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 Harry sentiu suas pálpebras pesadas. Cada centímetro de seu corpo estava anestesiado com a dor. Sua visão estava embaçada, pois não tinha seus óculos, e Rony estava deitado ao lado dele. Com alguma dificuldade, Harry percebeu um enorme corte no braço do amigo, começando no ombro e terminando nas costas da mão esquerda. Com um arrepio, escutou a respiração ofegante próxima.
 [i]-Harry...? – murmurou uma voz.
 -Hm – disse. Sentia dificuldades para respirar.
 -Harry! – indiscutivelmente era a voz de Hermione.
 Algo tocou no rosto machucado de Harry, mas pela conhecida espessura, eram seus óculos. Ele pode enxergar novamente, as lentes iluminaram sua visão. Hermione estava parada em sua frente, com um enorme inchaço na boca, os cabelos amarrados e um sorriso fraco no rosto choroso. Rony dormia profundamente, tão machucado quanto.
 -O que aconteceu? – Harry perguntou com a voz arrastada.
 -Eu disse para vocês – A felicidade de Hermione ao vê-lo acordar foi embora na mesma velocidade em que veio. – Olha aí o que aconteceu!
 Um instante de silêncio mútuo. Harry não tinha como responder, admitia que era completamente impensado o que eles fizeram.
 -Lestrange tentou me matar – disse Hermione, com a voz fraca.
 -Como... Como escaparam...? – perguntou Harry.
 -Não foi nada divertido – disse a amiga. – A primeira coisa que fiz foi estuporar o amigo de Glanmore. A esse ponto, Rony já tinha acordado e me ajudou a deter Lestrange.
 -Rony foi bom? – perguntou Harry, sem encarar a amiga.
 -Bom? Ele foi extraordinário! – Hermione se sobressaltou. – Primeiro, ele pulou em cima de Glanmore, sem usar a varinha, e o derrubou no chão. Fez ele comer [i]muita[/i] grama.
 -Sério? – Harry esboçou um sorriso.
 -Sim, é sério. Depois, Lestrange conseguiu escapar dele e pegou a varinha. Então, eles voltaram a duelar.
 ’’Eu confesso que fiquei receosa no início’’, continuou Hermione, se sentando na beirada da cama de Rony. ‘’Mas não tinha por que eu ter medo. Rony dominou completamente o duelo, defendeu todos os feitiços de Lestrange e lançou uma maldição bem feita bem no rosto dele.’’
 -O que aconteceu com eles? Com Lestrange e o outro?
 -Bom, Lestrange desmaiou e Keller foi estuporado. Nós os deixaríamos lá, mas Rony achou melhor lançar um feitiço de desilusão neles e trancá-los em alguma masmorra. Enquanto ele fazia isso, eu comecei a te procurar, já que você estava invisível.
 Harry pela primeira vez olhou a sua volta. Apesar dos óculos em seu rosto sua visão continuava embaçada pelo sangue que adentrara em suas pálpebras.
 Onde ele estava, ao certo, ele não sabia. O sol entrava sorrateiramente pela janela entreaberta, iluminando a saleta. Não era um lugar onde ele já estivera, mas parecia um celeiro sem animais. No lugar de piso, o chão era coberto por uma terra vermelha que fazia uma poeira sem tamanho. A sala tinha poucas janelas, e em um canto um ajuntamento de palha seca formava um monte como se fosse uma pequena oca. O teto e as paredes eram feitos de madeira, não tinha mobília, apenas duas camas simples onde ele e Rony repousavam, e uma cadeira onde Hermione os olhava.
 -Onde estamos? – perguntou Harry.
 -Estamos na Sala Precisa. Não sei por que, mas esse foi o primeiro lugar que eu pensei quando tive que socorrer vocês.
 -Sala precisa? Mas por que estamos num celeiro?
 -Bom, precisava encontrar um lugar onde vocês precisavam repousar. Quer um lugar melhor do que este?
 O garoto entendeu completamente. Aquele local era de alguma forma extremamente agradável, apesar do cheiro de mofo.
 -Que horas são? Não sei onde guardei meu relógio...
 -Está aqui.
 Hermione tirou do bolso das vestes o relógio de prata de Harry e entregou-o.
 -Já passa das duas da tarde – disse Harry. – Você não foi às aulas?
 -Não – respondeu a amiga. – Na verdade, hoje é feriado, se esqueceu?
 Harry coçou a cabeça, e ao fazer isso, viu que seu cabelo estava duro e opaco, assim por causa do sangue seco.
 -Preciso de um banho – disse baixinho, só para ele.
 -Então se apresse – respondeu a garota. – Gina acabou de me avisar que a primeira visita à Hogsmeade será em uma hora.
 -[i]O quê?[/i] – Harry se levantou bruscamente da cama, e ao fazer isso percebeu que seu pé doía crucialmente. – Como vamos à Hogsmeade, não tenho autorização.
 -Não seja bobo – respondeu a amiga. – Somos maiores de idade, não precisamos de autorização.
 -Tudo bem. E Rony, vai ficar aí?
 -Na verdade, eu dei uma poção de relaxamento para ele. Sabe aquela que você tomou no quarto ano?
 -Sei – respondeu Harry, relembrando os acontecimentos. Naquele dia, quatro anos atrás, ficara frente a frente com Lord Voldemort ladeado por dezenas de comensais da Morte armados com varinhas, e ainda assim conseguiu fugir apanhando a Taça do Tribruxo, diferentemente de Cedrico, que fora cruelmente assassinado pelo servo de Voldemort, Rabicho.

