A História, a Tentação, a Mort



Capítulo Trinta e Um
A História, a Tentação, a Morte



Nada em mente. Era como um grande vazio ficasse não só na minha cabeça mas também na minha consciência e no meu estômago. Ainda as lágrimas caiam involuntariamente, não conseguia me conter. Havia uma imagem na minha cabeça, como se fosse uma foto, como se fosse um trailer de muito mau gosto: David ali, esticado naquele chão exalando morte.

Como eu poderia imaginar?! Você acorda, faz tudo de mais normal que tem que fazer e recebe a notícia que um corpo foi encontrado nos corredores de Hogwarts. E parece que a culpada por tudo isso fui eu, eu que levei essa merda de colar para dentro da escola, fui eu que dei uma de enxerida e comecei a procurar mais sobre seu passado. A culpa integralmente era minha. Mesmo não sabendo as reais causas da morte de David, só sabia que o instrumento que causou tudo isso, era meu.

As paredes dos corredores já tinham se tornado monocromáticas, olhava Tonks, que me conduzia pelo braço esquerdo, e também só tinha uma cor. Contentava-me em ficar repetindo seu nome várias vezes, em sussurros inaudíveis. Só sentia o vento, seus dedos em meu braço para que eu não caia e uma dor aqui dentro.

Meu rosto pálido, suado e gelado, meus olhos no fundo e vermelhos de tanto chorar e aquela expressão de nunca mais querer sorrir novamente. Não olhava por onde estávamos indo, se me levasse para um circo, não dava a mínima.

Ao entrarmos, ela me levou até uma das carteiras dos alunos e correu até a porta para trancá-la. Acendeu algumas das tochas e, finalmente, reconheci a sala de feitiços. Parei de balbuciar seu nome e fiquei estática, olhando fixamente para o chão.

- Não- - Solucei, deixei mais lágrimas caírem. – não posso acreditar... - Pés suspensos, mãos jogadas sobre as coxas e uma expressão cansada tomando meu rosto ainda molhado com as lágrimas.

Tonks pensava três mil vezes antes de dizer qualquer coisa para mim, não é a toa que para dizer uma frase, começou e parou cinco vezes. Ela também estava abalada, ela também se sentia culpada, mesmo que seja menos do que eu.

- Você já viu o que fez isso, não é? – Cruzou seus braços parando a minha frente.

Como não saber? Ele estava vivo de manhã, vivo. E agora, está sendo levado numa maca com seu corpo coberto por um lençol branco. Como essas coisas podem acontecer?

- Hermione, nós nunca poderíamos imaginar que isso poderia acontecer! – Começou a dizer pegando nas minhas duas mãos.

Nessas horas, a gente quer mais que o mundo acabe, que nos afunde e que nos leve junto com ele. Não queria mais ter que encarar nenhuma pessoa dali.

A repercussão por toda a escola será devastadora. Alunos do primeiro e segundo ano sendo recolhidos pelos seus pais, alunos veteranos com medo e acusando um ao outro desse acontecimento. Amigos irão tentar fazer homenagens e revolucionar aquela escola... Quase tudo em vão.

- David não tem nada a ver com isso! Ele nem deve saber o que é esse pingente e se ele existia, mas- - Olhou preocupada para mim. Eu ainda encarava o chão e não conseguia dizer uma palavra se quer. – Hermione,- - Ergui minha cabeça e meu olhar lentamente, olhando a expressão que mudara o rosto de Tonks.

De séria, para preocupada, de preocupada para ansiosa e nervosa. Seu cabelo mudou para preto no mesmo instante. Queria que parasse de falar e me deixasse um minuto só, um minuto, mas nada, em paz.

- Você não usou esse colar, não é? – Uma gota de suor frio escorreu pela minha nuca.

Abaixei meu olhar novamente, encarei agora, meus próprios dedos, também gelados como meu rosto. Procurava um ponto para olhar mas estava difícil encontrar. Tonks abaixou sua cabeça e depois meneou respirando fundo.

