A Promessa



N/A: Sei que tinha prometido Rebelião em Azkaban, mas ao terminar o que escrevi aqui, achei que o capítulo teria informações demais e que ficaria muito longo. Então, a rebelião acabou ficando para o próximo. Mesmo assim, espero que gostem. Deixo meus agradecimentos para o final, mas sugiro a quem puder, ler o capítulo, pelo menos o final, ao som de “Magic Works”, do cd do HP and the Goblet Fire, que é de onde saiu a epígrafe.



A Promessa

“Sim, é difícil, você tem que ser bravo, então,
não deixe que esse momento escape de você”.




Harry desaparatou na porta de casa após um dia inacreditavelmente longo no Ministério. Estava exausto e cada músculo do seu corpo reclamava por um banho quente e descanso. Ainda sim, contornou a casa pelo lado direito em direção aos fundos. Queria pelo menos dar um oi para Aquiles. Nas últimas duas semanas tinha dado pouca atenção ao pastor belga que Rony lhe dera há alguns anos. Com Edwiges era diferente, como estava sempre sendo solicitada, era mais fácil fazer-lhe agrados.

O rapaz cruzou o jardim lateral para chegar a esquisita construção em que viviam seus animais de estimação. Era uma espécie de torrinha redonda de madeira, pintada de marrom escuro avermelhado. Na parte de cima, semelhante a um campanário e que podia ser acessada por uma fina escada externa, ficava Edwiges. Em baixo era a casa de
Aquiles e, em tese, de Tiletty, mas a gata de Gina era o bicho mais folgado que Harry conhecia e ela preferia dormir em uma pilha de trapos ao lado do fogão. O que não era ruim, visto que Edwiges até tolerava Aquiles, mas absolutamente detestava Tillety.

Ele não pode conter o riso lembrando da imensa coruja das neves lançando as garras sobre a furiosa gata cinzenta na tarde da festa de aniversário de Gina, dois sábados antes. Fora preciso esforço para separá-las, embora Harry suspeitasse que a briga entre as duas tivesse um dedo, ou provavelmente, a mão inteira de Hector. O garoto que Lupin e Tonks criavam como filho, desde de que tinha dois anos, era um pestinha que superava tudo que Harry ousasse ter feito em sua idade, pelo menos em termos de traquinagens.

O enorme cão negro saiu da casinha abanado o rabo e farejando o dono na semi-escuridão do fim da tarde. O rapaz lhe fez alguns agrados enquanto corria os olhos pelos fundos da casa. Respirou fundo. Adorava o cheiro, o espaço, cada centímetro daquele lugar. Quando terminou a guerra ele pensou em reconstruir a casa de Godric’s Hollow, mas Remo o desaconselhara a se apegar a lembranças tristes e, por fim, ele concordara. Comprara uma típica casa inglesa, cinzenta, de amplas janelas brancas e cercada de ramadas de flores coloridas que subiam pelos dois andares, o que lhe davam um ar de permanente alegria. “Exatamente como devia ser”. Só alguém que já tivesse sofrido tanto quanto o menino-que-sobreviveu entenderia o valor que ele dava a tudo aquilo ou o seu desespero ante a menor ameaça de ver seu mundo desmoronar.

Despediu-se de Aquiles e caminhou em direção aporta dos fundos, onde foi recebido por uma criatura pequena e saltitante que o olhava com enormes olhos castanhos. Dobby deixara Hogwarts quando Harry casou, insistindo que eles precisariam de um criado e que nenhum outro elfo cuidaria deles como ele. O rapaz tomou o cuidado de cumprir todos os direitos trabalhistas que Hermione achava que os elfos deveriam ter, até para não se complicar com a amiga. O problema era fazer Dobby cumprir todas as suas folgas e férias ou aceitar os aumentos salariais.

– Harry Potter, meu senhor, que bom que já chegou. Dobby já fez o jantar de seus senhores.

– Obrigado, Dobby – disse ele, entrando na cozinha – a Gina já chegou?

– Não Harry Potter, meu senhor, a doce senhora Potter ainda não chegou.

