ACORDANDO COM O EX-INIMIGO

ACORDANDO COM O EX-INIMIGO



DOIS ANOS E MEIO ATRÁS:



O mundo mágico estava atrás de Harry Potter, mas isso realmente não importava para o jovem bruxo. Passara vinte um dias inconsciente e outros dez consciente, mas em estado crítico. E nesse tempo todo ansiava por Gina Weasley. Precisava dizer a ela o que sentia e o quanto sentia. Precisava explicar os seus atos. Ele não podia perdê-la também.

Gina passara quase o tempo todo ao seu lado quando estivera inconsciente, desaparecendo depois, quando o jovem despertou do coma. Ora a ruiva o havia amaldiçoado, ora havia rezado para que ele não morresse. Até porque, ela queria matá-lo pessoalmente. Não que não entendesse as suas intenções. Mas não conseguia perdoá-lo. E o que mais a irritava era o fato de todos o defenderem. Seus pais o consideravam no momento uma espécie de santo por salvar a sua “filhinha”, assim como todos os seus irmãos. E Hermione então... Bem, Hermione sempre estaria pronta a justificar qualquer atitude tomada por Harry, mesmo as mais idiotas.

E ele estava ali, o mundo inteiro procurando pelo Escolhido e o próprio estava parado na sala da Toca com aquela cara de abandono. Droga, por que os Weasleys tinham que ser tão orgulhosos? Devia ser alguma coisa relacionada aos genes. Ela nunca teve tanta vontade de abraçá-lo e cuidar daquele cabeçudo moreno de olhos verdes. Molly, desesperada, procurava secá-lo com alguns feitiços, preparar um chá, fazer qualquer coisa para evitar que o rapaz caísse morto, pois ele parecia prestes a isso. Estava pálido, molhado pela chuva torrencial que caía lá fora.

- Harry, querido - disse a Sra. Weasley – Todo mundo está procurando você. Sente-se, eu vou chamar alguém.

- Obrigado, Molly – agradeceu educadamente o bruxo numa voz sussurrante. Falar provavelmente demandava um esforço enorme da parte dele. No entanto, a preocupação excessiva da mãe, fez Gina sair do sério definitivamente. Todos se preocupavam com ele. Por que ela não poderia dizer-lhe umas verdades?

- Por que veio atrás de mim? – perguntou a ruiva friamente – Veio me salvar de novo de algum desastre? Veio me enganar novamente?

- Gina, eu...

Antes que Molly dissesse alguma coisa em defesa de Harry, Gina continuou de maneira cruel:

- Por que os seus cuidados de herói não incluíram Carlinhos, não é mesmo? Você vai poder continuar bancando o herói, enquanto outras pessoas morreram nessa droga de guerra! Você pode se considerar feliz. Porque você está vivo, eu estou viva, enquanto um monte de gente está morta, inclusive o meu irmão!

Claro que Gina se arrependeu imediatamente. Maldito temperamento Weasley! Harry, chocado demais para responder qualquer coisa, virou-se e saiu da Toca, desaparatando a seguir. Um tapa bem dado no seu rosto trouxe a ruiva de volta à realidade. Foi a única vez que sua mãe levantou a mão contra ela. Não apenas levantou. Havia abaixado também com uma força considerável. Weasleys são muito bons em dar cascudos. Deve também estar nos genes, assim como os cabelos vermelhos e a propensão para uma boa briga.

- Como você pôde? – perguntou uma irritada Molly Weasley, os olhos brilhando de contrariedade.

Foi a única vez na sua vida que Gina se envergonhara de sua mãe. Ela havia ficado envergonhada dela mesma. Menos de um mês depois estava na Itália, para desespero de Molly, do pai e dos irmãos. Não poderia viver no mesmo país que Harry Potter. Provavelmente nem mesmo no mesmo planeta, mas isso seria impossível evitar. Estranhamente, só Rony compreendera a sua decisão de deixar a Inglaterra. E a última coisa que disse ao irmão foi para que tomasse conta de Harry. Pois ela ainda o amava. Embora ainda o odiasse um pouco e odiasse a si própria por amar Harry Potter mais do que qualquer coisa nessa vida.
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ONTEM, APARTAMENTO DE HARRY E RONY:


- Eu não sabia que você havia lhe dito tantas coisas idiotas – dizia Rony muito irritado.

