Alvo Dumbledore



Capítulo 13


Alvo Dumbledore


A semana que se seguiu em Hogwarts passou numa rapidez atordoante, tal foi a quantidade de deveres e trabalhos extras dados pelos professores. Andrew e Josh, longe de reclamar, agradeciam, pois quanto mais tempo ficassem entretidos fazendo os deveres, menos tempo ficavam ouvindo Hector xingar a menina da Corvinal. Coisa, aliás, que parecia ser agora o seu passatempo favorito. Ele não perdia a oportunidade de repetir para quem quisesse ouvir que preferia uma tarde de detenção com Filch do que ter de aturar novamente Mel Warmlling. Bufava toda vez que via a garota, fosse nos corredores ou no Salão Principal, ao que Josh e Andrew, em ato contínuo, reviravam os olhos e o afastavam para o mais longe possível de onde ela estivesse.

Claro que Mel percebeu. Amaldiçoou muitas vezes a insana curiosidade que a impediu de ficar quieta ao invés de se intrometer numa conversa que não era dela. Mas dá para alguém ficar quieto quando o assunto do grupo ao lado é Harry Potter? E depois, por que o tal do Hector tinha de ser metido daquele jeito? Pois sim, pensou sarcástica, filho de Remo Lupin! Até parece que aquele doce de criatura ia criar um garoto tão... tão... Mel bufou buscando um insulto que ainda não tivesse dirigido mentalmente ao menino. Vai ver a Tonks, sendo tão desastrada, o tinha deixado cair de cabeça quando bebê*. Jogou para trás com impaciência os cabelos, “tá bom, eu peguei pesado, mas ele provocou e...”

O fluxo de pensamentos contra Hector Lupin foi interrompido quando ela entrou no corredor do quarto andar se dirigindo para a aula de Transfiguração. Um grupo de quatro ou cinco meninas da Sonserina, do mesmo ano que ela, estava aparentemente se divertindo um bocado rindo de alguma coisa que estava junto à janela. Mel não precisou chegar muito perto para ver, escorada na parede, o que parecia ser uma outra menina, mas que estava tão escondida sob as vestes e os cabelos muito negros que podia quase ser confundida com as pedras escuras atrás dela. Mel apressou os passos. Sonserinas risonhas ante uma pessoa acuada não podia ser boa coisa. À medida que se aproximava, o riso e a zombaria do grupo maior começaram a chocá-la e, de novo, antes que pudesse pensar, Mel estava em frente à garota atacada enfiando o dedo na cara da líder do grupinho.

– Deixem ela em paz!! – Falou quase aos gritos, vermelha de raiva.

– Isso não é com você, garota, não se meta – retrucou a menina loira, que estava à frente das outras, balançando os cachinhos bem feitos.

– Quem você pensa que é para tratar ela assim? – Perguntou Mel, ainda mais indignada, ouvindo a garota atrás dela soluçar baixinho.

– Eu não penso, queridinha, eu sou! – Caroline Bothwell estava acostumada a se impor com quem quer que fosse.

– Que você não pensa é óbvio – devolveu Mel, cruzando os braços, enquanto a outra perdia a cor na face muito branca e sardenta – mas isso não te dá o direito de tratar os outros como se fossem lixo!

– Ah! Era só o que me faltava! Receber lições de comportamento de uma sangue-ruim americana.

Caroline estava provavelmente se referindo ao sotaque norte-americano que Mel adquirira durante sua longa estada nos EUA. Quanto a saber que Mel nascera trouxa (embora tendo uma antepassada bruxa), não espantava, já que ela mesma jamais tinha feito segredo disso.

– Primeiro – Mel deu um passo à frente e ergueu o queixo – eu não sou norte-americana, sou brasileira! Segundo, eu não quero te dar lição de comportamento nenhuma, porque você não me parece do tipo que aprende. E, terceiro – baixou a voz e falou o mais calma que conseguiu apenas para que a outra não achasse que ela estava brincando – se incomodar ela de novo, vou te azarar de um jeito que você nem vai saber o que te atingiu!

As outras meninas ficaram sérias, mas Caroline não se abalou.

– Não seja idiota! Eu sabia fazer feitiços antes de você começar a andar. Acha que vou ter medo de uma sangue-ruim como você?

– Devia.

– Você não teria coragem – desafiou Caroline.

Mel sacou a varinha de dentro das vestes com uma rapidez que surpreendeu até ela mesma e antes que Caroline pudesse reagir. Dessa vez, o sorrisinho da garota sumiu.

– Você não teria coragem! – Esganiçou.

– Me experimente! Como uma boa Corvinal, sei realizar algumas azarações com perfeição. E tem mais, como diz a minha tia Ana, coragem é uma questão de vontade e oportunidade... E vontade, no momento, é o que não me falta!

– Santas corujas! O que está acontecendo aqui? Srta. Warmilling? Srta. Bothwell? – A voz do professor de Transfiguração chegou até elas absolutamente chocada. – O que... Eu nunca... – respirou um pouco afetado e derrubou, na seqüência, a enorme quantidade de rolos de pergaminho que carregava. O estardalhaço foi ainda maior e o professor ficou por um instante dividido entre juntar os pergaminhos e bancar o severo. “Por Mérlin, uma briga de meninas! Em geral, elas são mais comportadas, ou será que não?”

Archibald Widenprice III era um bruxo magro, moreno, sempre com vestes claras e muito bem talhadas. Não era muito alto, sumia quase uma cabeça quando estava perto dos garotos do 6º e 7º ano, mas tinha um jeito nervoso e atrapalhado que o faziam ocupar mais espaço do que seu tamanho sugeria. Tinha cursado Hogwarts na mesma época que Gui Weasley e assumira a classe de Transfiguração que Minerva McGonnagal deixara vaga quando se tornara diretora oficial da escola.

A confusão foi suficiente para Caroline recuperar-se. Armou um beicinho e fez cara de vítima.

– Ela estava me ameaçando, professor, e eu não fiz nada. Estava apenas esperando a aula.

Widenprice voltou-se assombrado para Mel, que nunca lhe parecera ser do tipo encrenqueira. A garota por um segundo perdeu fala diante da desfaçatez da sonserina, que lhe lançava sorrisos provocativos às costas do professor.

