Luz na Escuridão



Capítulo 25



Luz na Escuridão



Rony soltou uma exclamação alta e debochada, seguida por um uivo de dor. A Sra. Weasley lhe aplicou um bom beliscão antes de dar um passo em direção ao centro da sala, mexendo as mãos nervosamente em frente ao corpo. Ela lançou um olhar aflito para as noras.

– Eu a-acho que... bem... – ela forçou um sorriso em direção aos netos. – O que vocês acham de irem brincar um pouco lá em cima, hein crianças?

Sem esperar exatamente que algum dos pequenos respondesse, ela retirou Sirius do cercadinho onde o menino estava adormecido e fez um gesto rápido para Alicia e Cátia. As duas jovens a seguiram e ergueram do chão, não sem algum esforço por causa do peso e do tamanho, os outros dois meninos que, até então, estavam olhando muito admirados, o monte de adultos exaltados que agora ocupava a sala. Chantal obedeceu a um sinal de Gui e se preparou para subir juntamente com os primos. A menina estendeu a mãozinha para Hector, convidando-o, mas o garoto não pareceu gostar nem um pouco da idéia de sair da sala, como se fosse “criança”. Ele fez uma expressão de súplica para o pai, mas Lupin não se deixou comover e com um movimento seco de cabeça indicou que ele seguisse junto com os outros. Hector percebeu que não haveria espaço para negociações e, decepcionado, deixou-se puxar por Chantal até o andar de cima.

O processo de retirada dos mais novos foi acompanhado por um silêncio tenso entre os adultos. Harry estava ofegante e só notou que ainda segurava a varinha com excessiva firmeza quando precisou sair da frente dos degraus da escada para que o cortejo das crianças passasse. Sem deixar de prestar atenção a cada mínimo movimento de Malfoy, Harry se virou para Gina, ainda parada sobre o último degrau da escada e a ajudou a descer. A mão dela segurou firmemente a sua enquanto ele a levava até uma poltrona para que ela se acomodasse. O olhar de Draco sobre os dois não poderia ser mais frio e cheio de ódio.

No que as três mulheres desapareceram no andar de cima, Rony pareceu achar que o silêncio já tinha durado o suficiente.

– De tudo o que sei a seu respeito, Malfoy, nunca me constou que você fosse um cara engraçado e 1º de abril está longe demais para esse tipo de piada. – O tom do rapaz era feroz. – O Harry só ajudaria a um Comensal da Morte se fosse para fazê-lo chegar mais rápido à Azkaban.

– E sair rápido também, pelo que eu sei – respondeu Draco, maldoso, fazendo com que Rony desse um salto em sua direção e precisasse ser contido por Hermione, Lupin e o Sr. Tonks.

Snape pôs levemente a mão sobre o ombro de Draco e fez uma breve negativa com a cabeça. Malfoy não se mexeu. Deu apenas um sorriso torto enquanto observava com avidez o destempero de Rony. A Sra. Weasley e Alicia desceram e pararam em frente à escada observando a cena com caras assustadas. Ao que parecia, Cátia tinha ficado no andar de cima tomando conta das crianças.

– Eu não acredito que você teve coragem de trazer esse filho da mãe aqui. Para dentro da nossa casa! – Fred falou entre os dentes olhando diretamente para Snape.

– Melhor aqui do que a sede da Ordem, Weasley – replicou Snape com uma paciência cansada. – Depois se dará um jeito para que ele esqueça o caminho. – Ele se voltou para Harry, que continuava imóvel ao lado da poltrona de Gina. – Seria possível vocês ao menos ouvirem o que ele tem a dizer? Aliás, não seria melhor se restringíssemos um pouco... a platéia, Potter?

– Vai sonhando, Snape – Jorge cruzou os braços em frente ao corpo, deixando bem claro que não arredaria o pé dali. Nenhum outro rosto pareceu menos decidido que o dele em permanecer na sala.

Harry achou suficiente a resposta do cunhado. Não estava nem aí se Draco e Snape preferiam conversar com menos gente. Snape percebeu logo qual era a opinião de Harry e, com um movimento resignado de ombros, caminhou apoiando-se levemente na bengala até uma poltrona próxima, onde sentou. Parecia que ia deixar Draco, literalmente, para os leões.

Com o coração acelerado como se tivesse corrido quilômetros, Harry não pode deixar de pensar na situação em que se encontrava. Sempre achara que iria se sentir pior do que estava se sentindo quando voltasse a encarar Draco novamente. Os dois haviam se odiado desde sempre, mas agora... agora Malfoy realmente tinha motivos. Harry se sentia roído pela culpa que há anos o atormentava ao mesmo tempo em que pensamentos cada vez mais sinistros iam se desenhando na sua mente. Jamais confiaria em Draco, mas talvez, negar-lhe ajuda poderia significar entregá-lo à morte e Harry tinha uma dívida com ele. Por outro lado, não queria Malfoy perto de sua família. Mesmo que ele tivesse recuado no último momento, Draco já havia planejado um assassinato. De certa forma, e pensar isso confortou Harry mais do que ele gostaria de admitir, as mãos de Malfoy estavam tão sujas de sangue quanto à dele. A imagem de Dumbledore, acuado no alto da torre de Astronomia voltou a assombrá-lo. Isso foi o bastante para que Harry decidisse que seria ele a colocar os termos daquela conversa. Soltou a mão de Gina, que ainda segurava, e caminhou em direção ao ex-sonserino. Sua voz até que saiu razoavelmente calma quando ele falou.

– Claro... vamos ouvir sim o que o Malfoy tem a dizer, Snape. Mas EU vou fazer as perguntas sobre o que EU quero ouvir ele falar.

Draco torceu a boca numa expressão de asco, enquanto Harry prosseguia, cruzando os braços em frente ao corpo e sentindo uma raiva fria invadi-lo.

– Porque voltou para a Inglaterra, Malfoy? Não foi para vir bater na minha porta pedindo ajuda, foi? – O outro abriu a boca, mas Harry não o deixou responder. – Você sumiu há quase um mês da sua casa em Wiltshire. Onde estava? Com seu paizinho e a sua titia perseguindo criancinhas inocentes? – Draco novamente ensaiou uma resposta, mas isso só serviu para Harry erguer ainda mais a voz. – Onde diabos você estava quando eles assassinaram barbaramente Gerard Griffin, hein? ASSISTINDO?

A pouca cor que havia no rosto pálido de Draco sumiu e ele fechou os olhos por um segundo.

– Por que acha que estou aqui, Potter?

– Para quem sempre quis ser um Comensal da Morte quando crescesse – provocou Fred – você tem se saído um bocado frouxo, não é mesmo?

– Cala a boca, Weasley! Você não tem a menor idéia do que eu vi!

– Ahh nós temos idéia sim, garoto – retorquiu Tonks cheia de dor. – Nós vimos o que sobrou do nosso amigo!

Draco engoliu em seco e negou veementemente.

– Não... Vocês não têm idéia... Vocês não imaginam...

– Draco... – interpôs Snape com uma suavidade quase carinhosa. – Você não poderia ter feito nada.

– NADA?! – Rony berrou. – Ele assistiu outro ser humano ser morto como não se faria nem a um animal e você diz que ele não poderia ter feito NADA!

– O herói aqui é o seu amiguinho Potter, Weasley, não eu! – Draco rebateu no mesmo tom de Rony, as faces corando um pouco.

– Rapazes! – O Sr. Weasley interferiu. – Essa discussão não vai nos levar a nada. – Ele parou enquanto observava os dois jovens ficarem se encarando, ofegantes. – Pelo que pude entender o jovem Malfoy se encontrou com o pai e a... tia, estou certo? – Draco confirmou. – Você esteve com eles, durante todo esse tempo?

– Não – respondeu Draco. – Eles me procuraram, mas eu estive com eles apenas uns dois dias, depois... eu fugi. Tenho ficado escondido desde então. Só agora eu achei que era seguro procurar Severo, achei... achei que ele poderia ajudar a me esconder. – Ele olhou para a Sra. Tonks e depois desviou o olhar para Snape. – Foi ele que sugeriu que eu procurasse o Potter.

– Você não respondeu por que voltou para a Inglaterra, Malfoy? – Perguntou Hermione, que, em resposta, foi brindada com um olhar de profundo desagrado por parte de Draco.

– Eu precisava saber o que eles estavam pretendendo... Eu queria saber se o meu pai não estava... sei lá... simplesmente fugindo para ficar livre e...

– E você veio oferecer ajuda para tirá-lo da Inglaterra, não foi? – A voz de Gui soou como uma acusação.

– É claro que foi. Ele é meu pai.

Um silêncio tomou a sala por alguns segundos, antes que a Sra. Tonks se manifestasse.

