ENFIM SÓS



- Enfim sós, Potter – zombou Draco Malfoy, após Rony, muito contrariado, deixar o amigo na companhia do ex-sonserino.

O ruivo havia gritado que não deixaria Harry sozinho com “aquela víbora”. Krum, ainda muito carrancudo, tentava manter as coisas dentro de um nível civilizado de conversação.

- Escute, Weasley – havia dito Malfoy, parecendo um tanto entediado – Potter derrotou o Lorde das Trevas e você acha que ele não pode lidar comigo? Francamente...

Florean e os homens mais velhos, junto com Krum e um Rony muito relutante, deixaram os dois antigos desafetos a sós. A princípio Harry afirmara que qualquer coisa poderia ser dita na presença de Rony. Como Draco insistia na conversa em particular, finalmente concordou, para a insatisfação de Rony. Estava, contudo, curioso para saber o que o outro tinha para lhe falar.

- Poupe-me do seu senso de humor ridículo, Malfoy – disse Harry, contrariado – Vamos terminar logo com isso.

- Potter, os sujeitos que me incumbiram dessa missão, por assim dizer, imaginaram que nossa velha inimizade poderia ser um problema. Eles são sujeitos duros. Estão dispostos a qualquer coisa para ter o grande “Mergulho Potter” no time. E não gostam de ouvir um “não” como resposta. Eles colocaram muitos instrumentos na minha mão. Mas eu prefiro não usá-los por enquanto. Eu gostaria de apelar para o bom senso, em primeiro lugar.

- Malfoy, corta o papo e vai direto ao assunto! – retrucou o craque do quadribol, impaciente.

- Muito bem. Tenho permissão de lhe oferecer dois milhões e meio de galeões...

- O QUÊ?

- Por favor, Potter, acalme-se ou seu amigo ruivo aí fora vai começar a ter idéias, como pr exemplo que eu estou molestando você. Isso mesmo que você ouviu. Dois milhões e meio de galeões. Como prova de boa vontade eu vou lhe contar um segredo. Os caras aceitariam pagar até três milhões por ano. Bem, eu não deveria ter contado essa parte. Só deveria chegar nos três milhões se você criasse problemas. Mas, como você não confia em mim...

- Alguém deve estar maluco, querendo pagar tanto dinheiro para um jogador só.

- Potter, eu não sei se você é o santo que dizem que é, ou se é burro mesmo. Ninguém joga dinheiro pela janela. Eles esperam ganhar muitos e muitos milhões de galeões com você. São caras ricos. Talvez não ganhem muita coisa no primeiro ano, talvez ganhem um pouco no segundo, mas se o time embalar, os galeões vão tilintar, entende? E o “garoto que sobreviveu” é o maior trunfo deles. O herói do mundo mágico. É tão difícil assim acreditar que estejam dispostos a pagar uma fortuna para você, uma vez que vão ganhar “várias fortunas”?

- E por que tanto segredo? Por que essa informação tem que ser particular?

- Essa informação não. Isso vai se tornar público mesmo! O que eu quero dizer é o seguinte: os donos do time querem também o seu amigo e a irmã dele. Quinhentos mil galeões por ano para cada um.

- Ainda não entendi...

- Ouça, por favor – interrompeu Malfoy – O seu amigo recusou no ano passado duas propostas do exterior.

- Ele o quê? – perguntou Harry, incrédulo - Ele, Harry, estava sempre recusando propostas, mas não sabia que o seu amigo também as dispensasse. E isso era surpreendente, na medida em que Rony, e não ele, tinha pretensões de ter uma carreira profissional.

- E a última, dos Estados Unidos, era de trezentos e cinqüenta mil anuais, mais prêmios por vitória.

- E por que Rony dispensaria algo assim? – perguntou Harry, mais para si mesmo do que para o loiro.

- É uma boa pergunta, Potter. Responda-me você.