Harry deu um meio sorriso. Doce? É... ela até era, mas na maioria das vezes era uma pimenta. Não que ele não gostasse, na verdade fora isso que lhe chamara a atenção nela. As respostas rápidas e atrevidas, a defesa apaixonada do que acreditava, a fina ironia e o humor. Quando ela era a doce e silenciosa Gininha, ele nunca fora capaz de notá-la. Só no seu sexto ano em Hogwarts é que o jeito fogoso da ruiva, que ele vinha percebendo desde o ano anterior, o fez não conseguir tirar os olhos dela. Nunca mais.

– Bem,vou tomar um banho enquanto a sua DOCE senhora não chega – as últimas palavras foram ditas cheias de bem humorada ironia, mas Dobby não percebeu.

Passando da cozinha para a sala, ele se dirigiu às escadas que ficavam no meio do aposento e levavam para o segundo andar. Não era uma casa suntuosa, mas ampla, confortável e com móveis convidativos que se ampliavam magicamente para quantas pessoas quisessem sentar nele. Também não era extremamente arrumada, apesar dos esforços de Dobby. Tanto ele quanto Gina jamais foram primores de organização, mas para Harry era exatamente assim que um lar devia ser. Excessos lembravam-lhe fortemente tia Petúnia e lhe davam uma sensação desconfortável.

No topo das escadas um corredor comprido dispunha quartos dos dois lados. O seu ocupava, junto com o banheiro em suíte, quase todo o lado esquerdo. Dentro dele, uma cama enorme e macia parecia estar convidando o seu corpo cansado a se estirar. Harry pegou um jeans surrado e uma camiseta e, antes de se dirigir para o banheiro, fez um breve aceno com a varinha. As janelas da sacada lateral se abriram deixando entrar a brisa fresca daquela noite de fim de verão.

Já havia terminado de tomar banho e se vestir quando ouviu um barulho no quarto. Abriu a porta do banheiro, esfregando os cabelos com uma toalha. Gina estava sentada aos pés da cama, de costas para ele, o corpo muito arqueado forçando a barriga para frente.

– Sabe que você pode ficar com problema de coluna de tanto forçar essa barriga para frente? – Falou divertido.

Ela fez uma careta, sem olhá-lo.

– Quase dois meses, sete semanas, e nem uma barriguinha. Não é justo! Ninguém percebe que eu estou grávida – ela fez um muxoxo e Harry não pode deixar de rir.

– Prometo que em mais dois ou três meses e você vai estar enorme.
Gina voltou-se com um sorriso triunfante que o fez rir mais. Ele largou a toalha e estendeu a mão para puxá-la para si.

– ‘Bom o dia? - Perguntou já com ela em seus braços.

– Normal... - Gina brincou com a mão no queixo dele – McGonagall disse que é possível que adotem o meu livro como bibliografia auxiliar para os alunos de DCAT.

– Mas isso é excelente! – Harry comemorou com um sorriso de orelha a orelha.

Ao terminar a escola, Gina tinha se interessado em tornar-se professora em Hogwarts, de preferência de DCAT, o que seu talento para azarações a tornava plenamente qualificada. Mas, na época, embora Minerva a apoiasse, a diretora havia achado que ela era ainda muito jovem para assumir o cargo. Gina tinha, então, se dedicado a adquirir a experiência que a escola queria. Fez estágios durante dois anos em vários departamentos do Ministério, como o de Reversão de Feitiços Acidentais e com os Aurores, mas não quisera ficar em nenhum dos departamentos. Ela queria tempo para pesquisar sobre o combate as Artes das Trevas. Acabou, assim, indo trabalhar com os gêmeos, na parte de pesquisa e desenvolvimento de produtos para as Gemialidades Weasley, usando o tempo livre para aprofundar suas investigações. Há dois anos escrevera seu primeiro livro, que vinha fazendo bastante sucesso. Harry estava orgulhoso.

– Então, assim que o Throop se aposentar, ela pode chamar você, não é?
Enos Throop, o atual professor, era um Auror aposentado. Havia assumido a cadeira após a guerra e parecia ter tomado gosto por ensinar, embora ele afirmasse que somente permanecia para provar a todos que a cadeira não era mais azarada.

Gina concordou sorrindo de um jeito sapeca que ele conhecia muito bem. As mãos dela enlaçaram o seu pescoço e ele parou de pensar naquele mesmo momento, capturando seus lábios num beijo saudoso e exigente. “Acho que Dobby vai ter que requentar o jantar”, falou ela num gemido, enquanto Harry traçava com a boca uma linha de calor e arrepios do seu rosto até a curva do ombro. As coisas, porém, nem sempre acontecem exatamente quando a gente quer e uma batida tímida, mas insistente, na porta veio lembrá-lo disso.