 O desembarque dos alunos na primeira visita à Hogsmeade foi povoado de alunos. O pátio de Hogwarts ficou completamente lotado enquanto Filch recolhia as autorizações para poderem visitar o povoado, numa fila enorme que preenchia o corredor de saída todo. O calor de horas atrás fora substituído por uma leve brisa refrescante que vinha de encontro aos alunos.
 A essa altura, Rony já acordara; Gina também os acompanhava. Harry segurava sua mão, e o garoto não se sentia bem ao admitir que nos últimos dias o relacionamento entre eles fora um pouco interrompido devido ao Quadribol, os estudos, o duelo de Rony e, é claro, com o cuidado de proteger a espada e a si próprio de Colapogge. Também quase não tiveram tempo de procurar pistas sobre o bruxo, pois agora com os NIEM’s se aproximavam as aulas começavam a se tornar muito cansativas e trabalhosas.
 Na multidão que se espremia Harry pode notar Glanmore Lestrange, a professora McGonagall, um jogador de Quadribol da Lufa-Lufa, Zacarias Smith e outros conhecidos. Apesar de que o vento tentasse relutantemente impedir que eles derretessem, o aperto e o abafamento faziam com que Harry transpirasse. Não tinha espaço nem ao menos para andar.
 -Oi, gente.
 Era Luna Lovegood. Harry se sentiu feliz ao vê-la, fazia algum tempo que não conversavam. A última vez tinha sido no natal, e desde lá não trocaram nenhuma palavra além de ‘’oi’’ e ‘’bom-dia’’.
 -Oi, Luna. – disse Hermione. - Você vai nos acompanhar à Hogsmeade?
 -Claro, por que não? Onde é que vocês pretendem ir?
 -Bom, pensamos em passar no Três Vassouras primeiro e tomar uma cerveja amanteigada – disse Harry. – E depois iríamos às Gemialidades Weasley.
 -Gemialidades...? – Luna franziu a testa. – Eu me lembro dessa loja, mas não ficava no Beco Diagonal?
 -Sim, mas meu irmão, Jorge, abriu uma filial no vilarejo. Mandei uma carta a ele, e ele disse que estaria aqui hoje para nos vermos.

 A caminhada de Hogwarts à Hogsmeade foi rápida e agradável. Era muito tranqüilizador poder sair um pouco da escola depois de todas aquelas aulas e incidentes dentro do castelo.
 Enquanto atravessavam a pé a estrada de terra vermelha parda, o sol da tarde já se escondia atrás das montanhas, fazendo uma enorme sombra que os seguia enquanto caminhavam. Uma coruja alvíssima, branca como as nuvens ao céu, cortava o ar livremente distante deles. Harry reparou na carta amarrada na pata do animal, até voar e desaparecer no horizonte. Ele concordara com Hermione que deveria fazer uma visita à Dumbledore o quanto antes, dizer as novas notícias, descobrir o que ainda não sabe, conversar com o diretor sobre como está Hogwarts e como está indo nos estudos, pois ele sabia que o diretor iria gostar de receber algumas notícias.

 Ao chegarem a Hogsmeade, entraram numa Três Vassouras anormalmente vazia, com poucos estudantes e professores e alguns funcionários entediado Sentaram-se em uma mesa em um canto de imediato foram abordados pelo funcionário que carregava um pedaço de pano sujo na mão esquerda, um bloco de papel na direita e uma caneta atrás da orelha pontuda.
 -O que desejam? – perguntou o funcionário. Não deveria ter mais de vinte anos, porém sua voz era arrastada, grave e cansada, dando a impressão de que o rapaz de aparência jovial teria mais ou menos uns cinqüenta anos.
 -Cinco cervejas amanteigadas, por favor.
 Ligeiramente, o funcionário correra para o balcão, pegara uma garrafa de dentro de um armário e enchera cinco canecões com o conteúdo da garrafa até a borda. Levitando-os, colocou em uma bandeja e entregou um para Harry, um para Hermione, um para Luna, um para Rony e um para Gina.
 Após rapidamente tomarem os copos de cerveja amanteigada, saíram pela rua ensolarada de Hogsmeade e foram direto ao Gemialidades Weasley, a loja de Jorge. O motivo da falta de pessoas no Três Vassouras foi explicado instantaneamente: A loja estava apinhada de gente, que se empurrava tentando entrar. O tumulto era tão grande que não quase não tinha espaço para abranger todos, sendo que alguns esperavam ansiosamente do lado de fora. Entre as várias pessoas à porta, Harry destacou Lino Jordan, amigo de Jorge, que provavelmente ajudava-o com o comércio das Gemialidades.
 Ao lado, porém, a concorrente Zonkos estava às moscas. Um homem de jaleco preto encarava de cara feia a multidão de alunos se empurrando para poder entrar nas Gemialidades, que deveria ser o dono do estabelecimento.
 Aos poucos, o tumulto foi se dissipando, até chegar ao ponto em que eles poderiam entrar na loja sem serem atropelados pelo mundaréu de gente.
 A loja estava completamente diferente daquela simples e modesta no Beco Diagonal. No teto se prendia uma lâmpada esférica de luz fosforescente que mudava de cor a cada segundo. As paredes eram sitiadas por extensões de prateleiras cheias de objetos de todos os tipos. No fundo da sala tinha uma abertura que dava para uma escadaria circular que provavelmente era o segundo andar da loja, e ao lado o caixa. Um quadro prendia-se na parede, e tinha uma foto dos gêmeos Weasley. Fred e Jorge se mantinham abraçados, o braço por trás dos ombros. A foto se movia melancolicamente, onde cada um dos rostos sardentos sorria de orelha a orelha para quem quisesse ver. O tapete no chão era vermelho e tinha alguns detalhes dourados, onde e destacava uma enorme letra ‘’W’’.