– A Mel só estava defendendo a Danna, professor.

Widenprice, Mel e Caroline se viraram para Andrew que vinha muito sério atravessando o corredor, seguido de perto por Hector e Josh. Sem que as meninas percebessem os garotos tinham presenciado quase toda a cena. Mel jamais teria acreditado que eles fossem sair em sua defesa, não depois do que tinha acontecido na Sala de Estudos, mas foi exatamente o que eles fizeram. Ela baixou a varinha olhando assombrada enquanto os três meninos, muito seriamente, contavam que as meninas da Sonserina estavam zombando de Danna e que Mel apenas a tinha defendido. Caroline e as amigas negaram e disseram que eles não tinham visto nada e que estavam inventando. Logo, Mel também achou que devia falar juntando-se aos meninos e, num instante, o pobre Archibald estava cercado por um mar de vozes infantis altas e finas, que falavam ao mesmo tempo contando diferentes versões da mesma história, sem que ele pudesse distinguir quem dizia o quê.

– CHEGAAA!! – Elevou a voz aguda mais do que seria aconselhável a um professor que não quisesse parecer histérico, mesmo assim, surtiu efeito e as crianças silenciaram, embora com sorrisinhos de troça. – Por favor! Acalmem-se... Todos – respirou fundo. – Srta. O’Brien, as suas colegas a estavam incomodando?

Todos os olhos se voltaram para Danna, que ainda estava colada à parede. A menina ergueu lentamente a cabeça, saindo devagar debaixo da massa de cabelos escuros. Estava muito pálida. Os olhos inchados e vermelhos, mas sem nenhuma lágrima. Instintivamente, os três meninos se aproximaram como que para lhe dar força e Mel, delicadamente, pegou na mão dela dando um apertinho cheio de calor. Danna lhe devolveu um quase sorriso, depois olhou para o professor e confirmou com a cabeça.

– Bem... nesse caso, Srtas. Bothwell, Flint, Gudgeon e Zabini terei de falar com a diretora da sua casa sobre o que aconteceu aqui – Caroline fitava Danna e seus defensores lívida de raiva – mas, também vou falar com o Prof. Flitwick, Srta. Warmlling, colocar a varinha no rosto de uma colega não está... correto. Não está mesmo! – Era visível o esforço do professor para parecer rigoroso, embora, o fato de estar suando copiosamente não ajudasse muito na imagem final.

Mel achou que não seria muito difícil convencer Flitwick dos seus argumentos, mas faria tudo de novo mesmo que tivesse que enfrentar várias detenções. Por isso, não baixou a cabeça e enfrentou o olhar cheio de ódio de Caroline. Aquela cobra de saiote não tinha a menor idéia de com quem estava lidando.

O professor pediu para que os alunos, que já se aglomeravam em quantidade no corredor, entrassem para a aula. Depois, num rasgo de autoridade pedagógica, mandou as meninas da Sonserina, que riram de suas tentativas de recolher os pergaminhos caídos, que os juntassem. Lançou um olhar para Mel para que ela também entrasse e a garota, que ainda segurava a mão de Danna, soltou-a e começou a caminhar para a aula. Ao passar entre Andrew e Hector, murmurou:

– Não a deixem sozinha, as meninas foram muito más com ela.

– Pode deixar – respondeu Andrew com um sorriso gentil.

– Estaremos esperando você quando a aula terminar – acrescentou Hector sério.

Mel estacou e o olhou atarantada. O professor a chamou mais uma vez, mas Hector fez um sinal para ele como se lembrasse de algo e se aproximou dela, fingindo tirar uma coisa de dentro da mochila para entregar para a menina.

– Notei que você também anda por aí sozinha – Mel abriu a boca, mas ele não a deixou falar – as sonserinas vão querer ir à forra e se te pegarem sem ninguém você vai ficar na ala hospitalar uma semana. – Tirou um pedaço qualquer de pergaminho de dentro da mochila e pôs nas mãos dela dando um sorrisinho de “achei” para o professor. – No fim da aula, espere um pouco, que a gente vem te pegar aqui e leva até o Salão Principal para almoçar, ok?

Disse isso e virou-se para ir para a aula de DCAT, para a qual ele, Josh, Danna e Andrew estavam atrasados. Antes de entrar na sala de Transfiguração, Mel ainda viu os três garotos cercarem protetoramente a menina de cabelos escuros. Não pode deixar de sorrir. Até que Hector tinha alguma coisa de Remo Lupin.




***************


O fato de não haver sol naquela manhã dava ao subúrbio trouxa de Londres um ar úmido e levemente abafado. Longas fileiras de casas seguiam rua abaixo perfeitamente enquadradas em seus amplos gramados. Estes pareciam aguardar as chuvas do outono que começava e o céu nebuloso daquele fim de manhã estava prestes a atender.

Carlinhos Weasley estava sentado no banco do carona de um carro azul escuro estacionado em frente ao parquinho infantil do bairro. Ana tinha insistido que eles deveriam chegar ao lugar de forma normal, para trouxas, é claro. Os dois queriam fazer perguntas num dos bairros onde duas das sete crianças trouxas desaparecidas haviam sumido. Ana achava que um carro escuro e antiquado comporia melhor a fantasia de que eles eram agentes da Scottland Yard, que ela tinha inventado.

O problema é que as incursões que ela fizera com Carlinhos à casa dos pais das vítimas e de seus vizinhos tinham sido bastante desastradas. Por duas vezes o rapaz tinha feito perguntas que haviam desconcertado completamente os trouxas. Coisas como: qual era a fase da lua em que as crianças haviam sumido e se as pessoas tinham ouvido estalos estranhos ou visto vultos desaparecerem. No fim, Ana achou que seria melhor que ele aguardasse no carro enquanto ela fazia as perguntas ou eles teriam que lançar um feitiço de memória sobre os trouxas, o que àquelas alturas seria ilegal, já que Ana estava em licença do Ministério.

Carlinhos a observava naquele momento, enquanto ela abordava a vizinha de uma das famílias que havia tido seu filho de 5 anos raptado. Voltou os olhos para o parque um pouco aborrecido, era um tratador de dragões não um detetive, ora bolas! Como ele ia saber que não se costumava perguntar uma coisa importante como em que fase da lua uma pessoa tinha desaparecido. Os trouxas têm cada uma! O pior é que até agora não haviam descoberto absolutamente nada além do que já sabiam. E os métodos sutis de Ana pareciam funcionar tanto quanto as perguntas diretas dele, ou seja, não funcionavam.

