A Batalha de Stonehenge



Capítulo 29



A Batalha de Stonehenge




Um silêncio pesado se seguiu às palavras de Rony. Harry realmente achou que o dia em que percebesse algum indício seguro de que Voldemort estava realmente voltando, ele ficaria mais tenso, mais zangado, mais desesperado, mas não estava. Era como se ele soubesse que isso poderia um dia acontecer. Não que ele duvidasse do alcance de sua vitória há nove anos atrás, mas quando as ameaças começaram a pairar sobre a família dele, foi como se alguma coisa despertasse dentro de si. Algo que lhe dizia que ele teria de lutar outra vez.

Seu olhar foi novamente atraído para o arco de pedra. Ali naquele lugar, ele havia perdido uma das pessoas mais importantes da sua vida. Alguém cuja simples idéia da presença havia, mesmo que apenas por dois anos, suprido a sua carência de ter uma família, de ter alguém que gostasse dele sem querer absolutamente nada em troca. Alguém que fora como um pai e ao mesmo tempo um irmão. Seu elo mais forte com um passado perdido para ele. Harry deu alguns passos em direção ao arco quase que como hipnotizado. Estava tão absorto que nem percebeu os olhares intrigados que Quim, Rony e Cassiopéia Dipper lhe lançavam, até mesmo os outros ruídos da sala, as conversas, haviam sumido.

Na primeira guerra ele havia perdido seus pais. Na segunda foram Sirius, Dumbledore e vários colegas e amigos de escola. Não estava disposto a abrir mão de ninguém nessa terceira. Ele não sabia quantos golpes teria de levar antes que finalmente quebrasse. Que finalmente desistisse. Mas não seria agora. Não seria dessa vez que ele...

– Harry – a mão de Rony segurou-o firme pelo ombro, fazendo-o voltar-se e dar de cara com os olhos assustados do amigo.

– Hã... o quê?

Rony soltou o ar pela boca incrédulo.

– Você estava fazendo de novo.

– Fazendo o quê?

– Como da outra vez. Você estava simplesmente indo em direção ao arco.

Harry olhou para trás e percebeu que realmente estava a poucos passos do véu. Muito perto, na realidade. Olhou para Rony pensando em justificar que não tinha a menor intenção de tentar ver o que poderia ter do outro lado como da outra vez, quando se deu conta.

– Vocês perceberam isso? – Perguntou aflito.

– Perceberam o que?

Harry olhou em direção a Cassiopéia Dipper.

– Você notou? – Ela fez uma expressão confusa. – Está em silêncio! As vozes. Do outro lado. Estão em silêncio. Eu não ouço nada, os sussurros, nada!

Rony tinha os olhos arregalados e Quim parecia meio sem graça, como se ele estivesse ficando louco.

– Muito poucos bruxos descrevem ouvir as vozes – disse Cassiopéia calmamente enquanto fixava o olhar em Harry. – Conheço a história de sua entrada nessa sala no passado. Você ouviu as vozes da outra vez?

– Ouvi – respondeu rápido sustentando o olhar avaliador da bruxa. – Você não as ouve?

– Não. Já disse que poucos bruxos conseguem. Não sabemos exatamente por quê.

– Não importa por que – Harry falou entre os dentes caminhando em direção a ela e Quim. – O que importa é que o véu está em silêncio! Quero saber o que isso significa!

– Harry, acalme-se – ordenou Quim ao perceber que ele estava erguendo a voz e chamando a atenção dos outros Aurores na sala.

– Sr. Potter – retorquiu Cassiopéia com grande dignidade – somos um departamento de pesquisas e não de respostas prontas. Não sabemos nem mesmo o que significa ouvir as vozes, como o senhor quer que eu saiba o que significa o seu silêncio. O senhor pode simplesmente ter perdido a capacidade de ouvi-las.

Harry soltou um bufo.

– Bem, então anote nas suas pesquisas: há vozes ali atrás e quando o arco é coberto de sangue como agora, elas ficam quietas! Pesquise isso!

Cassiopéia o fuzilou com olhar, de um jeito irritado, enquanto Quim e Rony olhavam dela para Harry como se pedissem desculpas pelo comportamento dele. Intimamente, Harry sabia que o chefe ali era Quim e que apenas na Ordem da Fênix ele podia fazer as exigências de um comandante. Mas ele tinha certeza de que estavam novamente à beira de uma guerra. E se esta guerra era contra Voldemort e sua gente, então, ele estava fazendo exatamente o seu papel e os outros que se acostumassem com isso.

– QUIM!!

Tonks entrou atabalhoada quase tropeçando nos degraus de pedra. Não caiu porque um colega foi rápido o bastante e a segurou.

– O que foi Tonks? – Trovejou o bruxo indo em direção a ela e sendo seguido de perto por Harry e Rony.

Tonks agradeceu ao Auror que a sustentou e pôs a mão no peito como se ele doesse para respirar. Parecia ter corrido os nove andares até ali.

– Conseguimos duas pistas importantes – parou para puxar ar.

– Que pistas? – Rony perguntou com urgência e Tonks fez um sinal de que ainda precisava respirar. Tomando fôlego, ela continuou.

– Recebemos a informação de uma aparatação em massa a oeste de Amesbury.

– Em Wiltshire? – A voz de Harry saiu novamente mais alta que o normal.

Tonks confirmou com a cabeça ainda sem fôlego e um olhar de entendimento se passou entre ela, Rony, Harry e Quim.

– Wiltshire? – Repetiu calmamente Cassiopéia, que sem que eles percebessem havia os se postado ao lado de Rony.

– A Mansão Malfoy fica em Wiltshire – explicou Rony. – Se Lucius Malfoy está...

– Não – cortou a chefe dos Inomináveis. – Você disse oeste de Amesbury? – Interrogou Tonks, que confirmou com um aceno rápido de cabeça. Cassiopéia deu um meio sorriso ante os rostos intrigados dos Aurores. – Me parece que eles pretendem terminar o ritual druídico que começaram aqui. Oh, por favor, que espécie de bruxos são vocês? Wiltishire, oeste de Amesbury... estamos falando de Stonehenge! Aposto minha varinha que foi para lá que eles foram.

Uma espécie de corrente elétrica passou pelo grupo um segundo antes de Harry lançar um olhar quase desesperado para Quim.

– SABEMOS PARA ONDE ELES FORAM! – A voz do chefe retumbou nas paredes da sala de pedra e todos os Aurores ficaram imediatamente apostos. – Meaden, Burnham, Felps e Grayson, vocês continuam aqui. Vasculhem esse local como se estivessem procurando chizácaros, entenderam? Se for necessário chamem reforços, todos os estagiários e até gente de outros departamentos! Quero muito material na minha mesa quando eu voltar! O resto de vocês vem comigo!

Um tropel de passos seguiu em direção à porta, mas Harry puxou Tonks pelo braço para o lado. Rony o seguiu.

– Você disse que tinham recebido duas pistas.

A amiga fez uma careta.

– A outra veio do hospital. Lembram do guarda de segurança que foi azarado? Aquele que achamos que a azaração tinha sido feita apenas para despistar a maldição Impérius lançada no colega dele que abriu a porta para os Comensais?

Os dois rapazes confirmaram com a cabeça.

– Ele está voltando ao normal e... Ele garantiu que quem acertou o colega dele com a Imperius foi um dos nossos.

– O quê?

– Ele disse que foi o... o Stewart.

– Tibério? – Harry estava chocado.

– Não. De jeito nenhum! – Negou Rony. – Meu pai é amigo de Tibério Stewart desde a escola. Não. Não acredito. Não faz sentido.

Tonks ergueu os ombros como se estivesse se desculpando.

– Eu também achei difícil de acreditar, mas o guarda garante. É a pista que temos.

Harry fechou os olhos por um segundo e esfregou a própria testa com uma das mãos.

– A gente vê isso depois. Vamos! Temos que chegar a Stonehenge junto com os outros.

Os três saíram correndo da sala e entraram no último elevador que ainda estava esperando. Rony espancou duas vezes o botão do térreo antes que eles começassem a subir. Saíram do elevador e atravessaram apressados os portões dourados em direção ao saguão principal. Contornaram a fonte dos Irmãos Mágicos e seguiram por um amplo corredor que se abria para o lado norte do prédio.