 Jorge estava agachado a um canto, conversando com um aluno da Sonserina do primeiro ano que analisava um saco de Caramelos Incha-Lingua. Usava um uniforme vermelho, e em suas costas se destacava a mesma letra do tapete.
 Ao se aproximarem, o ruivo virou para eles e sorriu abertamente, se pondo de pé.
 -Ora, pensei que não viriam mais!
 Aparentemente, Jorge não mudara em nada desde a última vez em que se viram no Beco Diagonal, a não ser pelo cabelo que crescera de forma considerável, agora passara dos ombros. Se quisesse, poderia usar um Rabo-de-Cavalo como o de Gui Weasley.
 Lino agora estava ao caixa, atendendo alguns clientes. Harry viu de relance várias moedas de ouro sob o balcão, e o mesmo garoto que Jorge conversara instantes atrás agora saia da loja carregando uma imensidão de sacolas.
 Harry e os dirigiram-se junto de Jorge a um canto onde tinham alguns bancos, onde os seis se sentaram.
 -E então – perguntou Jorge. – Como vai indo os estudos para os NIEM’s?
 -Está sendo difícil – respondeu Hermione. – É complicado conciliar os estudos com o Quadribol, sabe? E tudo o mais.
 -Entendo. Porém espero que vocês vençam Sonserina no próximo jogo. É o último jogo de vocês, não?
 Harry relembrou o que vira alguns dias atrás no quadro de avisos da escola, onde lera o resultado do jogo entre Sonserina e Corvinal, que não fora nada bom. O time Sonserino batera o recorde de goleadas entre os times das casas de Hogwarts, onde vencera o time Corvino por quatrocentos e noventa a trinta.
 -Bom, pra ser sincero, não temos muitas esperanças de sermos campeões este ano.
 -Mas por quê? – impressionou-se Jorge. – Qual é o time de vocês?
 -Bom, nós quatro aqui, um artilheiro do quinto ano e outros dois batedores regulares. Nosso time não está fraco, mas...
 -O time Sonserino é que está forte – completou Rony. – Sem falar que precisaríamos ganhar o jogo por duzentos e oitenta pontos de diferença, o que é respectivamente impossível contra o time da Sonserina.
 Jorge suspirou, encarando por alguns segundos os próprios sapatos.
 -Vou uma coisa pra vocês – disse Jorge, quebrando o silêncio instantâneo que se propagara com a última informação. – Não é por nada, mas eu acho que jogar as toalhas numa hora dessas é um desperdício sem tamanho. Pelo que ouvi, o time de vocês jogaram excepcionalmente bem nos dois últimos jogos, e Harry têm a melhor vassoura que já existiu.
 Em suma, era verdade: Harry de fato tinha a melhor vassoura da atualidade, e o time Grifinório não jogara mal nos últimos jogos, apesar de cometerem vários erros na parte defensiva.
 -O que sugere, então? – perguntou Harry, que a uma semana do jogo já começava a roer as unhas. – Nosso time precisa fazer cento e trinta pontos de diferença antes de eu poder pegar o Pomo, caso contrário nós ganharíamos o jogo, e perderíamos a Taça.
 -Bom... Se me permite, Harry, tenho alguns conselhos para vocês. Coisa bem simples.
 Harry olhou dentro dos olhos do amigo e pode enxergar que ele falava sério. Estava disposto a escutar tudo o que poderia ajudá-lo na hora do jogo.
 -Bem, você terá que fazer com que o time ganhe tempo, isso é fácil. Você pode usar algumas técnicas para confundir o apanhador da Sonserina. Lembra do seu primeiro jogo, Harry? É a mesma coisa.
 O garoto se lembrava vagamente; Na verdade, se lembrava como se tivesse acontecido no dia anterior, poderia ver cada detalhe da cena em sua frente, como se assistisse a uma enorme peça de teatro. Lembrava-se de carregar a Nimbus 2000, a melhor vassoura na época, seguindo o time todo, com Fred e Jorge, Olívio Wood e todos os outros. Ao entrarem no campo, vira as arquibancadas lotadas clamando por seu nome, até capturar o Pomo de Ouro, ou melhor, engoli-lo.
 -Se você quer saber, eu acho que o time de vocês jogarem tudo o que sabem vocês podem ser campeões. Fiquei impressionado ao ver Hermione voando lá na Toca. Gina, particularmente você é uma artilheira sensacional. Nunca vi ninguém com tanta pontaria na minha vida.
 Harry sorriu para a namorada; Era bem verdade, Gina tinha o dom de fazer gols, tanto que alcançara justamente uma vaga tão desejada por dezenas de Grifinórios.
 -Rony, me lembro como se fosse ontem, no seu primeiro jogo de Quadribol, quando os Sonserinos cantavam ‘’[i]Weasley é nosso rei[/i]’’ – continuou Jorge – Particularmente naquele jogo você não foi bem, porém nos outros foi você quem garantiu a vitória. Portanto, seria importante para o time se você não se deixasse levar pela pressão.
 -Hora de ir! – ouviu-se a voz de McGonagall do lado de fora das Gemialidades.
 -Bom... Até mais – Harry se despediu de Jorge.