– O que é? – Perguntou grosseiro.

– Mil perdões..., Harry Potter, meu senhor – a voz de Dobby esganiçou insegura do outro lado da porta – Dobby vai... se castigar por atrapalhar o descanso dos seus amos..., mas temos...visita.

Harry olhou para Gina, que ergueu a sobrancelha, não estavam esperando ninguém àquela hora. Mas foi Dobby que respondeu a pergunta muda dos dois.

– É...o p-pr-professor Snape, ...de Hogwarts – o pobre elfo parecia bem desconfortável ao buscar referências para introduzir o visitante.
Ele soltou a esposa e abriu a porta.

– Obrigado, Dobby. Diga a ele que estou descendo – o elfo assentiu e já ia virar-se para cumprir a ordem – e, Dobby, não se castigue, sabe que eu não gosto disso.

A criaturinha deu um sorrisinho e saiu pelo corredor elogiando em altos brados o quanto Harry Potter era bom, e nobre, e generoso, e... Harry fechou a porta novamente. Gina estava sentada na cama calçando os sapatos.

– Aonde você vai?

– Descer com você – respondeu ela com simplicidade.

– Não , não vai, não!

– Desde quando você me dá ordens e desde quando eu obedeço Potter? – Gina jogou para trás os cabelos vermelhos, erguendo o queixo em desafio.

– Não é uma ordem, meu amor – ele se ajoelhou ao lado dela alterando o tom ríspido para algo mais persuasivo. – Gina, já vai ser difícil conversar como Snape sem ter mais alguém lá para ele insultar. Me deixa resolver isso, ok? Fique aqui em cima. Tome um banho, relaxe... – e acrescentou com o que julgou ser seu sorriso mais charmoso – só não ouse dormir porque eu ainda quero voltar ao “assunto” que estávamos conversando antes de sermos interrompidos.

A ruiva não caiu de pronto, mas ficou considerando as palavras dele.

– Promete me contar tudo o que vocês falarem lá em baixo? Sem me enganar, nem omitir nada?

– Prometo – respondeu solene, mas Gina ainda não pareceu convencida. Se encararam por alguns segundos, testando-se. Harry torcendo para que ela não começasse uma discussão por causa daquilo. Então, ela desanuviou a expressão – tá bom, eu espero aqui.

Ele soltou o ar aliviado, deu-lhe um beijinho e voltou-se para sair. Já estava na porta, quando o alarme soou na sua cabeça. “Como eu sou burro!”

– Concordou muito rápido, mocinha! – Disse olhando para ela de forma acusadora, Gina, porém, tinha uma expressão da mais pura inocência. – Por favor – ele estava implorando – me diga que vai ficar quietinha e não vai ficar tentando espionar com orelhas extensíveis.

– Juro que não vou usar orelhas extensíveis e vou ficar quietinha – agora era Harry que não parecia convencido – sério, pode ir. Estou muito cansada para discutir com você. Vá. Vou ficar no meu canto. Prometo.

Ele a examinou por um instante. Não tinha tempo para discutir até ter certeza de que ela ficaria, mas achou que Gina parecia realmente cansada e agradeceu à gravidez estar tirando um pouco do fôlego da esposa.

*************



Severo Snape estava parado, em pé, no centro da sala. A expressão impassível modificou-se para um intenso desagrado no instante em que ele percebeu a presença do dono da casa.

– Potter.

– Snape.

Harry sentiu-se desconfortável por um instante. Mesmo que Ana o houvesse alertado, não havia como não se chocar com o aspecto envelhecido do antigo professor de poções. Contudo, o ódio e a raiva entre os dois homens permaneciam inalterados e qualquer tentativa de civilidade, provavelmente, acabaria se provando ridícula. Talvez por isso, eles não tenham nem tentado.

– Espero não estar atrapalhando – falou o visitante num jeito untuoso, erguendo a sobrancelha, cheio de deboche – sinceramente, pelo que conheci de seu gosto por andar nos corredores da escola de madrugada, não achei que dormisse tão cedo, Potter.