Harry tinha certeza de que essa ala do prédio se estendia por debaixo da rua dos trouxas e que certamente era paralela a alguma linha de metrô, já que por vezes era possível sentir o chão trepidar por ali. Na primeira vez em que viera ao prédio, no início de seu quinto ano em Hogwarts, ele não tinha sequer visto esse corredor, escondido por grossas portas de carvalho com incrustações em ouro. Somente quando ele e Rony fizeram o curso para Aurores foi que finalmente pode conhecer a Área de Aparatação do Ministério.

Tratava-se de uma sala de acesso restritíssimo e de segurança máxima. Era usada somente por Aurores em serviços urgentes, altíssimas autoridades do Ministério da Magia e, mais raramente, chefes de governos bruxos com acordos de cooperação com o mundo mágico britânico. O presidente dos bruxos dos Estados Unidos, por exemplo, sempre chegava ao país por ali. É claro que, nessas ocasiões, a segurança era redobrada para atender às exigências da conhecida paranóia norte-americana, a qual não se restringia apenas aos trouxas do país.

Ultrapassando as portas de carvalho o corredor seguia suntuoso, iluminado por tochas douradas em forma de bocas de dragões de onde saía um fogo mágico de cor azulada e sem fumaça. O chão era de mármore negro e as laterais tinham arabescos artísticos em pedraria colorida e metal que lembravam as bordas de um tapete. Nas paredes, recobertas por painéis de madeira, grandes quadros com bruxos veneráveis, ex-ministros e figuras de importância no mundo bruxo acompanhavam interessados a passagem do grupo.

– Vocês conseguiram apanhar algum deles? – Perguntou curiosa, uma bruxa gorda com uma enorme peruca cinzenta que parecia um bolo de noiva em várias camadas.

– Não – respondeu Rony num grunhido mal humorado, sem se deter.

– Esse Ministério só piora – reclamou em alto um bruxo de voz afetada dois quadros à diante, recebendo a concordância de alguns vizinhos. Um deles, vestido com uma armadura e segurando um machado, rosnou por trás da longa barba negra de aspecto selvagem.

– Viram! Quando eu digo que essa política moderna é muito mole, vocês dizem que eu é que estou ultrapassado! Na minha época, um inimigo jamais invadiria a sede do Ministério. – Ele brandiu o machado com violência, os olhos ameaçadores injetados de um jeito maníaco. – Eles sabiam muito bem o que os esperava!

Os quadros começaram a discutir em que época o Ministério fora mais seguro e aonde a atual decadência levaria o governo bruxo. Os três Aurores, no entanto, estavam ocupados demais para lhes darem atenção. Harry não pode deixar de pensar que após duas invasões ao prédio do Ministério num espaço de pouco mais de dez anos, seria necessário ao governo mágico repensar seriamente as entradas e saídas do local. Com tanta segurança na Área de Aparatação e na entrada de visitantes, locais como, a porta da frente – que ficava disfarçada na calçada dos trouxas como um velho posto de gasolina eternamente em reforma – eram praticamente vulneráveis. Por um momento, não pode deixar de lembrar que Hermione sempre comentava que, em termos de lógica, os bruxos ainda tinham muito a aprender com os trouxas.

Nas duas invasões, maldições Imperius muito bem usadas tinham feito com que os guardas simplesmente dessem caminho livre para Comensais da Morte. Harry ainda não conseguia acreditar que Tibério Stewart fosse um traidor. Não fazia sentido. Mas ele iria pensar nisso mais tarde, agora era preciso se concentrar no que iria fazer a seguir. Que espécie de ritual os Comensais pretendiam dar prosseguimento em Stonhenge? O que eles tinham vindo buscar junto ao arco da morte?

Harry tinha alguns conhecimentos sobre rituais druídicos. Aprendera quando viajara durante dois anos, logo após terminar a escola, pelos lugares mágicos da Europa em busca de explicação para os seus novos poderes. E tudo o que ele lembrava o fazia suspeitar de que os Comensais tinham entrado ali com um objetivo específico. Se o véu da morte era um altar e ao mesmo tempo um portal, então, a única resposta lógica era que aquela fora uma missão para buscar alguma coisa que estava além do véu. O sangue dos testrálios servira para chamar o que havia de pior do outro lado e se fora somado, como Harry suspeitava, à capacidade dos beusclaihns de se comunicarem com o mundo dos mortos, então... O silêncio das vozes não poderia significar outra coisa senão o fato de que o local havia sido profanado com algum tipo de atividade anormal. Levou a mão à testa e esfregou com força. Sua cabeça estava doendo. Massageou levemente com os dedos tentando soltar os pontos contraídos.

De alguma forma, Harry tinha certeza de que os Comensais haviam conseguido fazer com que alguma coisa atravessasse o véu. Voltasse. Ele parou de andar. A cabeça fervilhando de possibilidades por cima da dorzinha insistente. Uma suspeita do que havia acontecido se formando na sua mente. Tonks e Rony seguiram ainda alguns passos antes de se voltarem para ver porque ele tinha parado.

– O que foi? – Perguntou a amiga.

Harry focou-a por um instante antes de praguejar e se lançar correndo pelo corredor com os dois em seus calcanhares. Eles cruzaram com toda a rapidez que puderam o que restava da distância até uma porta de madeira revestida com um latão finamente martelado que ficava à direita. O metal dourado tinha sido forjado para representar a imagem de um bruxo forte, montado em um glorioso cavalo alado e tendo o sol coroando a cena com longos raios resplandecentes. Harry derrapou em frente a porta.

– O enigma é... – anunciou o bruxo de latão.

– Uma serpente engolindo a si mesma – Harry respondeu antes que ele acabasse.

– Hei! Assim não vale – retrucou a imagem zangada – eu nem enunciei o enigma.

– Abre logo essa porta! – Ordenou Rony. – Não temos tempo para essas bobagens.

A porta se abriu enquanto Harry lançava um olhar grato ao amigo e o bruxo de latão fazia uma carranca. Os três se precipitaram para dentro. A sala semicircular estava cheia. Quim formava grupos de assalto e dava ordens com sua voz de trovão enquanto segurava um mapa e apontava onde deviam aparatar. Tão logo recebiam suas ordens o grupo seguia para um estrado de madeira no extremo da sala e aparatava.

Harry acotovelou-se entre os colegas até chegar ao chefe, seguido por Rony e Tonks ainda com caras de interrogação.

– Alguém já foi? – Perguntou afobado.

– Onde vocês três estavam? – Devolveu o Auror parecendo aborrecido.

– Quim, alguém já foi para lá?

– Já – ele finalmente pareceu ter percebido a agitação de Harry. – Dois grupos já partiram. O que houve?

Harry soltou um palavrão e ofegou.

– Devíamos ter nos dado conta. Eles devem estar acompanhados das criaturas! – Os colegas que ainda falavam à volta se calaram. Harry viu pelo canto de olho que Oates retesou o corpo parecendo ficar subitamente atento ao que ele dizia. – Se partirmos para a luta não vamos ter contingente para brigar com beusclainhs e Comensais ao mesmo tempo.

Foi a vez de Quim soltar um sonoro palavrão e fechar o mapa com raiva.

– Eu vou chamar o Carlinhos – anunciou Rony. – Ele pode nos encontrar lá com alguns dragões.

Harry deu um rápido sorriso para o cunhado. Rony tinha tido exatamente a mesma idéia que ele.

– Boa Weasley! – Concordou Quim. – Mas diga para ele ir para lá o mais rápido possível. Já temos gente nossa correndo perigo.

– Eu vou no próximo grupo – disse Harry. – Vamos tentar distraí-los sem nos expor muito até termos os reforços.

Quim concordou e começou a montar o novo grupo. Tonks e Richard Oates se ofereceram para seguir com Harry. Rony, antes de sair correndo em direção a porta para entrar em contato com o irmão, puxou Harry pelo braço e falou em tom de aviso.

– Vê se não tenta bancar o herói enquanto eu não chegar, ok? Se você se der bem, vai ficar com toda essa glória horrível que você detesta e eu adoro.

Harry riu baixo.

– Eu posso me dar mal.

– Aí eu serei estraçalhado pela minha mãe e a Mione, claro, se sobrar algo depois que a Gina acabar comigo. Portanto, se tem alguma consideração por mim, não ouse se arranhar até eu chegar.