- Pelo visto, Harry nunca superou isso – constatou Helga sombriamente.

- O que foi feito está feito – disse Hermione com o seu tradicional senso prático. Ela havia sofrido igualmente por Harry e por Gina, pois amava a ambos e entendia as razões do amigo, bem como a raiva da ruiva geniosa. Embora Gina a acusasse de sempre defender Harry, ela não sabe o que teria feito no lugar da amiga. Por isso a compreendia.

- Há algum tratamento para a dependência do Harry? – quis saber Toni.

- Não há propriamente um tratamento – explicou Hermione – O ideal é diminuir gradativamente a quantidade ministrada de poções até que o seu organismo se estabilize. Mas ele precisa se livrar dos sonhos e da depressão.

- Como alguém pode chegar a esse ponto de ter sonhos tão perturbadores? – quis saber Helga.

- Bem – começou Hermione com a sua conhecida sabedoria professoral – Isso tem a ver com a capacidade extraordinária de Harry de formular feitiços. Exige uma mente poderosa. Um bruxo como ele, com um quadro de depressão aguda pode perder o controle dos seus poderes ou num estado de inconsciência como durante o sono, perder a noção da realidade. Uma mente poderosa como a do nosso amigo produz pesadelos mais assustadores e realistas do que a maioria das pessoas. Ele tem que se livrar dos pesadelos para se recuperar totalmente. E não é possível simplesmente tentar se livrar da poção sem sonhar de uma hora para outra. Mas, antes de tudo, precisa se livrar da culpa pela morte de Carlinhos e de outras pessoas.

- Pobrezinho – disse Gina, a beira das lágrimas.
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UM DIA DEPOIS:


Acordar tem sido difícil para Harry. A sensação de vazio, a náusea, os tremores e uma maldita dor de cabeça. A poção acabava com os sonhos, mas também com ele. Deixar de tomá-la, contudo, significava sonhos cada vez mais assustadores, amplificando a culpa, o remorso, a tristeza. Tomá-la significava dormir sem sonhar, mas com um despertar terrível. “Muito bem, Senhor Potter”, rugiu seu monstrinho interior, “você está por um fio e ainda dá trabalho para os amigos. E que diabo de dia é hoje?”.

- Segunda-feira, vinte e um de julho, onze e meia da manhã – disse uma voz arrastada – Sinto informar-lhe, Potter mas você está falando sozinho. É um dos sintomas mais constrangedores da dependência da poção para dormir.

- MALFOY?

- Ao seu dispor. É melhor você se alimentar – disse, conjurando uma bandeja com um café da manhã com vários itens. Eu não ficaria muito feliz se você tivesse um treco enquanto estamos a sós. Haveria muitos comentários sobre o assunto. Sem contar que seus amigos Weasleys me matariam. Que gênio tem aquela ruiva! Ah, e foi Molly Weasley quem preparou esse café. Está muito bom, eu comi algumas coisas, se você não se importa.

- Pare um pouco, Malfoy – disse Harry com ar cansado – Sua voz está me dando dor de cabeça. Onde está todo mundo?

- Potter, você não entendeu que hoje é segunda-feira? Suponho que todos foram cuidar da vida – disse aparentando tranqüilidade, mas Harry percebeu que estava escondendo alguma coisa.

- Apenas coma, sim? – disse de maneira imperiosa. Draco parecia jovial demais para uma segunda feira. Vestia roupas trouxas de verão como se estivesse dando um passeio descompromissado – Coma devagar, isso diminui a náusea. E respire fundo algumas vezes.

- Por que você está aqui, Malfoy? – perguntou Harry, esforçando-se para apreciar os préstimos culinários da Sra. Weasley. Realmente sentia fome, mas tinha receio da náusea que ameaçava dominá-lo.

- Granger falou para você tomar um gole disso aqui se estivesse se sentindo mal – disse o loiro estendendo para o outro um pequeno frasco com um líquido branco que parecia uma limonada. Bom! Tinha gosto de limonada.