Harry finalmente sentou-se, expelindo o ar dos pulmões. Era óbvio. Como o amigo sabia do seu pouco interesse em seguir uma carreira profissional de sucesso e dinheiro, havia trilhado o mesmo caminho para ficar junto dele. Era um saco! Todos achavam que Rony precisava tomar conta dele como se ele fosse um bebê. Ainda lembrava-se da Sra. Weasley recomendando ao filho que cuidasse do amigo, logo depois de assinar o contrato com os Trasgos. E Rony Weasley, goleiro sensação da Liga, havia levado a recomendação materna ao pé da letra. Bem, isso era bem grifinório e, acima de tudo, bem Weasley. Nós nos foderemos e perderemos dinheiro se preciso, mas ficaremos com nossos amigos! Foi assim na guerra, por que seria diferente na paz?

Harry não queria dar ao Malfoy o prazer de ver o quanto aquilo o havia abalado. Respirou fundo mais uma vez e finalmente disse, aparentando uma calma que não possuía:

- OK, Malfoy, por que o Rony e a Gina? – perguntou muito sério.

- Por que eles são bons, oras! – explicou o loiro, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo – E por que os Weasleys são a sua família, todo o mundo mágico sabe disso. E também por isso. Dê uma olhada – disse, estendendo a Harry um pergaminho com vários números, que havia tirado do bolso do terno.

- O que são esses números? – perguntou, olhando curioso os nomes de Gina, Rony, o dele próprio e de vários jogadores e jogadoras que estavam perfilados ao lado de percentuais.

- Aprendi com os trouxas, Potter. Pesquisa de opinião. Esses são os jogadores ingleses mais populares na opinião dos torcedores. Repare aqui que você é o jogador mais popular entre os torcedores de todas as idades. Em segundo estão Angelina Johnson e sua amiga Gina Weasley. Era previsível. A maioria dos torcedores são homens bruxos e elas são bonitas. Em seguida vem...

- Rony – completou Harry – E ele é o mais popular entre os jovens – concluiu, ainda olhando o pergaminho.

- Sim, ele só perde para você entre os torcedores com menos de dezoito anos, nosso público preferencial. Sabe, antes de ver esses números eu tinha dúvidas se deveríamos contratar o seu amigo, mas acho que os garotos gostam do ar “rebelde” do “Maluco” Weasley.

Por um momento Harry esqueceu que estava na presença de um ex-inimigo e sorriu. Rony era um ótimo goleiro, é claro, mas os jovens adoravam as maluquices que ele fazia com a vassoura, além das encrencas que arrumava durante as partidas, xingando juízes, saindo no tapa com adversários e comemorando os gols e as defesas que fazia de maneira estrepitosa. Sim, o seu amigo era muito bom e muito popular. Havia sido um idiota em não perceber que vários times tinham interesse nele há muito tempo. E havia sido um egoísta egocêntrico por atrapalhar, ainda que não de maneira intencional, a carreira de Rony.

- O dilema é o seguinte, Potter – continuou Malfoy, na sua tradicional voz arrastada - Nós somos agora donos dos contratos dos Trasgos. Ou seja, somos donos dos destinos dos seus jogadores no quadribol. Se você não quiser jogar, tudo bem. Duvido que alguém tenha coragem para processar o grande Harry Potter, o salvador do mundo mágico. Mas seu amigo não poderia jogar por outro time. Nós faríamos da vida dele um inferno. Ele ficaria parado até que a justiça resolvesse. E não se engane: a justiça está do nosso lado. Legalmente o contrato que vocês assinaram com os Trasgos agora nos pertence.

- Chantagem, eu sabia!

- Não, Potter. São negócios. E a lei. Se eu fosse ainda o canalha que você acha que eu sou, começaria a nossa conversa por aí. Mas eu comecei pelo dinheiro e pelo fato de que achamos que vocês ficariam bem no mesmo time e que você ficaria feliz em jogar com os seus amigos. Acredite, eu quero Harry Potter feliz e dando muito dinheiro para nós.

- Você me comove – zombou Harry. Será que tinha o direito de prejudicar a carreira do amigo? Por que não deixar que esse bando de milionários gananciosos pagasse uma fortuna para ele e os Weasleys?

- Potter, você não precisa ser meu amigo. Eu não preciso ser seu amigo. Mas pense um pouco. Você pode ganhar uma fortuna. Seus amigos podem ganhar muito bem. Eu sei que você é rico, não precisa de dinheiro. Mas pense nos Weasleys…

- Os irmãos deles são ricos, lembra?