Em resumo, a coisa toda continuava muito misteriosa. Como haviam relatado os Aurores que Harry tinha enviado para investigar o caso, antes de sair em licença, não havia o menor rastro de magia nos lugares onde as crianças haviam desaparecido. Elas tinham simplesmente evaporado. Um trabalho limpo demais até para Comensais da Morte. Isso poderia significar, Carlinhos tinha comentado com Ana, que talvez eles não estivessem trabalhando sozinhos.

– Você acha que têm trouxas os ajudando? – Perguntou ela incrédula. – Gente como Lucius Malfoy e Bellatrix associados com trouxas? Ridículo! Eles nunca fariam isso.

Carlinhos concordou, mas não conseguiu afastar a idéia de que os seguidores de Voldemort estavam tendo um tipo de ajuda muito especial, ou não teriam conseguido sumir com sete crianças sem deixar pista alguma, nem para a polícia trouxa, nem para os Aurores do Ministério da Magia.

A uma curta distância do carro, um grupo de umas quatro crianças jogava bola. Carlinhos percebeu que um dos meninos mais velhos havia parado pelo menos duas vezes para observá-lo. Da segunda vez, Carlinhos percebeu que o garoto olhava fixamente para o seu antebraço escorado na janela do carro. A camisa arremangada deixava à mostra um dragão-serpente que o ruivo tinha tatuado logo que saíra da escola, como que para provar a todos a sua vocação. Quando o menino trouxa parou o jogo pela terceira vez, Carlinhos seguiu um impulso e saiu do carro indo em direção ao grupo.

– Olá – cumprimentou simpático.

As crianças pararam o jogo definitivamente e correram para ficar todas juntas. Os rostinhos assustados refletindo as recomendações dos pais de não falarem com estranhos. Carlinhos prosseguiu mantendo o sorriso.

– Não precisam ter medo. Sou da polícia – repetiu a palavra que Ana o tinha feito ensaiar dezenas de vezes até ter certeza de que ele não se confundiria ou diria errado. As crianças continuaram caladas. – Minha colega – apontou por cima do ombro para Ana do outro lado da rua – e eu estamos investigando o desaparecimento de Jason Wilburn. Ele era amigo de vocês?

As crianças se aproximaram mais umas das outras, os olhinhos voltados para cima acompanhando os movimentos do homem muito alto à frente deles. Carlinhos percebeu a agitação das crianças e dobrou os joelhos para ficar ao mesmo nível deles, talvez se ficassem menos assustadas conversassem com ele. A estratégia pareceu surtir efeito e o menino mais velho, que devia ter uns oito anos, tomou coragem.

– Já contamos o que vimos para outros. – A voz do garoto tinha um certo quê de mágoa que Carlinhos não entendeu. Quando ele ia abrir a boca para comentar a afirmação, uma menina com duas longas tranças castanhas, que estava mais atrás, falou.

– Ninguém acreditou na gente.

Carlinhos devolveu-lhes uma expressão compreensiva e esperançosa ao mesmo tempo.

– Isso quer dizer que vocês viram alguma coisa?

As crianças trocaram olhares nervosos. Não precisava ser bruxo para saber que havia alguma coisa ali. Carlinhos se ergueu e caminhou até um banco de jardim próximo. Os trouxas não têm o costume de ouvir o que as crianças têm a dizer. Para a maioria deles, o que os pequenos vêem ou ouvem é mais fruto da fantasia que da realidade. Na opinião de Carlinhos, essa era mais uma forma pela qual os trouxas se esforçavam para negar a existência da magia, já que as crianças a percebiam muito claramente até serem convencidas a não mais acreditar em seus próprios sentidos. Por isso, algo lhe dizia, naquele momento, que ele poderia obter mais informações com aquelas crianças do que com todos os adultos trouxas num raio de 100 km. Ele sentou no banco, escorou os braços sobre os joelhos e fez um gesto para que as crianças se aproximassem. Após uns segundos elas vieram, lentamente, como uma pequena massa quase compacta.

– Prometo ouvir e acreditar em vocês se me contarem o que viram – falou com seriedade tentando passar confiança.

O menino mais velho estava de novo olhando fixamente para a tatuagem de dragão.

– O que é isso aí? – Perguntou apontando.

– Ah! Isso! É um Meteoro Chi... er, hum, é um dragão – achou que seria estranho dizer para as crianças o nome da raça e preferiu simplificar. Ele ergueu o braço e os garotos chegaram mais perto para olhar.

– Eles disseram que não gostavam de dragões – falou num sussurro assombrado a menina de tranças.

– Quem disse? – Quis saber Carlinhos.

As crianças recuaram um pouquinho, mas o menino mais velho o encarou.

– Quando levaram o Jason, ele estava conosco no parque... e eles quebraram o skate do Tommy – apontou para um garoto de óculos ao seu lado, que confirmou com a cabeça – porque tinha um bicho desses colado na prancha.

– Então, vocês viram quem levou o Jason? – Perguntou Carlinhos percebendo que as crianças tinham entendido sua tatuagem como uma mostra de que ele só a portaria se fosse inimigo dos raptores. Ao mesmo tempo ficou bem claro na sua cabeça que, por mais que os Comensais da Morte tivessem péssimas lembranças em relação aos dragões, destruir um skate por causa de um decalque era um tipo de atitude histérica que não combinava com eles. Por outro lado, se houvesse sido um ataque de dementadores, supondo que algum deles tivesse restado após a Batalha dos Dragões, ele não teria sido visto ou sentido apenas pelas crianças. Não, definitivamente, tinha mais alguém ou alguma coisa envolvida naquilo.