- Você usou. – Soltou vencida e desacreditada. – Como você pode fazer uma coisa dessas?! – Pegou nos meus braços. – Eu acho que você tem a consciência que isso foi-

- O QUE MATOU MEUS PAIS, MAS EU NÃO RESISTI, TONKS! NÃO RESISTI! – Esbravejei deixando a moça assustada. Soltei-me de seus braços e desci da cadeira cruzando os braços.

Ela ficou no mesmo lugar, apenas virou seu corpo para mim. Eu ainda continuava a de costas e querendo mais que ela saísse de lá. Era verdade, eu não resisti, queria experimentar se era isso mesmo que eu tinha lido, se ele ia mesmo me ajudar. Ajudou tanto que acabou com a vida de uma pessoa inocente.

- Você- - Voltou a dizer depois de quase um minuto em silêncio. - Hermione, você usou enquanto estava com ele?

Agora, tudo fazia sentido. Meus olhos cresceram e senti minha cabeça latejar. Um flash-back passou pela minha cabeça, mais algumas imagens do colar, tudo que aprendi sobre ele e depois, David esticado naquele chão. A história, a tentação, a morte.

Como de aluna aplicada e estudiosa, eu virei uma assassina?

- Você entende agora? – Perguntou dando alguns passos na minha direção.

Entender? Lógico que sim, não só entendo como tenho até argumentos contra. Isso é o resultado quando você sabe de mais de um assunto. Mas ficar argumentando não me trará David de volta. Nessas horas, eu imaginava de Dumbledore estaria fazendo uma analise comigo, não Tonks. Uma mulher de vinte e três anos de idade, com um espírito de mais de trinta, que age como uma de dezessete.

Dumbledore. Quando Dumbledore chegar, se prepare para ficar horas sentada ouvindo tudo. Snape deve estar p. da vida. Isso tudo aconteceu enquanto ele estava no poder, Dumbledore nunca mais lhe dará a guarda e a diretoria da escola.

Tudo bem, farra e festas é parte da nossa vida, mas uma morte, e ainda de um dos alunos, Dumbledore nem o ministério, nem os pais, irão aceitar isso.

- A culpa é minha. – Soltei num sussurro, acho que ela nem ouvia. Apenas meneava com a cabeça, me olhava cruzando os braços e apoiando o queixo numa das mãos. – A culpa é minha, a culpa é minha, só minha... – Virei para ela.

- Não, não é sua. – Momentos em que o sangue sobe, só eu sei como é terrível.

- LOGICO QUE É! – Gritei erguendo meu olhar. – SE EU NÃO TIVESSE USADO AQUELE COLAR DESGRAÇADO, ELE ESTARIA VIVO! – Me pus a chorar novamente só que com mais vigor e desespero. Senti como se a minha cabeça tombasse para frente e sentisse abrigo num dos seus abraços.

- Hermione, você não tem culpa, você não é a culpada e eu mato quem disser isso. – Disse numa voz de choro ainda me abraçando.

Eu estava me sentindo tão desamparara que queria ficar ali por um bom tempo, mas a porta se abriu mesmo estando trancada. Snape entrou na sala seguido por Lupin. Ele correu até nós e nos separou me pegando pela gola do meu casaco.

- Se você tiver alguma coisa-

- Solta ela, agora. – Tonks sacara a varinha e pressionada contra seu pescoço.

Eu não entendia nada. Olhava aterrorizada para aquela cena, os olhos de puro ódio de Snape, a raiva de Tonks e a falta de expressão descritível de Lupin. Ele pediu calma, mas Tonks só abaixou a varinha quando ele me soltou ficando um pouco distante.

- Ela sabe o que aconteceu aqui! Eu tenho certeza disso! – Apontou para mim esbravejando para Tonks.

- E o que você teria a ver com isso, Snape? – Perguntou num tom irônico mas desprezível.