– Sou um homem casado, Snape, tenho mais o que fazer quando me recolho do que simplesmente dormir.

Harry se divertiu em ver o sorrisinho cínico sumir da cara do outro, passando para puro asco. Não o havia chamado ali para agüentar alfinetadas ou ser intimidado como quando tinha 12 anos. As posições haviam mudado. Agora, era ele quem tinha controle sobre as “detenções” e estava bastante disposto a usar isso.

– O que você quer comigo Potter? – Snape achou melhor ser objetivo.

– Informações.

– Exatamente sobre o que?

O rapaz cruzou os braços na frente do corpo e o encarou seriamente.

– Você é provavelmente o bruxo VIVO – frisou a última palavra – que mais conhece sobre as possibilidades de uso das Artes das Trevas. E, acredite, isso não é um elogio, visto que os seus termos de comparação estão mortos.
Snape apoiou-se com mais força na bengala e ergueu o queixo, mas permaneceu em silêncio.

– Quero saber se existe alguma possibilidade, seja ela qual for, de Voldemort retornar?

– Ora, ora, parece que finalmente aconteceu. Harry Potter, o grande herói do mundo mágico, perdeu completamente o juízo!

– Suas opiniões a meu respeito continuam não me interessando, Snape! O estou consultando como estudioso do assunto e como Comensal da Morte que você foi – os lábios de Snape tremeram ligeiramente, os olhos em fogo. – Seu mestre fez ou poderia ter feito alguma coisa, além das Horcruxes, para lhe garantir a maldita existência? Algo que lhe permitisse voltar, mesmo que fosse morto?

– Essa é a coleção de perguntas mais estapafúrdias que já ouvi em toda a minha vida, Potter. O que, mesmo levando em conta o fato de você ser o aluno mais obtuso a quem já tive o desprazer de lecionar, exceto talvez Longbotton, é o bastante para preocupar. Não existem magias capazes de reviver os mortos! Será que posso saber de onde surgiu essa súbita preocupação com um improvável retorno do Lord das Trevas, oito anos depois de você mesmo tê-lo matado?

– Eu vou lhe contar Snape, mas não acredite, nem por um segundo, que isso signifique que eu confio em você – apontou para a poltrona atrás do outro e acrescentou – é melhor se sentar.

Snape ainda com a expressão de que Harry só poderia estar louco, virou-se com dificuldade e dirigiu-se para a poltrona. Sentar-se nela pareceu, para o olhar do rapaz, uma tarefa dolorosa e complicada. Sob as vestes pretas do ex-professor haviam muitas cicatrizes, no corpo e na alma. Harry conhecia a origem de pelo menos duas das que o atormentavam fisicamente. O ombro, lacerado por um hipogrifo na noite em que ele matara Alvo Dumbledore, e a perna, cujo joelho fora em parte arrancado pela cobra Nagini, na mesma ocasião em que Harry destruíra a Horcrux que ali existia. Mas se o menino-que-sobreviveu sentiu algum tipo de piedade ou compaixão naquele momento, nada pode ser lido em sua expressão.

Harry sentou-se em frente a ele e passou a narrar os últimos acontecimentos. Como realmente acreditava que Snape poderia ajudar com alguma informação, resolveu não sonegar nada do que já tinha apurado. Severo ouviu impassível e somente quando Harry sinalizou ter encerrado ele fez perguntas.

– Você disse que já desapareceram até agora seis crianças trouxas nas mesmas circunstâncias. – O outro confirmou. – Uma a cada semana, ... uma a cada lua... – as últimas palavras foram mais para si. Ele pensou por alguns momentos, encarando o teto, e por fim completou. – Bem, Potter, posso lhe dizer que não sei nada sobre qualquer comensal que tenha escapado da morte ou de Askaban, além, como você salientou, de mim mesmo.

Também não sei nada sobre as alternativas que o Lord das Trevas tenha imaginado para garantir sua imortalidade, afora as que você já conhece. Quanto ao resto, realmente, não sei o que isso possa significar.

– Não,... não ouse me dizer isso ou me fazer de tolo, Severo – Harry se levantou da poltrona, a raiva subindo pelo seu peito como lava quente. – Você tem que ter alguma pista! Temos pesquisado. A Mione, o Lupin! Temos procurado e nada!! Você sempre se achou tão inteligente! Vamos, príncipe, se esforce! Você pode fazer melhor que isso! – As últimas duas frases saíram num rosnado furioso.