Do outro lado da rua, Ana viu quando o marido saiu do carro e se aproximou das crianças. Ficou curiosa e levemente apreensiva. Quase pediu em voz alta para que ele controlasse o que ia dizer. Bruxos com pouco contato com trouxas eram, às vezes, muito descuidados. Deteve um ímpeto de ir até ele. A mulher gorducha na sua frente não parava de tagarelar e até agora não tinha dito nada além do que Ana já sabia. Na verdade, tudo o que ela fazia era repetir as especulações dos jornais como se fossem fatos. Descrevia vários estranhos suspeitos que ela supostamente tinha visto e que para Ana (tanto em sua visão de nascida trouxa como de bruxa) nada tinham de estranhos ou suspeitos. Deu um sorriso cordial para a interlocutora enquanto tentava administrar um bocejo para não parecer evidente demais e voltou à atenção para o outro lado da rua.

Carlinhos tinha sentado num banco de jardim e as crianças o haviam cercado falando excitadas. “O que será que eles estão conversando?” Tentou observar as reações no rosto do marido, mas ele estava longe. A senhora continuava a falar parecendo encantada com o som da própria voz. Ana viu que as crianças tentavam descrever algo com gestos largos. E, agora, todas pareciam querer falar e Carlinhos voltava a cabeça hora para uma hora para outra. A Auror estava ardendo de curiosidade, mas a mulher na sua frente acreditava que cada minuto do seu dia era de importância crucial para qualquer investigação policial feita em seu bairro. Ana já estava com as bochechas doloridas de manter congelado o sorriso profissional no rosto.

Minutos intermináveis se passaram sem que ela conseguisse se livrar da entusiasmada informante até que Carlinhos levantou do banco e novamente dobrou o joelho em frente aos garotos. Ele falou algo e num gesto incomum para com uma criança, ele apertou a mão do menino que estava à frente do grupo. Depois, se ergueu e saiu em direção a ela a passos largos. Ana conhecia Carlinhos e os Weasley o suficiente para saber que a expressão carregada e o tom vermelho das orelhas dele eram prenuncio de tempestade. Ele a pegou pelo braço sem dizer uma palavra nem para ela, nem para a senhora trouxa que ficou chocada por ser deixada falando sozinha.

– Carlinhos – falou Ana sem entender e quase correndo para acompanhar os passos dele – o que houve?

– Temos que ir para casa, agora!

– Mas o que houve? As crianças com quem você estava conversando disseram alguma coisa?

Ele confirmou com a cabeça e continuou a arrastá-la em direção a um pequeno bosque no parque onde há pouco tinha falado com as crianças.

– Para onde você está me levando? E o carro?

– Esquece o carro! Vamos achar um lugar seguro para aparatar.

– Carlinhos – ela estacou para que ele parasse – me fala o que está acontecendo! Você está me deixando preocupada.

O ruivo tinha uma expressão seríssima. Poucas vezes Ana o tinha visto assim tão perturbado.

– Temos que ir para casa antes que eu fale qualquer coisa. Eu preciso ter certeza... – ele estava realmente incomodado – vou verificar primeiro, depois... Acho que temos um presente de casamento que pode ajudar...

– Presente?

– Uns livros que ganhamos.

– Mas o que...?

Ele voltou a puxá-la para o meio das árvores.

– Querido, eu não estou entendendo nada...

Ele parou num ponto quase invisível para quem olhasse de fora do pequeno bosque.

– Ótimo! Assim, você só vai ficar apavorada quando a gente chegar em casa.

Ana abriu a boca, mas antes de emitir qualquer som, Carlinhos a puxou num abraço e aparatou carregando-a junto.




************


Mel suportou dignamente os olhares raivosos que Caroline e seu grupinho lhe lançaram durante toda a aula. Mas pelos cochichos que elas trocavam, não teve dúvidas que Hector tinha razão, e de que ela teria de se cuidar dali para adiante. Caroline pareceu ainda menos satisfeita quando o professor mostrou que o fósforo que Mel deveria transformar em agulha estava perfeito, embora um pouco largo, enquanto o dela ainda tinha uma cabeça lascável.

Quando finalmente o sinal soou dando a aula por terminada, Mel começou a arrumar as suas coisas o mais lentamente possível, até o professor já tinha se retirado da sala quando ela saiu. Na porta, exatamente como prometido, a aguardavam Hector, Josh e Andrew, acompanhados de uma bem mais alegre Danna. Mel se aproximou grata pelos cuidados dos colegas mais velhos.

– Você está bem? – Dirigiu-se a menina cujo rosto era agora visível sem a massa de cabelos escuros o cobrindo. Mel se surpreendeu ao olhá-la bem. Danna era irlandesa, a julgar pelo nome, mas os olhos e os cabelos eram surpreendentemente negros e faziam um forte contraste com a pele claríssima. Mel começou a suspeitar que a loira aguada da Caroline não resolvera implicar com Danna apenas por causa de seu jeito tímido ou por causa de suas roupas de segunda ou terceira mão.

– Estou sim – respondeu Danna com a voz firme – obrigada! Você foi muito corajosa em me ajudar.

– Não seja boba, qualquer pessoa teria feito o mesmo.

– A Danna tem razão Mel! – Foi Andrew quem falou. – Poucas pessoas iriam enfrentar sozinhas um grupo como esse das meninas da Sonserina.

– Você foi bem parecida com a sua tia Ana, pelo o que meu pai conta dela – completou Josh com um sorriso cheio de admiração que fez Mel corar. Parecer com Ana era para ela um elogio e tanto.

Hector não deu nenhum indício de que discordasse dos amigos, mas permaneceu calado. Mel achou que talvez devesse dar o primeiro passo para acabar com o mal estar entre os dois.

– Desculpe – falou baixinho, olhando para o chão – desculpe eu ter te chamado de...

– Tudo bem – cortou o menino com sinceridade – eu também não fui legal com você. – Mel ergueu os olhos e viu que ele sorria. – Vamos almoçar duma vez?

Os cinco seguiram juntos para o Salão Principal. Quando dobraram o corredor encontraram com as Sonserinas que mal disfarçaram a decepção de verem Mel acompanhada. A menina notou que Hector empurrou Andy discretamente para o lado dela e de Danna, deixando-se ficar uns dois passos para trás com Josh. Os dois sacaram as varinhas e apontaram para o chão atrás deles, murmurando baixinho um feitiço. Hector fez um gesto mudo de silêncio quando viu que ela havia percebido o movimento, pois Andrew certamente desaprovaria a ação dos amigos. Mel ia perguntar o que eles tinham feito quando ouviu uns gritinhos seguidos de vários PLAFTS. Andrew, que ia mais a frente com Danna, virou-se imediatamente para trás.

