículo, admitiu mentalmente.
 Já o segundo grupo voou bem, se bem que alguns alunos do primeiro ano pareciam estar de brincadeira. Ficaram rindo o tempo todo, olhando com caras de idiotas para Harry.
 Começando a se sentir desanimado, pediu para o terceiro grupo levantar vôo. Não foi bem o que ele esperara, mas ali tinha alguns jogadores conhecidos, como Demelza Robins e Cadu Coote. Ambos voaram bem, já os outros, alunos do quinto ano, foi um completo desastre: Dois deles foram parar na ala hospitalar após um bater no outro e caírem de uma altura de vinte metros.
 Quarto grupo, Harry se sentiu aliviado. Praticamente todos voaram bem, a maioria alunos do sétimo ano, entre eles, Gina, Hermione e Rony. Duas vezes Hermione se desequilibrou da vassoura, mas não caíra, e fora isso voou bem.
 O quinto grupo só tinham jogadores do primeiro ano, e Harry reparou em um garotinho polaco com as vestes da Lufa-Lufa, e essa não era a primeira vez que alunos de outras casas vinham fazer os testes.
 -Vão embora, agora, e se alguém que não for da Grifinória não sair agora, vou mandar o vampiro que mora nas masmorras pegar vocês, um por um!
 Vários alunos menores se entreolharam, e correram, com medo, mas Harry estava mentindo. Não havia nenhum vampiro nas masmorras, ou pelo menos ele nunca vira.
 O sexto e último grupo era formado por alunos que não tinham trazido vassouras, nem ao menos emprestaram da escola. Harry suspirou.
 -Por favor, se não tem vassoura, podem ir embora.
 Todos eles foram, apressados, rindo entre eles.
 Harry já tinha dispensado aqueles que não voaram bem, só reuniu ali os melhores: Dois goleiros, Rony Weasley e David Brown. Quatro batedores, Sara Juggler, Joey Hilton, Cadu Coote e Joaquito Peakes. Cinco artilheiros, Dino Thomas, Gina Weasley, Hermione Granger, Demelza Robins e Joey Blakeney.
 Harry resolveu começar os testes com os goleiros, pois já tinha experiência própria, e sabia que seria pior para Rony se o teste fosse mais tarde. Resolveu deixar ir primeiro o outro goleiro, David Brown.
 O goleiro subiu até as balizas e começou a rodeá-las. Dino voou com a Goles até perto. David Brown, que Harry já vira várias vezes, mas nunca conversara, pegou o primeiro, mas não pegou o resto. Harry ficou ligeiramente com pena quando o goleiro desceu para os gramados, quase chorando. Rony subiu, e Harry se impressionou ao ver que não estava tremendo, completamente seguro, um olhar determinado. Dino jogou muito bem a Goles, Rony pegou uma, duas, três, quatro, cinco. Harry ficou impressionado, pois Dino jogou a Goles com força e boa pontaria.
 O próximo foi o teste dos artilheiros. Dino e Hermione marcaram quatro gols das cinco tentativas. Gina marcou todos e Blakeney apenas três. Demelza não teve um bom dia, pois não marcou nenhum gol.
 Enfim, o time estava quase completo: Goleiro Rony, apanhador Harry, artilheiros Hermione, Dino e Gina, agora só faltavam os batedores. Harry soltou os balaços e pediu para tentarem acertar em alvos projetados no alto. Peakes foi razoável, mas Coote foi melhor. Sara Juggler e Joey Hilton também foram razoáveis, mas Harry julgou a garota levemente melhor, e tinha uma vassoura mais veloz – Uma Nimbus 2000 –, ambos acertaram três vezes os alvos.
 O time estava completo, enfim. Ele, Rony, Gina, Hermione, Dino, Sara e Coote.
 -Muito bem – disse Harry. – O primeiro treino será no próximo sábado, às oito. Vou reservar o campo com a professora McGonagall. Obrigado por virem fazer o teste.
 Os sete grifinórios aplaudiram entusiasmados, Harry sorriu, satisfeito com suas escolhas. O time estava ótimo.
 -Vamos subir – chamou Harry, enquanto os jogadores iam se dispersando e só sobraram ele, Rony e Hermione. Gina subiu para o castelo.
 -Sim – disse Hermione. – Está quase na hora do almoço. Ah, eu ainda não terminei os deveres!
 Hermione estava aflita, mas os deveres não importavam agora. Harry tinha a cabeça cheia para pensar nisso agora, o quadribol, Colapogge, o quadribol, o namoro com Gina, o quadribol...
 Após o jogo, resolveram ir até a casa de Hagrid. Já era o quarto dia em Hogwarts, e até aquele dia não fizeram sequer uma visita ao amigo. A única vez em que o viram foi quando ele foi recebê-los nos portões de Hogwarts, mas estava realmente sério.
 Ao chegarem bateram na porta, Hagrid apareceu, seu rosto áspero e coberto pelo cabelo e barba não foram capazes de esconder o imenso sorriso que aparecei através da porta de madeira ao vê-los.