“Eu misturei com limonada. Mantém o efeito e melhora muito o gosto. Sua amiga aprovou” – continuou Malfoy num tom casual. “Alguma coisa está acontecendo”, pensou Harry.

Como a fome realmente tornou-se insuportável, Harry começou a comer, observado de maneira atenta por Draco.

- Desculpe parecer rude, Malfoy – disse o moreno entre uma e outra garfada nos ovos com salsichas - Mas, você não tem, digamos, compromissos numa segunda-feira. Sei lá, assinar papéis importantes, dar ordens para o Goyle e o Zabini...

- Salvar a vida do meu melhor jogador, também salvador do mundo mágico... – interrompeu Draco cheio de ironia.

Percebendo que era perda de tempo a conversa naquele momento, Harry terminou de comer e depois, sentindo-se melhor, foi até o banheiro da suíte, escovou os dentes, tomou um banho frio (fazia muito calor) e vestiu uma roupa limpa e confortável. Sentindo-se quase um ser humano, o rapaz voltou para o quarto, onde seu antigo desafeto de escola continuava sentado na poltrona confortável que havia no aposento.

- Tá, agora me explica o que está acontecendo – exigiu Harry. Tinha muita experiência acumulada ao longo da vida com pessoas escondendo coisas dele, tentando poupá-lo de aborrecimentos. Não era apenas para livrá-lo de uma crise de abstinência que Draco Malfoy em pessoa estava ali cuidando dele, fato que por si só já seria bizarro.

- Em primeiro lugar, eu quero dizer que compreendo o seu problema – disse o loiro com formalidade - Passei por isso também depois da morte dos meus pais. Os sonhos, o alívio imediato que a poção garante. O problema é a dependência. E as seqüelas, que não são nada engraçadas – disse Draco bastante sério – Eu tive o mesmo problema que você. Por isso percebi o que se passava. Desconfiei aquele dia que você me pediu para aumentar os salários dos jogadores. Nunca imaginei você, um cara normalmente contido, tão eufórico daquele jeito. E depois, eu vi o seu desconforto durante a reunião. O suor frio, o olhar vazio. Pode crer, eu matei a charada na hora. E depois, a maneira como você vem emagrecendo.

- Ei, eu não estou tão magro assim! – replicou Harry.

- Claro, comparado com uma caveira, talvez. Eu sou bom observador, Potter. Sonserinos geralmente são. E eu me tornei expert em Harry Potter nos tempos de Hogwarts. Eu tinha que observá-lo. Meu pai exigia.

- Você tinha que me observar?

- Era uma guerra, lembra? E você era considerado um trunfo de Dumbledore contra Voldemort. Mas eu desisti disso no último ano. Eu cansei daquela baboseira. Mas acredite, Potter, eu conheço você melhor do que a maioria dos seus amigos, com a vantagem que eu não tenho problemas em ferir seus sentimentos.

- Tudo bem, Malfoy – assentiu Harry, satisfeito com a sinceridade do outro. Hermione uma vez dissera a ele que Malfoy só o provocava para melhor observá-lo. Mais uma vez sua amiga estava certa – Você foi bastante direto e sincero. Agora continue assim e me explique o que está acontecendo.
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O DIA ANTERIOR:


Draco Malfoy conhecia muito bem aquele tipo de encantamento. A porta da rua ao lado da Sorveteria Florean se abriu para ele porque não tinha naquele momento sentimentos hostis para com os habitantes do apartamento. Eram sete horas de um domingo quente e mesmo agora no começo da noite o sol ainda insistia em manter o seu brilho sobre Londres. Só dois panacas como Potter e Weasley para morar no Beco Diagonal, principalmente tendo dinheiro para comprar um imóvel num elegante condomínio bruxo ou mesmo trouxa. Lá fora havia o burburinho de bruxos que andavam para baixo e para cima aos casais, trios e bandos em geral. A sorveteria estava cheia naquela hora, bem como a maioria dos bares, lanchonetes e restaurantes.

O acesso ao apartamento era totalmente trouxa. Draco apertou a campainha e uma ruiva bonita abriu a porta, surpresa em se deparar com o presidente do Cannons vestindo uma camisa florida, calça de linho branco e óculos de sol, parecendo um jovem executivo trouxa em férias.