– Certo mãe, então, não demore. – Harry lhe deu uma batidinha no ombro. – Sério, cara, você está convivendo demais com a Hermione.

Rony fez uma careta e saiu rápido em direção à porta.




**************


Tinha sido mais um daqueles jantares em que os elfos do castelo haviam se mostrado inspirados. A comida de Hogwarts era sempre de primeira, mas havia dias em que ela batia recordes. Josh não parava de gabar cada um dos pratos que eles haviam saboreado. Com os olhos brilhantes, o menino descrevia com paixão a perfeição dos molhos e o fato das sobremesas trazerem doses quase fatais de chocolate, embora a que ele tivesse repetido três vezes tenha sido o imenso pudim de merengue com calda de vinho e frutas vermelhas. O resto do grupo o seguiu para fora do Salão Principal apenas sorrindo com o discurso entusiasmado.

O primeiro mês de aulas, após o fim das férias, fora bem estranho para os cinco amigos. Não que houvesse algo de diferente nas aulas e trabalhos, cada vez mais exigentes, mas porque, embora todos estivessem acostumados com as brigas de Hector e Mel, era a primeira vez que eles ficavam tanto tempo sem se falar. No início, não queriam nem andar juntos, mas como os outros três se recusaram a andar separados, eles acabaram aceitando o fato de que pelo menos a companhia um do outro teriam de tolerar, mesmo que não se falassem. Andrew e Josh achavam realmente que o amigo estava exagerando. Mas Hector continuava ofendido e se recusava a perdoar Mel. Danna havia tentado que Mel fosse novamente conversar com ele, mas a garota fez birra e disse que já havia pedido desculpas uma vez, e que Hector Lupin fosse se afumentar, porque ela não precisava do bom dia dele para nada. Sem muito que fazer para mudar a cabeça dura dos dois, Andrew, Josh e Danna apenas os obrigavam a andar juntos, esperando que um dia ambos quebrassem o bico.

– Então – Andrew cortou a longa descrição que Josh fazia de um bolo de chocolate recheado com geléia de damasco – vamos para a sala de estudo, até a hora do toque de recolher ou vamos direto para as salas comunais?

Ficar na sala de estudos, era um jeito dos cinco ficarem juntos por mais algum tempo e isso dava espaço para, talvez, Hector e Mel fazerem as pazes. Os dois apenas resmungaram dando de ombros e Andrew recorreu rápido com os olhos para os outros dois amigos.

– Ahh claro! – Concordou Josh, percebendo a intenção de forçar os briguentos a se aturarem o máximo possível. – Vamos sim.

– Desculpem – disse Danna – mas a Profa. Shadowes está me esperando. Vejo vocês na torre – sorriu para Andrew e Hector e acenou para Mel e Josh enquanto seguia em direção às escadas que levavam para as masmorras.

– Eu ainda não engoli essa história – comentou Hector observando a amiga sumir.

– Nem eu – Mel e Andrew responderam em uníssono.

– Ahh lá vem vocês de novo com isso – reclamou Josh começando a subir as escadas em direção à sala de estudos que ficava no terceiro andar. – O que é que tem? A Medéia acha que a Danna tem um talento especial para poções e está ajudando ela a aprimorar isso. Onde vocês conseguem ver algum mal?

Os outros o seguiram.

– Ainda assim acho estranho – disse Andrew. – É muita dedicação da parte dela, não é? Quase todas as noites essa mesma história. Ela até dispensou a Danna de fazer os deveres da matéria.

– Ora – resmungou Josh – ela disse que a Danna já está mais avançada do que a gente, não precisa fazer os mesmos deveres, além disso, ela está fazendo as aulas extras, não é?

– O problema – comentou Hector enfiando as mãos nos bolsos e contemplando pensativo um ponto distante no chão do corredor em que eles acabavam de entrar – é que eu não acho que a Danna esteja se saindo tão melhor que a gente em poções. Ao menos não nas aulas.

Mel o encarou e depois olhou firmemente para Andrew.

– Você não tinha me dito isso!

– É verdade, Mel – confirmou o garoto. – Começamos a observar Danna nas aulas e, bem, ela é boa sim, esforçada, mas não tem nada de extraordinário no jeito dela preparar poções.

– Eu acho que você está com ciúmes, Andy – Josh que andava um pouco a frente virou a cabeça para olhá-lo. – Você quer sempre ser o primeiro em tudo. Garanto que você não estaria desconfiando de nada se a Medéia tivesse escolhido você e não a Danna como o novo gênio de poções.

Andrew fechou a cara e quando os quatro entraram na sala de estudo havia um silêncio pesado entre eles. Ficou meio sem sentido ficarem ali, já que nenhum deles falava. Foi Mel quem acabou cansando primeiro do clima.

– Deixem de ser crianças vocês dois – dirigiu-se para Josh e Andrew. – Andrew não está com ciúmes Josh, está apenas preocupado com a Danna. E Andrew, Josh está apenas tentando dizer que talvez a professora não queira fazer nada de ruim para a nossa amiga.

– Quem falando que a gente é criança – provocou Josh ainda sentado de costas para a mesa.

A menina estreitou os olhos diante da injustiça. Afinal, quem se recusava a fazer as pazes não era ela. Lançou um olhar de esguelha para Hector que riscava a mesa com a ponta da unha parecendo muito concentrado.

– Ah, por favor! – Andrew finalmente se manifestou impaciente. – Chega, vocês dois! Hector, a Mel já pediu desculpas. Quer fazer o favor de aceitar e parar de torrar a nossa paciência com isso. Pelo menos façam as pazes para mudar o motivo da briga!

Josh virou-se para a mesa sorrindo. Ele nunca ficava bravo por muito tempo e adorava ver Andrew passando descompostura nos outros. Achava muito engraçado o jeito de adulto em miniatura do amigo. Pelo menos quando não era voltado para ele. Mel não se moveu, manteve uma postura muito digna, embora o nariz arrebitado estivesse apontando para a estratosfera.

– Tudo bem – resmungou Hector – eu desculpo você, Mel.

– Que ótimo! – Disse a garota com ironia. – Vou poder voltar a dormir sossegada: o magnânimo Hector Lupin me perdoou depois de UM MÊS sem falar comigo. Uau! Tirei a sorte grande, não é?

Antes que Hector reagisse às palavras e ao olhar selvagem de desafio de Mel, Andrew lhe aplicou uma cotovelada dolorosa nas costelas e praticamente lhe deu uma ordem muda para que acabasse com aquilo. O garoto bufou derrotado.

– Me desculpa.

– O quê? Eu acho que eu não ouvi direito, sabe?

– Me desculpa – ele pediu alteando a voz, mas fechando os punhos sobre a mesa.

Mel sorriu satisfeita, enquanto Andrew ria baixinho e Josh fazia um gesto dramático de agradecimento aos céus. A noite teria terminado com saldo bastante positivo se, quase na hora em que eles estavam juntando as coisas para irem para as suas salas comunais, não tivessem sido abordado por Rupert Bothwell.

– Eu posso falar com vocês? – Perguntou o sonserino se inclinando sobre a mesa em que os quatro estavam.

– Claro – respondeu Hector, com simpatia no que foi seguido por Mel e Josh. Andrew se manteve impassível.

– Hã... onde está a Danna? – Perguntou sentando-se numa cadeira ao lado de Josh.

– Ela está tendo aulas extras de poções – respondeu Mel. – A professora acha que ela deve aprimorar o talento dela.

O garoto movimentou a cabeça assentindo, parecia estar travando uma batalha interna sobre o que falar, mas por fim ergueu a cabeça e perguntou.

– Vocês têm certeza disso?

– Do que você está falando? – Interpelou Andrew. – Foi o que a Danna nos disse. Ela é nossa amiga, não mentiria para a gente!

– Não! – Defendeu-se Rupert. – Não foi isso que eu quis dizer, apenas... Olhem, é o seguinte. – Ele subiu com os joelhos na cadeira e se inclinou sobre a mesa baixando o tom de voz e fazendo os outros quatro se aproximarem para ouvi-lo. – Eu encontrei com a Danna esses dias e ela me pareceu muito estranha. Me disse que vinha de uma aula extra com a Medéia, mas ela não estava vindo das masmorras.

