A Azaração Elétrica



 A manhã seguinte foi pura agitação. Alunos de todas as idades, saindo correndo pelo buraco do retrato, ansisos pela primeira aula do ano. O tempo já não estava tão chuvoso, à altitude da torre da Grifinória era só visível, pela janela, a névoa branco-prateada. Harry acordou cedo, cerca de sete horas, viu que Rony já estava de pé se trocando.
 -Enfim você acordou. Hermione já desceu para o café.
 Harry se levantou, abriu o malão ao pé da cama e procurou pelas vestes vermelhas da Grifinória. Após se trocar, seguiu Rony e juntos desceram as escadas em direção à sala comunal, que, no momento, estava quase vazia, senão por alguns alunos do segundo ano examinando os novos livros.

 Quando chegaram no reaberto Clube de Duelos, encontraram a sala apinhada com alunos de vestes vermelhas, outros com vestes verdes. Uma mulher com longas vestes brancas, cabelos muito negros presos em um nó na nuca, rosto magro, entrava pela porta ao fundo da sala. Segurava uma varinha na mão esquerda, e tinha uma expressão um tanto severa no rosto.
 -Olá, alunos do sétimo ano - disse, sua expressão mudando para um bondoso sorriso. - Fiquei abismada quando soube que o prof. Dumbledore tinha fechado o clube de duelos. Em meu tempo, em Hogwarts, era minha matéria favorita. O duelo, em si, é o modo em que os bruxos bem-intencionados detinham os bruxos das Trevas. O duelo já foi característica de várias vitórias sobre famosos bruxos das Trevas, entre eles, Grindewald, e, mais recentemente, a queda do mais poderoso bruxo das Trevas que já existiu, o Lorde das Trevas, Tom Riddle, mais conhecido como Lord Voldemort.
 Seu olhar repentinamente passou pelo rosto de Harry, então por sua cicatriz; Voltou aos alunos.
 -O duelo só acontece quando os bruxos envolvidos concordam. Caso algum deles não concordar, o duelo não acontecerá. Acontecerá, talvez, uma luta de feitiços, mas o duelo consiste em três partes.
 ''Primeiramente, a reverência''.
 A professora se adiantou de modo a ficar visivel à todos os alunos, levou uma das mãos as costas e a outra em frente, e se inclinou ligeiramente para a frente.
 -Após a reverência, que é um gesto de respeito ao adversário, os duelistas devem dar sete passos para trás, virados de costas uns aos outros.
 Dessa vez a professora, cumprindo suas palavras, virou o corpo e deu sete passos em frente.
 -Agora, acredito que o mais importante, o posicionamento.
 Ela elegantemente colucou o pé esquerdo ligeiramente dobrado na frente, o direito atrás, a varinha apontada para frente, a mão desocupada levantada para trás.
 -O juíz tem o dever de dar a partida. Em duelos profissionais, ele lança faíscas douradas para cima com sua varinha, e quando essas faíscas tocarem ao chão os duelistas podem lançar seus feitiços. Os padrinhos são obrigatórios em duelos profissionais, de fato. Ficam de fora do duelo, e caso haja algo com o duelista que representa, ele entra em seu lugar. Em duelos são proibidas as Maldições, só são permitidas as Azarações e Contra-Azarações.
 Alguns alunos murmuraram entre si.
 -Agora, gostaria que dois alunos subissem ao palco para uma demonstração. Weasley, Lestrange, por favor.
 Rony olhou apavorado para Harry, em seguida para Glanmore Lestrange, o aluno que tentara atacar Rony no dia anterior. Ele já estava no palco, com uma expressão vitoriosa e aparentemente despreocupada.
 -Vai lá - disse Harry baixinho. - É a sua chance, acaba com ele.
 Rony parecia que ia desmaiar. Adiantou-se em direção ao palco, subiu a pequena escada que levava ao palco, e se aproximou do adversário e da professora. Glanmore tinha agora uma expressão de puro desprezo.
 -Prontos? - a professora perguntou. - Empunhem a varinha. Gostaria que apresentassem aos alunos a Azaração Elétrica. Já ouviram falar, suponho?
 -Não - responderam Rony e Glanmore juntos.
 -Tudo bem - disse a professora. Fez um floreio com a varinha, e dela saiu uma nuvem marrom, que se transformou em uma almofada; Caiu levemente no chão.