– Acalme-se, Potter, seus destemperos nunca o levaram a nada – Snape manteve o ar indiferente – não estou dizendo que não há nada sob o que você e seus amigos têm percebido, apenas que, no momento, não vejo ligação com nada que eu conheça, a não ser... é... talvez – a voz tornou-se novamente reflexiva.

– A não ser o que? É a segunda vez que você faz essa cara de entendimento. Não me provoque, Snape. Você, mais do que ninguém, sabe do que eu sou capaz!!

Snape deu aquele sorrisinho de satisfação e cheio de cinismo que costumava dar sempre que conseguia que Harry perdesse a cabeça.

– Ameaças, Potter? Seu “bom-mocismo” parece perder frequentemente para a sua arrogância, não é mesmo? O que diriam seus admiradores vendo o grande herói usando um tipo tão descarado de intimidação?

– Meu “ bom-mocismo”, o tem mantido vivo e em liberdade, Snape. Agente infiltrado ou não, você ainda é e vai ser sempre o homem que assassinou Alvo Dumbledore. – Ele cuspiu as palavras, mas em seguida cruzou de novo os braços e falou de forma fria. – E eu não acho que as pessoas me achariam menos herói se eu mudasse de idéia e resolvesse entregar a sua cabeça numa bandeja, não acha?

Snape não pareceu se abalar, embora seu queixo tenha tremido levemente. Apenas deu um suspiro cansado antes de falar.

– Não o estou enganando, Potter. Tudo o que fiz até agora foi juntar os pedaços do quebra-cabeças que você me mostrou. Coisa que você parece incapaz de fazer, mesmo, ao que parece, com a ajuda da sua amiguinha sabe-tudo e do seu amado professor lobisomem. Por isso, se quiser ouvir, sente-se e se acalme.

Harry sentou-se. Se Snape tinha visto algo que ele e os amigos ainda não haviam atinado, ele não fazia objeção nenhuma em ouvi-lo.

– Vejamos... se até agora você disse que foram seis crianças, então, acredito que deva desaparecer mais uma até o final desta semana. Isso seriam sete semanas ou sete luas. Um número místico poderoso para se invocar qualquer coisa. Acho também que estão certos em relação ao sangue. Não posso pensar em nada mais que isso possa ser fornecido por uma criança trouxa a um ritual de magia.

O rapaz não pode evitar uma náusea diante da total indiferença do ex-professor sobre aquilo.

– Realmente não tenho idéia sobre as intenções ou as conseqüências desse ritual quando feito no mundo mágico. Porém, acho que a intuição da sua amiga Granger sobre invocação do mal pode ser uma chave. Talvez...

– Talvez... – a paciência de Harry permanecia apenas por um fio.

– Creio que haja um livro que pode ajudar a achar algumas respostas.

– Um livro,... certo. Que livro?

– Já ouviu falar no Diário ou O Livro Negro de Fausto? – Ele torceu a boca com desprezo ante a negativa de Harry. – Não imaginei que tivesse. Trata-se de uma das mais importantes e obscuras obras de magia negra já escrita. Os rituais aí contidos eram tão poderosos que o próprio Fausto, antes de entregar-se a morte, quis destruir a obra, mas não conseguiu. Então, ele resolveu escondê-la num lugar remoto guardada pelas mais horripilantes aberrações que conseguiu invocar. Restaram apenas lendas.

– Isso não nos adianta muito, não é?

– Francamente, Potter, sua inteligência me desanima. Acha que nenhum bruxo tentou achar o livro? Por acaso acredita que tal poder não originaria nenhum tipo de busca?

– Então se sabe do paradeiro do livro?

– Até onde eu sei, o bruxo Grindelwald o encontrou em princípios do século XX. Ele sacrificou uma boa quantidade de comparsas e servos para passar pelas defesas impostas por Fausto e conseguir a obra. Sob seu poder, a Europa viveu seus anos mais negros. O mundo dos trouxas e dos bruxos se viu assolado pelos horrores das guerras e da peste, até que Dumbledore o venceu.

Os olhos de Harry brilharam. Lembrava disso. Dumbledore derrotara Grindelwald. Qualquer criança que comesse sapos de chocolate sabia disso. Ele nunca ouvira falar do tal Livro de Fausto, mas se Dumbledore sabia dele, então, era provável que houvesse como achá-lo.