– Onde você a encontrou? – Quis saber Hector.

– Por que a achou estranha? – Mel o olhava intrigada.

– Que horas foi isso?

Rupert olhou para Andrew como se achasse a pergunta meio sem propósito, mas foi a primeira que ele respondeu.

– Foi tarde. Eu estava voltando da biblioteca com um colega da minha casa, devia ser quase umas dez da noite. Encontramos com ela quando chegamos ao saguão e, como eu disse, ela estava estranha... parecia meio perdida e, bem, o cabelo dela estava molhado.

– Molhado? – Repetiu Mel.

– É, encharcado, na verdade. Quando eu perguntei, ela apenas sorriu e disse: eu esqueci e depois puxou a varinha e começou a secá-los.

Os outros quatro trocaram olhares significativos. Aquilo era realmente estranho, mesmo vindo da Danna.

– Olhem – prosseguiu Rupert – eu sei que não é da minha conta, mas vocês são amigos dela e eu realmente não entendi aquilo. Tentei falar com ela depois, mas ela não conseguiu me explicar onde tinha molhado o cabelo e...

– Tudo bem, Rupert. – Hector sorriu de lado. Ao contrário de Mel, que tinha má vontade com os sonserinos, e de Andrew, que definitivamente não gostava de Rupert, Hector simpatizava com o colega. Aprendera com seu pai que as atitudes das pessoas deviam ser mais valorizadas do que os títulos que ostentavam e Rupert sempre fora um cara legal. Hector realmente achava que não tinha porque desconfiar dele. – A gente entende. Valeu você ter vindo contar.

Rupert pareceu satisfeito com a reação e sorriu agradecido.

– Certo! Bem, se vocês souberem de alguma coisa.

– Pode deixar que a gente te fala – arrematou Hector.

– Certo. Beleza. Ok, então. Er... – ele saiu do meio do grupo e desceu da cadeira. – Tchau.

Ele não tinha dado mais que três passos para longe deles, quando Andrew sibilou.

– Vocês acham que dá para confiar no que esse cara diz?

Josh abafou uma risadinha e Mel fez negativas com a cabeça, mas Hector parecia estar preocupado com outra coisa. Os olhos brilhando numa clara demonstração de que a sua cabeça já estava a mil por hora.

– Mel? – A garota o olhou. – A Danna te contou alguma coisa dessas aulas?

– Não. Eu perguntei, mas ela me disse que não tinha nada demais, que apenas ficava estudando ingredientes diferentes e o modo correto de cortá-los. Na verdade – admitiu a garota – ela foi bastante evasiva e depois mudava de assunto logo.

– Ela também tem sido evasiva com a gente – resmungou Andrew, mas se deteve ao ver Hector se erguer de um salto. – O que foi?

– Como é que eu não pensei nisso antes?

Disse o menino batendo com a mão espalmada na testa. E sem se explicar puxou a mochila sobre o ombro e saiu em direção à porta sendo seguido pelos outros três com caras de interrogação. Sem responder as perguntas dos amigos, Hector subiu de dois em dois os degraus das escadas que levavam até o sétimo andar, indo em direção à torre da Grifinória. Teriam chegado mais rápido se não tivesse tido de desviar do corredor habitual porque Pirraça estava cobrindo as paredes de lama e jogando enormes bolas de barro nos alunos que passavam.

– O Sr. Filch vai ter um ataque quando ver isso – disse Mel enquanto Hector puxava a ela e Josh para seguirem por um atalho escondido sob uma tapeçaria que Andrew erguia para eles passarem.

Chegaram esbaforidos em frente ao retrato da Mulher Gorda, mas ela se recusou a permitir que Mel e Josh entrassem na torre. Hector depois de discutir com ela sem resultado, acabou pedindo que os amigos esperassem ali. Andrew ficou com os dois. Não levou cinco minutos e um Hector triunfante saiu novamente pelo buraco do retrato.

– O que você foi pegar? – Perguntou Josh.

O amigo sorriu e tirou do bolso um pedaço de pergaminho de aparência muito velha.

– Isso não é...? – Mel parecia extasiada e o sorriso de Hector aumentou.

– O próprio. – Ele olhou sobre o ombro e viu que a Mulher Gorda parecia subitamente interessada na conversa deles. – Mas vamos para uma sala de aula aqui perto, onde não tenha quadros enxeridos.

– Ora, seu moleque atrevido! Seu...

Ela desatou a xingar os meninos, mas eles não fizeram caso e seguiram Hector até a sala de aula mais próxima. Andrew fechou a porta cuidadosamente enquanto Mel e Josh observavam Hector desdobrar o Mapa do Maroto quase com reverência.

– Eu pensei que você tinha devolvido ele para os gêmeos – comentou Josh e Mel ergueu a sobrancelha questionando. Devido à briga com Hector, ela tinha ficado por fora do assunto.

– Ahh – Hector sorriu – eles me pediram de volta quando souberam da história do espião.

– Hector disse que só devolveria o mapa para o Harry – respondeu Andrew chegando perto deles com um sorrisinho maroto. – Ou seja, eles teriam de contar para o Harry que foram eles que surrupiaram o mapa da casa dele. Acho que os dois preferiram não arriscar.

– É – disse Hector puxando a varinha do meio das vestes – só me fizeram prometer que ia ser um bom menino.

Mel deu um risinho descrente, enquanto ele apontava a varinha para o mapa.

Juro solenemente que não vou fazer nada de bom!

Imediatamente o Mapa se povoou de minúsculos pontinhos acompanhados de fitinhas que indicavam os nomes de cada um deles. A diretora McGonagall estava em seu escritório, acompanhada da Profa. Sprout. Filch e Madame Nor-ra estavam se dirigindo para o corredor que Pirraça estava barbarizando. A maioria dos professores encontrava-se em suas salas, com exceção do Prof. Flitwick que andava pelo corredor da ala leste, próximo à torre da Corvinal, e o Prof. Troop que estava na torre de Astronomia. Widdenprice estava em sua sala e Medéia também. O problema era que o pontinho e a fitinha que devia conter o nome de Danna O’Brien, não estava em lugar nenhum.



**************


Em um mês de convivência, Gina já aprendera a identificar as diferenças nas personalidades dos seus bebês. Lyan era calmo, chorava pouco, quase não reclamava atenção, mas também podia ter crises de fúria em que retesava o corpinho e chegava a ficar roxo de tanto berrar, depois ficava ressentido por horas, soluçando e fazendo bico. Joanne era mais ativa. Ficava muito mais tempo acordada que o irmão e parecia sempre disposta a reclamar de tudo. Gina sorriu olhando para os dois adormecidos nos bercinhos. Também já dera para perceber que tipos de pais os dois seriam, pensou enquanto ajeitava a manta sobre a filha. Harry lembrava um pouco Artur Weasley, ou seja, não era exatamente dali que viria alguma disciplina, já que ele ocupava a maior parte do seu tempo pensando em como mimar duas criaturas que mal haviam aberto os olhos, mal escutavam e cujas necessidades básicas eram leite e fraldas secas. Sendo assim, Gina deu um suspiro resignado e vendo-se como uma versão de sua própria mãe no futuro, tentando por na linha duas ferinhas que eram simultaneamente netos de Tiago Potter e sobrinhos de Fred e Jorge.

Ela ergueu o corpo que estivera reclinado sobre os berços e conferiu um relógio – do tipo que apenas marcava as horas – que ficava na parede do quarto dos bebês. Já devia fazer quase uma hora que Harry tinha saído para atender ao chamado do Ministério. Gina saiu silenciosa do quarto e fechou a porta com cuidado. Espreguiçou-se longamente ainda no corredor. Céus! As suas costas a estavam matando, isso sem falar no desconforto dos seios mais crescidos que o normal e que tinham a dupla pendurada neles por mais da metade do dia. Ela chegou a olhar com desejo para a própria cama que se mostrava convidativa pela porta aberta do seu quarto. Sabia que o correto era tentar dormir quando os bebês dormiam. Ao invés disso, porém, virou-se e desceu em direção ao andar de baixo. Adorava ser mãe, entendia bem suas novas responsabilidades, mas o fato é que ela não era mulher de ficar em casa enquanto as pessoas que amava corriam riscos. E também sabia que não era a única.