– Acho que o importante é que... Bem, parece que Draco não quer se juntar a Lucius e Bella nessa cruzada doida e maligna que eles iniciaram... Acho que isso é o suficiente para que a Ordem lhe dê o seu apoio, não é?

Harry olhou para a mãe de Tonks sentindo quase piedade por ela. Sirius sempre elogiava a coragem de Andrômeda. O fato dela ter se colocado contra a família para poder se casar com Ted Tonks, dela ter negado tudo o que os Black prezavam e de jamais ter se alinhado com as idéias das duas irmãs. Mas, naquele momento, era possível vê-la tentar, quase com desespero, salvar o pouco da família que ainda tinha. E isso, para ela, era dar o benefício da dúvida para o aparentemente tão improvável arrependimento de Draco Malfoy.

– Desculpe, Sra. Tonks – interpôs Carlinhos. – Mas o fato dele vir até aqui não significa que esteja disposto a passar para o nosso lado e nos ajudar.

– Não significa mesmo – reagiu Draco, olhando para Carlinhos, parecendo somente naquele momento registrar ele e Ana, muito pálida, ao seu lado. – Vim pedir ajuda. Não oferecer ajuda. Só quero sumir até que isso passe. – Ele se voltou para Harry. – E agradeceria se você me fizesse novamente o favor de derrotar o Lord das Trevas, Potter. Vou estar em maus lençóis se, depois de fugir pela segunda vez, eles conseguirem trazê-lo de volta.

Harry endureceu o maxilar e pensou que azarar Draco, depois de ouvir aquilo, já não o satisfaria. O rosto fino e desdenhoso do velho inimigo parecia pedir um soco mais do que qualquer outra coisa.

– Ninguém aqui tem a menor dúvida de que você não vale nada, Malfoy – a voz de Gina ergueu-se por trás de Harry, arrancando-o de seus pensamentos. Ele se virou para vê-la caminhando em direção ao lugar onde Draco estava parado. – Você não precisa nos lembrar disso. Se a Ordem vai engolir a sua crise de consciência, eu não sei, mas sei que estou particularmente inclinada a protegê-lo pessoalmente se você me responder uma única pergunta.

Harry passou os olhos de Gina para Malfoy e teve certeza de que o rapaz não só engoliu em seco, como se soubesse qual era a pergunta, como também era óbvio que ele não conseguia encarar Gina. Alicia, porém, parecia estar preocupada com outra coisa. A curandeira cruzou um breve olhar com Harry e deu passos largos em direção à cunhada, tocando-a no braço.

– Gina... querida, acalme-se você não pode se exaltar.

– Eu pareço exaltada, Alicia? Não se preocupe, eu estou bem. E vou ficar melhor depois que o Malfoyzinho aqui responder o que eu quero saber.

Draco manteve a mesma expressão de aversão, mas era claro que ele não conseguia encarar Gina nos olhos.

– E o que é que você quer saber... Sra. Potter?

– O que ela quer com os meus bebês? – Disse Gina num único fôlego. – O que é que aquele monstro da Bellatrix quer com os meus filhos, Malfoy?

A sala pareceu congelar. Harry se virou para Draco com a mesma expectativa. Se ele respondesse aquilo e, se não estivesse mentindo, é claro... Gina tinha razão. Ele próprio se encarregaria de garantir que Malfoy tivesse tudo o que quisesse, que ficasse escondido, que sumisse do mapa. O problema era como saber até onde Draco estava sendo honesto ou seria honesto no que quer que fosse falar.

– Eu... eles... eles não me colocaram a par de todos os planos deles. Eu não saberia dizer exatamente o que...

– Se esforce – sibilou Gina.

A postura dela em direção ao ex-sonserino era tão perigosa que Harry já parara de observar os movimentos de Malfoy, para ficar atento aos de Gina. Hermione pareceu pensar a mesma coisa, pois largou o braço de Rony, o qual ela continha desde que Harry chegara à sala, e caminhou até estar ao lado da amiga.

– Tudo o que eu sei é que eles precisam do filho do Potter para trazer o Lord das Trevas de volta.

– O que quer dizer com isso? – Perguntou Harry sentindo o sangue fugir do próprio rosto.

– O que eu disse – respondeu Draco dando de ombros. – Parece que tem algo a ver com a identidade mágica entre você e o Lord. Bella disse que o fato de serem dois – ele apontou rapidamente para a barriga de Gina – apenas aumentava a sua opção de escolha.

– Faz sentido... – comentou Snape quase pensativamente, mas alto o suficiente para atrair as atenções para si. – O Lord das Trevas já usou o seu sangue para voltar uma vez, Potter. O que quer que Bella esteja planejando, sem dúvida, faz mais sentido se envolver o seu sangue novamente.

– Isso não é muito mais do que nós já tínhamos deduzido, Severo – comentou Lupin com a voz calma. – Você tem idéia do que exatamente ela pretende, Draco?

O rapaz negou com a cabeça.

– Bella está seguindo as orientações de alguém... Não me perguntem, eu não sei quem é. Ela tem mantido até meu pai de fora... O que sei é que foi essa pessoa que planejou tudo, que é alguém muito fiel ao Lord das Trevas e que foi quem fez os acordos com... – ele pareceu ficar enojado – com as criaturas.

– Os beusclainh? – Quis confirmar Ana e Draco maneou a cabeça, assentindo.

– Bella disse que os planos são antigos e que eles esperavam há anos para poder concretizá-los. E que a espera pelo retorno do Mestre... estaria marcada para terminar no dia em que o filho de Harry Potter nascesse.

Draco falou aquilo lentamente. Ele sabia que cada uma daquelas palavras tinha chegado aos ouvidos de Harry como um punhal. O chão pareceu fugir por alguns instantes, enquanto o coração de Harry batia alucinadamente. Ele fechou os punhos, tentando não deixar que a bola que estava na sua garganta e quase o impedia de respirar chegasse até os seus olhos.

– HARRY!

A voz amedrontada de Hermione o chamou à razão e a amiga segurou-o pelo braço com firmeza. Foi somente aí que ele percebeu que havia uma razão para a sensação de que o chão parecia sumir sob os seus pés. Naquele momento a Toca inteira tremia como se fosse feita de gelatina. As pessoas agarravam-se uma às outras e às paredes tentando manter o equilíbrio. Harry fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes. Não era nem a hora, nem o lugar para sair do controle. A casa pareceu ficar firme novamente, mas quando ele ergueu a cabeça e olhou para Draco foi que percebeu que o rapaz não parecia ter notado o seu destempero. Malfoy estava com os olhos grudados em Gina e tinha uma expressão tão apavorada que Harry não teve nenhuma dúvida sobre o que ele estava vendo.

Ele e Hermione se viraram para a ruiva. A expressão de Gina em nada lembrava aquela que era familiar aos que a conheciam. A maior parte das pessoas ali presentes, já tinha visto Harry perder o controle sobre os seus poderes, mas nunca haviam testemunhado Gina imersa na força de Aradia. E, diferente do marido, ela não parecia nem um pouco descontrolada. Havia uma dureza implacável no seu olhar e ela emanava uma quantidade de poder por si só intimidadora. Foi instintivo para quase todos recuarem. Rony, Hermione e Harry, no entanto, se aproximaram dela, temerosos. Gina encarava Draco como se pudesse ver através dele e, pela forma como ele dava passos para trás, ela provavelmente estava vendo.

– Eu não abusaria da sorte se fosse você, Malfoy. Na verdade, se você realmente pretende sair inteiro dessa sala, eu aconselharia a contar tudo o que sabe...

Draco lançou um olhar para cima como se as paredes estivessem se fechando sobre ele.

– Para com isso – gemeu.

– O que mais, além do fato de que Bellatrix quer os meus bebês, você sabe? O que é que você não está dizendo, hein Malfoy? Qual é a carta que você tem na manga?

Ele pareceu perceber que o problema não estava no ambiente, mas na própria cabeça, era lá que Gina o estava pressionando.

– Para com isso! – Falou mais alto levando as mãos à cabeça.

– Eu não posso extrair informações da sua mente nojenta, Malfoy, mas posso fazer você ficar lembrando de tudo o que quer esquecer... Indefinidamente!

– PARA COM ISSO!

A frieza de Gina e a expressão de dor de Draco fizeram com que Harry resolvesse tomar uma atitude antes que ela fizesse alguma coisa sobre a qual se arrependeria mais tarde. Sabendo que provavelmente levaria um choque ele se concentrou tudo o que pode para manter-se firme e não ser arremessado longe, como já ocorrera outras vezes, e colocou os dois braços em torno dela. Uma descarga elétrica o percorreu durante alguns segundos, mas ele conseguiu segurar.