- Eu faço parte da Ordem, Ninfadora, eu acho bom você começar a me contar toda essa palhaçada. – Tonks queria avançar no pescoço de Snape mas Lupin a segurou.

- Por favor, esse não é um momento para brigas! – Pediu o homem depois que Tonks se acalmou.

- Deixa a Hermione em paz, não está vendo que ela é a mais abalada aqui? – Deixei mais lágrimas caírem. – O namorado dela morreu, Snape, abra um pouco os olhos! – Não ia questionar.

- Isso mesmo, Severo, é melhor deixá-la um pouco sozinha, ela não-

- Esperem. – Soltei para o espanto de todos. Calaram-se no mesmo momento, eu queria ser ouvida, não eram de mim que estavam falando? Eu tenho minha parcela nisso. – Em primeiro lugar, se eu soubesse alguma coisa, eu já tinha contado ao Dumbledore, não a você. – Tonks sussurrou para eu parasse mas eu não ia parar. – Eu não confiaria nem uma pena a você, Snape.

- Não peço a confiança de ninguém. – Soltou num tom ameaçador.

- E o que você irá fazer com a escola? Alunos no primeiro ano estão aterrorizados! – Apontei para fora. – Aliás, a escola inteira está. Você acha que será fácil apagar essa mancha? Um garoto morreu nos corredores sem nenhum motivo, não serei eu a levar a culpa.

Era mentira, eu sei, mas eu não ia perder essa oportunidade de deixar os pratos bem limpos nessa história.

- Você não tem nada a ver com isso, Granger.

- Que bom, porque eu não desejaria estar na sua pele.

Snape me encarou e deu um passo para frente.

- Já chega! – Gritou Lupin fazendo nós dois olharmos para ele. – Dumbledore já deve ter recebido a noticia, vamos esperar a resposta, vamos para a sala dele, e você, Tonks, fica com a Hermione até que- - Suspirou e jogou um olhar significativo para a moça que já tinha entendido.

Snape e Lupin saíram da sala e deixaram a porta entreaberta.

- Aquela não era a melhor hora para você enfrentar Snape.

- Nunca é a melhor hora para enfrentá-lo.

O silêncio tomou conta mais uma vez da sala. Estávamos lá quase uma hora.

- Já sabe o que tem que fazer, não é? – Concordei lentamente com a cabeça ainda com meus olhos mirados no chão. – Quanto mais cedo pegar aquilo, melhor.

- Como você pode pensar numa coisa dessas agora? – Soltei indignada.

- E você acha que todos ficarão pensando em David pelo resto de suas vidas? Aposto mil galeões que amanhã, ninguém mais tocará no assunto.

- Lógico, Snape dará seu jeito. – Me sentei novamente na mesa e apoiei minhas mãos na mesma.

- Como você-

- Ele sempre pensa, Tonks, ele pensa sempre um passo a frente de todos.

Isso era verdade.

- Dumbledore, provavelmente, chegará depois de amanhã. A diretoria está abalada com tudo que aconteceu, independente disso, você tem-

- Um dia.

- Isso, um dia para pegar aquele colar. – Engoli seco melhorando meus pensamentos.

David não predominava mais, tinha outros pensamentos, muito piores em mente, coisas que duvidaria que eu podia pensar um dia. Ainda tinha meu planto, poderia dar certo.

Não só poderia, tinha que dar certo. Eu estava disposta a pegar aquilo antes que sobre para mim. Agora, eu poderia ser acusada até pela morte de David. Quanto aos pais de David, iam chegar na escola pela manhã e Fibby não continuaria na escola. Até o jantar, muita coisa pode acontecer.

Eram quase seis da tarde quando Tonks mandou que eu fosse para a Sala Comunal da Grifinória e não pegasse nenhum atalho, dizendo que estava de olho em mim. Fui em passos calmos, com poucas coisas em mente. As mãos enfiadas nos bolsos e aquela expressão de choro.