Por isso, não levou mais que cinco minutos entre ela chamar Hermione pela lareira e a cunhada aportar junto com um Sirius adormecido e uma Winky se esforçando para ficar alerta em sua sala de estar.

– Pode acomodar ele na caminha do quarto dos bebês, Winky – falou Gina. – Caso algum dos três chore, você nos chama, ok?

A elfa sorriu largamente e fez uma reverência desajeitada com Sirius no colo e subiu escada acima.

– Até as suas ordens ela aceita sem questionar – resmungou Hermione.

– É que eu sou irmã do Rony. Além disso, sei que ela não gosta de ouvir “por favor”.

Hermione fez negativas com a cabeça enquanto sentava-se em uma poltrona próxima à lareira e aumentando o fogo com um movimento de varinha.

– Dobby não vai ficar com ciúmes?

– Quanto você quer apostar que ele já está lá em cima – comentou Gina displicente se jogando deitada ao comprido no sofá grande. – Acho que, se ele pudesse, os amamentaria.

As duas caíram na risada enquanto Gina enumerava as atitudes possessivas de Dobby em relação aos bebês. Até com Harry ele já tinha discutido. Gina imitou a vozinha esganiçada do elfo quando Hermione duvidou.

– Meu senhor Harry Potter é magnânimo e valoroso e de uma grandeza sem par em todo o mundo bruxo – ela mudou o tom de adoração para um mais incisivo. – Mas Dobby entende mais de bebês do que Harry Potter!

– Essa eu queria ter visto – Hermione ria tanto que os olhos se encheram de lágrimas.

O relógio sobre o console da lareira bateu meia-noite com um click alto que fez o riso e os sorrisos das duas mulheres irem sumindo lentamente até que ficou somente a preocupação visível nos rostos de ambas. Hermione levantou-se de um salto e começou a caminhar de um lado para outro na sala, esfregando as mãos nervosamente.

– Isso não vai fazer o tempo passar mais depressa – comentou Gina após acompanhá-la por alguns minutos com os olhos.

– Ao menos as minhas pernas ficam ocupadas – Hermione torceu a boca numa careta e praguejou em voz alta fazendo Gina arquear a sobrancelha com aquela cara de “você está convivendo demais com o Rony”. – Eu devia ter sido Auror. Pelo menos agora estaria lá com eles. Não adianta. Eu não consigo me acostumar com a idéia de ficar de fora, só assistindo.

Olhou para Gina, que tinha uma expressão levemente irritada.

– É diferente, Gina! – Esganiçou. – Eu sempre estive junto, você... você só começou a participar depois da A.D. Antes...

– Eu creio que antes eu já tinha tido aventura suficiente no meu primeiro ano – respondeu Gina calmamente.

– Ahhh Gi, me desculpe, eu realmente não quis...

– Tudo bem, Mione. Você tem razão, o fato é que nenhuma de nós duas é mulher de ficar em casa esperando.

Hermione concordou com a cabeça antes de desabar sobre a poltrona.

– Você acha que eles ainda estão no Ministério?

– Você acha que eles nos avisariam se fossem para outro lugar?

O sangue fugiu do rosto de Hermione. Conhecia a forma como Harry e Rony funcionavam. Não. Eles certamente não avisariam.

– Você acha que – Gina ergueu o tronco do sofá – nós poderíamos dar um pulo até lá?

– É uma idéia. Mas acho que é melhor eu e não nós. – Ela ergueu a mão para evitar um ataque indignado da cunhada. – Gina, não dá para sair com horário marcado para esse tipo de coisa e você, moça, tem horários, lembra? Ou acha que os gêmeos vão deixar passar a próxima mamada só porque a mãe deles quer dar uma de heroína?

Gina atirou-se novamente no sofá.

– Ok, entendi. Você vai?

Um estalo alto fez as chamas da lareira passarem subitamente do amarelo-laranja para um verde brilhante e o rosto de Ana se materializou bem no meio delas.

– Eu devia ter apostado que vocês duas estariam aí. Será que tem lugar para uma Auror grávida e, por isso, jogada para escanteio?

– O que houve? – Perguntou Gina sentando rapidamente no sofá.

Ana fez uma cara de inocente.

– Ohh nada de mais. Só que os garotos pediram que o Carlinhos fosse encontrar com eles levando uns dragões.

Hermione e Gina abriram as bocas chocadas enquanto ouviam a voz de Carlinhos reclamar por trás da cabeça de Ana perguntando que parte sobre não contar a elas, a esposa não tinha entendido. A brasileira, no entanto, parecia satisfeita.

– Pode vir sim, Ana – chamou Gina. – E você também Carlinhos. Queremos saber que história é essa, viu? E é melhor você vir ou vou chamar a mamãe e ela vai te incomodar até o fim dos tempos!

Minutos depois o casal chegava pela lareira espalhando cinzas no tapete marrom da sala dos Potter e parecendo disputar quem era capaz de fazer o maior bico. Não era a toa que Carlinhos tinha a fama de ser o mais cabeça-dura dos sete Weasleys mais jovens, mas Ana conseguia se mostrar uma adversária à altura. Toda a doçura da garota simplesmente sumia quando ela achava que estava defendendo o que era certo. Hermione, no entanto, ignorou deliberadamente o clima.

– Que história é essa de dragões?

Carlinhos lançou um olhar irritado para a esposa que se limitou a erguer o queixo.

– Er... – ele massageou o pescoço desconfortável – parece que os Aurores conseguiram seguir os Comensais da Morte e, bem, Harry acha que eles podem estar acompanhados das criaturas. É apenas uma precaução. A Ana não precisava ter preocupado vocês com isso. O Rony me pediu expressamente e... – Parou com um olhar irado de Hermione, praguejando frustrado.

– Sabe – disse Ana calmamente enquanto cruzava a sala e sentava numa poltrona – eu sempre acreditei que, apesar de todos os defeitos dos bruxos, eles não eram machistas como os trouxas.

– Não é machismo! – Defendeu-se Carlinhos. – É apenas...

– Estamos perdendo tempo – cortou Hermione. – Vocês continuam a discutir quando a gente voltar.

– GENTE! – Repetiu Carlinhos sem entender, mas já com cara de não ia gostar quando entendesse. – Que história é essa de “a gente”?

– Bem, a Ana e a Gina não podem ir por motivos óbvios, mas eu vou com você!

– Nem pensar!

– Carlinhos – retorquiu a cunhada com suavidade – eu não estou abrindo um tópico para a discussão do assunto. Eu vou com você e pronto!

Ele tentou achar em vão alguma solidariedade nos olhos da irmã e da esposa, mas não encontrou. Ana esticou-se na poltrona e pôs os pés sobre um puff com um ar satisfeito. Mesmo que entendesse o porquê, estava furiosa por ter de ficar de fora e achou que era um excesso de zelo dos garotos tentar mantê-las todas em casa como um bando de menininhas comportadas. Se queriam esposas assim, deviam ter casado com as amigas da mulher do Percy e não com elas!

– Bem – um sinalzinho de triunfo apareceu na voz de Carlinhos. – Se você vai comigo é melhor saber que só tem dois jeitos seguros de chegar ao local neste momento. Aparatando do Ministério, onde eles estão controlando os locais de chegada ou no lombo de um dragão. A como a primeira possibilidade está vedada para você, eu acho que...

Não era segredo que Hermione detestava voar, fosse em vassouras, hipogrifos ou dragões, mas a garota não se abalou. Virou-se e se encaminhou para o armário de casacos onde pescou uma capa, um gorro, cachecol e luvas que pertenciam à Gina.

– Já disse que estamos perdendo tempo, Carlinhos! – Parou junto à porta da frente batendo o pé no chão com impaciência.

Dando-se por derrotado, Carlinhos, deu um beijinho no rosto da irmã enquanto resmungava que “papai diz que gostamos de mulheres com opinião própria. Humpf. Vocês são é mandonas mesmo!” Gina apenas riu enquanto ele ia até onde Ana estava sentada. O rapaz parou um segundo diante dela e depois a puxou pelo rosto, dando-lhe um longo beijo sem pedir permissão ou se importando com a cara de brava da esposa. Quando se afastou, Ana sorria e a briga tinha evaporado.

– Vamos Romeu! – Chamou Mione.

– Quem?