 ''Os feitiços mais usados em duelos são esses: O estuporamento...''
 Ela apontou para a almofada. De sua varinha, saiu um jato de luz vermelha, que atingiu a almofada no chão com um pequeno baque.
 -O feitiço ''Estupefaça''. Outro, também muito usado, é o feitiço para desarmar, o ''Expelliarmus''... deixe-me mostrá-los.
 Ela voltou à apontar a varinha para a almofada, e dela saiu um pequeno jato claro e transparente; A almofada vôou alguns metros para frente, e caiu, derrapando, no chão.
 -Essas duas são Azarações muito importa muito importantes. Mas a Azaração mais usada em duelos... alguém saberia me dizer qual é?
 -Hermione levantou a mão no ar, antes de qualquer outro.
 -Muito bem, srta...?
 -Hermione Granger - respondeu. - A Azaração mais usada em duelos é a Azaração Elétrica, causa um choque no alvo que pode deixá-lo inconsciente por várias horas. Verbalmente, a Azaração Defferius.
 -Muito bem, dez pontos para a Grifinória - A professora voltou para os Rony e Glanmore, que estavam de costas um para o outro, as varinhas em mãos e as caras amarradas.
 -Vocês deverão azarar um ao outro com o feitiço Defferius. Um pequeno porém: o feitiço não pode ser pronunciado. Quero que realizem o feitiço de maneira não-verbal. Fiquem tranquilos, ninguém aqui vai sofrer um grande choque elétrico. O feitiço Enervate, que serve para reacordar alguém que foi estuporado, também serve para a azaração Defferius. Porém, não creio que alguém aqui já revela tanto poder para desacordar alguém com um feitiço de choque. Muito bem, se preparem...
 Rony e Glanmore, os dois demonstrando um profundo desprezo, se colocaram um a frente do outro. Ao invés de fazer a reverência, meramente abaixaram a cabeça insignificantemente. Viraram-se para o lado, e caminharam os sete passos, até estarem à cerca de dez metros de distância.
 Apontaram a varinha um para o outro; A professora lançou fagulhas douradas para o alto, e antes das fagulhas chegarem ao chão, Glanmore, esquecendo por completo a ordem de produzir os feitiços silenciosamente, gritou tão alto que chegou á produzir eco:
 -DIFFERIUS!
 Da ponta de sua varinha saiu uma enorme luz prateada: algo parecido como um trovão. O feitiço, como uma enorme serpente, foi se enrolando pelo corpo de Rony, que parecia estar sentindo estrema dor: imóvel, as pernas e braços esticados, os olhos fechados e a boca aberta num grito que nunca saiu; Harry viu o rosto do amigo ficar vermelho, os cabelos se arrepiarem e enegrecerem.
 Num acesso de raiva. Harry enfiou a mão no bolso das vestes à procura da varinha, mas no mesmo instante a professora já se encaminhava em direção ao palco.
 -Impedimenta!
 A Azaração de Glanmore foi cortado ao meio, como se o feitiço da professora tivesse criado uma barreira invisível entre os dois duelistas. Glanmore agora mantinha uma expressão satisfeita, muita gente ao redor murmurava apontando para Rony. Várias meninas soltaram gritinhos ao ver seu corpo, imóvel e cheio de queimaduras, no chão, com os braços e pernas abertos em ângulos estranhos. Por um momento fébril, imaginou que o pior poderia ter acontecido...
 -Enervate!
 Rony pareceu demorar à perceber que recuperara os movimentos. Permaneceu alguns segundos lá, imóvel, a boca estatelada e os olhos fechados. Então, trazendo uma onda de alívio para Harry, o amigo se sentou.
 -Lestrange - começou a professora, impassível. - Me espere aqui na sala. Combinaremos sua detenção.
 A professora se dirigiu até a porta.
 -Weasley, me acompanhe, por favor. Precisamos conversar com Madame Pomfrey. Lamento - acrescentou. - Aula encerrada.
 Rony e a professora sairam. Muitos ali sussuravam indignados.
 -Ei, Potter.
 Glanmore Lestrange vinha em sua direção. Involuntariamente, Harry cerrou os punhos.
 -Não vai ajudar seu amiguinho traidor do sangue, Potter?