 Após todos se despedirem do comerciante Weasley, subiram novamente pela estrada na encosta do morro até chegarem ao castelo. O sol a esse ponto quase sumira, deixando à vista apenas raios mínimos que iluminavam o caminho vertiginoso em direção ao portão de carvalho.
 -Preciso da ajuda de vocês – disse Harry distraidamente, enquanto subiam as escadas em direção ao Salão Comunal. – Outra vez.
 Hermione, com quem Harry já discutira o plano de fazer Harry novamente se infiltrar na sala do diretor, entendera o que ele queria dizer.
 -O que vai fazer? – perguntou Rony.
 -Bom, eu conversei com Mione... E vou novamente entrar na sala do diretor.
 Rony franziu a testa, fazendo-se de desentendido.
 -Conversar com Dumbledore – argumentou Harry, antes que Rony o interrompesse.
 -Ah, sim... Bom, é uma boa. Talvez ele já tenha visto aquele livro que dizia que Colapogge é animago...
 -Foi o que pensei – disse Hermione. – Talvez ele guarde na memória a forma animaga de Rey Colapogge.
 Apesar de todas as informações que poderiam obter com a conversa dele com Dumbledore, a vontade dele era bem outra. Ele queria poder novamente falar com o ex-diretor, contar sobre suas novidades... Esquecer, nem que fosse por um momento, as preocupações e maus devaneios e concentrar-se nas coisas boas que tinham se passado nos últimos dias.
 -O que eu quero dizer – continuou o garoto. -, é que eu preciso que vocês tirem o diretor Richard de lá.
 -Bem, não será tão difícil, ele não para na escola...
 -É, mas eu preciso entrar [i]exatamente[/i] do mesmo modo como entrei pra roubar a penseira. Eu não sei a senha, e se vocês conseguiram uma vez, podem conseguir de novo.
 -Não acho que será tão fácil – disse Hermione. – Eu não acho que o diretor seja idiota o bastante para cair no mesmo truque duas vezes. Temos que arranjar outro meio...
 Ela tinha razão, é claro; Se mandassem outra carta ao diretor invocando-o para algo que o tirasse do castelo, provavelmente ele desconfiaria, sendo que da última vez o remetente não existira.
 Enquanto Harry se decidia o que era melhor fazer naquela ocasião, eles chegaram à Sala Comunal. O sol já sumira completamente, trazendo a penumbra de volta à Torre da Grifinória. Logo, eles precisariam descer para o jantar no Salão Principal. Com o corpo todo dolorido, Harry se jogou na poltrona e se pôs a observar a fogueira chamuscante na lareira, refletindo sobre as possíveis formas animagas de Rey Colapogge. Desde que descobrira essa capacidade por parte do bruxo, ele pensara em várias possibilidades, e chegou a se sentir paranóico com isso.
 Mione e Rony sentaram-se alados a ele. Por mais que seu cérebro relutante se escorçasse para ter alguma idéia de por seu plano em prática, não tomava conhecimento de nenhuma resposta plausível. Contentava-se ao observar as chamas bruxuleantes da lareira fazerem seus olhos doeram, porém seu cérebro não tomava conhecimento de tal fato. Seu corpo estava ali na Sala Comunal, mas seu cérebro, muito longe...
 A inspiração veio naturalmente. Parecia uma maneira tão óbvia que ele não acreditou que não pensara naquilo antes. Uma forma simples, prática e objetiva de entrar na sala sem ser visto.
 -Hei – disse de repente, chamando a atenção dos amigos. – Que tal se eu entrasse antes do jantar?
 -Antes do jantar? – perguntou Hermione. - Como é isso?
 -Ah, não é simples? O diretor terá de deixar a sala dele antes do jantar.
 -Sim, mas você não tem a senha. – disse Rony.
 -Não tenho, mas ele terá que abrir a passagem para poder sair. Bem, se tudo correr corretamente, eu entro na sala enquanto ele sai.
 Harry olhou para a janela, e pode observar que a noite ainda não chegara completamente. As últimas luzes do sol iam morrendo ao longe. Harry não conseguia acreditar que, nesse mesmo dia, acordara cedo da manhã para ajudar Rony com um duelo.
 -Certo, Harry – disse Hermione. – Se você vai mesmo fazer isso, sugiro que vá imediatamente vigiar a sala do diretor. Em menos de meia hora começará o jantar, e nunca se sabe se o diretor vai sair mais cedo.
 Harry inclinou-se e subiu as escadas em direção ao dormitório. Desceu de lá vestindo uma capa preta e carregando sua capa de invisibilidade sobre o ombro.
 -Bem – disse esvairando-se para a saída da Sala Comunal. – Nos vemos mais tarde.
 O garoto saiu pelo quadro, onde agora se encontrava na escadaria. Não hesitou em colocar a Capa de Invisibilidade, pois não queria ser repreendido, e desceu dois degraus por vez. Mais uma vez parou derrapando ao conhecido corredor próximo da Torre do Relógio. Por sorte, o corredor estava vazio.
 [i]Certo[/i], pensou.[i]Logo o diretor vai sair por aquela porta... E eu vou poder entrar.[/i]
 Era muito desconfortável esperar longos e agonizantes minutos do lado de fora da gárgula de pedra, consciente de que o diretor já poderia ter saído. Poderia, pelo menos, ter combinado uma maneira com Rony e Hermione de avisá-lo caso o diretor já chegasse ao Salão Principal, mas antes que pudesse refletir sobre quão tamanha fora sua estupidez um ruído ao lado o fez prender a respiração.