– Vai logo! – Disse Gina o afastando de Ana e empurrando em direção à porta.

O relógio batia meia-noite e meia, agora e mesmo que as duas tentassem, não apareceu nenhum assunto que pudessem conversar.

– O que a gente faz agora? – Perguntou Ana. – Espera?

Gina desabou de novo no sofá e encolheu as pernas prendendo-as junto ao peito.

– É... A gente espera.



***************


Quim Shacklebolt havia instruído seus comandados a aparatarem com alguma distância do círculo de pedras, sondarem o terreno, e só depois se aproximarem. O local era muito freqüentado pelos trouxas e provavelmente haveria algum tipo de magia sobre o monumento para torná-lo completamente sem atrativos naquela noite. Mas era provável que a neve derretida e transformada em lama aos pés de Harry e a chuva forte e gelada fossem motivos suficientes para qualquer trouxa, turista ou não, preferir ficar dentro de um lugar quente e seco e marcar a visita ao ponto turístico para outro dia. Segundos depois de aparatar, a capa de lã que Harry usava já estava encharcada e parecia pesar toneladas sobre os seus ombros, mas ele não estava dando atenção a isso. Tão logo chegou, mal teve tempo de impermeabilizar os óculos antes de começarem os ataques. Os Comensais perceberam rapidamente a movimentação dos Aurores e, usando as pedras de quase cinco metros de altura de Stonehenge como escudo, passaram a atacar lançando feitiços em todas as direções.

Mesmo com a pouca luz – a maioria fornecida pelos holofotes trouxas que iluminavam o monumento – eles estavam em vantagem por causa da proteção das pedras. A planície em torno do lugar não oferecia praticamente nenhum local para que os Aurores pudessem se proteger dos feitiços frontais que eram lançados e ainda tivessem condições de atacar. Harry percebeu quase instantaneamente que a desvantagem numérica dos Comensais seria facilmente superada pela posição deles na luta. Respirou fundo sentindo gotas de água entrarem pelo nariz e gritou para que os colegas projetassem feitiços de escudo e conjurassem algum tipo de defesa ou não teriam chance. Abaixando-se para evitar os ataques, Harry começou a correr tentando se aproximar do círculo. Tentava pensar rápido em como poderia quebrar a defesa dos Comensais, mas a própria aproximação estava difícil, com todos aqueles feitiços voando sobre ele.

A chuva torrencial que caía também não ajudava em nada. Harry mal conseguia respirar com tanta água correndo pelo rosto e o chão parecia um sabão cheio de atoleiros. O barro já chegava quase à altura do seu joelho. O barulho do aguaceiro era tal que praticamente encobria o som dos gritos e dos feitiços berrados a plenos pulmões por Aurores e Comensais. A barulheira também o impediu de passar instruções até mesmo para os colegas mais próximos. Harry já podia ver alguns deles caídos, os rostos afundados na lama após serem atingidos.

Tonks seguiu Harry de perto, mas ele havia perdido a posição do resto do seu grupo de assalto na confusão. Um raio vermelho passou muito próximo do seu rosto e ele apenas teve o reflexo de puxar a amiga pela capa e jogar-se com ela no chão afundando até os cotovelos na lama.

– Que nojo! – Resmungou Tonks perto o bastante para que ele conseguisse ouvi-la.

Mas a lama era o menor dos problemas.

– Temos que criar barreiras de proteção – berrou Harry.

– Alguma sugestão? – Perguntou Tonks no mesmo tom e logo em seguida baixando novamente a cabeça enquanto outro feitiço passava zunindo por eles.

Uma idéia cruzou a cabeça de Harry.

– Tenho!

Ele se ergueu de um salto e apontou a varinha para o solo.

Accessio solis!

Imediatamente o terreno a sua frente começou a erguer-se formando uma trincheira que se elevava do solo quase um metro e meio. Um pequeno rio de lama correu sobre as pernas deles enquanto a barreira se levantava quase os atolando, mas o muro improvisado pareceu eficaz em absorver os feitiços que continuavam vindo na direção dos dois. A chuva torrencial, porém insistia em não manter a terra muito firme.

– É melhor do que nada – gritou Tonks ao lado dele se aproximando da trincheira e passando a proferir feitiços de ataque em direção aos Comensais.

Harry deu alguns passos para trás e fez sinais para que os colegas que o vissem o imitassem. Deu resultado. Em pouco tempo, várias pequenas trincheiras se ergueram em torno do círculo, de onde os Aurores passaram a atacar sem serem atingidos com a mesma facilidade. Harry e Tonks já haviam conseguido atingir pelo menos três Comensais que tinham se distraído e ficado amostra tempo suficiente para serem estuporados. Harry sentia-se encharcado até as entranhas, mas o frio passara. Movimentava-se com rapidez e isso estava mantendo o corpo quente. Contudo, sabia que sua idéia não seria suficiente para que vencessem a batalha ou conseguissem capturar alguns dos Comensais.

O primeiro grupo enviado por Quim havia lançado um feitiço anti-aparatação em torno do círculo para impedir os Comensais de fugirem. Mas este não era um feitiço infalível. A qualquer momento, os bruxos das trevas poderiam conseguir quebrá-lo de alguma forma. Além disso, Harry ainda não havia conseguido localizar as criaturas, embora tivesse uma certeza íntima de que elas estavam ali. Sentiu o peso de uma mão forte sobre o ombro esquerdo e se voltou pronto para atacar.

– RONY! – Ofegou baixando a varinha. – Você não tem noção do perigo! Eu podia ter estuporado você! – Falou aos berros.

– Desculpa. Foi mal! Como estamos?

– Apanhando! E o Carlinhos?

– Deve estar chegando – gritou Rony de volta já começando a atirar feitiços sobre a barreira.

A luta prosseguiu pelo que pareceu ser quase uma hora. Nenhum dos dois lados levava vantagem. Um grupo de Comensais começou a usar feitiços de levitação com as pedras do círculo e a jogá-las contra os Aurores. Harry viu, horrorizado, três colegas desapareceram sob o peso de um seixo descomunal arremessado contra eles. O contra-ataque foi rápido. Quim, que com mais dois Aurores havia se juntado a Harry, Rony e Tonks, ordenou um feitiço conjunto que resultou na queda de um dos imensos dolmens sobre pelo menos cinco dos Comensais.

– O pessoal do Departamento de Reversão de Feitiços e do de Contato com os Trouxas vai querer a minha cabeça amanhã de manhã.

– Que tal se concentrar em ter a cabeça sobre o pescoço até amanha de manhã – falou Tonks se erguendo para atacar. Menos de um segundo de desatenção e um raio vermelho a atingiu em cheio no rosto jogando-a quase dois metros longe deles.

– TONKS!

Harry berrou sentindo o pavor congelar o peito. Desatou a correr em direção a amiga sendo seguido por Rony. Um feitiço de corte fazia o rosto da Auror sangrar em abundância e ela parecia ter perdido os sentidos. Harry murmurou os feitiços que conhecia passando a varinha sobre os cortes e fazendo-os estancar.

– Temos que achar um jeito de tirar os feridos daqui. Tenho medo que alguns acabem se afogando na lama.

Rony o olhava ofegante. O rosto contraído sob a chuva.

– O que vamos fazer?

– Se, pelo menos, Carlinhos já tivesse chegado. Os dragões seriam uma boa distração para podermos resgatar os que estiverem machucados e levá-los para um lugar seguro.

Como se os céus atendessem o seu pedido um rugido poderoso se sobrepôs ao barulho insistente da chuva e aos gritos dos feitiços. Harry olhou para o alto e divisou a sombra de pelo menos cinco criaturas imensas. Outros rugidos se seguiram e línguas de fogo cortaram o céu silenciando os combatentes que, de um lado e de outro, acompanhavam a chegada dos dragões, estupefatos. Os Aurores foram os primeiros a se recompor e passaram a lançar feitiços com mais violência e rapidez.

Harry consultou Rony, que entendeu sem que ele precisasse falar.

– Pode deixar, eu recolho os feridos para tirá-los daqui.

– Ok.