– Dumbledore se apoderou do livro?

– Sim e não. Alvo temia que ele pudesse cair em mãos, digamos, pouco confiáveis, e, por isso, resolveu escondê-lo em outro lugar. Mas, até onde sei, ele invocou os mesmos guardiões que o livros já tinha e colocou outros, obviamente.

Harry levantou-se e começou a andar. Era muita informação de uma única vez. Era preciso digeri-las. E, ao mesmo tempo, ainda haviam tantas perguntas.

– Por que você acha que este livro pode nos dar respostas?

Snape o observava caminhar pela sala, os dedos finos unidos em frente ao corpo.

– Fausto foi um bruxo que quis ultrapassar todas as barreiras existentes ao conhecimento em sua época. Ele achava que o saber poderia controlar todas as coisas. Reuniu tudo o que bruxos e trouxas sabiam, sem desprezar nada. Bem e mal. Vida e morte. Nada escapou. Tudo foi objeto de estudo. E para cada uma dessas coisas ele formulou rituais para dominá-las e vencê-las.

Harry sentiu um pequeno deslocamento de ar às suas costas, voltou-se, mas não viu nada. Tornou a olhar para Snape.

– Acha que as pessoas que estão fazendo essas coisas podem estar se baseando nos rituais de Fausto?

– É uma possibilidade que Grindelwald tenha deixado escapar alguns de seus segredos antes de ser derrotado. Acredito, porém, buscar o texto original seja a melhor pista que posso lhe oferecer no momento.

– Tem alguma idéia a respeito do paradeiro do livro?

– Não. Dumbledore jamais me contou nada a respeito.

– É claro... Ele não confiaria em você para tanto. O problema é que isso nos deixa na estaca zero de novo.

Snape fez novamente uma expressão de impaciência.

– Acho, Potter, que se pensar um pouco, verá que está bem longe da estaca zero. O diretor, certamente, não confiaria esse segredo a mim, mas já a você – ele fez um esgar de náusea – o aluno favorito. Acho que ele lhe daria pistas bem exatas.

Harry levou alguns segundos para entender o que Snape estava falando. Foi bom que sua raiva e seus reflexos estivessem entorpecidos pela quantidade de informações, ou teria pulado no pescoço do Ranhoso. Mas quando a luz se fez, ele entendeu exatamente ao que Severo Snape se referia.

– O quadro... – disse em triunfo, batendo a mão na testa – o quadro de Dumbledore em Hogwarts. Mas é claro.

Isso. Bastava pedir a ajuda ao seu mentor. Tinha certeza que se pudesse dizer qualquer coisa que o ajudasse, Dumbledore diria. Estava novamente em terreno firme. Sentiu-se mais seguro e confiante do que em semanas. E quem diria? O morcegão tinha sido realmente útil.

– Snape, eu ... – preferiu transformar a ordem em um pedido, usando da indiferença impessoal que costumava usar no trabalho – gostaria que você pesquisasse sobre isso. O que puder reunir. Que tipos de magias envolvendo sangue, invocações das trevas e morte podem ser feitas? Você tem conhecimentos que nem Hermione nem Lupin nem nenhum b...

– Bruxo decente teria. Era isso que ia dizer? – Provocou Snape.

– Tirou as palavras da minha boca – Harry parou de fingir qualquer simpatia – Mas não se preocupe, estou disposto a pagar pelo seu serviço.

– Não quero esmolas suas, Potter!

– Não seja idiota Severo. Estou contratando-o como pesquisador e quero pagar por isso. Não creio que, na sua situação, esteja em condições de recusar. Além, disso não quero dever favores a você. Mas se preferir, posso apenas te dar uma ordem e esperar que cumpra, se não quiser passar o resto de sua vida miserável em Askaban.

Snape considerou as palavras do homem a sua frente. Por mais que odiasse Harry Potter, ele sabia que se tinha uma coisa que nunca lhe faltara era determinação.

– Como queira, Potter. Creio que estou dispensado, não? – Ergue-se com grande dificuldade da poltrona. – Enviarei notícias.