– Calma, amor, calma. Ele vai falar... Por favor... fique calma.

Gina lentamente começou a relaxar nos braços dele ao mesmo tempo em que Malfoy, ofegante, começava a voltar a postura normal.

– Olha, eu ia contar... eu vim para contar... Achei que acreditariam em mim se eu contasse... – balbuciou, parecendo chocado e amedrontado. – Gárgulas galopantes... que diabos foi isso?

Ninguém parecia apto para responder. Na verdade, parecia que todos tinham a mesma pergunta e olhavam preocupados para Gina, que agora parecia ter ficado muito fraca. Harry, com a ajuda de Rony e Carlinhos praticamente a carregou até a poltrona, enquanto o Sr. e a Sra. Weasley se aproximavam alarmados com a aparência da filha e com o que acabara de ocorrer. Harry, com a atenção presa nela, se surpreendeu ao perceber que havia alguém que estava com a cabeça fria o bastante para inquirir Draco.

– Contar sobre o quê, rapaz? – Foi o Sr. Tonks que fez a pergunta.

Draco o olhou ainda com o mesmo semblante assustado.

– As crianças... – respondeu num fio de voz e depois como que se dando conta, ele se virou para Snape. O ex-professor fez um sinal com a cabeça incentivando-o a prosseguir. E a maior parte das pessoas da sala voltou a olhar para Malfoy. – Eu sei... onde eles estão mantendo as crianças trouxas.

Harry sentiu a mão de Gina apertar a sua, ao mesmo tempo em que ela levava a outra mão à barriga.

– As crianças estão vivas? – Perguntou Lupin, ansioso.

– Por enquanto – confirmou Draco. – Pelo que entendi, eles precisavam do sangue delas para fazer as convocações... invocações, eu sei lá... Eu não sei bem o que é isso, mas... sei que logo eles não vão mais precisar delas...

– O que quer dizer? – Indagou Ana.

– O que você imagina, Smith? – Respondeu Snape. – O que Bella costuma fazer quando algo não lhe serve mais.

Fleur cobriu a boca com as mãos e Gui passou o braço sobre os ombros da esposa.

– Vai nos dizer onde elas estão, não vai Malfoy? – Perguntou o mais velho dos irmãos Weasley.

– Se vocês garantirem a minha segurança.

Foi num átimo e em movimento conjunto, mas infelizmente, pensou Harry, quem chegou primeiro foi Carlinhos. A Sra. Weasley e a Sra. Tonks deram gritinhos, mas não puderam impedir nada. Harry tinha certeza de que teria adorado ter pego Draco pelo colarinho e o imprensado contra a parede como se ele fosse um boneco de pano, mas reconhecia que por causa do tamanho, era provável que tal atitude tivesse mais efeito vinda de Carlinhos. Sem sombra de dúvida, o maior de todos os homens da sala. Ana correu e segurou o braço do marido tentando impedi-lo de agredir com vontade o ex-sonserino.

– Eu falo, eu falo... – Draco gemeu alto e Carlinhos depois de considerá-lo como a um verme, o soltou sem cerimônia, fazendo com que o rapaz quase caísse no chão. – O que há com esse pessoal? – Resmungou para Snape enquanto ajeitava as vestes elegantes e tentava desamassá-las. – Tudo é motivo para que se amarrote o Draquinho!

– Isso realmente era necessário? – Perguntou Snape em tom mais alto olhando genericamente para os Weasley com uma expressão mau humorada, mas ainda sem se mover da poltrona.

– Você deveria ter avisado ao seu mascotinho que não é saudável nos provocar dentro da nossa casa e quando estamos em maior número, não é Snape? – Jorge olhava orgulhoso para o irmão mais velho, embora Carlinhos, agora semi-contido por Ana, parecesse um pouco arrependido por ter perdido o controle.

– Jorge! – Ralhou o Sr. Weasley, erguendo a cabeça que estava inclinada avaliando o estado de Gina. – Será que não podemos manter os ânimos mais calmos?

– Harry – Gina chamou num sussurro – vá buscá-las... É Natal... traga-as de volta... para elas poderem ir para casa.

Harry sorriu, fez um carinho no rosto dela e deu-lhe um beijo suave antes de se erguer.

– Vamos esconder você, Malfoy – anunciou com renovada energia. – Vamos manter sua miserável vida a salvo e... em troca você vai dizer onde poderemos encontrar as crianças trouxas.

Draco torceu a boca no que pareceu um sorriso de triunfo e Snape também pareceu bastante satisfeito.

– Esperre, Arry – interpôs Fleur – e se forr uma arrmadilha?

Harry ergueu a sobrancelha.

– Bem, nesse caso teremos duas vantagens, Fleur. Primeiro, nós sabemos que pode ser uma armadilha e vamos preparados para isso.

– E segundo... ? – Quis saber Tonks.

– O Malfoy vai com a gente.

– O QUÊ? – Berrou Draco.

Rony debochou.

– Tem certeza que isso é uma vantagem, Harry? O que vamos fazer com o Sr. Coragem no meio de uma luta?

Draco fechou os punhos e deu um passo em direção a Rony, mas Snape ergueu a bengala colocando-a em frente à cintura dele fazendo-o parar. Harry e Rony não se abalaram.

– Bem, Rony – Harry respondeu no mesmo tom de troça do amigo – se a gente não pode confiar no Malfoy... Pelo menos podemos confiar no amor que ele tem pela própria pele, não é? Qualquer coisa a gente põe ele na nossa frente.

– Quando vamos? – Perguntou Tonks animada, ignorando os protestos de Draco.

Harry trocou um olhar com Gina, que já parecia melhor e bebia um copo d’água conjurado pela mãe.

– Agora!

– Mas, Harry, meu filho... – Chamou a Sra. Weasley. – Isso não é meio precipitado...?

– Sra. Weasley cada minuto é precioso. A senhora ouviu o que o Malfoy falou.

– O Harry está certo, Molly – confirmou o Sr. Weasley.

– Vamos acionar o Quartel-General? – Perguntou Ana.

– NÃO! – Todos na sala se viraram para Rony. Hermione, que ainda estava ao lado de Gina, o olhou com uma expressão de entendimento. – Nem todos na seção são confiáveis... Acho que devemos avisar apenas ao Quim e o resto da Ordem.

– Tem certeza sobre isso, Rony? – Lupin pareceu ficar preocupado com a afirmação do jovem.

Harry olhou para o amigo. Sabia exatamente a quem ele se referia e sabia também que não teriam tempo para discutir o assunto, por isso respondeu.

– Temos sim, Remo. É melhor fazer o que o Rony disse.

– Mas isso é loucura! – Se intrometeu a Sra. Tonks. – Que tipo de grupo de resgate vocês vão formar? Eu sei que você Harry, mais Rony, Ana, Ninphadora (Tonks gemeu) e Quim são excelentes Aurores, mas... Vocês nem sabem o que vão enfrentar. Os outros aqui, e mesmo o pessoal da Ordem, podem estar dispostos, mas são... bem, não estão tão preparados e...

– Sra. Tonks – Hermione interferiu suave, mas com firmeza – todos aqui já lutaram numa guerra, assim como os membros da Ordem. Ninguém nesta sala é, exatamente, um bruxo despreparado. Mas numa coisa a senhora tem razão... precisamos saber o que vamos enfrentar. – Ela buscou o rosto de Malfoy, que havia desabado sobre o braço da poltrona de Snape com uma expressão desolada. – Quem as está guardando, Malfoy? Você sabe?

Draco deu um suspiro.

– Sei... – confirmou sem vontade – Bella as tem mantido numa casa abandonada, que pertenceu aos Lestrange, perto da antiga estação Chester, em Liverpool. Ouvi meu pai e ela falando em mudança do turno dos guardas. Parece que são uns dois Comensais como guardas, mais uma mulher que toma conta das crianças.

– O lugar está protegido por algum feitiço? – Perguntou Hermione com praticidade

– Acho que apenas o usual... Eles não poderiam fazer um grande número de magias na região sem chamar atenção do Ministério. Vocês sabem como os caras ficaram paranóicos depois da guerra e... – ele parou se dando conta de que estava repetindo uma frase que ouvira Bella dizer para o seu pai, e estava exatamente em frente aos “caras paranóicos” – mas é provável que haja umas duas ou três das criaturas por lá.

Rony e o gêmeos fizeram caretas, enquanto Carlinhos e Gui trocaram um olhar apreensivo.

– Algum tipo de feitiço do Fiel? – Perguntou Tonks. – Se houver isso, não valerá a pena nem sair de casa.