 Passos contínuos, cada vez mais próximos, eram abafados pelas paredes sólidas que cercavam a Sala. Ele reconheceu o som de passos imediatamente; Diversas vezes ele mesmo produzira um som parecido, ao pisotear pelos degraus metálicos da escada de caracol que dava acesso até a sala, outrora, de Dumbledore.
 Recostou-se ainda mais na parede quando a gárgula de pedra se mexeu para o lado, e o diretor saiu; Dizendo algumas palavras inaudíveis para a gárgula, que lentamente voltava a se fechar, ele se distanciou, dando as costas para o garoto. Harry sabia que aquele era o momento, e mergulhou de ponta segundos antes da gárgula se fechar. Sentia-se feliz ao saber que finalmente conseguira entrar, porém se sentia angustiado por bater a cabeça no primeiro degrau da escadaria.
 Agora que ele entrara, não tinha mais por que continuar com a capa. Torcendo para que os retratos estivessem em um sono profundo (exceto o de Dumbledore), ele subiu ao primeiro patamar, onde encontrou uma Sala que nunca vira antes.
 Para quem estava acostumado com a antiga sala do diretor Dumbledore, a nova chegava a fazer doer os olhos. As paredes onde eram recostadas as prateleiras que outrora foram recheadas com objetos de prata foram substituídas por tapeçarias azul-marinho. A tão conhecida escrivaninha velha fora substituída por uma nova e magistral. O armário onde era guardada a penseira agora estava carregado com uma imensidão de poções, entre elas uma que fora citada em uma aula de Slughorn neste mesmo ano. Um tapete feito com o couro de um urso polar gigantesco forrava o chão empoeirado da saleta escura, pois as janelas foram cobertas com pesadas cortinas negras. Aparentemente, as únicas coisas que restaram da antiga sala era a imensidão de quadros na parede, onde dezenas de ex-diretores da escola roncavam alto, afogados no sono.
 Com um sobressalto, lembrou-se do que viera fazer ali, e também se lembrou da iminente limitação de tempo. Aproximou-se cauteloso do quadro onde um velhinho barbudo jazia deitado sobre os braços, cochilando educada e silenciosamente sobre a moldura bem-trabalhada do retrato. Receoso, Harry chamou:
 -[i]Professor Dumbledore?[/i] – sussurrou.
 -Pois não? – disse o diretor automaticamente, como se imaginasse que ainda estava sonhando. Demorou alguns segundos até perceber que acordara, e que Harry fora o responsável por tal acontecimento.
 -Harry, meu bom rapaz! Como vai?
 -Vou bem – respondeu Harry, com a voz fraca e ao mesmo tempo agitada. Sentia-se apreensivo, pois a qualquer segundo o diretor poderia voltar. – E o senhor?
 -Muito melhor agora, Harry. Estava precisando exercitar a voz, faz tempo que estou precisado de uma boa e longa conversa.
 Harry sorriu para o diretor. Ele, naquele momento, seria a única pessoa que entenderia seus devaneios, que poderia lhe dar conselhos decentes.
 -E então, como vão os estudos? Espero que venha se empenhando para os testes de nivelamento.
 -Como um Elfo-doméstico – respondeu ele, com uma expressão estranha no rosto que lembrou as caretas que Rony usualmente faz.
 -Que bom Harry. Bom, imagino que tenha a ambição de ser auror, não é? Vai precisar se esforçar muito...
 -É isso mesmo! Como adivinhou?
 -Ah, Harry, só porque eu estou dentro de um quadro não quer dizer que minha inteligência esvairou-se.
 Olhou rapidamente no relógio em seu pulso, e percebeu que já estava ali fazia dez minutos. Era melhor ir direto ao assunto, ele poderia, é claro, confessar-se com Dumbledore.
 -Bem, professor, eu tenho... Hm... Uma dúvida.
 -Então a diga, Harry, ficarei feliz em tirá-la.
 Os olhos azul-profundo de Dumbledore cintilavam atrás dos óculos meia-lua. Harry sabia que o diretor já entendera a mensagem.
 -Bem... A professora McGonagall já deve ter falado com o senhor... A respeito de...
 -Ah, sim – o sorriso de Dumbledore sumiu, sendo trocado por uma expressão armagurada. – Estava esperando por isso, Harry.
 Harry sentiu feliz em não ter que ficar detalhando tudo: levaria um bom tempo, e isso era algo que ele não tinha.
 Depois de explicar basicamente tudo o que tinha a dizer, afirmando que já descobrira que Colapogge era animago, que não tinha a mínima idéia de quem era, explicara sobre as profecias na estátua e no pergaminho encontrado por Hermione, sobre o ataque do Nundu no Largo Grimmauld, sobre as previsões descritas no Livro do Destino, a ida à Azkaban, o duelo com Glanmore Lestrange e todo o resto.
 -Bem, eu esperava que vocês descobrissem logo – disse o ex-diretor com um sorriso fraco no rosto após o longo discurso de Harry. – Eu já suspeitava.
 -Suspeitava de quê? – perguntou o garoto sem entender.
 -Que ele está em Hogwarts. O medalhão que vocês encontraram no banheiro deixa isso claro. Suponho, então, que você já tenha ligado as coisas...?
 -Sim – respondeu. – Sendo o medalhão de Colapogge de ouro, indica que ele tocou-o com a Luva de Merlim. Bem, nunca se sabe, não é mesmo?
 O diretor não respondeu, apenas apreciou-o por trás das grossas lentes.
