O cadáver grifinório



 Segunda-feira amanheceu com nuvens espessas e escuras, informando que teriam durante os dias que viriam um tempo chuvoso. Com esse tempo vinha o primeiro jogo de Quadribol, que já estava marcado contra Corvinal. Começava uma das semanas mais tempestuosas, mas isso não se refere apenas ao clima. Algo inesperado estava pra acontecer, e Harry, deitado em sua cama chapado no sono, não podia nem imaginar, afinal, como diziam as sábias palavras de Alvo Dumbledore, quando sonhamos entramos num mundo inteiramente nosso.
 Enquanto o sol se apresentava por trás das montanhas banhadas pelas rochas, Harry Potter abriu os olhos, e levou um susto ao ver o teto do dormitório. Sonhara com algo muito estranho hoje... Havia sangue. Havia choro e gritos.
 O suor de Harry molhava sua camisa e os cabelos. Com a respiração ofegante, convenceu-se de que fora ‘’apenas um sonho’’, e resolveu vestir-se e descer para o Salão Principal. Olhou para a cama ao lado e viu que seu melhor amigo, Rony, não estava lá. Sentiu um aperto no peito, perguntando-se se seu sonho era real. ‘’Não pode ser’’, disse Harry para si mesmo. ‘’Rony está lá embaixo’’.
 Arfante, Harry desceu as escadas quase correndo. Para seu enorme alívio, ali estava Rony, junto de Hermione. Ao vê-los, o coração de Harry voltou à bater, mas suas pernas ainda estavam bambas.
 -Harry – disse Hermione. – Achei que não iria mais acordar. Anda, temos aula de Transfiguração!
 -Certo – disse Harry, se virando e voltando ao dormitório para pegar os materiais. Que idiota eu fui, disse para si mesmo. Não sou vidente, como poderia ver uma coisa dessas?
 Mas, no fundo, Harry estava ligeiramente preocupado. Tudo fora tão real... Ele tinha certeza do que viu. Um corpo, sangue, o símbolo da grifinória...
 Por que aquilo estava acontecendo? Por que não podia ser normal, como todos os outros? Será que o que ele vira no sonho fora ele mesmo? Ou algum colega? Afinal, fora só um sonho? Naquele momento, ocupado em pegar os materiais e indo para a aula, era difícil se decidir...
 Chegaram à aula de Minerva em cima da hora, pois o gato com círculos em volta dos olhos se aproximava. Sentaram-se em uma mesa próxima à janela, onde se podia observar o salgueiro lutador descansar suavemente. Logo o gato se transformara em McGonagall, severa e segurando a varinha com a mão esquerda.
 -Bom dia – disse a professora. – Como complemento da última aula, transfiguração elementar, vou passar algumas listas de feitiços e ensinarei a forma de produzi-los.
 A professora agitou a varinha e o giz que estava em cima da mesa flutuou, escrevendo palavras diversificadas pelo quadro.
 Harry cerrou os olhos para tentar ler as palavras, e viu diversos feitiços que ele nunca ouvira na vida.
 -Como informei na aula passada – disse Minerva. – A Transfiguração Elementar é dividida em oito subcategorias. Alguém – Hermione levantou a mão – poderia... Sim, Granger?
 -A Transfiguração Elementar é divida nas subcategorias: Transformação objetiva, Transmutação, Auto-Transmutação, Transfiguração animalesca em objetiva, Conjuração, Evaporização, Translucidação e Transfiguração Substancial. Cada uma delas tem uma função.
 -Exato – respondeu Minerva. – Dez pontos para Grifinória. Gostaria de ressaltar, também, que a cada aula iremos ver uma dessas subclasses. Hoje, vamos começar com a primeira, que não deixa de ser importante: A Transformação Objetiva.
 Minerva novamente agitou a varinha e as palavras começaram a brotar no quadro.