– Eu não creio que haja um desses, Tonks. – A resposta veio de Snape. – Feitiços de Fiel são extremamente complexos e exigem bruxos habilidosos e muito poderosos. Não é todo o bruxo que pode fazer um. Não sei quem está com Bella e Lucius agora, mas não lembro de nenhum deles ter capacidade para tanto.

Draco pareceu ficar muito desagradado com o comentário de Snape, mas se manteve calado enquanto Harry começava a organizar o grupo que iria participar do salvamento. De fato, as únicas pessoas que ficariam eram Gina e a Sra. Wealey.

– As crianças podem estar muito debilitadas, Harry – contemporizou Alicia. – Eu acho que vou chamar o Neville, ele deve ter um estoque de ervas para poção restauradora e... bem posso me preparar para aplicar nelas e...

– Se me emprestar a sua cozinha, Molly – disse Snape erguendo a voz. – Eu posso ajudar sua nora a preparar a poção. Mesmo que ela e Longbotton tenham melhorado de uma forma que eu não suspeitaria quando foram meus alunos... ainda acho que minhas poções são mais confiáveis.

Se alguém estranhou o oferecimento, não conseguiu se mostrar tão chocado quanto Draco ao ouvir as palavras do ex-professor. Snape simplesmente o ignorou.

– Hã... claro, Severo – respondeu a Sra. Weasley também um pouco surpresa.

Menos de uma hora mais tarde, um bom número de integrantes da Ordem da Fênix, com exceção de Carlinhos – que sumira após falar brevemente com Harry – encontrava-se reunido no galpão do Sr. Weasley recebendo informações sobre a inesperada missão. Certamente, esta não era a maneira como se queria terminar os festejos de Natal, mas se eles conseguissem resgatar todas as crianças, então... Bem, isso seria realmente um motivo para comemorarem. Apesar de Snape ficar na Toca com Gina, a Sra. Weasley, Alicia e Neville, Harry resolveu interromper a folga de Dobby e Winky. Quanto mais força mágica tivesse para defender a casa melhor.

– Não se preocupe que vou pagar a hora extra deles, Mione – falou para a amiga assim que os elfos, com enormes sorrisos, subiram para o andar de cima a fim de assumirem o cuidado dos pequenos.

– Eu não disse nada – retrucou a garota em sua defesa.

– Mas pensou.

Rony abafou uma gargalhada e fez imediatamente uma expressão de paisagem quando Hermione se voltou para ele faiscando.

Harry ainda posicionou quatro voluntários, entre os membros da Ordem, em torno da Toca. Draco resmungou alguma coisa como “paranóico” quando o viu fazer isso, mas Harry não lhe deu atenção. Sabia que se caso aquilo tudo fosse uma armadilha – havia a possibilidade das crianças trouxas serem uma distração – ele não ia correr o risco de deixar a Toca desprotegida, de deixar Gina desprotegida. A confirmação de que Bellatrix estava realmente atrás dos seus filhos congelava-lhe as entranhas cada vez que ele pensava no assunto.

O sol já tinha sumido no horizonte e a noite fria e seca dava contornos negros às árvores que envolviam a propriedade dos Weasley quando uma série de estampidos que lembravam chicotadas cortou o ar. Mais de vinte bruxos se moveram dos arredores de Ottery St. Catchapole para a região que contornava a antiga Estação de Chester em Liverpool.

Segurando firmemente o braço de Draco, Harry nem chegou a se abalar com o incômodo processo de aparatação. A sensação de ser espremido dentro de um cano já lhe era tão familiar que ele quase gostava dela. Assim que ele sentiu novamente o chão sob seus pés pode avaliar que chegara exatamente onde havia planejado. Um cheiro úmido, que misturava pedras, terra e neve, invadiu suas narinas informando que o grupo se encontrava na parte de baixo de uma das duas pequenas pontes secas que davam acesso à Estação. Sob as pontes cruzava uma estreita estradinha rural que serpenteava para longe da cidade. No nível acima, além da própria Estação, atravessando os trilhos, ficava algumas casas de tijolos marrons com janelas brancas, típicas da região. A estradinha sob a ponte, onde eles estavam, era mais desolada, sem nenhuma habitação visível, o que dava um ar um pouco abandonado para a paisagem que eles viam, mas também garantia a segurança da sua chegada. Ninguém que estivesse nas casas do nível acima poderia vê-los ali.

– Para onde, Malfoy? – Sussurrou Harry, sacudindo brevemente o braço de Draco.

– Para cima – respondeu o ex-sonserino com a voz um pouco trêmula – no nível da rua. A terceira casa.

Harry o soltou e fez sinais rápidos para que os outros membros da Ordem, divididos em grupos de assalto liderados por Tonks, Quim, Ana e Lupin se posicionassem para chegar até a casa por diferentes lados, tal como eles haviam combinado antes de sair.

– Vamos – disse Harry para o seu próprio grupo de assalto que era formado por Rony, Hermione, Fred e Cátia.

Rony pegou do braço de Malfoy que Harry soltara e o começou a arrastá-lo para seguir o resto do grupo.

– Hei – reclamou Draco – eu posso esperar vocês aqui. Acho que me meter na linha de tiro não está exatamente no nosso acordo de proteção. Ainda mais que vocês tomaram a minha varinha.

– Está se borrando, não é Malfoy? – Implicou Fred.

– Vai pro inferno, Weasley!

– Calem a boca! – Cátia sibilou furiosa e os dois ficaram mudos. – Supõe-se que isso é um ataque surpresa. Vai ser bem fácil eles nos notarem se as duas primas-donas continuarem se espetando.

– Hei!! – Reclamou Fred. – Eu sou seu marido.

– Ótimo! – Retrucou ela. – Isso me permite azarar você sem remorso. Agora fique quieto. E se der outro sorrisinho cretino desses, Malfoy... Não vai mais precisar se preocupar em não ficar na linha de tiro.

Hermione riu baixinho em aprovação a cunhada antes de tomar à frente que Harry lhe dava para começar a subir a pequena ribanceira que levava, da parte inferior da ponte, para a rua de cima. Fred e Draco calaram a boca, embora os dois continuassem a resmungar baixinho. Harry subiu logo atrás de Hermione. Uma árvore espinhenta próxima à parede da ponte conseguiu prender suas roupas mais de uma vez e por pouco um galho não lhe arrancou os óculos, quando ele tentou desajeitadamente afastá-lo. Assim, que chegou ao nível da rua, Hermione retirou das vestes um apagueiro e começou a puxar as luzes dos postes. Fez isso até que se criasse uma linha de sombra, por onde poderiam andar, mas não apagou todas as luzes para não chamar demasiadamente a atenção dos Comensais.

Harry fez um sinal para os que ainda estavam em baixo e Rony deu um empurrão em Malfoy para que ele subisse. Alguns minutos depois o grupo já estava todo no nível da rua e começaram a se esgueirar pela parte sombria, atravessando por sobre os trilhos e indo em direção à terceira casa após a ponte. Tanto o espaço da estação como as ruas ao seu redor pareciam absolutamente vazias. Havia poucas luzes vindas das casas, o que indicava que a zona não era excessivamente habitada. Ao longe, uma Igreja badalava seus sinos chamando os fiéis para a última missa daquele dia de Natal.

A casa apontada por Draco era um edifício de uns três andares de aspecto sujo e abandonado. Havia vidros quebrados nas janelas e nem uma única luz que indicasse qualquer movimento lá dentro. Os batentes, outrora brancos, pareciam quebrados e roídos de cupins com a tinta descascando em quase toda a sua extensão. Mas Harry não se deixou enganar pela aparência desabitada do prédio. Sentia cada pêlo do corpo eriçado e isso era um sinal de que havia uma grande quantidade de magia rodando o lugar. Ele sempre se perguntava se Dumbledore, quando falava que sentia a presença da magia, se sentia assim. Harry conseguia perceber o que estava a sua frente apenas respirando, sentindo a forma descompassada como o seu coração batia, os arrepios que percorriam a sua pele. Era palpável, quase concreto.

Mas ele também conseguia sentir além. Conseguia perceber cada mínimo movimento dos seus companheiros de grupo, sua apreensão, a excitação diante do perigo. Hermione ficaria furiosa se ele admitisse isso em voz alta, mas Harry tinha tomado... uma espécie de gosto pelo risco. Sabia que com Rony acontecera o mesmo. Sabia que Gina também se empolgava. E tinha plena consciência que Hermione jamais admitiria que também precisava de doses aventura para poder se sentir bem.

– Como é que vocês pensam em entrar? – Perguntou Malfoy.

Ninguém respondeu. Os outros cinco pareciam interessados demais em olhar para o céu ao invés de dar atenção às portas da casa que pretendiam tomar. Draco começou a olhar também, tentando em vão ver o que os outros buscavam até que Fred ergueu a mão e apontou.