– O que foi? – Perguntou vendo as meninas da Sonserina estateladas no chão.

– Acho que o corredor está muito encerado – respondeu Hector com a maior cara de inocente, mas Josh cochichou no ouvido de Mel: “Feitiço do Chão Ensaboado!”

Se Andrew acreditou, ela não soube, mas pensou ter visto ele esconder um risinho quando virou-se para frente. Hector deu uma piscadela para Mel e continuou rumo ao Salão Principal. Mel os seguiu sorrindo também, ver Caroline Bothwell de pernas para cima, toda despenteada, não tinha preço.

Se separaram quando chegaram ao Salão, onde o almoço já tinha sido servido. O teto encantado estava cheio de nuvens tempestuosas refletindo o dia lá fora. Mel seguiu para a mesa da Corvinal e Josh para a da Lufa-lufa, enquanto os outros três sentaram juntos no outro extremo da mesa da Grifinória.

Mel observou, enquanto almoçava, que Josh comeu o mais rápido possível. Aliás, segundo ela tinha percebido, ele sempre fazia isso e depois rumava para a mesa da Grifinória. Percebeu que por duas vezes uma menina negra, muito bonita e mais velha que eles, tinha servido alguma coisa a mais no prato do garoto. Mel teve quase certeza que eram legumes cozidos pela falta de animação com que Josh encarou o prato. Tão logo a garota mais velha descuidou dele, Josh escapuliu da mesa e foi em direção a Mel.

– Já terminou?

– Só falta a sobremesa – respondeu com um olhar cobiçoso para o manjar de chocolate branco com calda de cerejas que acabava de se materializar sobre a mesa.

– Tudo bem, a gente come a sobremesa na mesa da Grifinória.

– Dá para fazer isso? – Perguntou Mel já levantando e o acompanhando.

– Dá. Antes isso não acontecia muito, mas no último ano da guerra, as casas (fora Sonserina, é claro) se uniram bastante e desde então, os professores até estimulam isso. Olhe! – Apontou para o resto do Salão e Mel pode ver muitos alunos trocando de mesa para terminar a refeição com os amigos de outras casas. Mel recordou das canções do Chapéu Seletor pedindo união entre os alunos e sorriu feliz para Josh.

– Quem era a garota do seu lado?

– Minha irmã. – Ele respondeu meio sem graça.

– Ela é linda!

– É... e meu irmão mais velho é o melhor goleiro da história da Lufa-lufa... E o meu pai é o Chefe dos Aurores. – Ele comentou arrastando os pés. Mel percebeu que era um bocado de exigência e que Josh provavelmente se incomodava com isso. Numa família em que todos tinham algo para serem notados, o Josh era pequeno, até mesmo para os meninos da sua idade, muito magro e usava óculos.

Mel pensou em dizer algo para animá-lo, mas já tinham chegado ao lugar em que Andrew, Danna e Hector estavam sentados. Danna os recebeu com um grande sorriso e abriu espaço para que Mel se sentasse entre ela e Andrew. Josh se sentou ao lado de Hector, mas sua atenção desviou-se imediatamente para o movimento na mesa dos professores.

– Sabe, eu tenho certeza de que ela não come – falou Hector com ar de troça para o amigo enquanto Andrew abafava uma risadinha.

– Quem? O que? – Perguntou Josh confuso.

– Sua musa – continuou Hector. – Ela entra no Salão no horário das refeições e logo sai. Por isso, eu acho que ela não come, ela só vem desfilar.

Josh fuzilou o outro com um olhar extremamente aborrecido.

– Escuta aqui, Lupin. Eu não sei por que raios você não gosta dela, mas você poderia me poupar dos seus comentários.

– De quem vocês estão falando? – Quis saber Mel, cheia de curiosidade.

– Medeia, a professora de Poções – respondeu Andy – Josh tem uma quedinha por ela.

– Tenho nada – protestou o menino – Acho que ela é uma boa professora... e bonita... e só! – E fechou a cara para os dois amigos enquanto enchia raivoso sua cremeira com várias colheradas de pudim de pão caramelado.

Andrew e Hector trocaram olhares divertidos com as meninas, mas resolveram parar de zoar com Josh. Porém, como que para confirmar as palavras de Hector, a professora de Poções deixou a mesa dos funcionários e atravessou o Salão. Era realmente uma mulher muito atraente. As vestes magenta, mais coladas que o necessário, a destacavam ainda mais e um grande número de garotos a acompanhou com os olhos enquanto ela saia do Salão. Mel não agüentou. Ela devia ter sido mordida por um bichinho perguntador como dizia seu tio Nando.

– Por que você não gosta dela, Hector?

Ele deu de ombros.

– Você gosta? – Mel não respondeu e voltou-se para a professora que agora atravessava a porta para fora do Salão. Medeia Shadowes era professora de Poções e atual diretora da Sonserina, isso era o suficiente para criar um certo preconceito. Mas Mel nunca vira a professora fazer nada que depusesse contra ela, nem mesmo era favoritista com os alunos de sua casa.

– Ela é falsa! – Os quatro ainda se surpreendiam quando Danna entrava na conversa, mas parecia ter muita certeza na voz da garota.

– Tirou as palavras da minha boca – falou Hector e Andy concordou. Josh soltou um bufo, embora ainda parecesse concentrado em sua sobremesa, agora haveria mais duas para implicar com a Medeia.

Depois que os cinco terminaram, resolveram sentar juntos numa das colunatas que davam para o pátio onde ficariam abrigados da chuva que já tinha começado. Esquecendo a professora de Poções, os garotos se puseram a falar do mistério que novamente envolvia Harry Potter. Mel ficou muito feliz que, ao ser acrescentada no grupo, os meninos não se furtassem a comentar o assunto na frente dela e de Danna.

– É, mas no fim, o que sabemos é muito pouco – completou Hector após terem recapitulado a história que ele havia reunido escutando os pedaços das conversas de seus pais no fim de semana anterior.

– Pois é – comentou Mel – eu bem que tentei saber mais, mas também não consegui nada.

– Como assim? – Perguntou Josh.