TRANSFORMAÇÃO OBJETIVA

 É a transformação que altera os objetos, podendo transformá-los em outros objetos de massa igual ou semelhante. A transformação animalesca é parecida com a objetiva, a diferença é que, além de ser mais complicada, funciona com animais, sempre transformando em outro animal de massa igual ou semelhante. Que possui dos diversos graus dependendo da complexibilidade do animal em questão, o feitiço fica mais difícil ou mais fácil. Para produzi-lo é preciso dizer em voz alta: O objeto ou animal primordial em italiano mais o sufixo “ado” mais objeto ou animal resultante em italiano.
 -Pode parecer estranho – disse Minerva. – Mas é assim que o feitiço é produzido. Vamos levar um exemplo, hm, vamos dizer que queremos transfigurar uma árvore em uma mesa. Ou seja, Árvore, em italiano, se diz ‘’albero’’, e mesa se diz ‘’tavolo’’. Neste caso o feitiço seria albero-ado-tavolo. Deve ser pronunciado com clareza e pausadamente. Vou fazer uma demonstração.
 McGonagall fez um floreio com a varinha e conjurou uma árvore de porta média em frente ao quadro.
 -A conjuração – explicou Minerva. – Veremos isso no próximo semestre. Agora vou mostrar a vocês uma transformação objetiva. Um, dois, três... Albero-ado-tavolo!
 A árvore se extinguiu, e dela foram surgindo pernas, a madeira foi se alisando e se esticando, até que uma mesa toda trabalhada estava ali diante deles.
 Minerva passou o resto da aula explicando sobre a Transformação Objetiva e como usa-la. Aproveitou e mostrou-lhes a tradução de algumas palavras para o italiano, palavras que talvez eles pudessem utilizar no dia-a-dia quando precisassem. Concluindo, a aula fora muito boa. Porém acabara trazendo mais uma tonelada de deveres. Eles iriam agora para mais uma esperada aula do semestre, a aula de Herbologia.