– Lá!

Harry não precisou forçar os olhos para divisar no horizonte o que parecia ser um imenso pássaro recortado em negro contra o azul escuro da noite. Ele trocou sorrisos com Rony e Hermione, enquanto Draco tentava entender o que estava vendo com uma expressão confusa.

– Mione – sussurrou Harry – vamos precisar de cobertura caso algum trouxa resolva olhar pela janela.

A jovem assentiu e ergueu a varinha em direção aos céus. Um feitiço mudo fez com que um facho rápido de uma luz pouco brilhante saísse da ponta da varinha. Imediatamente o céu começou a cobrir-se de nuvens grossas e escuras que aumentaram ainda mais as sombras no chão. Ao mesmo tempo, a cobertura conjurada por Hermione passou a servir de esconderijo para a criatura alada que vinha na direção deles.

A ficha de Draco finalmente caiu.

– Vocês já não usaram isso uma vez?

– E funcionou, não funcionou? – Respondeu Rony.

– Beusclainhs não são dementadores, Weasley.

– Acha que somos amadores, Malfoy? Fizemos a lição de casa, ok? Os bichinhos da sua tia têm tanto pavor dos dragões quanto os dementa...

– Shhhh! – Hermione deu um cutucão em Rony e apontou para cima.

Com um barulho asas que poderia quase ser confundido com um helicóptero, o dragão montado por Carlinhos Weasley se aproximava célere dos telhados das casas que circundavam a antiga Estação. No passado, Carlinhos e um grupo de voluntários ligados à Ordem haviam treinado as duas raças mais dóceis de dragões – os Verde-Gauleses e os Focinhos-Curtos Suecos – como uma arma contra os dementadores. Baseados nas antigas crenças orientais de que os dragões era portadores da felicidade e da sorte, aquele jovem grupo de estudiosos havia feito história ao conseguir não só adestrar feras, antes tidas como incontroláveis, como também haviam sido responsáveis por uma das maiores derrotas de Voldemort. Numa batalha memorável o fogo lançado pelos dragões – portadores de felicidade e sorte – destruíra um número tão grande de dementadores que, ainda hoje, havia dúvidas se algum exemplar da raça conseguira sobreviver.

Contra os beusclainh, Carlinhos acreditava que os dragões também poderiam ser úteis. Não que seu fogo pudesse aniquilá-los como fez com os dementadores, já que os beusclainh tinham uma extraordinária resistência ao calor. Mas era sabido que as duas raças eram inimigas há milênios e que, por alguma razão, a simples presença de um dragão e de sua força mágica era suficiente para manter os beusclainh afastados. Até mesmo os feitiços feitos nas casas bruxas, para protegê-las destes demônios, deviam ser mantidos dentro de uma pequena imagem de dragão que, até onde Harry sabia, todo o bruxo mantinha sobre a sua lareira.

Harry fez um sinal para o grupo continuar se aproximando da casa e os seis se puseram em marcha cuidando alternadamente o chão em que pisavam e a grande massa escura cada vez mais próxima no céu. Quase ao mesmo tempo em que o grupo chegou até a parede da casa vizinha, o enorme Verde-Gaulês abriu as asas num movimento para trás e jogou as patas com as garras abertas em direção a cunheira do telhado. O animal pousou cuidadoso, firmemente guiado pelo seu cavaleiro, cuja silhueta percebia-se sobre o dorso do animal. Assim que as asas do dragão se fecharam, no entanto, foi possível ver claramente os dois olhos cor de opala da fera brilhando inacreditavelmente no escuro como que perscrutando cada movimento num raio de quilômetros. O dragão alargou as narinas farejando o ar para logo depois soltar um bufo arredio. Carlinhos firmou as rédeas e deu uns tapinhas no seu pescoço para acalmá-lo.

– Acho que... – Hermione sussurou ao observar o dragão – tem beusclainhs aí dentro.

Harry fez um movimento curto de cabeça. A movimentação do dragão parecia indicar que ele havia pressentido o inimigo.

– Por isso é melhor esperarmos.

– Esperar o quê? – Quis saber Rony.

– Eu... eu não sei... – respondeu Harry com sinceridade – apenas... algo me diz que temos que esperar... Acho que os beusclainh também irão pressentir o dragão... Vamos deixá-los fazer o primeiro movimento.

Os outros trocaram olhares, mas não discutiram. Hermione se apressou a passar a orientação de Harry pelas moedas de comunicação que os membros da Ordem usavam. A antiga forma de comunicação da A.D. continuava existindo e mantendo a mesma eficiência.

Harry fixou os olhos na porta da frente da casa. Estava quebrada e a entrada era barrada por algumas tábuas que pareciam ter sido colocadas ali sem muito cuidado. Toda a aparência do prédio sugeria que ele, em breve, iria ser posto abaixo, mas Harry estava a tempo suficiente no mundo mágico para saber que as aparências enganam. À medida que os minutos se arrastavam a expectativa do grupo ia crescendo. Afinal, o que eles estavam esperando? Harry nunca se arrependera em confiar nessa parte instintiva de seus poderes, mas tinha trazido gente demais para aquele local... Preferia realmente não estar errado, e ter certeza... mas não tinha. Apenas sentia que era necessário esperar.

Um movimento próximo à porta lhe chamou atenção. Sem que nenhuma tábua fosse removida, aliás, quase como se tivesse atravessado por elas, uma mulher saiu da casa e se encaminhou para o meio da rua. Ela estava próxima o bastante para que o grupo pudesse ver que ela era jovem, tinha feições atraentes e usava um vestido completamente inadequado para o clima nevado. Draco, logo atrás dele soltou o que pareceu um assobio quase inauditível, seguido por uma observação maliciosa. Harry, porém, teve a impressão de que a mulher de cabelos negros lhe era vagamente familiar, mas antes que pudesse identificar onde poderia tê-la visto antes, ela olhou para o telhado da casa e soltou uma espécie de guincho animalesco e selvagem. Harry praguejou enquanto colocava as mãos nos ouvidos, sendo imitado pelos outros. Logo haveria montes de trouxas nas janelas. A tentativa de proteger os tímpanos ficou ainda menos eficaz quando o dragão, parado sobre a casa, resolveu responder e seus grasnados furiosos preencheram a noite.

– Lá se vai nosso ataque surpresa – gemeu Cátia.

Harry ia dar ordem para que atacassem, mas estacou diante da cena que passou a se desenrolar a sua frente. A bela jovem parada no meio da rua começou a contorcer-se. Os braços brancos e roliços começaram a enrugar e descarnar, a pele colando-se aos ossos. Os longos cabelos escuros passaram a encolher como se estivessem sendo puxados para dentro do crânio até sumirem. A altura dela também diminuía, os ossos das costelas se tornavam aparentes e as orelhas se ampliavam assumindo um contorno pontiagudo. Mesmo à pouca luz que havia, era possível perceber que a pele dela se tornava cinzenta, fria, doentia. Um arrepio percorreu todo o corpo de Harry. Ele nunca tinha visto um beusclainh antes, a não ser no livro que Carlinhos mostrara para eles. Os olhos vermelhos da criatura continuavam fixos no dragão e ela arreganhava os dentes pontiagudos como se pudesse desafiar a fera que permanecia sobre o telhado da casa urrando e batendo as asas ameaçadoramente. Era óbvio que Carlinhos devia estar com alguma dificuldade em controlar o dragão.

– O que a gente faz? – Indagou Hermione com a voz trêmula.

A amiga estava grudada ao braço de Rony de tal forma que Harry tinha dúvidas se o ruivo conseguiria voltar a usá-lo novamente. Fred, Cátia e Draco estavam igualmente aparvalhados com o que estavam vendo. Sabiam que os beusclainh costumavam se aproximar dos humanos adultos mudando a aparência para atrai-los, mas daí a ver o que tinham visto ia uma grande diferença.

– Acho... acho que...

A frase morreu porque naquele momento outras duas criaturas, com a mesma aparência bizarra saíram da casa. Uma delas olhou para cima e arreganhou os dentes para o dragão. A outra olhou para o ponto escuro em que o grupo estava. Os olhos vermelhos brilharam malvados indicando que eles não estavam mais escondidos. Harry ia dar um passo para frente e ordenar que se começasse o ataque, mas foi atingido por algo duro que avançou contra a parte de trás de sua cabeça. Ele ouviu distintamente várias falas ao mesmo tempo.

– Desgraçado!

– Harry!

– Malfoy!

Estupefaça!

Harry se escorou à parede, tentando fazer com que o cérebro, que parecia querer sair pelas orelhas, voltasse para o lugar. Abriu os olhos e de novo viu o brilho vermelho e satisfeito do olhar do beusclainh sobre ele.