- Sim, os gêmeos são ricos. Mas você acha que eles vão viver às custas dos irmãos?

- Não, acho que não – admitiu Harry.

- E, entenda, não há Weasleys sem Harry Potter. Se você concordar, todos estão no time. Se você discordar, seu amigo está fora. E sua amiga continuará na Itália. Ganhando bem, é verdade, mas nada perto do que nós podemos pagar.

- Eu quero os três milhões, então! – disse Harry, de repente muito confiante.

- Feito! – exclamou Malfoy muito satisfeito.

- E eu quero o contrato redigido por Olívio Wood – continuou o apanhador.

Wood, um antigo colega de Harry em Hogwarts, havia sido a maior revelação como goleiro de toda a história recente do quadribol inglês. Até que, há cinco anos atrás, uma vassoura experimental que seu time testava falhou inexplicavelmente e ele despencou de quinze metros de altura. Havia sobrevivido, mas os ferimentos o inutilizaram para o quadribol. Não obstante, o ex-goleiro havia se formado em direito bruxo na Academia Mágica de Edimburgo e nos últimos dois anos vinha se tornando a maior autoridade em direito esportivo do mundo mágico. Era advogado do sindicato dos jogadores e sempre representava os atletas contra os clubes e normalmente vencia as pendências em favor dos seus clientes. Seu nome causava calafrios nos donos de clubes. Havia levado à falência a fábrica que produziu a vassoura que o privou do quadribol em virtude da indenização milionária que havia obtido na justiça.

Surpreendentemente, Malfoy não se abalou à menção do nome de Wood, ao contrário.

- Concordo – disse tranqüilamente o loiro, para a surpresa de Harry.

- Como assim? Concorda?

- Concordo, oras! Nada contra o Wood. Eu mesmo iria sugeri-lo. E eu sugiro seu amigo Gui Weasley para discutir os detalhes financeiros.

Harry olhou-o surpreso. Para um presidente de time, Draco Malfoy até que não era das piores pessoas. Seria possível que o sonserino houvesse mudado tanto?

- E mais uma coisa – disse Harry, depois de um momento em silêncio – Meu ordenado vai ser dividido com os outros jogadores.

Draco olhou-o por alguns instantes e depois começou a rir descontroladamente. Como o moreno o encarava irritado, controlou-se com algum esforço e então disse:

- Potter, você parece um maldito comunista trouxa! – controlou-se para continuar sério e acrescentou: - Você acha que algum jogador vai querer aceitar esmolas do “grande Potter Perfeito”? O quadribol é um mundo competitivo, onde cada um busca negociar o seu salário da melhor maneira possível. Duvido que algum jogador questione o seu salário ou queira esmola sua. Se você fizer essa proposta ao resto do time, os outros se sentirão ofendidos. Ninguém compartilha desse seu altruísmo, cara. Acorde! Pegue os milhões e se divirta, dê para alguma causa, como você faz sempre, mas não me venha com essa besteirada comunista do tipo “eu-sou-muito-bom-pra-pegar-esse-dinheiro-sujo". Jogadores de quadribol gostam de dinheiro, Potter! Mas querem ganhar o seu próprio dinheiro. Se você não quiser problemas, aceite o dinheiro só para você, queime, dê para os pobres, mas não me venha com besteiras, ouviu?

Desgraçadamente, Malfoy tinha razão. Era o maior salário dos Trasgos, mas os companheiros de time haviam reagido muito mal quando propôs dividir com eles os seus vencimentos. Rony teve que dizer que era brincadeira para que os demais jogadores voltassem a falar com ele. Era um mundo estranho esse!



XXXXXX

Longe dali, numa sala abarrotada de livros de um departamento de pesquisas do St Mungus, o hospital dos bruxos, uma jovem cientista de cabelos crespos acabava de receber três corujas diferentes. Uma delas, de sua grande amiga Gina Weasley. As demais eram surpreendentes. Seu ex-namorado Rony Weasley, com quem não falava há dois anos havia lhe mandado uma carta e a outra coruja, mais surpreendentemente ainda carregava uma carta totalmente inesperada de uma figura que sempre a incomodara nos tempos de Hogwarts: Draco Malfoy.

E as três cartas falavam do mesmo assunto: Harry Potter.








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