Rony chamou os outros dois Aurores que estavam ao lado de Quim e os coordenou para começarem a se esgueirar por trás das trincheiras recolhendo os colegas machucados. Abaixados os três começaram a se movimentar levantando os Aurores, que estavam caídos na lama, com feitiços de levitação. Harry tinha razão em relação aos dragões. Os Comensais ficaram momentaneamente mais preocupados em se defenderem dos ataques aéreos que vinham em forma de poderosas línguas de fogo. O rapaz conseguiu retornar para junto de Quim e recomeçou o ataque. Os Comensais, porém, não pareciam dispostos a se darem por vencidos. Um feitiço conjunctivos atingiu um dos animais que, urrando de dor, saiu corcoveando com seu cavaleiro para longe. Um verde galês que Harry reconheceu como sendo Galton, o dragão montado por Carlinhos, deu um rasante sob o comando de seu cavaleiro, ateando uma faixa incandescente que cruzou o monumento de fora a fora.

Harry ouviu gritos. Um dos Comensais estava ardendo em chamas. Parecia que mesmo a chuva torrencial não era páreo para o fogo lançado pelos animais. Harry o viu correr para fora do círculo e jogar-se na lama tentando, em agonia, apagar as labaredas que o consumiam. Um Auror se aproximou rápido jogando a capa sobre ele e exterminando o que restava do fogo e depois conjurou cordas, prendendo o Comensal.

No entanto, os que continuavam dentro do círculo estavam agora usando os dolmens restantes para se protegerem. Harry se voltou para Quim que falou alto para que ele o ouvisse por sobre o barulho.

– Não creio que eles vão se render.

– Nem eu. Mas temos...

Um estalo alto ao lado dele, o fez dar o segundo salto de susto na noite.

– Hermione! – A garota sorriu sem jeito, parecendo um pouco tonta. – O que você está...? – Um raio roxo e outro verde obrigaram os três a abaixarem-se. – Não importa. Como chegou aqui.

– Vim com o Carlinhos. Aparatei lá de cima assim que vi você. Cadê o Rony?

– Está recolhendo os feridos.

Ela assentiu.

– O que vamos fazer agora? – Perguntou afastando uma mecha já encharcada do cabelo que lhe caía sobre os olhos.

– Eu esperava que as criaturas estivessem aqui, mas até agora, nenhuma apareceu.

– Oh-oh

Os dois viraram-se imediatamente para Quim.

– O fogo dos dragões liquidou com o feitiço anti-aparatação – informou o chefe. – CONJUREM ESCUDOS – ordenou aos berros tentando que os outros o ouvissem – VAMOS ENTRAR NO CÍCULO OU VAMOS PERDÊ-LOS!

O Auror mais velho seguiu as próprias palavras e começou a avançar em direção ao círculo desviando com agilidade alguns feitiços e evitando outros. Harry viu que alguns colegas rapidamente perceberam as intenções do chefe e o seguiram.

– Mione. Tente pedir para o Carlinhos diminuir o ataque lá de cima. – Ela abriu a boca sem saber o que fazer.

– Harry, eu não sei como.... Eu posso aparatar de um dragão para o solo, mas o contrário é impossível.

– Dê um jeito!

Harry confiava na agilidade mental de Hermione mesmo sob pressão. Mas, no momento, não tinha tempo para ficar e acompanhar o raciocínio dela. Virou-se e seguiu Quim para dentro do círculo de pedras. Os feitiços já não saíam mais com tanta violência para fora. A luta era agora corpo a corpo. Harry notou vários corpos caídos no chão, mas a luminosidade não lhe permitiu identificar se eram Comensais ou algum colega que já havia tombado.

Experlliarmus! – Berrou em direção a um mascarado que parecia pronto a atingir um de seus colegas pelas costas. A varinha do homem voou longe. – Incarcerous! – Cordas grossas saíram da varinha de Harry e circularam o corpo do Comensal fazendo-o cair no chão. Uma labareda cruzou próxima aquecendo a noite subitamente, e Harry teve de se esconder atrás de uma pedra para não ser atingido. Notou agradecido, no entanto, que pelo menos dois dos dragões já começavam a se afastar postando-se fora círculo.

Avançou alguns passos, mas um risco semelhante a uma chicotada cortou-lhe a roupa rasgando profundamente a pele do braço. Harry soltou um uivo de dor e virou-se para o agressor. O Comensal parecia alheio ao resto da batalha e tão pouco se abalou com o fato de Harry erguer a varinha ameaçadoramente, pelo contrário, reagiu a isso levando uma das mãos até o rosto e tirando a máscara.

– Olá, Potter!

– Bellatrix! – Uma golfada de ódio esquentou-lhe desde as entranhas até o peito quase o impedindo de respirar, mas a Comensal foi mais rápida.

Crucio!

Harry sentiu os joelhos dobrarem enquanto ele perdia o completo controle do resto do corpo. Uma agonia insuportável rasgava-lhe por dentro como facas tiradas de uma forja. Não havia um único ponto da pele que não ardesse como se estivesse em chamas e não lhe provocasse uma dor sufocante. Os olhos pareciam querer entrar para dentro das órbitas e todo e qualquer pensamento foi varrido da mente dele apenas pela consciência da dor. Mas o vácuo durou pouco. Em algum momento, parte da mente dele fugiu do entorpecimento e começou a recobrar o controle. A dor continuava, só que Harry ainda assim conseguiu abrir os olhos e com um esforço sobre-humano ele lentamente ficou em pé. O olhar impressionado de Bellatrix serviu como um estímulo e juntando todas as forças que lhe restavam, Harry concentrou-se erguendo a varinha e mentalizando Impedimenta! Como se uma onda de choque o abandonasse ele conseguiu expulsar maldição que retornou em direção à Bellatrix. A Comensal desviou rápida.

– Estou impressionada, Potti – caçoou com um brilho desvairado no olhar. – Parece que o garotinho do Dumbledore realmente cresceu. Mas eu não vou subestimá-lo de novo. Não se preocupe.

Harry mal conseguia ouvir as palavras. Tudo o que ele pensava é que tinha diante de si a assassina de Sirius, a mulher que estava fazendo tudo para ameaçar os seus filhos.

Incarcerous! – Berrou apontando a varinha.

Bellatrix conseguiu desviar num rápido movimento de corpo, o rosto contorcido numa expressão voraz.

– Sabe, Potter? Eu tenho vontade de matá-lo desde que a trouxa da sua mãe o transformou na perdição do meu mestre. Mas depois de tudo o que passamos – ela deu um sorriso desagradável enquanto impedia outro feitiço lançado por Harry – eu quero que você sofra muito antes de matá-lo.

Stupefaça!

Protego!

Harry teve que se desviar rápido do próprio feitiço. O braço cortado, que ele já quase esquecera, berrou quando ele bateu contra uma das pedras no movimento. Bellatrix berrou Reducto. A pedra sobre a cabeça de Harry explodiu e somente sua agilidade – ou talvez ele tenha aparatado sem sentir – o livrou de ser esmagado. O movimento o fez ficar a uma distância maior dela, mas Harry não estava disposto a perder Bellatrix de vista. Assim, num segundo ele estava ali, tomado pela fúria, com movimentos desajeitados daqueles que perdem a cabeça num combate. No outro, uma raiva fria lhe informava que a magia começara a fluir através do seu corpo. A adversária percebeu a diferença. Harry a viu recuar, os olhos insanos quase saindo das órbitas.

Reunindo toda a concentração que possuía e sentindo a pele formigar tamanha a força mágica que passava pelo seu corpo, Harry apontou a varinha para Bellatrix. Nem ao menos chegou a pensar em um feitiço específico, simplesmente deixou que ele projetasse seu desejo de ver a Comensal presa. Uma faixa de luz prateada irrompeu da varinha e seguiu em direção a Bellatrix, Harry observou satisfeito sabendo que esse feitiço ela não conseguiria desviar, mas num átimo de segundo um beusclainh surgiu por traz da mulher e agarrando-a pelos ombros sumiu com ela. Harry urrou de frustração ao ver seu feitiço bater contra uma das pedras azuis fazendo-a balançar ligeiramente antes de tombar par o lado. Gritos semelhantes vieram dos lados e ele percebeu que os Comensais estavam sumindo, carregados por beusclainhs.

