LEMBRANÇAS DA GUERRA I

LEMBRANÇAS DA GUERRA I



TRÊS ANOS ATRÁS: SEGUNDO MÊS DA GUERRA

Harry estava furioso. Os idiotas do ministério da magia queriam uma trégua com o Lorde das Trevas.Trégua! Integrantes da Ordem da Fênix descobriram que a suposta trégua incluía a entrega do controle do ministério a Voldemort e o envio a ele de Harry Potter, dos Weasleys e uma lista de pessoas que sempre haviam se colocado contra o partido das trevas. Resumindo: o cara queria a submissão total do universo mágico e a eliminação de todos aqueles que se opunham a isso.

É claro que o idiota do excelentíssimo ministro da magia negava que essa trégua estivesse sendo negociada. O pior é que muitos bruxos achavam que esse era o melhor caminho. Discretamente alguns jornais bruxos culpavam Potter e a “misteriosa” Ordem da Fênix pela continuidade do conflito. O problema é que Voldemort tinha os seus propagandistas nos lugares certos. Alguns defendiam uma trégua porque eram ingênuos ou covardes demais para lutar. Outros eram secretamente Comensais da Morte. O ministro Gatewood e a sua odiosa assessora Dolores Umbridge estavam exatamente no primeiro grupo. Ingênuos, mas principalmente idiotas e covardes.

Sem que Harry soubesse, M’Bea, orientado por Dumbledore havia criado uma espécie de guarda secreta para proteger o “Escolhido”. Toni era muito cético quanto a historia da profecia que todos mencionavam a respeito do amigo, que deveria matar Voldemort ou perecer na mão do bruxo das trevas. Por outro lado, Alvo Dumbledore, sem entrar no mérito da verdade ou não da profecia, alegava sensatamente que a morte de Harry traria um grande desânimo àqueles que combatiam as trevas. Sem contar o fato inegável que o africano havia se afeiçoado imensamente do jovem. E, é claro, mesmo sendo um bruxo muito poderoso, ninguém nessa guerra corria tanto risco de ser morto quanto Harry Potter.

Os gêmeos Weasleys, Carlinhos, Remo Luppin e Hagrid faziam parte dessa guarda. Sondavam discretamente os locais que Harry visitava em missões. Zelavam (muitas vezes encobertos por capas de invisibilidade) pela retaguarda do amigo. Todos haviam sido voluntários para as missões. Como Harry vivia preocupado com a segurança dos amigos e de Gina, e obcecado em encontrar Voldemort, acharam que era melhor não mencionar que possuía uma segurança particular.

Numa manhã fria, um pequeno vilarejo bruxo seria atacado. O odioso Severo Snape mostrava-se um informante importante. Embora houvesse sido desmascarado como espião de Dumbledore junto aos Comensais da Morte, ele ainda possuía informantes dentro do círculo interno do Lorde das Trevas. As pessoas do vilarejo recusaram-se a apoiar Voldemort e esse ordenou um verdadeiro massacre. Estranhamente os Comensais demoravam a aparecer. De repente um sinal em forma de assobio foi ouvido e eles atacaram. A “Força” não esperava um ataque tão massivo a uma aldeia com tão poucos bruxos. E o ataque se concentrava sempre na direção onde Harry estava.

Aos poucos o rapaz, ladeado por Rony, Gina e Dino ficou encurralado próximo a um sobrado imponente, cuja porta da rua estava fechada com o que parecia ser um feitiço fortíssimo. Era uma armadilha.Estavam longe das vassouras que haviam usado para chegar até o vilarejo e todo o povoado tinha um feitiço ante-aparatação. Haviam sido isolados dos demais para serem mortos. Era impressionante, contudo, a agilidade de Harry para rebater e lançar feitiços. Surpreendendo vários comensais, o rapaz passou a lançar feitiços com a varinha na mão direita e conjurou um escudo com a esquerda (sem varinha), protegendo os amigos. A surpresa dos vilões foi tão grande que Gina e Rony lançaram feitiços certeiros, estuporando dois deles, enquanto Harry dava cabo de mais três.