Incrível como ninguém perambulava pelos corredores, até aqueles mais aventureiros. Aventureiros que, nessas situações, se tornam os mais covardes.

Quero que um dia você me perdoe, David.

***

No jantar, um grande clima tenso. Ninguém comia direito, ninguém conseguia falar. Muitas pessoas chorando, algumas se perguntando porquê de estarem ali e não nas suas camas. Snape tinha passado o pedido para todos os monitores e estes ficaram encarregados de avisarem a todos que a participação no jantar, era indispensável.

Como todos sabiam que Snape não é o dono dos discursos, o professor Slughorn tomou a frente. Ao final do discurso de dez minutos, pediu que todos erguessem os seus copos e fizessem um brinde ao grande amigo que David Scott foi. Ao final, todos seguiram Slughorn dando goles grandes. Eu não vou beber isso, pode ter alguma poção de alteração de memória naquele colo.

Eu fingi beber de olho naquela serpente sentada na sua cadeira com seus olhos mirados em todos. De repente, o clima mudou completamente. Alguns se perguntavam o que estavam fazendo ali, o que tinha acontecido e como já era de noite.

Estava certa, engoli seco quando todos começaram a me perguntar, eu também fingi ficando em silêncio, apenas concordando com as maluquices de cada um.

Era duro lembrar de David e era duro ver que todos seus amigos, lhe esqueceram.

***

Tinha um dia. Tinha um dia, um dia contado.

Frase que ficava em minha mente enquanto eu subi as escadas do meu dormitório. Passei a mão na nuca em sinal de cansaço, aquele foi um dos piores dias da minha vida. Encostei a maçaneta e ouvi meu nome num sussurro numa voz grossa. Logo uma mão passou em volta da minha cintura, abriu a porta e me jogou lá dentro. Draco e seu jeitinho agradável de chegar.

Já começou a me dar beijos no pescoço, na minha boca. Mordiscava minha orelha e começava a tirar toda aquela minha roupa. Eu tentava me conter, não passando a mão em seu cabelo, alisando suas costas e não correspondendo seus beijos, mas algo era bem mais forte que eu.

- Dra- – Ia pedir para parar, mas me deu um beijo tão profundo que pensei que poderia quebrar meu maxilar. – Draco! – pedi num suspiro que deu. Olhou para mim um pouco confuso. – Calma, vai com calma, OK? – Ele se separou dando um leve beijo em mim e me puxou para a cama. – Sabe, Draco – deitou-se em cima de mim e começou a beijar meu pescoço. – não é uma boa-

- O que há, Hermione? Está fazendo doce agora? – Tentava lhe empurrar pelos ombros mas nada feito.

- Não estou fazendo doce, é que minha cabeça não está- – ainda insistia em me beijar. O empurrei, desta vez com força e olhei confusa em seus olhos. – Você não tinha alguma coisa pra me falar?

- Pra falar pra você? Não, por que?

- Lembra que você me parou na escada e-

- Quando isso? Hoje? – Concordei. – Mas hoje eu nem te vi. – Virei os olhos me lembrando do pequeno detalhe da poção. Para vocês verem como estou longe.

- Esqueça.
– Voltei a beijá-lo.

***

Eram quase duas da manhã quando consegui ter um leve cochilo. Nele, um dos piores pesadelos da minha vida.

Corria pela floresta proibida numa linha só, olhava constantes vezes para trás para ver se não estava sendo seguida. Tropeçava em quase tudo, tinha cortes profundos, arranhões, perturbações parecendo ser uma esquizofrênica. Ao longe, podia avistar a cabana de Hagrid, mas quanto mais corria, mais se distanciava. Era angustiante. Uma voz dizendo que queria vingança estava sob minha cabeça, me deixando atordoada. O pesadelo em si foi horrível, acordei com lágrimas escorrendo dos olhos. Devia ter tomado aquela maldita poção.