 -Harry! – Urrou o gigante. – Rony, Mione! Gina, você por aqui! Eu já estava pensando que vocês se esqueceram de seu amigo aqui. Entrem, vamos.
 Harry sorriu e entrou, seguido pelos amigos.
 -Estou preparando alguns bolinhos – disse Hagrid, e Harry percebeu as luvas de pano e o avental. – Como foi o teste, Harry?
 -Ah, foi ótimo – disse Harry. – Acabou a pouco tempo. Mione entrou para o time.
 -Hermione? – Hagrid se surpreendeu. – Não era você que morria de medo de voar?
 Hermione ficou vermelha. Realmente ela tinha medo de voar, mas pelo jeito superara e agora está mais confiante.
 -Aliás – disse Hagrid, e o seu sorriso bondoso sumiu bruscamente, tomado por um ar sério. – O quê aconteceu ontem? Por que vocês apareceram tarde da noite nos portões?
 -Eles – disse Rony.
 -Sim, Harry e Hermione. Gina também estava. Enfim, onde é que vocês estavam?
 Harry olhou para Hermione, trocando um olhar duvidoso. Novamente refletiu se deveria confiar em Hagrid. Sabia que ele era um grande amigo, muito fiel e leal, e que jamais, nem que morresse, nem que fosse torturado até a insanidade, ele os trairia. Mas, apesar disso, Hagrid ficara com fama de descuidado. Não conseguia guardar sequer uma informação para ele, nem uma informação crucial. Naquele momento só os quatro, além de McGonagall, sabiam que eles estiveram em Azkaban, pois apagara as memórias dos guardas, mas logo dariam por falta de Gina e mandariam investigar. Harry forçou a mente e não se lembrou de deixar pistas. Concluiu mentalmente que deveria confiar em Hagrid.
 -Rúbeo – disse ele. – Nós estivemos... Bem...
 Harry parou para pensar novamente. Hermione tomou a frente.
 -Estivemos em Azkaban, Hagrid.
 Os olhos e a boca do gigante dobraram de diâmetro no mesmo instante em que ele derrubou a bandeja com os bolinhos no chão. Quando perceberam que ele ia começar à falar, protestar e dar broncas, Harry o interrompeu.
 -Gina foi pega injustamente. Você, mais do que ninguém, sabe que lugar horrível é aquele – disse Harry, com um arrepio, lembrando-se do mal-estar que teve de suportar nas longas horas em que estiveram na fortaleza. – Injustamente, Hagrid. Não pudemos deixar de ir salvá-la.
 Hagrid estava tudo, paralisado. Quando resolveu falar, seus lábios mal se mexeram.
 -Não pode estar falando sério.
 Os três trocaram um olhar apreensivo, julgando a atitude do amigo. Não poderia culpá-lo, se bem que já estava ficando farto das pessoas escutarem o que ele tem a dizer se impressionando.
 -Pois é, é a verdade – disse Rony, abaixando a cabeça.
 -Me contem mais – disse Hagrid, se sentando no sofá.
 Juntos, os três repetiram toda a história para Hagrid. Se possível, ele ficou ainda mais apreensivo.
 -Não acredito – disse Hagrid – Fui ingênuo, admito. É claro que quando Você-Sabe-Quem foi embora, pensei que as Forças das Trevas iriam junto. Esse tal bruxo que pegou vocês, Harry, você não o reconheceu? Não era um comensal da morte, nem nada parecido? Nunca viu citado no Profeta?
 -Não – admitiu Harry. – Nunca o vi. Mas ele usou magia das Trevas em nós. Tentou matar Hermione, não foi?
 -Sorte vocês terem essa tal espada. – disse Hagrid, levantando o dedo. – Mas, pensando bem, poderia tudo ser uma armadilha, não?
 Harry encarou Hagrid, tentando imaginar a hipótese.
 -Uma armadilha? – perguntou Harry. – O que quer dizer? Por que é que alguém iria querer me matar?
 -Hora, vamos usar o bom senso! – disse Hagrid. – Você é Harry Potter! Você acabou com o maior bruxo das Trevas de todos os tempos! Muitas famílias de Sangue-Puro dedicavam suas vidas ao Lorde, depositavam todas as esperanças nele. E foi você, Harry, somente você, quem o afastou. Agora, você só pode estar de brincadeira quando me pergunta por que alguém iria querer te matar. Existe muita, muita gente que daria tudo para lhe fazer mal, Harry!
 Ele tinha razão, e percebeu que não poderia argumentar. Se alguém armou uma armadilha para ele através de Gina, ela corria perigo. Não só ela, mas todos os amigos, incluindo Rony e Hermione. E, agora com Colapogge à solta, o risco era inimaginável. Harry não sabia por que, mas sentia que esse Colapogge poderia talvez representar tanto perigo quanto Tom Riddle.
 A copa de Quadribol se aproximava, junto dos NIEM’s, e, para apagar um pouco a ansiedade, vinha por aí também algo que ele não imaginava, nem nunca imaginou. Claro, como poderia saber do plano de Colapogge.

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