– Bem, é que depois de ter ouvido a conversa de vocês – falou, ainda um pouco envergonhada – eu achei que poderia conseguir que a minha tia Ana me contasse o que estava acontecendo. Aí, eu mandei uma coruja para ela perguntando. Não diretamente, é claro, mas mencionando a fuga dos Comensais, perguntando como ela estava, já que ela tinha se machucado, dizendo que eu tinha ouvido boatos esquisitos, perguntando sobre a gravidez da Gina Potter, essas coisas.

– E o que ela respondeu? – Hector a olhava ansioso.

– O que você acha? Me mandou uma coruja com uma mensagem toda carinhosa, cheia de “fofices” e com um grande NÃO SE META nas linhas e entrelinhas – arrematou a garota desapontada.

– É Hector – ponderou sensatamente Andrew – se tem mesmo algo de bizarro e aventuroso acontecendo, acho que você vai ter que se conformar em ficar de fora.

– Nunca! – O menino tinha um brilho apaixonado nos olhos. – Se uma que seja, dessas coisas estranhas que estão acontecendo, passar por perto de Hogwarts, vocês podem ter certeza de que eu não vou ficar de fora. E isso vai ser com ou sem vocês.

Os outros quatro se olharam, mas Josh falou primeiro.

– Eu tô com você cara!

Andrew acabou dando de ombros com cara de “fazer o quê” e assentiu. Hector olhou interrogativamente para Mel e Danna, mas ele tinha certeza que a menina brasileira era curiosa demais para ficar de fora.

– Tudo bem – falou Mel e após ver que Danna não fazia oposição – a gente também está dentro.

O sinal bateu chamando para as aulas da tarde sem que eles pudessem continuar a fazer planos para as investigações. Mas, para sorte ou azar deles era difícil coisas estranhas acontecerem no mundo mágico sem, de um jeito ou de outro, acabarem desembocando em Hogwarts.

A nova amizade entre os cinco garotos tornou a operação de ir e sair das aulas mais demorada e complexa. Fato que eles perceberam logo naquela tarde. Os meninos não queriam deixar as garotas sozinhas por causa do grupinho da Sonserina e isso complicava as coisas especialmente por causa de Mel. Como ela era de outra casa e um ano mais jovem que os outros quatro, eles precisavam sair com antecedência e correr para poder fazer a “escolta”. Por mais que Mel fosse mais descolada que Danna, a menina não poderia lidar com quatro adversárias de uma só vez. Isso ocasionou atrasos e caras feias dos professores e cinco pontos a menos para Grifinória na aula de Poções por que Hector tinha ido correndo durante o intervalo levar Mel da aula de Feitiços para a de História da Magia.

À noite, quando chegaram, já atrasados, para jantar, os cinco estavam esfomeados e cansados. As caminhadas pelo castelo, mesmo conhecendo algumas das passagens secretas, haviam praticamente duplicado de tamanho. Sentaram-se em seus lugares costumeiros e concentraram-se tão fortemente em seus pratos que mal perceberam que o Salão tinha um ar mais excitado que o normal. Quem acabou notando o que estava acontecendo primeiro foi Josh, quando ouviu a irmã dizer, cheia de grau, para uma colega do quinto ano.

– Sim, é claro que eu os conheço. Harry Potter e Rony Weasley trabalham com o meu pai.

Josh levantou a cabeça como se tivesse sido escaldado. Mal pode acreditar no que viu. Sentados à mesa dos professores, Harry e Gina Potter conversavam animadamente com um satisfeitíssimo Hagrid, e ao lado da diretora McGonnagal estavam Rony e Hermione Weasley. Josh nem terminou de comer. Saiu correndo para a mesa da Corvinal quase caindo por cima de Mel. Antes que a garota reagisse, ele apontou para a mesa central e o queixo da menina caiu. Os dois, então, correram para a mesa da Grifinória. Hector havia acabado de perceber a presença das visitas ilustres e os estava mostrando e nomeando para Andrew e Danna que nunca tinham visto o mais famoso quarteto de alunos de Hogwarts.

– Então – perguntou Josh sentando-se entre os amigos – o que acha que eles vieram fazer aqui?

– Não está na cara? – Respondeu Hector. – Meu pai disse que o Harry viria aqui falar com o quadro do Dumbledore na sala da McGonnagal. Que tinha uma espécie de pista... não sei... que o quadro poderia dar para ele.

– O problema é... – falou Mel pausadamente – que mesmo eles vindo aqui, nossas possibilidades de saber algo além do que já sabemos são praticamente nulas. Duvido que algum deles vá contar alguma coisa para a gente.

– Isso é irritante, não é? Entre todos os adultos do mundo, eles deveriam ser os primeiros a não se negar a nos incluir numa investigação – resmungou Hector.

– Não seja idiota. Adulto é adulto, eles só mudam de endereço – disse Andrew que no fundo sempre achara que os sonhos de aventura do amigo não dariam em nada.

– É... Mas eu realmente gostaria de poder ajudá-los – a voz firme e baixa de Danna novamente os surpreendeu. – Mesmo que estejam sorrindo, eles parecem tão preocupados.

Os outros acompanharam o olhar da garota para a mesa central. Os quatro jovens lá sentados eram seus heróis. Como todas as crianças e adolescentes no Salão, eles haviam crescido ouvindo falar sobre o quarteto grifinório, os admirando, os imitando em suas brincadeiras. E, agora, eles lhes pareciam de certa forma tão frágeis. Era óbvio que, mesmo tentando disfarçar, os quatro estavam preocupados e tristes. Isso, contudo, não os diminuía em absoluto diante de seus pequenos fãs. Ao contrário, os tornava mais próximos e ainda mais admiráveis, pois sua coragem parecia ainda mais evidente.




Quando o jantar terminou, Harry, Rony, Hermione e Gina se despediram de Hagrid e seguiram com McGonnagal para os andares superiores. Ficariam hospedados no castelo durante o final de semana, mas Harry queria ir à sala da Diretora o quanto antes. Os quatro haviam concordado que ele deveria conversar sozinho com o quadro de Dumbledore. Pelo menos num primeiro momento era melhor que estivessem apenas Harry e Minerva, que já havia sido informada de tudo o que estava acontecendo. Os anos vinham tornando da velha professora cada vez mais sentimental, na opinião de Rony. McGonnagal tinha ouvido a história toda muito séria, mas eles haviam percebido que, embora ela mantivesse os lábios apertados numa risca fina, seus olhos estavam muito brilhantes e vez ou outra ela levava o lenço disfarçadamente até eles.