- Talvez a maravilhosa visão da minha pessoa a desconcerte, Srta. Weasley – disse Draco com sua voz arrastada – Mas, seria educado da sua parte me convidar para entrar.

Sem dizer uma palavra, Gina se afastou, dando passagem ao ex-sonserino.

- Ah, não! – disse Rony contrariado – Só faltava essa!

- Eu também estou feliz em ver você, Weasley. Boa noite para todos – disse o loiro educadamente para os presentes.

Na sala do modesto, mas confortável apartamento de Rony e Harry estavam Gina, Toni M’Bea, sua esposa Helga, Hermione, além de um dos donos do imóvel, que não estava nem um pouco satisfeito com aquela visita inesperada. Malfoy furtou-se de fazer mais comentários irônicos, pois não queria piorar o clima que visivelmente já não estava muito bom entre os “adoradores do Santo Potter”, como diria seu velho professor e amigo Severo Snape.

- Pela cara de vocês, eu suponho que o pior tenha acontecido – declarou Malfoy sem rodeios.

Como ninguém parecia ter disposição para se manifestar, Draco continuou:

- Suponho que eu estava certo sobre o problema do seu amigo, não é verdade, Granger?

- Infelizmente – concordou a jovem medibruxa.

- Odeio ser o portador de mais más notícias, mas as coisas vão piorar – disse Malfoy com uma expressão carregada – É melhor vocês se sentarem.

De maneira objetiva, Draco Malfoy deu as más notícias. Ele tinha alguns informantes nos jornais e revistas bruxas, pois pretendia saber com antecedência, se por acaso a mídia quisesse incomodar algum dos seus jogadores, principalmente a maior estrela do time, “Mergulho” Potter. Um desses informantes havia lhe dado o furo há poucas horas atrás: O Profeta Diário publicaria uma reportagem na terça-feira (jornais, mesmo os bruxos, não circulam às segundas-feiras na Inglaterra) sobre a venda ilegal de remédios na região mal freqüentada da Travessa do Tranco. Um malandro preso em flagrante pelos aurores declarou surpreendentemente às autoridades que um dos seus compradores freqüentes era, nada mais nada menos, do que Harry Potter. Sim, o salvador do mundo mágico, craque do quadribol, comprava substâncias controladas ilegalmente.

Os informantes disseram a Malfoy que Dan Carter estava dando pulinhos de alegria e já havia escrito uma longa matéria no Profeta Esportivo defendendo o banimento de Harry das competições de quadribol, a sua internação no St. Mungus e a sua interdição pelo Ministério da Magia, baseado no fato que “era perigoso demais deixar um bruxo tão poderoso e completamente insano solto por aí”.

A revista Bruxa Semanal já preparava uma matéria sobre o problema do uso de substâncias ilegais entre bruxos jovens e Anna Skeeter estava pronta para escrever mais alguma coisa piegas lembrando de todos os infortúnios e tristezas da vida do “garoto que sobreviveu”. Enfim, o circo completo.

Para piorar um pouco, um funcionário do Ministério da Magia, que era um antigo sonserino, colega de Draco em Hogwarts, relatara que algumas figuras que ainda tinham ressentimentos em relação ao Escolhido, já planejavam tornar a vida dele um inferno, com inquéritos, investigações, o diabo. E os donos do recém criado time dos Cannons não estavam nada satisfeitos com o que estavam ouvindo por aí, uma vez que Draco não era o único a ter informantes na imprensa e no ministério.

- Mas eu já tomei algumas providências – declarou por fim o loiro, tentando consolar os presentes.

- E por que devemos confiar nas suas providências? – perguntou Gina.

- É, por que? – quis saber Rony.

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- É, por que? – perguntou Harry após Draco relatar os acontecimentos do dia anterior.

- Potter, seja razoável – disse Draco, aparentando uma certa irritação – Você para mim significa milhões de galeões. Se você não acha que isso é suficiente para que eu o defenda...

- Não, não acho.

- Mas, você acreditaria se eu dissesse que me sinto em débito com você por me livrar a cara naquele tribunal louco para me esfolar?