Saltei da cama tirando as cobertas de cima de mim. Arrumei as alças da minha camisola curta de mais. Peguei meu sobretudo do uniforme e o coloquei, indo a porta. Não queria ficar naquele quarto.

Incrível como ninguém mais lembra que um aluno morreu naqueles corredores na tarde passada. Se essa informação vazar, será um caos total. Pessoas irão ficar totalmente loucas. Era melhor nem pensar. Desci as escadas da torre cruzando os braços com o frio que estava fazendo. Meus pés descalços que sentiam aquele chão totalmente gelado.

Só tinha um lugar onde eu poderia colocar a cabeça no lugar. Aos olhares atentos para ver se Filth ou qualquer outra pessoa me encontrasse, fui até a Sala Comunal da Grifinória. Disse a senha e com reclamações da Mulher Gorda, passei para dentro.

Apenas o barulho da crepitação da lareira invadia o silêncio. Esperava estar sozinha, mas não estava. Tinha uma cabeça por detrás daquele sofá. Não queria ficar com alguém ali dividindo meus balões de pensamentos.

Dei as costas mas parei ao ouvir meu nome e aquela perguntinha original: o que está fazendo por aqui? Ao me virar, reconheci Harry. Olhei para os dedos que se mexiam lentamente e abri um leve sorriso.

- Pense que estaria dormindo como qualquer outra pessoa normal. – Soltei cruzando os braços e fechando meu sobretudo. Voltou a se sentar quase ignorando minha presença. – Você sabe que esse é o meu lugar de espairecer.

- O meu também. – Seus olhos mirados fixamente na lareira.

Dei pequenos passos até o sofá, até me sentar no encosto, um pouco longe dele. Ao seu lado, o Profeta Diário de ontem, com uma foto de Dumbledore na capa e as palavras "MINISTÉRIO EM CRISE; ALVO DUMBLEDORE INTERFERE".

- E precisa espairecer por que? – Mirou seu olhar no meu e negou lentamente com a cabeça respirando fundo.

- Você não tomou o suco. – Harry era mais esperto do que eu podia imaginar.

- Como sabe?

- Você está arrasada, Hermione, qualquer um poderia ver isso. – Engoli seco e cruzei os braços.

- Ainda me surpreendo com você, sabia? – Estava tentando quebrar aquele gelo.

- Eu também não tomei aquela poção, Hermione. – Fiquei levemente séria. – Moody pediu para não tomar.

- Fui pelo instinto, eu sabia, eu tinha certeza que Snape faria uma coisa dessas.

- Ele também me contou que você- - Ficou um minuto em silêncio. – afrontou o Snape, é verdade? – Dei uma pequena risada forçada.

- Ele merecia ouvir algumas verdades.

- E que ele já te acusando, por que?

Escorrei para o sofá e agarrei as pernas.

- Snape é assim, bota a culpa no primeiro que vê. – Disse firmemente mentindo para aquele que eu menos poderia mentir. Cadê a confiança?

Harry ficou em silêncio, olhou mais uma vez para a lareira e depois para mim.

- Moody não me disse o porquê, disse que não era para eu chegar perto daquele copo, e também disse que era melhor eu não saber os motivos. – Voltou a encarar o fogo.

- Que motivos?

- Da morte dele. – Suspirou. – Mas não pode ter sido Voldemort, eu não tenho sonhos, eu não sinto sua presença por perto há um tempo.

- Mas não é ele mesmo... – Disse para mim mesma mas ele escutou.

- Como você sabe que não é ele? – O olhei em alerta.

- Por você, você acabou de me dizer. – Quase gaguejei. – Irá querer saber de tudo?

- E o que eu tenho a ver com isso? – Disse aborrecido. – Pela primeira vez, eu não tenho nada a ver com algo que acontece nessa escola. – Houve um silêncio. – Antes de todos esquecerem, estavam insinuando que ele poderia ter morrido de overdose.