Dirigiu-se para a porta da frente o mais rápido que conseguiu andar com a perna sem parte do joelho. A porta se abriu antes que ele tocasse na maçaneta. O professor de poções, porém, voltou-se para o ex-aluno de forma quase estudada.

– Uma última coisa, Potter. Disse que é a sua mulher que está tendo os sonhos e não você.

Harry confirmou.

– E ela está grávida?

O rapaz engoliu em seco. Soube, assim que ele começou a falar, que Snape havia guardado aquele comentário para o último segundo. Enchera-o de informações para que Harry esquecesse da pergunta mais importante.

– Ahhh! Você é mesmo um idiota, Potter. Um idiota ainda maior do que o seu pai foi. Afinal, ele não tinha como saber da profecia quando ele e sua mãe resolveram ter você. Mas o grande herói, o Eleito, o bruxo mais poderoso da nossa era, o inatingível Harry Potter foi incapaz de pensar as conseqüências de ter um filho, não é?

Ele esperou alguns segundos para ver os efeitos das suas palavras. Um estalo na madeira cortou o silêncio.

– Casou-se com a namoradinha de infância, a qual, pasme, é uma bruxa sangue-puro marcada em cada célula do corpo pelo sete místico.

As entranhas de Harry se retorceram. Claro, Gina não era também apenas uma bruxa. Tinha poderes concentrados, como sempre comentava Jorge. Era a sétima filha de uma sétima filha. A primeira mulher em sete gerações de Weasleys.

– Achou o que? Que viveriam felizes para sempre? ... Patético! – Snape jogou para trás a cortina de cabelos oleosos. – A criança que vai nascer, Potter, ao contrário de você, não será uma criança comum. E acredite, os pesadelos da pequena Weasley são só o começo. Eu nem mesmo me surpreenderia se seu bebê estivesse nos planos de quem está por trás de tudo isso.

Snape saiu fechando a porta e deixando para trás um Harry atordoado. Sua cabeça a ponto de estourar. A idéia de que seu filho poderia estar em perigo era tão aterradora quanto olhar para o futuro e imaginar que ele poderia ter uma vida ainda mais complicada que a sua própria. Desta vez um barulho realmente forte fez-se atrás dele.

Harry virou-se. Não precisou de muito esforço para se dar conta de sua origem.

– Gina? – Seu coração aos pulos, droga, ela tinha ouvido tudo. – Gi... onde você está?

Algo grudado à parede perto da escada moveu-se. Gina afastou a capa de invisibilidade e o encarou com o rosto em lágrimas.

– Gi... – ele correu para abraçá-la.

– Ele não falou sério, não é? Eles não podem querer o nosso bebê? – Os olhos castanhos cheios de fogo que ele tanto amava, estavam embaçados e assustados. Harry puxou-a para si colocando a cabeça dela em seu peito.

– Ninguém vai tocar no nosso filho, meu amor, eu PROMETO! Ninguém!

Ele repetiu aquelas palavras como um mantra por quase toda aquela noite, enquanto a levava nos braços para o quarto e a fazia dormir como se ela fosse uma garotinha. O mesmo mantra que mais de 25 anos atrás Tiago Potter repetira também, por uma noite inteira, enquanto velava o sono do amor de sua vida.



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N/A: Gente, muito obrigada mesmo para quem tem acompanhado a Fic.
Agradeço ainda mais os comentários: Bernardo, Sir Potter, Fillipe, Ligia Granger Potter, Arteiro, Sônia é um incentivo enorme encontrar cada palavra que vocês postam no site e é muito gratificante também.

Darla: Minha Beta, você é perfeita. Interessante é que agora é você que corrige os meus escritos, hehehe. Veja como as posições se invertem, bem no espírito deste capítulo.

Morgana e Belzinha: com vocês tenho dividido as minhas angústias e essa história, e, só por isso, escrevê-la tem se tornado um prazer ainda maior. Obrigada de coração!

Ahhh! Leiam a Fic da Belzinha, que é maravilhosa. Além do mais, mesmo antes da gente começar a trocar figurinha as fics já pareciam ter uma ligação mística, agora então...

Por favor, não deixem de COMENTAR!!! Beijos!

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Comentários (1)

  • Priscilla Florêncio

    A história está para se repetir!!! Maldito Voldemort!!! Nem mesmo morto ele deixa de atormentar a vida de todo mundo!!! 

    2016-01-10
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