Se separaram no corredor do sétimo andar. Rony acompanhou Hermione e Gina, que precisava descansar, até os aposentos em que eles ficariam e Harry seguiu com McGonnagal para a gárgula que se postava diante da escada que levava a sala da Diretora. A professora deu um pequeno sorriso antes de dizer a senha.

– Pomo de Ouro.

Harry também sorriu. Se Dumbledore tinha um gosto exacerbado por doces, em especial, os de limão, a paixão de McGonnagal era, sem dúvida, o Quadribol. A gárgula ganhou vida e saltou para o lado revelando a escada de pedra em caracol. Os dois avançaram para os degraus e num minuto estavam em frente à porta da sala da Diretora.

Ao entrarem, a sala pareceu ser menor do que Harry lembrava. Essa impressão o acompanhara todas as vezes em que entrara ali após a morte de Dumbledore. Era uma sala menor e, definitivamente, mais silenciosa sem os inúmeros instrumentos de prata que o antigo diretor mantinha sobre umas mesinhas raquíticas que também não estavam mais ali. Harry observou os quadros onde os ex-diretores da escola dormiam (ou fingiam dormir) a sono solto. A professora McGonnagal avançou eficiente para um dos quadros e chamou.

– Alvo? ... Alvo!

– Hã? Ah! Sim, minha cara Minerva – Dumbledore ajeitou-se em sua poltrona e curvou-se solícito para frente – Em que posso ajudá-la?

– Temos um problema, Alvo! E dos grandes. Harry Potter – falou apontando para o rapaz atrás dela e Dumbledore sorriu – precisa lhe fazer umas perguntas eu gostaria que você respondesse o que pudesse.

– Mas é claro! Como vai, Harry? – Saudou encantado.

– Hã... Bem, professor! – Para Harry falar com Dumbledore daquele jeito ainda era muito estranho.

– Em que eu posso lhe ser útil, meu rapaz? – A voz do quadro tinha o mesmo calor e carinho que Harry lembrava ouvir o velho professor usar quando se dirigia a ele.

– Professor... – Harry não sabia exatamente por onde começar, então preferiu ser direto – o senhor derrotou o bruxo das Trevas Grindelwald, não é?

– Sim, Harry. Isso foi há muitos anos atrás.

– Eu sei. Snape...

– Professor Snape, Harry – corrigiu calmamente Dumbledore, como sempre fazia.

– Ele não é mais meu professor – Harry respondeu seco, mas Dumbledore manteve o sorriso cordial. – Ele disse que Grindelwald queria se utilizar de um livro mágico muito poderoso. O Livro de Fausto.

– Sim, é verdade.

– Ele também disse que, após derrotá-lo, o senhor havia se apoderado do livro e o havia escondido para que não caísse em mãos erradas novamente.

Harry sentiu que os ex-diretores haviam parado de fingir que ainda dormiam nos quadros. Mesmo Fineus Nigellus com sua tradicional expressão entediada estava acordado, embora fingisse desatenção.

– Sim, foi o que aconteceu – confirmou Dumbledore.

– Eu preciso achar esse livro, professor.

Dumbledore ficou muito sério, embora ainda mantivesse a expressão bondosa. Juntou os longos dedos das mãos em frente ao corpo e seus olhos azuis claros, mesmo pintados à tinta, pareceram faiscar.

– E por que, Harry? Por que você precisa encontrar esse livro?

– Porque alguém esta querendo trazer Voldemort de volta, professor. E Snape me disse que esse livro pode conter fórmulas e rituais mágicos que podem tornar isso possível.

Os ex-diretores mexeram-se desconfortavelmente em suas cadeiras.

– Isso é impossível – murmurou Armando Dippet.

– Ridículo! – Resmungou o Fineus.

– Não existem magias para ressuscitar os mortos – falou uma bruxa idosa de longos cachos prateados que Harry lembrava ser a diretora Dilys Derwent, que também fora curandeira.

Minerva interviu já sentada atrás de sua mesa de trabalho.

– Acha que essa informação tem procedência, Alvo?

– Infelizmente – retorquiu Dumbledore lentamente – sim, a informação procede.

Harry observou a expressão chocada dos ocupantes dos outros quadros e viu que a professora McGonnagal recostou-se na cadeira com as faces muito pálidas.

– O que tem nesse livro, professor?

– Rituais terríveis, Harry! Coisas que superam nossos maiores pesadelos e ...talvez, algum dentre eles possa sim, de uma forma igualmente terrível, trazer os mortos à vida novamente.

– Como?

– Eu... infelizmente, Harry, não posso lhe dizer.

Harry compreendeu. O quadro, afinal, não era Dumbledore. Tinha limites.

– Mas o senhor crê que este livro continua onde o senhor o escondeu?

– Sim.

– Bem, acontece que alguém está fazendo rituais que parecem ter saído deste livro – Dumbledore arregalou os olhos. – São rituais que envolvem sangue... e crianças...

Duas ex-diretoras deram gritinhos de horror, mas Harry prosseguiu.

– Desapareceram sete crianças trouxas, sem deixar vestígios e, bom, nós achamos que eles as estão usando nos rituais.

Dumbledore que ouvira as últimas frases sem alterar a expressão, finalmente respondeu com a voz cansada.

– Sim, se parece com o que o Livro de Fausto indica.

– Mas você disse que o livro estava seguro, Alvo? – Questionou McGonnagal.

– Sim, minha cara, o original está. Mas não posso garantir que alguns dos rituais não tenham sido copiados enquanto ele esteve nas mãos de Grindelwald. Você era muito jovem na época, mas deve se lembrar do quanto ele era terrível.

Minerva concordou com a cabeça.

– Snape me sugeriu essa possibilidade, professor. Mas o único jeito de impedir quem está fazendo esses rituais, agora, é saber exatamente o que eles, acreditamos serem antigos Comensais da Morte, pretendem fazer. E por isso pensamos em conseguir o livro original.