- Temos que sair daqui, Harry! – berrou Rony, o supercílio aberto e o sangue caindo-lhe sobre os olhos.

- Nossa, Roniquinho, como você é inteligente... – caçoou Gina, enquanto azarava mais um comensal. A ruiva era uma ótima duelista e suas azarações produziam realmente estragos no campo inimigo. Mas Harry podia perceber que ela estava ficando exausta e seus feitiços estavam perdendo potência.

- Harry, você não mandou Irena buscar reforços? – perguntou Dino. O amigo também tinha vários machucados e mal conseguia continuar se defendendo.

Irena Miller era uma garota de seus vinte anos, ótima duelista, que havia sido jogadora de quadribol no time de Corvinal em Hogwarts. Foi uma das primeiras voluntárias da Força Aérea. Como era mestiça, pai bruxo e mãe trouxa, ninguém duvidava de sua lealdade à causa. Era um pouco impetuosa, sempre querendo participar de missões arriscadas, mas de um modo geral, todos gostavam da garota e tinham muita confiança nela. Até aquele dia.

A garota havia aberto espaço até Harry e os amigos, passando sem problemas entre vários comensais que pareciam ignorá-la.

- Consegui falar com M’Bea – cochichou para Harry, que agilmente rebatia outro feitiço - Usei o espelho.

Os integrantes da Ordem e da Força Aérea comunicavam-se através de pequenos espelhos inquebráveis, sobretudo em situações onde era difícil usar corujas (que poderiam sempre ser interceptadas) ou lareiras. Nem todos conseguiam conjurar patronos, sobretudo em situações de tensão. A princípio Harry assentiu aliviado, mas subitamente percebeu que algo não estava certo. Entretanto, não teve tempo para conjecturas. Gina afastou-se do escudo que Harry havia conjurado para proteger o flanco esquerdo do namorado. A manobra deixou-a subitamente sem defesa e um feitiço disparado por um comensal atingiu a ruiva no ombro, atirando-a contra a parede em que estavam espremidos e fazendo o sangue tingir as sua vestes.

Puxando Irena e Dino para perto dele, Harry ampliou o escudo, protegendo também Rony, que carregava a irmã no colo. A situação era desesperadora. Os comensais pareciam brotar do chão e o restante da Força fazia o possível para combatê-los e ainda defender os bruxos da aldeia, que não tinham nenhuma experiência de combate. E o reforço não chegava. Foi aí que o cérebro de Harry, buscando desesperadamente uma saída, voltou alguns segundos no tempo. “Espelhos, ela disse?”, pensou.

- Como você conseguiu falar com o Toni? – perguntou bruscamente para Irena.

Espelhos de comunicação projetam sua imagem, assim como a aparatação projeta o corpo do bruxo. Era impossível comunicar-se através deles com esse feitiço que os impedia de aparatar. A garota ficou visivelmente tensa com o questionamento. E pareceu levemente decepcionada quando vários comensais foram atirados ao solo. Socando e estuporando os inimigos, quase meio corpo acima de todo mundo, Hagrid avançava velozmente em direção aos amigos. M’Bea vinha logo atrás, seguido de Simas, que lançava um olhar feroz na direção de Irena.

- Afaste-se dela, Harry! – gritou o rapaz irlandês.

O Escolhido não teve tempo para nada. Sentiu um leve farfalhar ao seu lado, seguido de uma luz verde. Gina, mal recobrada da azaração sofrida, instintivamente atirou-se sobre Harry, manchando suas roupas do vermelho que saia do seu ferimento.

Rápido como um raio, Toni M’Bea atirou um feitiço na direção de onde partira o Avada Kedavra, a maldição da morte. Ouviu-se um baque surdo e uma capa de invisibilidade voou, revelando o corpo esguio e o rosto insano de Bellatriz Lestrange. Ainda atordoada e visivelmente abalada por não ter conseguido acertar o “garoto que sobreviveu”, a bruxa maléfica apertou um objeto, certamente uma chave de portal e desapareceu. Em poucos segundos, os demais Comensais da Morte seguiram o seu exemplo. Tinham perdido o elemento surpresa e falhado em matar Harry Potter. Esse, num reflexo rápido, azarou Irena, que tombou aos seus pés.