- Não sei – disse Harry de maneira sincera.

- Eu poderia dizer também que acho você uma boa pessoa e, pela minha experiência, sei que as boas pessoas geralmente se dão mal. Mas você não creditaria, não é mesmo?

- Realmente não – disse o ex-grifinório honestamente.
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Enquanto isso, em outra parte de Londres, onde se ergue um imponente edifício que abriga no seu luxuoso interior requintados apartamentos bruxos, Jane O’Neil, com um elegante floreio de sua varinha assinava as respostas para centenas de fãs que lhe enviavam correspondência. Havia votos de felicidades, pedidos de lembranças de quadribol autografadas, pedidos de casamento, além de algumas propostas decididamente imorais. Sua secretária, Teresa Smith, ou simplesmente Tess, respondia a todos os fãs. Atendendo aos pedidos razoáveis e declinando delicadamente dos demais, sobretudo das propostas de casamento.

Tess sempre se considerara uma pessoa sem atrativos. Imaginara para si mesma uma carreira sem graça no serviço público bruxo, ou se via como uma reles funcionária de algum estabelecimento sem importância em Hogsmeade ou no Beco Diagonal. Até conhecer em Hogwarts, Jane. A amizade das duas sempre foi considerada estranha. Não apenas por Jane ser uma sonserina e Tess uma lufa-lufa. Enquanto sua atual empregadora era ótima no quadribol e despedaçava os corações dos garotos de todas as casas, ela era o que poderia ser chamada de “invisível”. Não atraía a tenção de ninguém e seus amigos, quase todos de sua própria casa, eram tão inexpressivos quanto ela mesma.

Mas a amizade com “Baby Jane”, como era conhecida sua amiga, lhe valera alguns encontros com rapazes interessantes e, depois da guerra, a função de secretária daquela, que juntamente com Harry Potter, era a principal sensação do quadribol britânico.

Jane Augusta O’Neil havia nascido na Nigéria. Sua mãe era uma princesa de uma tradicional família trouxa do país, enquanto seu pai era um importante bruxo irlandês, diplomata de carreira, servindo no país onde conhecera a esposa e onde a filha havia nascido. O casamento dos pais não havia durado muito e ela, quando pequena vivera parte da infância na terra da mãe e parte nos Estados Unidos, para onde o pai havia se transferido.

Estivera numa escola bruxa norte-americana até os quinze anos e completara seus estudos em Hogwarts quando seguiu o pai, que havia sido transferido para a Inglaterra. Ingressara na escola no quinto ano, onde havia sido aceita na casa de Sonserina e se tornara a sensação no quadribol, mas não apenas.

Tinha o que as revistas bruxas de futilidade chamavam de “beleza exótica”. Os cabelos aloirados como os do pai, que contrastavam estranhamente com sua pele escura e os olhos azuis-esverdeados. Os fofoqueiros de plantão diziam que havia usado um feitiço para manter aquela aparência “exótica”.

Quando terminara a escola, havia dezenas de propostas de clubes esperando por ela. Optara pelos “Duendes”, clube novo e favorito de todas as pessoas “descoladas” e “sofisticadas” da Irlanda. Atual campeão da recém criada liga nacional. Sua nacionalidade havia gerado uma guerra. Os ingleses contavam que ela assumisse a cidadania inglesa, pois queriam-na na seleção nacional, uma vez que era genial tanto como apanhadora quanto como artilheira. Os norte-americanos, discretamente, sondaram-na com o mesmo objetivo, já que havia morado no país, bem como seus compatriotas nigerianos. Optara por fim pela cidadania da Irlanda, terra do seu pai.

A princípio causara descontentamento nos meios esportivos, pois como dissera um influente jornalista de quadribol irlandês, “ela não se parece nem fala como uma irlandesa”. Depois de uma vitória sensacional sobre a Polônia, num torneio amistoso, onde “Baby Jane” como era conhecida agora, jogando como apanhadora, havia pegado o pomo e garantido uma virada por 210 x 160, o mesmo jornalista chegara à conclusão, que se ela não se parecia nem falava como uma irlandesa, certamente jogava como uma, honrando as venerandas tradições de quadribol do país.