– Foi o Malfoy, ele... – começou Rony.

– Não foi o Malfoy – disse Harry. – Foi ele! Fechem as mentes imediatamente! Limpem tudo! Eles usam os sentimentos ruins contra nós. Se forem pensar pensem em coisas boas. Hermione mande os outros invadirem a casa pelos fundos e pelas laterais. Cátia tente ver se há trouxas nas janelas e lance feitiços de confusão, depois damos um jeito.

Dizendo isso ele deu alguns passos à frente, empunhando a varinha em direção às criaturas. Rony e Fred o seguiram, enquanto Mione e Cátia cumpriam as suas ordens. Os beusclainhs recuaram, mas não pareciam estar com medo deles. Dois deles continuavam com os olhos fixos no dragão e o terceiro, que se posicionara à frente tinha um certo ar de deboche na forma como encarava os três bruxos. Harry fez um sinal com a mão para o alto, de forma que Carlinhos visse que era para ele e sua montaria avançarem. Seguiu-se um farfalhar de asas e o Verde-Gaulês saiu de cima do telhado e começou a se mover ameaçadoramente em direção aos três beusclainh que continuaram a recuar, acuados. O que antes tinha a aparência de mulher havia parado de guinchar e se agarrava a um dos companheiros. Harry manteve a sua atenção no beusclainh que estava à frente e que lhe encarava sem medo algum.

“É o líder”, pensou.

Esperto”.

Harry eriçou-se imediatamente. A criatura estava falando com ele! Dentro da sua cabeça. Ele ouvia as palavras, mas conseguia discernir que elas vinham envoltas num sibilado rascante, algo que lembrava um rádio fora de sintonia.

Muito esperto em trazer o seu monstrinho”, continuou num tom debochado. “Mas dragões podem não ser suficientes daqui para frente”.

“Eles são suficientes para mantê-los longe. Vocês já foram escorraçados pelos bruxos uma vez”, Harry respondeu usando o mesmo caminho do adversário. “Faremos de novo!”

A criatura mostrou os dentes no que pareceu ser um sorriso desdenhoso.

Vocês humanos e suas guerras são patéticas! Mas enquanto vocês lutam... nós nos alimentamos...

Harry ergueu a varinha enojado, porém antes que conseguisse lançar qualquer feitiço, a varinha foi arrancada da sua mão, assim como as dos quatro amigos já posicionados ao seu lado. Todas sumiram na escuridão. Ele arregalou os olhos apavorado e, no instante seguinte, viu Rony cair segurando a barriga, contorcendo-se de dor. Cátia foi jogada metros atrás contra uma das paredes da casa. Fred saiu correndo em direção a ela e uma espécie de corda invisível o prendeu pelos pés fazendo com que ele batesse o rosto violentamente no chão. Hermione abriu a boca, mas nunca chegou a falar ou gritar. Ela levou às mãos à garganta como se uma garra invisível a estivesse sufocando e caiu de joelhos completamente sem ar, lutando contra a asfixia. O dragão deu um urro lançando chamas pela bocarra em direção aos três beusclainh. Harry olhou em pânico para o seu oponente. A criatura nem ao menos havia se mexido, as chamas não pareciam ter sequer os tocado, embora seus companheiros se escondessem atrás dele, tremendo de pavor.

– DEIXE OS EM PAZ! – Berrou Harry e o dragão urrou e lançou chamas mais uma vez fazendo com que as duas criaturas mais amedrontadas novamente se encolhessem. A sensação de urgência, de que alguma coisa tinha de ser feita antes que os amigos se machucassem começou a subir de suas entranhas como lava fervendo. E sem nenhum esforço ele passou a deixar que a magia fluísse dele. Aquela coisa queria brigar? Então, teria uma briga para valer. Ondas de calor começaram a percorrer violentamente o seu corpo e Harry sentiu todo o braço direito formigar como se estivesse em chamas. Ele ergueu o braço com violência em direção aos beusclainh e uma faixa de luz irrompeu da ponta dos seus dedos. A corda mágica cortou a noite e cercou as três criaturas num único laço. O líder, no entanto, continuou sem se abalar.

Você é poderoso... – era somente uma constatação – e nós um dia iremos nos enfrentar, Harry Potter... mas não hoje, não aqui... Quando isso acontecer, eu lhe garanto que seus dragões não servirão de nada. ” Novamente aquele esgar cruel que demonstrava que a criatura estava sorrindo. “Você ainda não tem ódio o suficiente no seu coração para me tentar a subjugá-lo... mas vou cuidar disso. Quando nos encontrarmos novamente... aí sim.. .”

E dizendo isso, a criatura fechou os olhos e num chiado muito alto e agudo, os três sumiram diante dos seus olhos. A corda mágica caiu no chão, frouxa e depois desapareceu.

Harry registrou o que tinha ouvido e o que havia acontecido por alguns segundos entes de virar para trás e correr até Hermione que estava caída no chão com o rosto completamente roxo e a boca aberta num ângulo assustador.

– Ahh meu Deus! Mione! – Harry ajoelhou-se ao lado da amiga e colocou a cabeça dela sobre os joelhos. Esticou o braço direito e convocou as cinco varinhas que voaram para a sua mão. Hermione estava sufocada, mas viva e Harry, tomando a sua própria varinha, lançou um feitiço para reanimá-la. Foi preciso repetir o feitiço, mas finalmente Hermione deu uma tossida seca e engasgada, voltando finalmente a respirar normalmente.

Um barulho de garras raspando no asfalto indicou que o dragão havia pousado ali perto. Logo depois, Carlinhos veio correndo em direção a eles, jogando-se ao lado dos dois.

– Harry...

– Veja como estão os outros, Carlinhos. A Mione já está voltando.

O cunhado assentiu e correu em direção aos outros. Rony já estava ficando em pé e vinha cambaleando em direção a Harry e Hermione. Carlinhos apenas perguntou rapidamente como ele estava e seguiu até Fred que continuava caído. Rony caiu de joelhos ao lado deles. Estava mortalmente pálido, segurava o abdômen com uma das mãos e um filete de sangue escorria pelo canto da boca.

– Você está bem, cara? – Perguntou Harry, preocupado.

– Em perfeitas condições de uso – resmungou Rony, inclinando-se aflito para Hermione. – Eles te machucaram, Mione?

A jovem gemeu e tentou sentar ao que os dois a ajudaram.

– Tudo... bem... – falou com a voz estrangulada, enquanto Rony passava o braço por trás das costas dela e a amparava cheio de cuidados. – Rony... você está sangrando?

– Não é nada de mais, amor – ele respondeu suave. – Você acha que consegue ficar em pé?

Hermione assentiu e Rony e Harry a ajudaram a erguer-se.

– Voltem para a Toca – disse Harry, empurrando as respectivas varinhas nas mãos deles.

Rony o olhou como se ele tivesse enlouquecido.

– A festa mal começou e você já está nos dispensando.

– Não começa, Rony! Você está ferido e a Mione mal consegue se sustentar em pé. Vou abrir uma chave de portal e vocês dois, mais o Fred e a Cátia, vão voltar para a Toca. Ahh... e levem o Malfoy junto.

– Mas ele te atacou – contemporizou Hermione, agarrada ao peito de Rony.

– Não foi ele. Os beusclainh usam os sentimentos ruins das pessoas... Digamos que o Draco, no que se refere a mim, é um campo bem fértil. Nem seu poder de oclumente conseguiria cobrir isso. Ele não estava totalmente consciente quando atacou.

– Tem certeza? – Rony o encarava com seriedade.

– Tenho.

Os três se aproximaram do local onde Fred estava sentado no chão, ainda atordoado, a boca estava muito machucada pelo impacto no chão e ele tinha quebrado pelo menos uns dois dentes. Carlinhos vinha vindo na direção deles com Cátia nos braços, ainda desacordada. Fred fez um movimento em direção à mulher e Carlinhos a colocou recostada nele.

– Ela bateu com a cabeça. É melhor a Alicia examiná-la antes de se fazer um feitiço para reanimá-la.

– Certo – concordou Fred, devorando o rosto pálido da esposa cheio de preocupação.

– Vou mandá-los para casa, Carlinhos – o cunhado assentiu. – Você pode trazer o Malfoy até aqui... Sei o que estou fazendo... Só dá um jeito de arrastá-lo até aqui.

Carlinhos fez um movimento de “você é que sabe” e saiu em direção ao ex-sonserino. Harry passou a olhar em volta tentando achar alguma coisa que pudesse ser transformada numa chave de portal. Uma lata de cerveja jogada no meio fio lhe chamou a atenção. Um feitiço convocatório e a lata voou para a sua mão.

– Isso deve servir – murmurou.