Mas havia uma mão que se projetava para fora de uma outra capa de invisibilidade. Fosse quem fosse, aquele, coberto pela capa havia recebido a maldição de morte destinada a Harry. Trêmulo, o rapaz puxou o manto, revelando o rosto bronzeado e sardento de Carlinhos Weasley. Rony deu um grito, expressando toda a sua dor. Gina havia desmaiado novamente. Simas, agora próximo dos demais, praguejou e chutou o corpo inconsciente de Irena.

- Maldita traidora! – disse com os dentes praticamente cerrados de raiva.
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Gina chorava baixinho.Era o segundo irmão que perdia nessa maldita guerra. Percy havia morrido junto com outros dez funcionários do Ministério da Magia, quando, no início do conflito, a sede do ministério havia sido atacada. Carlinhos, o irmão que melhor se dava com ela, que a protegia das traquinagens dos gêmeos quando era pequena, também estava morto. Ela pensava na dor de sua mãe e de seu pai. E pensava na dor do garoto que amava. Harry estava despedaçado. Não havia chorado, praticamente não havia dito nada desde que voltaram para o acampamento.

- Harry... – tentou dizer a garota, abraçando o namorado.

- Talvez eles tenham razão, Gi – disse ele de maneira quase inaudível.

- Quem tem razão, Harry? – perguntou Gina confusa.

- Aqueles que dizem que eu sou culpado dessa guerra.

- Não se atreva a dizer isso!

- Eu vou entender... digo, se você estiver me odiando.

- E por que eu o odiaria? Eu amo você, seu idiota! – disse a ruiva chorando e abraçando o namorado com toda a força que possuía.
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- O senhor sabe o quanto eu o respeito, professor – dizia pesarosamente Toni M’Bea para o homem idoso – Mas eu vou fazer o que for necessário para que aquela traidora desgraçada nos dê informações.

- Ela é apenas uma criança, Toni – disse sombriamente Alvo Dumbledore – Você acha que tortura é mesmo necessária?

- Hoje perdemos dez pessoas, além de Carlinhos Weasley, professor. Alguns eram mais novos do que Irena. Acredite, eu gostaria muito que existisse outra forma. Mas eu vou arrancar informações daquela garota ou a sua pele. Ou o que eu conseguir arrancar primeiro. Desculpe se isso ofende a sua sensibilidade. Na verdade ofende a minha também.

- Já tentaram legilimência? – perguntou esperançoso o velho professor.

- Ela está protegida por um feitiço muito potente – disse com sua voz fria, Severo Snape, que até então se mantivera calado – Não dirá nada a não ser por vontade própria.

- Entendo – murmurou Dumbledore, dizendo aquilo como se entendesse muito mais do que o mencionado.

- Se o senhor me permite, professor, acho que M’Bea tem razão.

- Tenho? – perguntou o africano com desdém. Como bom ex-grifinório, ele também não suportava Severo Snape. As discussões ásperas e as trocas de farpas entre ambos eram constantes nas reuniões da Ordem da Fênix.

- Até os idiotas têm razão às vezes – disse sarcasticamente o professor de poções.

- Você poderia apresentar os seus argumentos sem ofender as pessoas, Severo – repreendeu-o calmamente Dumbledore.

- Muito bem – assentiu Snape – A vantagem dos comensais sobre nós é o fato deles esperarem que sempre agiremos com honra e com ética. O que normalmente fazemos. Enquanto eles corrompem, enganam, torturam. Por mais que isso nos repugne, precisamos assumir alguns dos seus métodos. Do contrário essa guerra estará perdida.

- O mundo está perdido – resmungou M’Bea – Eu, aderindo aos métodos de Snape. Bem, senhores, farei o que for preciso.

Quando o africano se afastou, Severo disse com sua voz fria:

- Ele não está muito contente pelo fato de termos concordado.