 Chegando às estufas encontraram um enorme aquário fervendo. A água era muito escura, mas as ondas na superfície e os movimentos constantes dentro da água informavam que tinha algo lá dentro: Algo vivo.
 -Olá – disse a professora Sprout enquanto os alunos chegavam. Harry viu que Lestrange estava entrando pela porta, mas resolveu ignora-lo.
 Ao passar, Glanmore deu um esbarrão proposital em Rony e saiu rindo, junto de seu amigo. Rony virou o rosto, com raiva, e ameaçou tirar a varinha.
 -Não – disse Hermione, colocando sua mão em frente à dele.
 Rony encarou por alguns segundos o sonserino, mas logo se virou para frente.
 -Vão se acomodando – disse a professora. – Como prometido, hoje eu vou mostrar a vocês tudo sobre as plantas assassinas. É claro que essas plantas ainda não têm propriedades mágicas suficientes para fazerem algum mal. O máximo que poderão fazer a vocês são arranhões, portanto peço que vistam as luvas – Sprout apontou para o armário, e todos apanharam uma.
 -Esse Lestrange - sussurrou Hermione. – Será que ele tem algum tipo de parentesco com... Ela?
 Harry entendeu que ela estava se referindo à Bellatriz.
 -Não faço idéia – disse Harry, virando a cara para o garoto. – Mas eles têm o mesmo gênio.
 -Isso é verdade – disse Rony. – Estou me segurando para não dar uma bofetada no rosto dele.
 -Ainda bem que você está se segurando. Não queremos nenhuma detenção, ou queremos? – disse Hermione.
 Rony bufou, mas continuou sério. O comportamento de Lestrange estava afetando o humor de Rony nos últimos dias, e definitivamente isso não era bom.
 -Com licença – disse Sprout, percebendo a conversa. – Não estamos aqui para conversas, à não ser que queiram receber um ‘’Trasgo’’ nos NIEM’s.
 Hermione corou, mas Harry escutou a risada ser abafado ao lado direito. Novamente o tal de Glanmore estava tirando com as caras deles.
 -Acha engraçado, Lestrange? – disse Sprout. – Não vai achar tão engraçado quando começar a tratar delas. – Harry percebeu que a professora estava insinuando as plantas. - Muito bem, vamos começar, então. Nós vamos extrair as plantas do solo – Vendo o olhar confuso dos alunos apressou-se à complementar. – Sim, tem terra no fundo do aquário.
 -Vamos ter que arranca-las? – disse Hermione.
 -Certamente. Mas primeiro temos que cortas as folhas posteriores. Essas folhas são umas espécies de ‘‘cabelo’’ das plantas, temos que corta-las para que possamos tirá-la do solo. A força da planta assassina está toda no cabelo.
 -Você está dizendo que essa coisa é uma espécie de Sansão? – riu-se Lestrange.
 -‘’Professora’’, para você, Lestrange – disse a professora. – E sim, é exatamente o que ela é. Sem cortar as plantas posteriores nunca conseguirá arranca-la do solo, à não ser que o arranque junto.
 Agora foi a vez de Rony abafar o riso. Glanmore virou o rosto para ele, ameaçador. Desta vez a professora Sprout não escutara, ou pelo menos fingira não escutar.
 -Alguém ainda tem alguma dúvida?
 -Como é que cortaremos? – perguntou Lestrange.
 -Simples – respondeu a professora. – Usemos o feitiço Diffindo. Basta puxar as folhas e produzir o feitiço.
 -O que faremos com elas após tirá-las do solo? – pergunto Hermione.
 -Vamos deixá-las fora da água. A planta demora alguns segundos para oferecer resistência à falta de água, mas sim, ela resiste. Nela nascem dezenas de bolhas, cujo pus é utilizado em poções. Enfim, a deixaremos fora por alguns segundos, e quando essas bolhas aparecerem, vamos tirar o líquido e guardar em frascos – A professora voltou a apontar para o armário, que agora não tinha mais luvas, mas estava repleto de frascos de vidro.
 -Mas agora mesmo tinham luvas – disse Glanmore.
 -Por onde é que você anda garoto? Estamos no mundo da magia.
 Harry sorriu e apanhou um frasco, colocando sobre a terra das estufas.
 -Quando eu contar três vocês podem começar – disse a professora. – Um... Dois... Três!
 Todos agiram coreograficamente, apanhando as folhas da planta que se debatia. E se debatia com muita força, Harry observou, dando graças à Deus por estar de luvas.
 Quando Harry agarrou as folhas à serem cortadas, pegou com a mão livre a varinha do bolso. Apontou certeiramente para o meio das folhas e disse mentalmente ‘’Diffindo!”, e as folhas arrebentaram. Harry sentiu uma forte mudança na planta, que parara de ser violenta, então Harry puxou, fincando com a planta inteira nas suas mãos. Harry achou-a engraçada. Sua cor era estranha, uma espécie de verde-canário. Reparou nas folhas que certamente serviam como braços, pequenas lâminas afiadíssimas.
 Harry ficou ali pelos longos minutos de aula, já se sentindo enjoado de olhar para a planta e colher o pus nojento que ela produzia. Um mau pressentimento tomou conta de seu cérebro no instante em que Sprout pediu para que se retirassem. Faltava alguém ali nas estufas... Faltava alguém da Grifinória, que não fora pra aula... Isso ele tinha certeza. Mas resolvera que não era pra se preocupar, que teria de seguir a vida. Não estava prevendo o futuro... Era uma preocupação idiota.
 Enquanto subiam as escadas de volta à Sala Comunal da Grifinória, Harry ouviu um grito. Um grito alto, agudo, de estourar os tímpanos, um grito desesperado de uma mulher em pânico.
 Foi a vez de Harry ser tomado pelo pânico ao perceber que esse era o mesmo grito que viera à sua cabeça enquanto dormia. O mesmo som... Harry pode ver claramente nas suas lembranças o sangue escorrendo – um rosto...
 -O que foi isso? – disse Hermione, olhando para ele em busca de ajuda.
 Harry hesitou, mas não respondeu. Resolveu que deveria ir até a fonte do som e descobrir o que teria acontecido, mesmo que todos os seus instintos dizendo a ele para não ir, para dar a volta e ir embora...
 Os segundos se passaram muito lentamente, enquanto eles subiam hesitantes, em busca do fato que provocou o grito. Uma multidão já se aglomerava próxima, de que, ele não sabia. Novamente, ouviu outros gritos. Gritos agonizantes, de puro terror. Alguém chorava por perto, muitos tampavam a boca com as mãos, incrédulos. A multidão foi se dissipando... Alguns fugiam para suas salas comunais, outros iam atrás de professores, então Harry estava muito próximo, sentiu seu coração disparar ao espiar entre as frestas de pessoas e ver a única coisa que ele temia.
 Hermione foi quem gritou agora, Harry se sentiu imensamente agoniado.
 -Ah, não – disse Rony, quando Hermione pulou em seus braços, chorando desesperada.
 Harry sentiu seus olhos marejarem às lágrimas, sentiu o ódio resplandecendo no interior de seu peito. Mas ele não poderia ser chorar. A vida o ensinara a ser forte, a agüentar as coisas ruins da vida...
 Então eles puderam se aproximar o suficiente, e confirmou. O estômago de Harry dera uma volta completa, enquanto seu coração parara.
 Um corpo, marejado de sangue, estava com as costas encostadas na parede, os pés flutuando. O corpo estava preso por uma imensa lâmina de aço, que perfurava seu peito e terminava encravada na parede. O sangue encharcava as vestes da Grifinória, e Harry olhou para o rosto e sentiu o mundo desmoronar sobre ele: Dino Thomas.

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