– Entendo – falou Dumbledore.

– O senhor pode nos ajudar?

– Ah, Harry, eu faria isso com imenso prazer...

– Pode nos dizer onde está o livro? – Harry mal podia conter a ansiedade.

– Infelizmente, não.

– Mas o senhor disse...

– Disse que ajudaria com imenso prazer se pudesse – havia tristeza nos olhos azuis. – Mas veja Harry, eu mesmo construí as defesas para evitar que o livro fosse novamente parar em mãos indevidas. E você deve lembrar o quanto eu podia ser bom nisso. De fato, na posição em que me encontro, eu não poderia auxiliá-lo a superar os encantos que projetei de forma tão direta quanto é a minha e a sua vontade.

Harry sentiu o chão sumir sob seus pés. Estava tão próximo e ao mesmo tempo tão longe. Ele entendia Dumbledore perfeitamente. Tinha certeza que o grande bruxo fizera tais proteções pensando no melhor para todos. Mas, agora, elas constituíam uma enorme pedra no seu caminho. Ele cambaleou uns passos para trás e sentou numa cadeira. Afinal, como ele poderia alcançar as informações de que precisava? Que tipo de mágica teria de romper ou enfrentar para obter as pistas que poderiam ajudá-lo? Afundou a cabeça entre as mãos. Precisava pensar.

– Alvo – a voz de Minerva lhe pareceu quase suplicante – é Harry Potter que está aqui. Você, melhor do que ninguém, sabe o valor dele. Nós vimos esse menino crescer e se tornar o homem que ele é. Será que não há nada que possa nos dizer? O rapaz está desesperado.

Harry ergueu os olhos agradecido pela tentativa da professora. Dumbledore, no entanto, parecia observá-lo atentamente através dos óclinhos de meia-lua.

– O que, além de um possível retorno de Voldemort, o atormenta Harry? Há algo que você não me contou?

Harry respirou fundo. Detestava repetir aquela parte da história, mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria de contá-la a Dumbledore.

– O senhor lembra quando há 27 anos atrás ficou sabendo que um bebê corria perigo? Que Voldemort estava caçando uma família inteira por causa de uma profecia que dizia ser este bebê o único com poder de derrotá-lo? – Sem que planejasse, sua voz continha bem mais raiva do que ele queria. Dumbledore assentiu. – Está acontecendo de novo, professor. Há novamente um bebê em perigo, só que dessa vez nós não sabemos como nem por quê. Mas sabemos... temos quase certeza de que querem trazer Voldemort de volta e que planejam fazer algum tipo de mal a esse bebê.

– Isso é realmente grave – Dumbledore estava tão inclinado para frente que parecia querer sair do quadro. – E vocês sabem quem é o bebê? – O rapaz assentiu. – De que bebê nós estamos falando, Harry?

Uma imensa bola na garganta quase impediu Harry de falar e quando sua voz finalmente saiu, ela estava esquisita e estrangulada. Ele mesmo quase não a reconheceu.

– Do meu, professor. Estamos falando do meu filho. Novamente... é a minha família que está em perigo.

Deu para sentir que os quadros haviam ficado rígidos. Quase se poderia confundi-los com quadros trouxas. Se fossem pessoas, se poderia dizer que haviam parado de respirar.

– Isso... – começou Dumbledore rouco – é terrível, Harry. Eu... eu sinto muitíssimo!

– Então me ajude, professor – foi a vez do rapaz suplicar.

– Ah, Harry, eu realmente queria, mas para isso, você precisaria romper o feitiço.

– Que feitiço? – Harry ergueu-se da cadeira de um salto. – Que feitiço eu precisaria romper?

– Somente aí eu poderia ajudá-lo – prosseguiu o velho professor. – Entenda, provavelmente essa foi uma das magias mais complexas que realizei em toda a minha vida. O que, cá para nós não é pouca coisa. Mas você só poderá alcançar a minha ajuda se conseguir quebrar o encanto que conjurei.

– Só me dê uma pista, professor. Uma pista do que eu devo fazer.

Harry teve certeza que Dumbledore estava transformando sua face preocupada em um sorriso cheio de significados.

– Tudo o que tem que fazer, meu caro rapaz, é buscar o desejo mais profundo e desesperado de seu coração.

Harry abriu a boca para perguntar, mas alguma coisa lhe disse que a pista estava dada. Olhou para a professora McGonnagal, mas ela também parecia não ter compreendido. Dumbledore, no entanto, o olhava sobre os óculos com uma expressão que parecia dizer que ele tinha certeza que Harry sabia a resposta. O rapaz repetiu as palavras mentalmente: “... buscar o desejo mais profundo... mais desesperado... o desejo...”. O rosto de Harry Potter iluminou-se num entendimento e Dumbledore sorriu largamente.

– Professora – disse voltando-se para McGonnagal – a senhora sabe me dizer se o Espelho de Ojesed continua no mesmo lugar em que vocês o colocaram há 15 anos atrás?




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N/A: OI GENTE! DESCULPEM A DEMORA, MAS ESTA DENTRO DO PRAZO DE DUAS SEMANAS Q FALEI. PARA QUEM ESTA GOSTANDO, A NOTICIA E QUE ACHO Q AGORA VOU PODER VOLTAR A ATUALIZAR UMA VEZ POR SEMANA. DESSA VEZ NAO VOU PODER FAZER OS AGRADECIMENTOS PASSOAIS, MAS DE QUALQUER FORMA SAIBAM Q TENHO AMADO OS COMENTARIOS, PRINCIPALMENTE QUANDO ELES SAO QUASE UMAS RESENHAS, HEHEHE (A CARLINE TER DITO Q VOLTOU AO PRIMEIRO LIVRO APOS TER LIDO SOBRE A NOVA TURMINHA ME DEIXOU FLUTUANDO DE ALEGRIA).
OBRIGADO PARA TODO MUNDO QUE TEM LIDO, COMENTADO E VOTADO (ESTOU NO CEU COM OS MEUS VOTOS).
VALEU MESMO! E CONTINUEM, OK? ISSO ME FAZ PROSSEGUIR ESCREVENDO.
ENTÃO: COMENNNTEEEEEMMMM!!!!!!!!

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