 -Eu estou com medo, professor Dumbledore – disse Harry, sem jeito. Era difícil admitir que sentia medo. – Bom, Rony, Mione e eu andamos conversando... Como eu lhe disse, o Livro do Destino tinha sido pego pela última vez por Rey Colapogge na biblioteca, depois sumiu por séculos, o que indica que ele leu a profecia sobre o duelo entre os herdeiros das quatro casas. Acreditamos que, de alguma forma, Colapogge já sabia que era descendente de Ravenclaw, e também pensamos que um bruxo daquela época teria atitudes tradicionais, não? Iria querer levar ao pé da letra a profecia sobre o duelo, já que aparentemente foi escrito pelos os [i]Deuses[/i]. Bem, o senhor acha que é verdade?
 Dumbledore sorriu satisfeito em seu quadro.
 -Por que não? – respondeu ele. – Fico muito feliz que finalmente tenha sido encontrado...
 Mais uma espiada no relógio, e Harry viu que já fazia meia hora que estava ali. Um arrastar de pés ao longe o fez calcular que o jantar acabara, e que os alunos estavam voltando para seus dormitórios – e o diretor, para a sua sala.
 -Vejo que tem pressa, Harry.
 -Sim, professor. – Harry começava a se sentir frustrado e com medo, e puxou a capa para mais perto dele caso precisasse se esconder rapidamente. – Bem, vou direto ao assunto, então. Eu queria perguntar se o senhor sabe a forma animaga de Colapogge.
 A expressão no rosto de Dumbledore se deformou mais uma vez. Agora era um olhar severo, avaliativo, acentuando ainda mais as rugas no pálido rosto do velho diretor.
 -Parcialmente, sim – respondeu o diretor, e Harry sentiu uma onda de excitação dentro dele. – Mas vou deixar isso com você, Harry. Não é um enigma, mas creio que será mais... [i]Divertido[/i] você descobrir sozinho.
 -Não estou entendendo, professor. É muito importante, eu preciso dessa informação.
 -E eu vou dá-la. Muito bem... Pedi à prof.McGonagall que guardasse as minhas preciosas lembranças na Sala Precisa, Harry. Procure pela [i]Severo Snape, 02/05/1995.[/i]
 -Só isso? – indagou Harry. – Essa lembrança me ajudará a descobrir a forma de Colapogge?
 -Creio que sim.
 -Mas... Professor... – disse Harry, se lembrando. – A Sala Precisa foi destruída.
 -Sim, Harry – Dumbledore sorria bondosamente. – Basta você querer ela nova.

 Após a saudosa conversa com Dumbledore, Harry voltou direto ao salão da Grifinória. Não queria visitar a Sala Precisa sozinho, parecia egoísta demais desde que eles embarcaram nessa busca juntos. Com o estômago roncando, Harry sentou-se na poltrona próxima à porta do Salão vazio.
 A porta se escancarou, e por ela entraram uma trupe de alunos do primeiro ano que conversavam agitados. Passaram olhando para Harry, encarando sua cicatriz. Logo, os mesmos garotos alargaram os passos e subiram, agitados, a escada de caracol.
 Após alguns minutos de espera, Rony e Hermione entraram na sala, conversando baixo.
 -Como foi? – perguntou Rony, diretamente.
 -Acho que temos a informação – respondeu Harry. – Precisamos ir à Sala Precisa.
 Harry se levantou e encaminhou-se em direção à saída do salão, onde Rony e Hermione o acompanharam sem contestar.
 -O que exatamente Dumbledore disse? – perguntou Hermione.
 -Bem, ele me disse que precisaríamos ir à Sala Precisa porque McGonagall guardou lá uma lembrança, e essa lembrança nos dirá quem é Colapogge. [i]Assim espero[/i] – acrescentou baixinho, pra si mesmo.
 Ao chegarem à conhecida Sala, ela parecia não ter nenhuma cicatriz da guerra passada. A portinha que dava acesso ao Armário de Vassouras estava nova, impecável; Dava a impressão que eles agora iam estreá-la.
 -Sabe o que fazer – disse Rony.
 Harry deu um único passo longo à frente, e desejou ter as lembranças de Dumbledore. Em um curto espaço, ele saiu e entrou três vezes na portinhola do armário, até que uma majestosa porta de Carvalho de materializou diante deles. Imaginando o que encontraria lá dentro, ele girou a maçaneta e entrou.
 Ficou impressionado ao ver que a Sala, provavelmente, teria espaço apenas para uma pessoa. Apesar da imensa porta, o conteúdo interno era limitado, porém objetivo. A sala ‘’toda’’ era ocupada por uma única estante, parecia uma miniatura de um prédio em construção, onde vários frascos de cristal estavam guardados, meticulosamente enfileirados e todos com uma etiqueta branca, onde tinha um nome e uma data. Essas lembranças estavam todas em ordem alfabética, então facilitou demais a busca.
 Começando com as lembranças de cima, não pode deixar de sentir uma grande surpresa, e uma ligeira vontade de espatifar o frasco. [i]Amico Carrow, 24/06/1998[/i], era o que dizia. Franziu a testa para o objeto, perguntando-se qual seria seu conteúdo... Sentia-se tentado a furtar o frasco e analisá-lo em sua própria penseira, porém achou melhor não. Sendo o que fosse, achava melhor não ver.
 Ele continuou a procura. Após dezenas de lembranças de ‘’[i]Alvo Dumbledore[/i]’’, ele encontrou [i]Bernardo Nowm, Cassandra Trelawney, Dédalo Diggle[/i] entre outros, [i]até chegar à letra ‘’S’’.