– Eu não vou deixar você sozinho, Harry.

– Rony, o resto da Ordem está lá dentro! Sua boca não para de sangrar... é óbvio que você teve uma lesão interna. Em outras palavras, você vai para a Toca agora! Ou por bem, ou estuporado, mas você vai!

Rony o olhou furioso, mas Hermione falou baixinho que o amigo tinha razão. Foi ainda muito contrariado que o ruivo tocou junto com os outros a chave de portal aberta por Harry. Menos de um minuto depois, a rua estava novamente vazia e silenciosa, exceto pela presença de um dragão resfolegante e dois bruxos muito sérios.

– Acha que tem mais criaturas dentro da casa? – Perguntou Carlinhos.

– Não. Se houvesse elas teriam saído. – Harry parou um segundo. – Você está ouvindo alguma coisa? – Carlinhos negou e ele passou um olhar rápido pelas janelas das casas e pela própria propriedade dos Lestrange que, há essas horas, já devia ter sido invadida pela Ordem. – A não ser que a Cátia tenha confundido todos os trouxas da vizinhança, parece que ninguém viu ou ouviu nada do que aconteceu aqui.

Carlinhos seguiu o mesmo caminho do olhar dele.

– Deve haver um feitiço contra sonorus em toda a rua...

– Por quê? Será que eles esperavam algum ataque? Será que é mesmo uma armadilha?

– Pode ter uma outra explicação.

– Qual?

– As crianças... Um feitiço de contra sonorus impediria a vizinhança de perceber os choros dos pequenos...

Harry fechou os olhos com um sentimento ruim na boca do estômago e concordou.

– Vem, vamos entrar! – Ele se aproximou da porta tentando identificar qual o feitiço que protegia a entrada.

– Hei – chamou Carlinhos – eles já sabem da gente. Você quer entrar pelo modo mais difícil ou pelo mais fácil?

Harry ficou confuso até notar o sorriso de Carlinhos em direção ao dragão. Ele riu.

– Acha que vai dar certo?

Carlinhos pegou das rédeas do Verde-Gaulês e o puxou atento, só respondendo quando estava ao lado de Harry.

– Só vamos se saber se tentarmos, não é mesmo?

Carlinhos se aproximou da fera, que parecia bem mais dócil sem a presença dos beusclainh e lhe deu uns tapinhas no pescoço. No instante seguinte, o dragão inspirou profundamente e depois, esticando o pescoço em direção a casa, lançou chamas certeiras sobre o que antes era a porta do prédio. As chamas bateram em uma barreira invisível que logo pareceu dissolver-se em milhares de pequenas estrelinhas roxas. O fogo não chegou a atingir a casa, chamuscando somente um pouco a madeira que bloqueava o acesso e os tijolos ao redor da entrada. Harry se precipitou em direção à porta e com um feitiço transformou as tábuas em estilhaços. Carlinhos vinha atrás.

– Não é melhor você ficar? – Perguntou olhando para o dragão.

– Nãann... Não se preocupe, Galton sabe o que fazer... Se alguém tentar fugir por aqui ele segura e... não vai se meter com os trouxas, ele sabe a diferença.

– Galton?

– É o nome dele – explicou o cunhado.

Harry assentiu e os dois entraram na casa. Por dentro ela parecia tão abandonada quanto por fora, porém não parecia nada silenciosa. Gritos e estrondos vinham do andar de cima indicando que havia uma batalha correndo solta por lá. Harry e Carlinhos se precipitaram para as escadas ignorando o cheiro de mofo e pó que se misturava ao odor de queimado provocado pelas chamas de Galton. Enquanto subiam, os quadros das paredes, todos de aparência aristocrática e, alguns francamente maldosos, gritavam alertando aos Comensais que estavam chegando mais dois.

Luzes e gritos guiaram os Harry e Carlinhos para a ala esquerda do corredor do segundo andar.

Estupefaça!

O feitiço passou zunindo pela cabeça de Harry e não atingiu Carlinhos por centímetros.

Impedimenta! – Berrou Harry em direção à origem do raio mágico. O barulho de reboco caindo no chão informou que ele não tinha acertado. Ele fez sinal para que Carlinhos se mantivesse abaixado enquanto os dois tentavam se aproximar.

Incarcerous! – A voz de Quim retumbou por trás do Comensal que os atacava e logo depois o Chefe dos Aurores aparecia diante deles. Ainda era possível ouvir impropérios e xingamentos, mas a luta parecia ter acabado. – Chegaram no fim da festa rapazes.

– Tivemos um comitezinho de recepção lá fora – respondeu Harry e depois olhou pelo lado de Quim para dentro da sala e constatou. – Parece que eram mais do que três Comensais... o Malfoy nos enganou, então?

– Acho que não – respondeu Quim. – Encontramos uns sete Comensais, mas eles não pareciam estar nos esperando e nem parecia ser a guarda regular... Acho que os caras estavam dando uma festinha. Mas resistiram bastante.

– E as crianças? – Perguntou Carlinhos.

Quim de um suspiro cansado.

– Estão maltratadas, possivelmente traumatizadas, mas estão bem. Os desgraçados as estavam mantendo em gaiolas como animais.

– MALDITOS! – Harry deu um passo à frente furioso, mas foi contido pelo chefe.

– Harry... Elas estão vivas... é o que importa. Vamos tratá-las e elas vão esquecer de tudo. Vai ser como se nunca houvesse acontecido.

– Mas... – Carlinhos também estava indócil e parecia querer cuidar pessoalmente dos Comensais presos.

– Isso também meche comigo rapazes. Eu tenho filhos, lembram? Mas vamos controlar os ânimos e fazer as coisas direito, ok? Vamos cuidar para que estes cretinos apodreçam em Azkaban.

Os dois homens ainda levaram alguns segundos para assentir. Quim sorriu e deu um tapinha amigável no ombro de cada um.

Um grupo de pessoas entrou no corredor. Os membros da Ordem da Fênix pareciam exaustos e machucados. Muitos exibiam ferimentos feios e alguns se apoiavam uns nos outros para estarem em pé. Harry agradeceu mentalmente ao perceber que não haviam tido nenhuma baixa. Mas não era apenas isso. Havia uma luz em cada um dos combatentes. Uma luz que só era identificável nas pessoas que sentiam que haviam feito algo realmente especial. Sim, havia revolta ali. Mas também uma imensa felicidade. As sete crianças resgatadas estavam, com os rostos lavados em lágrimas de pavor, no colo de seus salvadores e ainda pareciam absurdamente assustados. Ana carregava uma menininha loura que parecia ter uns quatro anos e que se agarrava fortemente ao pescoço dela. A brasileira deu um sorriso iluminado.

– Vamos levá-las para a Alicia poder cuidar delas e depois... – ela se virou para a menina – vamos brincar de Papai Noel!

A garotinha não pareceu entender. Mas os adultos sim. Harry sorriu. Sabia que entregá-las para os seus pais naquela noite seria quase como realizar um milagre de Natal. Pelo menos “estas” crianças... estavam salvas.



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N/A: Finalmente! Sim, eu sei que tenho demorado. Mas em minha defesa tenho a dizer o seguinte: 1) Eu realmente tenho compromissos urgentes e mal posso esperar o próximo ano quando terei menos exigências à cumprir. 2) Esse capítulo deu um trabalhão!

Sério. Eu demorei muito para visualizá-lo inteiro na cabeça e quando consegui e comecei a escrever me dei conta de que ele ia ficando cada vez maior. Resultado, o que era um capítulo virou 2. E esse não ficou pequeno... são 21 pág.s de word, 5 a menos que o anterior. Mas acreditem, vcs não perdem por esperar o próximo.

De novo, eu espero que o tempo que eu demorei tenha sido compensado com este capítulo. Beijos a todos e sempre que puderem, COMENTEM, ok? Esse retorno é muito importante para quem escreve.