- Não, Severo não se trata disso – retrucou calmamente Dumbledore – Ele está infeliz por ser um homem bom e ter que se rebaixar ao nível das pessoas más. Isso me deixa igualmente muito infeliz.
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Irena odiava a sua mãe trouxa e toda a sua família de trouxas idiotas. Havia se aproximado de alguns sonserinos no seu penúltimo ano em Hogwarts e descobrira maravilhada que nem todos os Comensais da Morte eram sangue-puros. Eles aceitavam mestiços, desde que odiassem o suficiente aqueles que não eram bruxos e demonstrassem lealdade irrestrita ao Lorde das Trevas. Não havia sido difícil entrar na Força Aérea. Nas missões das quais participava, ela sempre era muito empenhada em atacar os comensais, o que fazia sem problemas para afastar qualquer desconfiança. Era tão mais fácil pertencer ao lado das trevas! Nada de dilemas morais como aqueles enfrentados na Ordem da Fênix ou na Força. Nada de líderes santarrões como aquele patético M’Bea, com a sua ridícula fé religiosa de trouxa, ou aquele insuportável Harry Potter com sua namoradinha ruiva, metido a salvador da humanidade.

Foi uma pena que o irlandês intrometido do Simas viu quando ela deu o sinal de ataque aos comensais assim que foi confirmado que Potter estaria presente naquele vilarejo bruxo. E a burrice de mencionar o espelho. Droga! Talvez o Potter não fosse tão tapado como pensavam. Essa armadilha deveria ter sido fatal para o Escolhido. Nem queria pensar no que o Lorde faria com ela se caísse em suas mãos agora. Ele costumava ser implacável com fracassados, diferentemente dos imbecis da Ordem. Pelo menos ela estaria tranqüila enquanto fosse prisioneira desses idiotas de coração mole da Força Aérea.

As certezas insanas de Irena Miller foram abaladas quando viu o semblante do africano gigantesco, cuja sombra enorme se projetava sobre ela naquela noite fria de lua cheia. Irena tinha as mãos amarradas e havia feitiços na barraca em que estava aprisionada, que evitavam que desaparatasse. Levantou-se e olhou desafiadoramente o homem negro. Diziam que era um feiticeiro poderoso, mas até aquele dia, não havia feito nada que fizesse com que a garota o levasse a sério. Até aquele dia.

Surpresa, Irena se viu jogada no chão e seu nariz e seus lábios sangravam copiosamente. Mal havia visto a mão do africano se mover. Ele a acertara com as costas da mão direita e o impacto do golpe havia sido tão forte que foi suspensa alguns centímetros do chão e atirada a alguns metros de distância do agressor. O mais assustador é que Toni não havia dito nada, não havia lhe perguntado nada, apenas a havia agredido como se ela fosse uma coisa particularmente repulsiva. Simas Finnigan e Rony Weasley estavam atrás do bruxo mais velho, ambos com expressões indefiníveis no rosto. De repente sentiu as amarras das mãos se soltando e sorriu de maneira selvagem, seus lábios começando a inchar.

O estúpido do africano havia soltado suas mãos, certamente porque achava que era covardia espancar uma garota amarrada. Rapidamente ela convocou uma varinha sobressalente que mantinha escondida de maneira mágica nas vestes e que os idiotas descuidados não notaram quando havia sido desarmada e presa. Antes que pudesse pensar em usá-la, entretanto, teve sua mão direita segura e com horror viu que M’Bea havia quebrado seu pulso e atirado longe a varinha de reserva. Um outro golpe particularmente dolorido e foi de novo atirada a vários metros de distância. Com passos rápidos, Toni caminhou até o corpo estirado no chão e terrivelmente dolorido de Irena e pisou cruelmente no seu pulso quebrado, arrancando um grito agoniado de dor da jovem.

- Muito bem – disse calmamente, como se espancar a moça não tivesse despendido nenhum esforço – Você vai começar a falar enquanto pode. Mas não precisa se apressar. Nós temos a noite toda.





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