- Overdose? – Perguntei arregalando os olhos.

- Overdose a Pó de Dragão, como aquilo que você- – Soltei um suspiro de desaprovação e meneei com a cabeça.

- Inventam cada coisa...

- O que você foi fazer quando saiu daqui? Antes de todo mundo voltar para suas casas? – Assunto sendo completamente mudado para mim.

- O que você acha...? – Apertei as pernas contra no peito, cruzando os dedos lá do outro lado.

- Você viu? – Aquela cena invadiu minha cabeça, aquelas imagens de todos os anglos passavam como um filme doloroso e demorado.

David pálido, sem vida, perdendo sangue por todos os lados, na sua mão imóvel aquele colar desgraçado. Fechei os olhos lentamente olhando para o outro lado.

- Vi. – Harry achava que eu nem tinha passado por lá perto, me olhou com os olhos arregalados que foram se acalmando aos pouco. – Vê-lo esticado lá no chão. – Voltei a fechar os olhos e depois a encarar a lareira. – E pensar que um dia ele disse que me amava... – Deixei uma lágrima escorrer involuntariamente. Enxuguei com a ponta de meu dedo e voltei a apertar minhas pernas dobradas contra o peito.

- Pessoas não- – Hesitou em continuar – morrem de uma hora pra outra. – Olhei para outro lugar que fosse onde Harry pudesse ver as minhas lágrimas que caiam sem pedir permissão. – Tem alguma coisa a ver com Voldemort, não é possível.

- Não tem nada a ver com ele! – Quase gritei. A resposta foi imediata. Meu rosto virou-se para ele que me olhava tentando descobrir meus piores segredos. – Tira essa obsessão idiota da cabeça. Nem tudo que acontece nessa merda de mundo é culpa dele. – Estava num tom agressivo, mas não impedia que as lágrimas rolassem.

- Você sabe de alguma coisa? – Depois de ter quase contado aos gritos, era impossível esconder que sabia quase toda a história. Mirei meu olhar no chão e neguei com a cabeça comprimindo os lábios. – Hermione, eu sei que você sabe. Será muito melhor se você me contar. – Tinha se levantado. Andava de um lado para o outro, um pouco atordoado, sei lá. – Pra que ficar escondendo? Eu não vou ficar sabendo de um jeito ou outro?!

Estava perdendo a paciência. Eu apenas negava com a cabeça ainda apertando os lábios, impedindo de chorar.

– Se você não me contar-

Pegou em meus ombros, me sacudiu, desceu para meus braços e os apertou. Eu o olhei completamente assustada, nunca tinha visto tamanha raiva estampada no rosto de Harry tão perto. Deixei mais lágrimas rolarem e aos poucos ele me soltou e tombou a cabeça para baixo. Tinha culpa por estar aterrorizada?! Tinha que descontar em mim?

- Me desculpe... – Soltou fracamente. – Me desculpe. – Soltou mais algumas vezes pegando na minha nuca e me trazendo para abraço. Estava totalmente sem reação. Agachou-se a minha frente e pediu mais algumas desculpas. – Eu sei como está sendo difícil pra você encarar uma morte assim, do nada.

Aquela mesma sensação que senti no funeral dos meus pais, voltou a tomar conta do meu peito. Senti-me necessitada de atenção, de carinho e tudo que eles me davam sem eu pedir.

Harry pensa que eu não sei lidar com essas situações, mas está completamente enganado.

***

Entrei no quarto lentamente. Minha mão caiu ao abrir a porta, estava tão cansada que meus olhos não conseguiam ficar abertos por muito tempo. Tinha os olhos um pouco inchados, uma expressão corrosiva. Amanhã era sábado. Não poderia esquecer daquele plano maldito. Logo de manhã tinha que agir. De manhã. Fechei a porta com o pé e cai em cima da cama fechando os olhos e não vendo mais nada.

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