Poucos jogadores administravam tão bem sua própria carreira. Anunciava um cem número de produtos bruxos, que lhe rendiam milhares de galeões todos os meses. Estava a essa altura tão rica que poderia parar agora, prestes a completar vinte e três anos de idade, e se dedicar apenas a continuar arrasando os corações masculinos, coisa que fazia muito bem desde a adolescência. As revistas de fofocas adoravam descobrir ou adivinhar suas novas vítimas.

Mal sabiam que a jovem de beleza exótica tinha uma paixão secreta, ou seja, quase uma obsessão desde o seu último ano em Hogwarts. Ficara abismada com uma apanhada do pomo de Harry Potter numa final entre Grifinória e Sonserina. Ele dera um mergulho espetacular de quase vinte metros e apanhara o pomo praticamente no solo. Como ela não tinha aquela raiva irracional que alguns sonserinos alimentavam pelo “garoto que sobreviveu”, desceu da vassoura para cumprimentá-lo pelo feito.

Em meio aos abraços dos grifinórios, Harry agradeceu e deu-lhe um pequeno sorriso. Ele era lindo! Nunca o havia visto tão de perto assim. Tinha os olhos verdes mais belos que ela já tinha visto e sua atitude que nada tinha de arrogante a cativou mais ainda. Durante o resto do ano procurou se aproximar do garoto sem sucesso. Ele estava sempre com uma menina de cabelos crespos e um ruivo grandalhão e desengonçado. Primeiro pensou que a garota fosse sua namorada, acreditando nos mexericos que circulavam na Sonserina. Depois descobriu que não tinha namorada, apenas dera alguns beijos sem importância naquela oriental metida da Corvinal. No final, saíra da escola sem sequer ter tido uma conversa a sós com ele.

Durante a guerra havia sido rejeitada na Força Aérea. Não confiavam em sonserinos, uma vez que muitos eram partidários do Lorde das Trevas. Harry em pessoa lhe comunicara o veto, parecendo seriamente aborrecido.

- Sabe – disse-lhe o rapaz, um tanto constrangido – Eu particularmente não tenho nada contra você, mas as pessoas não confiam muito nos antigos sonserinos. Eu ainda acho um preconceito bobo, mas estamos em guerra... É difícil fazer as pessoas esquecer os seus ressentimentos.

Enquanto o rapaz falava, Jane ficou olhando-o hipnotizada. Nenhum garoto havia causado esse efeito nela. Muito pelo contrário. Ela é quem os deixava assim. Não que ele fosse dono de uma beleza estonteante, mas o seu jeito tímido, aqueles olhos verdes... Esquecera rapidamente a raiva e a frustração de ter sido rejeitada na Força. Até dera uma generosa contribuição em dinheiro para eles, pois mesmo sem o quadribol, descendia de famílias ricas, tanto trouxa quanto bruxa.

Ao se despedir, ela pretendia jogar todo o seu charme irresistível (pelo menos diziam) para cima do jovem. Quando ele agradeceu a contribuição com um beijo casto no rosto, ela “sem querer”, encostou seus lábios na boca do rapaz. Para sua surpresa, ele se afastou muito vermelho e disse:

- A gente se vê.

Jane percebeu que mais adiante uma garota ruiva que jogava no time de Grifinória esperava pelo rapaz. Não precisou ser adivinha para perceber que os dois estavam juntos. E o olhar mortífero que a ruiva lhe lançou, deixava claro que Harry Potter tinha uma dona. Tinha!

- Aqui está o dossiê sobre o Escolhido – disse-lhe Teresa, colocando à sua frente algumas dezenas de pergaminhos – O nosso garoto tem mais problemas do que você poderia imaginar.

Depois de ler uma passagem que a amiga e secretária sublinhara com uma pena de tinta vermelha, Jane deu um sorriso vitorioso. Tess conhecia muito bem esse sorriso. Sorria desse jeito quando apanhava o pomo de ouro ou quando estava prestes a apanhar algum desavisado.

- Garotos com problemas às vezes são os melhores – disse enigmática – E eu adoraria cuidar dos problemas de Harry Potter.










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