Quim fez um sinal chamando-os para reagruparem-se, mas algo chamou a atenção de Harry pelo canto do olho. Uma das criaturas esgueirava-se de dentro para fora do círculo, tentando passar despercebida. Ignorando o chefe, Harry seguiu atrás dela. Achou estranho porque reconheceu imediatamente a cabeça pelada, as orelhas grandes e os maléficos olhos vermelhos, mas havia algo esquisito. A criatura parecia estar vestida com roupas humanas. Harry tentou chegar mais perto, mas escorregou e teve de se segurar em uma das pedras para não ir ao chão. Quando levantou a cabeça, percebeu que perdera a criatura de vista.

– Harry! – Hermione chegou esbaforida ao lado dele. – Você está bem? Aquela com quem você lutou era a Bellatrix?

– Era – ele respondeu impaciente. – Tem uma coisa estranha por aqui, Mione. Vem!

Ele saiu do círculo de pedras tentando rastrear a criatura. Hermione o seguiu buscando inutilmente saber do que ele estava falando, mas desistiu de perguntar quando viu que Harry não iria responder. Os dois foram desviando as trincheiras improvisadas pelos Aurores, agora já semi-derretidas pela chuva incessante que, no entanto, parecia finalmente querer dar uma trégua transformando-se em uma garoa fina. Harry sentia o coração ribombar dentro do peito enquanto conduzia Hermione acompanhando uma trilha cega por onde ele achava que a criatura poderia ter seguido. Atrás deles, Harry ainda ouvia Quim berrando ordens e os rugidos altos dos dragões que pareciam ter pousado no solo.

Os dois desviaram mais uma das barreiras de terra e Harry sentiu a mão de Hermione, que agarrava seu braço, dar um puxão em busca de equilíbrio quando ela tropeçou.

– Tudo bem? – Perguntou virando-se para sustentá-la.

– Aham... Tinha uma coisa mole aqui, eu... Ahhrrrrr

Hermione soltou um grito de pavor e abraçou Harry escondendo o rosto em seu ombro, enquanto ele próprio olhava horrorizado para o ponto no chão em que a amiga tinha tropeçado. Semi-coberto de barro, mas com o rosto lavado pela chuva, Tibério Stewart mantinha os olhos sem vida fixos no nada, a expressão vazia da morte, os lábios entreabertos numa surpresa muda. Harry fechou os olhos por um segundo. Já vira rostos assim por vezes demais para sua pouca idade. Segurou Hermione com força e a afastou dele.

– Mione, volte para junto dos outros e avise ao Quim.

– Aonde você vai? – Ela perguntou trêmula.

– Vou dar mais uma volta aqui em torno. Talvez ainda haja algum deles por aqui.

– Eu vou com você.

– Mione... – A jovem empunhou a varinha com a expressão determinada de que não ia mudar de idéia. – Ok, vamos... espere.

Harry apontou a varinha para o ex-colega e uma luz azul clara envolveu o corpo, como um lençol transparente e brilhante.

– Assim poderemos encontrá-lo mais facilmente depois.

Ela concordou com um aceno de cabeça. Os dois continuaram em frente observando com atenção o chão, mas não parecia ter muito mais o que buscar. A planície nua de Salisbury não parecia esconder coisa alguma. Não havia nenhum Comensal ou beusclainh à vista. Harry deu um suspiro frustrado e virou-se para dizer para Hermione que eles deviam voltar. A cena que ele viu atrás da amiga, no entanto, congelou-lhe o coração como Harry jamais pensou que poderia acontecer. Dois beusclainhs os olhavam em desafio. Um deles era o que harry vinha seguindo, vestia roupas humanas vagamente familiares, enquanto o outro, com uma espécie de túnica de couro marrom mal curtido, era o chefe que o havia desafiado na noite em que eles haviam salvo as crianças trouxas. Ambos tinham sorrisos perversos no rosto, mas não foi isso que fez a pernas de Harry fraquejarem como se subitamente o chão começasse a rodar. Hermione notou que ele estava paralisado.

– Harry! O que... – ela se virou para onde ele olhava antes que Harry pudesse impedi-la. – RONYYYYYY!!!!!!!!!!!!!!! NÃOOOOOOO!!!!

Hermione se jogou em direção ao marido, mas Harry conseguiu contê-la segurando-a pelos braços enquanto ela berrava como louca e tentava atirar feitiços contra os beusclainhs que os observavam deliciados. Ao lado dos dois flutuando a quase meio metro do chão, Rony parecia reconhecível apenas pelas roupas e o cabelo vermelho que mesmo molhado e na pouca luz era visível. As mechas cumpridas do cabelo colavam-se ao rosto, alongadas por filetes de sangue que contrastavam com a palidez mortal da pele. Havia pontos em que as roupas pareciam ter sido rasgadas ou queimadas e revelavam grandes cortes e queimaduras no peito e nas pernas. O ar não parecia chegar aos pulmões de Harry. Doía respirar. Doía estar vivo. Não havia nenhum pensamento. Nada. Nenhum poder. Harry não conseguia nem ao menos lembrar de quem era. Ele apenas segurava com cada vez mais força uma Hermione ensandecida e não parecia conseguir tirar os olhos da cabeça frouxa de Rony, pendida sobre o pescoço.

– Eu disse que só lutaria com você, Harry Potter, quando você tivesse ódio o suficiente para me tentar – a voz rouca e sibilante do beusclainh soou perversa em nos ouvidos de Harry. Ele fez um gesto com a mão e o corpo de Rony desabou sobre o solo como uma massa amorfa. Hermione urrou. – Nós estamos só começando.

Harry soltou Hermione e num ataque desesperado apontou a varinha para as duas criaturas fazendo sair dela uma luz verde brilhante sem que ele sequer precisasse pensar mentalmente no nome do feitiço. Mas antes que a maldição chegasse, os dois haviam sumido num estalo ralo e fumacento e o feitiço apenas se chocou contra uma das trincheiras de terra. No segundo seguinte, com a visão toldada por lágrimas de desespero, Harry corria ao lado de Hermione até o amontoado escuro que era Rony.



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N/A:
Oi gente!

Bem, aí está o capítulo 29 e a fic agora começa a quebrar a curva para a sua reta final. Espero que o tamanho deste tenha compensado a demora e que vocês tenham gostado, especialmente o pessoal que pedia um pouco de ação. Só não digo que o capítulo foi “à pedidos”, porque tudo dentro dele já estava programado.

Quanto a brincadeira do capítulo anterior, estava na soma dos algarismos das horas do nascimento dos bebês. Ambos dão 7. Mas vocês verão isso mais adiante na prórpia fic. Houveram alguns palpites certeiros, mas os doces da Dedosdemel foram para a Darla, minha betha, e para a Charlotte Ravenclaw. Já encomendei
penas de açúcar e diabinhos de pimenta, viu meninas? Beijokas.

Eu sempre uso o tempo da bethagem do capítulo para responder aos comentários de vocês, mas dessa vez ocorreram dois probleminhas. Um, a FeB saiu do ar e eu não pude pegar os comentários para responder. O outro foi que tive de sair bem nesse período. Aí fiquei na dúvida, ou respondia e levava mais um dia ou dois para postar ou postava logo. Optei pela segunda alternativa.

Assim, quero agradecer ao carinho e à compreensão de todos com as demoras. O suporte de vocês tem sido muito importante. Seja dos leitores que acompanham a fic já há algum tempo, seja dos novos leitores, sempre bem vindos. Meu muito obrigado de coração.

Fica ainda um convite. No orkut, no meu perfil de Sally Owens, eu tenho colocado algumas fotos relativas à fic. No momento, estão algumas com cenários, mas logo vou postar fotos de atores que poderiam fazer os personagens adultos. Fiquem a vontade para aparecer por lá.

A todos, um Feliz Natal, um Ano Novo cheio de luz, paz e muita, mas muita coisa boa mesmo, quem sabe até um livro 7 perfeito como temos sonhado, não é?




Esse capítulo é dedicado ao meu amor, primeira pessoa que lê cada um dos meus capítulos, meu editor, meu incentivador, meu amigo e companheiro. Se Harry Potter é a minha paixão, a dele se chama Internacional e neste domingo, 17 de dezembro de 2006, a paixão dele chegou ao topo do mundo. Por isso, em reconhecimento, merecimento e como presente, este capítulo é para o Guto. Parabéns, meu amor! Você merece essa glória!



Beijos a todos! Até o próximo!

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