 Ficou ainda mais chocado ao ver o primeiro nome. Seus olhos se esbugalharam e sua boca se abriu num perfeito ‘’o’’. [i]Salazar Slytherin, data desconhecida[/i]. O que guardaria uma lembrança de Slytherin?
 -Como vai aí? – perguntou Rony, do lado de fora da saleta.
 Harry demorou alguns segundos para responder. Estava chocado demais para falar.
 -Hm... Bem... Só mais um segundo.
 Sentindo ódio de si mesmo por convencer-se a não furtar essa lembrança, Harry agarrou a que se intitulava [i]Severo Snape, 02/05/1995[/i] e saiu da sala.
 -Achei – disse ao sair da apertada sala.
 -Tudo bem – disse Hermione com um leve tom de excitação na voz. – Temos a lembrança, onde está a penseira?
 -Junto com a espada, no dormitório. Vamos!
 Harry se apressou a mais uma vez naquele dia subir as escadas correndo. Seu corpo estava por inteiro cansado, pois o dia fora realmente longo. A penumbra atrás da janela de vidro indicava que já se passavam das dez horas da noite.
 Ao chegarem ao Salão, Harry se apressou a dizer a senha para entrar no quadro:
 [i]-Casa do campo.[/i]
 O quadro girou para dentro, e eles entraram. O Salão Comunal estava mais uma vez quase vazio, pois agora ao tardar da noite a maioria dos alunos se foram dormir. Alguns dos presentes conversavam e faziam os trabalhos escolares.
 Apressado, Harry correu pela escada de caracol junto dos amigos. Afastando a agora conhecida tábua solta, ele encontrou o que era naquele momento seus pertences mais valiosos, a espada e a penseira.
 Agarrando-se às bordas da pesada bacia de pedra encravada, ele a depositou sobre o tapete. Estava, como era de se esperar, vazia, esperando para revitalizar uma lembrança oculta.
 Sentindo-se levemente receoso do que viria a seguir, Harry despejou o conteúdo do frasco dentro da penseira; Logo, a lembrança se expandiu, cobrindo a bacia até a borda. Entre os vultos que corriam pela substância branco-pérola, ele distinguiu o vulto de Severo Snape.
 -Prontos? – perguntou com a voz fraca de tanta excitação.
 -Manda bala – respondeu Rony.
 Em sincronia, o trio afundou a cabeça na bacia; Por um instante, somente o pescoço de Harry estava coberto pela substância, mas em um momento qualquer ele sentiu seu corpo deixar o dormitório e flutuar com leveza no que seus pés tocaram a terra firme.
 Olhou a sua volta; Conhecia aquele lugar como a palme de sua mão, mas não trazia boas lembranças. Sentiu o estômago afundar ao ver ali, diante dele, o rosto carrancudo e o nariz adunco de Severo Snape, seu antigo professor de Poções, sentado à escrivaninha, rabiscando em um livro com uma pena.
 Eles estavam na masmorra onde o antigo professor ensinava sua matéria. Não teve tempo para observar bem o local, pois uma sombra anormalmente grande se materializara e entrara pela porta entreaberta da masmorra, bruxuleante devido à luz das velas.
 Inicialmente, Harry percebeu que Snape também vira tal sombra. O professor franziu o cenho ao olhar para a porta. Temeroso, Harry reparou o movimento sutil do bruxo ao enfiar a mão nas vestes, preparando a varinha. Harry imaginou que isso fora devido ao fato de quando vivo Snape não recebia muitas visitas.
 A próxima coisa que vira fez o coração de Harry dar um salto. Na medida em que a sombra gigantesca ia perdendo volume, a porta se escancarou, e Dumbledore entrou na masmorra. Usava as mesmas vestes que costumava vestir quando vivo. Um suéter branco, coberto com uma capa ainda mais clara.
 -Olá, Severo – disse ele, com uma expressão séria. – Desculpe não bater na porta, é que ela estava aberta.
 Neste intervalo de tempo, Snape abruptamente guardara o livro em que escrevia na gaveta da escrivaninha, e acidentalmente rasgara o canto de uma página.
 -[i]Olhem![/i] – disse Hermione, sussurrando sem motivo. – [i]Repararam na capa? É o livro onde encontramos a lista dos animagos![/i]
 -Eu percebi – disse Harry com a voz forte. – Agora poderia fazer silêncio, quero escutar a conversa.
 Voltando a atenção aos ex-professores, Harry soube que Snape não respondera ao diretor, apenas fitava-o em silêncio. Novamente sem convite, Dumbledore sentou-se na cadeira defronte à Snape.
 -Bem, vamos direto ao assunto. Estou aqui para tratar de um assunto sério, Severo.
 Novamente, Snape preferiu o silêncio. Dumbledore, vendo que Snape não iria responder, continuou:
 -É sobre o Harry. Ele veio me procurar faz poucos minutos, e narrou um sonho um tanto... Estranho.
 Harry sabia que dia era aquele: Ou melhor, noite. Aparentemente o sol já se fora havia muitas horas, pois levando em consideração a densidade da penumbra através da janela já se passavam das três horas da manhã.
 -O senhor me desculpe – rosnou Snape. – Mas não me interesso por Potter e seus sonhos.
 Dumbledore não se abateu, e continuou:
 -Desta vez você vai se interessar, Severo. Harry entrou na mente de Lord Voldemort.
 -Como disse? – Snape arregalou os olhos negros como besouros para Dumbledore. – Como isso é possível, Dumbledore?
 Atrás daquela densa juba perolada, Harry jurou ter visto os lábios de Dumbledore crisparem, fitando Snape por cima dos óculos.