 Então, sua raiva atingiu o limite. Largando a varinha no chão, Harry disparou um soco no rosto de Glanmore, que não teve tempo de se defender, e caiu no chão com um baque. Intensamente enfurecido, Harry apanhou a varinha do chão e, bufando de raiva, saiu da sala, bem em tempo de ver a profª Fletcher e Rony dobrarem o corredor.
 Harry correu atrás.
 -Profª. Fletcher!
 A professora olhou por cima do ombro.
 -Sim, sr. Potter?
 -Posso acompanhá-los à ala hospitalar?
 -Claro, Sr. Potter. Porém, creio que não poderá ficar lá por muito tempo. Você conhece madame Pomfrey.
 -Tudo bem, Rony?
 Rony olhou para trás.
 -Tirando o fato de que meus cabelos não são mais ruivos - puxou uma mecha dos cabelos enegrecidos pelo feitiço -, tudo bem, sim.
 Harry acompanhou-os até a porta da ala hospitalar. Chegando lá, Madame Pomfrey abriu a porta e lançou à Rony um olhar de profundo pavor.
 -Céus, isso seria o efeito de algum feitiço de choque?
 -Sim - respondeu a profª. Fletcher. - A azaração Defferius. O ferimento é grave?
 -Ah, nada que eu não possa curar - respondeu Madame Pomfrey, ajudando Rony à se deitar na maca. - Teve um choque muito grande, algo superior à um choque de 1500 voltz. Terá de ficar alguns dias em repouso, para a circulação do sangue voltar ao normal.
 -Bom, se é só isso, eu vou indo.
 A professora Fletcher saiu, deixand Harry e madame Pomfrey praticamente sozinhos, sendo que Rony agora já dormira na maca. A curandeira dessa vez se dirigiu à Harry.
 -Potter, eu sei que Weasley é seu amigo, mas lamento dizer que ele tem que precisa de repouso.
 -Tudo bem, não quero atrapalhar. Tchau.
 -Até outro dia, Sr. Potter.
 Saindo da ala hospitalar, correu para procurar Hermione. Certamente, a amiga estava aflita, e Harry queria lhe dizer que Rony não enfrentava sérios apuros. Imaginando se ela voltara à sala comunal, Harry se apressou-se em se dirigir ao retrato da mulher gorda.
 Harry entrou na sala comunal praticamente vazia. Hermione estava sentada em uma poltrona próxima à lareira, muito aflita.
 -E então? - perguntou.
 -Ele vai ficar bom.
 Hermione olhou para o chão. Harry imaginou por que ela não tinha os acompanhado à ala hospitalar.
 Por um momento, Harry se esqueceu do acontecimento anterior; Não vira Gina na aula de Duelos, e, parando para pensar, não a vira desde que chegaram à Hogwarts. Com um aperto no peito, dizendo à Hermione que ia subir e se trocar, Harry entrou no dormitório.
 Foi diretamente ao malão, onde sabia que encontraria o glorioso Mapa do Maroto; Se não encontrasse Gina ali, provavelmente estava na Sala Precisa. Enfim, quando a encontrasse, perguntaria por onde andou.
 Harry apanhou o mapa, bateu levemente a ponta da varinha de azevinho no pedaço de pergaminho e murmurou:
 -Juro solenemente que estou mal-intencionado.
 Brotaram-se, então, os traços conhecidos do mapa; Várias legendas com nomes, Harry se pôs à procurar pelo nome de Gina.
 Viu o diretor andando em uma masmorra distante, viu Hermione saindo da Sala Comunal; Viu Rony parado na ala hospitalar, e viu Madame Nor-r-ra patrulhando o segundo andar. Por mais que procurasse, nada de Gina.
 A única solução possível deu forças à Harry para que ele pudesse se levantar do estofado e sair da Sala Comunal. Se Gina não estivesse na Sala Precisa, onde mais estaria? Esse pensamento o guiou, em direção ao sétimo andar, onde encontraria oculta a porta da Sala.
 Quando passava pelo corredor que ia em direção às escadas, parou abruptamente.
 -...e os garotos trouxas sobreviventes estão, nesse momento, sendo tratados no Saint Mungus, Minerva. Dois deles morreram.
 Harry apurou os ouvidos para a porta entreaberta da sala dos professores. Um mal pressentimento tomou conta de todos os sentidos de seu corpo. Ele só pode tentar escutar o máximo possível.

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