Doug Potter – Muito obrigada, Doug. Vc me deixou lisonjeada e muito feliz :D. Infelizmente, continuo demorando, né? Mas faço o possível, acredite. Um beijo enorme!
Bernardo – Ihhh colega, pelo seu último recado, eu te angustiei de novo, né? Sorry. Mas imagine povoar sua mente de histórias de demônios e ainda ter o diabo de uma tese para escrever, hihi. Não, não estou no inferno, mas quase... Huahua! Obrigada pelo carinho sempre. Beijos!
Anderson Potter – Que bom que gostou Anderson. O Draco gosta de um showzinho, né?
Lili N. – E eu adorei o comentário, Lili. Sim, o Hector e a Mel têm um pouco de Rony e Mione, embora o Lupinzinho tenha uma personalidade bem diferente da do nosso ruivo. Vamos ver no que isso vai dar quando eles crescerem, hehe. Beijo grande!
MárciaM – Ahh querida, estou em dívida com vc pq não li ainda seu último cap., mas é que quando eu começo a escrever, eu paro de ler, senão eu não escrevo. Mas agora eu me dou uns dias para me atualizar e passo lá viu. Thanks pelo comentário. Beijos!
Belzinha – Só vc para lembrar de “Sinais”, hahahaha. E, como vc pode ler, o natal continua... o diazinho cumprido esses. Querida, obrigada por todas as leituras prévias e toques. Vc é o máximo!
Barbie Weasley – Jamais abandonar, amiga! Nunca! Demora um pouquinho, mas vem, viu? Vc é do fã clube do Hector tb (rola os olhos). O garoto já dá trabalho aos 12, imagina quando ficar mais velho... Como diria Mme. Pomfrey: Mérlin nos proteja!
Regina McGonagall – Hehehe... vc me descobriu, Regina! Sim, eu confesso: sou fã de Bing Crosby e de musicais... fazer o quê? Fui criada à Sessão da Tarde e Corujão :D. Beijão!
Gina W. Potter – ATUALIZEIIII!!! Hihi! Voltando ao seu primeiro coment: Eu tb Gina, eu tb! To brincando, hehe... sei onde vai dar... o problema é como chegar até lá! Obrigada pela mensagem de aniversário, querida! Fiquei encantada com a lembrança. Beijão!
Sônia Sag – Puxa, Sônia, vc me deixou quase com remorso. Eu não quero ser culpada de vc ter um treco, menina hihihi. Ainda assim fiquei exultante com o seu comentário. Obrigada mesmo! E quanto ao Rony (como eu sou só uma mera escritora em quem os personagens mandam), o mérito é todo dele hehe. Beijo grande!
Molly – Ahhh querida, eu gostaria de responder todas as suas perguntas, mesmo... Mas não vou, hehe (que coisa má de se dizer ;D). Cuide bem do seu coraçãozinho, viu? Acho que ainda haverão mais emoções para se lidar daqui para frente. E não quer ser abandonada por leitoras infartadas, hihi. Beijo grande, querida!
Sara Weasley – Bem, Sara eu tb adoro o Fred e o Jorge. Tb acho a Ginny barriguda o máximo e o marido dela, então! Como vc detesto o Oates. Ele é desprezível. Só não concordo a respeito do Draco. Minha visão do personagem é completamente presa aos livros, por isso acho que a doninha tem muito em comum com a ameba do Oates. Agora, de que lado cada um deles vai ficar... bom, hehe, suspense é a alma do negócio. Bjão!
Luna Weasley – Ahh querida, estava com muita saudades dos seus comentários. Nem me importei de ter sido pequenininho, viu? E aí? Como vai a vida na terra da tia Jô. Mande notícias e saiba que estou torcendo por vc. Beijos!
Lize Lupin – Valeu, Lize! Desculpe as malvadezas (hihi), mas como eu já disse aqui: mistery is my busness! E eu não consigo parar um capítulo sem um suspensezinho. Ok, este não foi assim, mas eu quis dar um refresco. Olha, só consigo entrar à tarde no findi. Vc entra? Espero que a gente consiga se encontrar. Obrigada pelos parabéns no meu níver, fiquei toda contente :D Bjão!
Priscila – Primeiro uma informação: A Gina tb está de sete meses. Depois, seu comentário só me convenceu que os personagens sabem mais da história do que eu. Acredite... essa parte da Gina simplesmente saiu, sem nenhum planejamento e depois várias ex-grávidas me disseram ter passado por isso. Viu que loucura? Hehe! Eu tb amei o Rony naquele capítulo.
Brunaa – Eu tb associo o Voldemort ao Hitler, Bruna. E vc tem razão: uma terceira guerra é algo que sempre ronda a nossa mente como um pesadelo. Quanto ao Draco... Esse é o mistério, hehe! Beijão linda!
Charlotte Ravenclaw – Acho que a Mione é mais mandona que a Gina, mas vc sabe, né? A ruiva braba ninguém segura, acho que é assim que ela controla o gênio do Harry hihi. Pobre do Rony... ele é só um pai tresnoitado,não pense mal dele, não. Vc disse uma coisa fundamental nesse comentário Charlottinha, mas eu não vou repetir o que é :D Beijocas mil!
Clow Reed – Ahh Rafa, fiquei doida para saber quais são as suas teorias malucas, hehehe! Adoro as suas teorias, sem falar que vc é um detetive excelente, hihi. Fiquei feliz de vc dizer que o capítulo não ficou cansativo. Beijos, querido!
Sheil@ Potter – Valeu, querida! Eu tb estou enrolada e nem pude ir ver seu último capítulo, mas agora as coisas normalizam e eu vou lá, viu? Beijo grande!
Flavia Marinho – Esse não ficou tão grande, mas tb está enorrrme (com menos erres, hehe). Teorias, é? Conte, conte, conte, hihi. Obrigada pela força sempre. Beijos!
Bruna Perazolo – Não tem pq se desculpar, Bruninha! Que bom que gostou do capítulo. Quanto ao parar... eu tinha que parar um dia, né? Se eu escrevo tudo de uma vez, vou demorar milênios para postar... E aí sim vcs vão me xingar. Mas lembre-se que amo seus comentários Grwpe, viu? Beijão.
Morgana Black – Vc me deixou assustada com o primeiro coment, querida. Nossa, será que emudeci a Morgana? :S Só acalmei quando veio o comentário inteiro hihi. Desculpe os detalhes de filme de terror... são só detalhes, viu? Mas o resto... muitas perguntas (zonza)... nenhuma resposta possível de ser dada aqui :D. Obrigada pelo coment 500, te adoro, amiga! Ahhh e não te aviso mais antes... senão vc fica fazendo terrorismo nos coments, hahaha.
Carolshimi – É claro que não precisa se desculpar, Carol. Mais do que ninguém eu sei o que é ano de vestibular... Por algum fator cósmico desconhecido, Tudo o que tem que acontecer de complicado, acontece justamente no ano do vestiba. São mistérios do universo, mas bem reais. Obrigada por sempre vir ler e comentar quando pode. Fico muito feliz em ver o seu entusiasmo com a história. Beijos e estou na torcida para q tudo dê certo, viu?
Victor Farias – Vc sempre me deixa vermelha com os seus comentários. Não é frescura, não? Eu fico mesmo. Não acho que sou tudo isso. Mas fico muito feliz em saber que a história continua empolgando. Obrigada, amigo. Beijos!
Grazi DSM – Amada! Estou com muuuuuiittaaaaa saudade de vc! Mas sei como é facu, e fico feliz de vc ter tido um tempinho para passar aqui e nas comus. Obrigada pelas mensagens de aniversário, viu? Cuide-se e muito beijinhos para vc!

Nossa, tem uma pá de gente nova :D:D:D:

Nathok – Primeiro: fiquei feliz de vc ter gostado da história. Obrigada pelos elogios. Quanto a dar opiniões, elas são sempre bem vindas... Fico ainda mais feliz sabendo que história tb estimula a imaginação de quem está lendo, hehe. Sim, aparecerão outros rituais do livro, uns bastante macabros, outros nem tanto. A história já está toda definida, sim, o problema é o tempo que eu levo para colocar todos os detalhes que eu gosto, mas sempre gosto de saber o que passa na cabeça de quem lê, viu? Fale sempre que quiser. Bjs.
Drika Granger – Brigadão, Drika! Bem, eu realmente sou uma fãzona do mundo da JK e tento, na medida do possível, manter o ritmo dela na história. Que bom que vc gostou e achou que vale a pena ler. Valeu! Beijo grande!
Jaline Giliot – Puxa... muito obrigada Jaline, estar no top 5 de alguém é realmente muito bom :D. Fico feliz que as novas personagens tb tenham te agradado. Um beijo enorme!
Lih Evans – “parece ate que somos um dos personagens, que estamos ali, presentes, vivenciando tudo”... Nossa, que elogio foi esse?? Fiquei sorrindo de orelha a orelha. Muito obrigada. Beijão!
Érica – Viciada? Puxa! Acho que isso é um elogio, hehe. Érica, seu comentário me emocionou. Sério. È muito bom saber que uma história que a gente está contando, está tocando as pessoas como vc se descreveu. Obrigada de coração. Pode deixar, querida, momentos H/G não faltam nas minhas fics. Acho esse casal tudoooo!! Beijos! P.S.: Se vc tb os curte dê uma olhada numa outra fic que escrevi, se chama My Girl.
Igor_Potter – Brigadão por todos os elogios, Igor!Espero continuar merecendo eles. Beijo grande.


Até o próximo!!!


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