 -Lembra de Nagini? – perguntou o diretor entre dentes.
 -Claro. O que tem ela?
 -Todos sabemos que Voldemort têm uma ligação com essa cobra – respondeu Dumbledore, evitando encarar Snape nos olhos. – Harry narra ter entrado na cabeça da cobra, e viu-se atacar Arthur Weasley, no corredor de acesso ao Departamento de Mistérios. Graças à Harry, conseguimos salvá-lo em tempo.
 A expressão no rosto grosseiro de Snape não espelhava a pena, muito menos a piedade: Demonstrava repugnância.
 -A serviços da Ordem? Eu o avisei Dumbledore, Weasley não é qualificado para uma tarefa de tão...
 -Não penso que ele tenha culpa no cartório, Severo – disse Dumbledore – Afinal estamos lidando com o maior bruxo das Trevas de todos os tempos.
 Os olhos de Snape encaravam as migalhas de sensiário podre sobre a mesa. Dumbledore ergueu os olhos para ele. Incapaz de se conter, Harry se aproximou mais da mesa.
 Com um solavanco, Harry sentiu um puxão pelas costas e caiu novamente do dormitório masculino. Por sorte, ainda vazio. Os garotos apressaram-se a guardar a penseira sob a tábua, e se encararam por um segundo distinto, conversando mentalmente, e a resposta era uma só, simples e direta. Porém, eles precisavam contar com a sorte, e isso era uma das coisas que não tinham naquele dia.
 -Está na sala do Slughorn! – sibilou Rony.
 -[i]Talvez[/i] esteja – corrigiu Harry, com um arrepio. – Só saberemos se formos até lá.
 -Já passam das dez – informou Hermione, olhando para o relógio. – Acho que seria melhor se formos lá amanhã, enquanto o professor não estiver.
 Mas Harry já apanhara a Capa de Invisibilidade, pronto para sair da Sala Comunal.
 -Eu vou agora. Existe a possibilidade de que Slughorn encontre esse pedaço da página até amanhã, e é melhor não nos arriscarmos.
 -Nos vemos mais tarde – e dizendo isso, saiu pelo retrato.
 Encontrou as escadas móveis desertas, mas isso era normal, pois a essa altura da noite os alunos eram proibidos de sair de suas salas comunais.
 Correndo por baixo da Capa, Harry encontrou as escadas circulares que davam acesso à masmorra onde existia a Sala de Poções. Assim como na lembrança de Snape, a porta estava entreaberta e a iluminação da sala em riste. Agoniado, lembrou-se de que Dumbledore criara uma sombra ao entrar na sala, e perguntou-se se a capa também escondia a sombra de quem a usa. Fechou os olhos e silenciosamente adentrou na Sala.
 Slughorn estava no mesmo lugar que Snape na lembrança. Sentado defronte à sua escrivaninha, porém este não rabiscava um livro, encarava uma pequena caixa de madeira e um recipiente cheio com uma poção que Harry não reconhecera. Aparentemente o professor não percebera a entrada do garoto em sua sala. Tinha que tirá-lo dali antes de vasculhar a escrivaninha... Ou, pelo menos, impossibilitá-lo de ver o que fazia.
 Sabia o que tinha que fazer. Tinha a varinha e a Capa, e precisava daquele pedaço de papel.
 ’’[i]Pelo bem maior[/i]’’, pensou. Então, silenciosamente, petrificou o professor por baixo da capa.
 Antes de ser azarado, Slughorn conservava o cenho franzido e os olhos apertados. Agora tinha uma expressão surpresa, os olhos esbugalhados em contraste com sua testa lisa. Antes de tirar a capa, Harry ainda conjurou uma tarja preta que impedia a visão do professor, além do feitiço Abaffiato.
 Agora tinha tudo o que precisava para sua busca. Com dificuldade, arrastou a cadeira do professor, pois este estava na frente da gaveta onde procuraria.
 A tensão era imensa. Harry sabia que sua única chance era encontrar o pedaço de papel dentro daquela gaveta. Sentindo a excitação correr por cada partícula de seu corpo, esticou os dedos e abriu-a.

 O quadro da mulher gorda girou silenciosamente para dentro, dando acesso à sala comunal da Grifinória quase vazia. Rony e Hermione esperavam ansiosamente sentados em poltronas próximas à lareira. Harry entrou pelo quadro, para a surpresa e alívio dos amigos. Carregava por baixo do braço direito um pequeno livro de capa negra, e na mão esquerda apertava um pedaço de pergaminho rasgado.
 -E então? – indagou Hermione, mas seus olhos recaíram na mão esquerda do garoto e um sorriso se abriu no rosto da amiga.
 Harry sorria também; Tinha o livro onde encontrariam a lista de animagos incompleta, e o restante da informação estava ali, naquele pedaço de pergaminho. Por algum motivo Harry convenceu-se à não ler enquanto não chegasse até ali.
 -Como foi que você encontrou? – perguntou Rony abruptamente. – O que teve que fazer?
 -Não faz diferença – respondeu Harry corando. Não queria admitir que enfeitiçara um professor na frente de Hermione.
 Harry descansou o livro na mesa redonda, no centro da Sala Comunal, e abriu-o na única página rasgada.
 Devagar, Harry colocou o pedaço do pergaminho no canto rasgado da página; seu coração bateu mais rápido ao perceber que se encaixavam.
 A última linha da página informava que [i]Rey Holo Colapogge[/i] tinha a propriedade de se transformar em um animal, o animal de sua antiga casa na escola de Hogwarts, a rainha das aves: A Águia.

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