O orfanato




26 – O orfanato

O dia que seguiu à noite do dia das Bruxas foi recheado de lembranças do professor Dumbledore. Eles não se cansavam de conversar sobre o antigo diretor, era um alimento para a alma recordar-se dele. Relembravam cada fala, cada piadinha, cada sorriso. A alegria pelo quadro ter “acordado” tinha renovado os ânimos na Sede e espantado a depressão que havia tomado conta dos rostos antes tão risonhos dos garotos. Agora eles se mostravam mais descontraídos. Tá certo que o fato de poderem sair para o jardim ajudava muito.

A tarde estava tão fria como a do dia anterior, os garotos mesmo assim aproveitaram para ficar esparramados no que sobrava da grama do jardim, em volta das chamas azuis que Hermione era craque em conjurar. Divertiam-se jogando enquanto as garotas conversavam sobre o quanto era chato estar longe de Hogwarts, que sentiam falta das atividades, até das aulas. Luna quis saber o que eles faziam enquanto estavam na Sede, já que realmente não se tinha muito para fazer. Mas Hermione com muita habilidade mudou de tal maneira o rumo da conversa que a amiga esqueceu por completo a pergunta que havia feito.

À noite Olho-Tonto levou Luna para a casa do pai, prometendo que assim que fosse possível ele a buscaria novamente para passar mais alguns dias em companhia dos amigos na Sede.

3 de novembro

O sol apareceu pálido depois de dias nublados, trazendo um pouco de calor para a vida dos moradores da Sede. Ele não era tão excepcional assim, mas era uma alegria vê-lo novamente. O inverno não tardaria a chegar e com certeza traria junto muita neve, como sempre. Aí sim, ficaria um bom tempo sem o céu claro com o sol brilhando.

No final da tarde Alastor chegou com novidades do Ministério. O Ministro havia posto em prática a sugestão de “Harry” e até já formara algumas turmas de bruxos que se mostraram interessados nos treinamentos que seriam dados pelos aurores. Alguns alunos de Hogwarts faziam parte das turmas e saíam-se muito bem. Alguns deles tinham feito parte da AD, mas não comentavam nada com ninguém.

Moody contou aos garotos sobre os raros ataques que aconteceram durante o mês. Nada que valesse a pena ser comentado. Eram brincadeiras e nada sério foi registrado, porém achou melhor que ficassem sabendo de uma vez, além do mais cedo ou mais tarde eles saberiam de qualquer forma.

-Professor, o senhor não acha, depois de tudo que Voldemort aprontou nesses últimos meses, que ele está quieto demais? Fred comentou que no Beco Diagonal as lojas estão trabalhando quase normalmente e que não tem acontecido nada excepcional.

-Já pensei nisso, Harry. Mas não sei o que dizer da situação.

Com a ida de Luna, os garotos voltaram a conversar sobre os planos que tinham sido deixados de lado durante no pacato mês de outubro.

Harry, na hora do jantar, informou a todos que naquela semana iriam ao orfanato onde Tom Riddle fora criado e que iriam só os cinco amigos. Arthur e Molly não gostaram nada da notícia. Lupin se opôs fortemente, dizendo que todos deveriam ir, que poderia ser perigoso e etc. Olho-Tonto estava literalmente contra a aventura dos garotos e pronunciou sua contrariedade explicitamente.

-Não gosto da idéia de vocês irem nessa aventura sozinhos. E que isso fique bem claro. Mas vou concordar se deixarem pelo menos Tonks, ou Quim, ou qualquer outro membro da Ordem ir com vocês. Vocês escolhem quem e disso, Harry, eu não abro mão. Ou é assim ou vocês não vão. É simples... É mais seguro. – Falou, olhando fixamente para o garoto, mostrando que ele também tinha determinação.

-Vamos sozinhos. Nós cinco e vai ficar tudo bem. – Teimou Harry.

-Vocês sozinhos não vão, Harry. Entenda de uma vez por todas. – Informou Moody mais determinado que nunca.

-Harry. Professor Moody tem razão. Só um membro da Ordem, vai? Deixe pelo menos Tonks ir conosco. – Interferiu Gina, colocando a mão no braço dele.

Harry olhou para Gina de testa franzida. Ponderou um pouco. Será que Gina e o professor Moody estavam com razão? Como um relâmpago, as palavras de Dumbledore, naquele sonho que tivera no verão, vieram à mente.

-Harry?

-Tá. Então Tonks vai com a gente. Mas só ela, ok?

-Gina não vai. – Disse a mãe da menina, encarando profundamente a filha.

-De novo, mãe? A senhora quer parar com isso? Vou de qualquer jeito. Não sou adulta, mas também não sou criança. Sei me defender muito bem. A senhora já me viu atacando, defendendo e ajudando na execução dos planos, não?

Gina estava firmemente decidida a ir, e não abriria mão disso. Molly conhecia bem demais a personalidade de Gina e ela não era fácil de ser controlada.

-Claro que vi! Sei que você sabe se defender, mas quero que você fique aqui em segurança, bem debaixo dos meus olhos. Entendeu? Além disso, nem sei onde é o lugar que você vai.

-Eu vou e ponto final. – Disse Gina decidida.

-Harry, por que você não quer que vamos junto, posso saber? – Perguntou Remo, inconformado.

-Porque não quero uma excursão. Quero tudo muito natural. Muita gente se deslocando, ainda mais para perto do antigo orfanato, pode dar muito na cara.

-E quando vocês vão?

-Esta semana. Vamos de madrugada e voltamos no começo da noite. Não precisamos de muito tempo. Mas antes temos algumas coisas a fazer.

Depois de se livrarem das reclamações, começaram a fazer os planos ali mesmo, na mesa da cozinha na frente de todos. Não estavam preocupados em se organizarem em segredo. Era até bom que todos ficassem sabendo dos procedimentos.

-Hermione? Você pode investigar um local em Londres mais perto possível da rua Vauxhall onde podemos chegar sem levantar suspeitas? – Perguntou Harry.

-Claro, mas preciso de um mapa, sem ele nada feito.

-Conjure um.

-Não dá, Harry. Não conheço Londres inteira, o mapa ficaria incompleto. Para se conjurar alguma coisa há necessidade de se conhecer o objeto, ainda não sabemos conjurar direito, não tivemos todas as aulas. Além disso, são duas etapas, o mapa e depois o guia.

-Por que?

-O mapa para localizar a rua e o guia para podermos chegar a ela.

-Não estamos em Londres? – Perguntou Neville.

-Não sabemos onde estamos, não é mesmo? Mas com esse frio todo que está fazendo, acho que estamos na Sibéria. – Respondeu Lupin, brincalhão.

-Bom, o jeito é irmos ao Beco Diagonal para comprarmos um, não?

-Mas lá vende mapa e guia trouxa? – Perguntou Hermione.

-Vende um mapa muito útil, Hermione, você não vai precisar de guia nenhum. É só você pedir para que o mapa te mostre o local onde deseja ir, e uma linha vermelha marca o local. É assim com ruas, restaurantes, hotéis, etc. Mas infelizmente não mostra o metrô. É... – Disse Lupin, coçando a cabeça. – Acho que vai mesmo precisar de um guia, ou do joelho esquerdo de Dumbledore.

Os garotos deram risadas da sugestão de Lupin.

-Não tem problema, depois dou um jeito. – Completou Hermione risonha.

-Remo, você pode ir ao Beco Diagonal conosco amanhã?

-Posso.

-Bom... Precisamos comprar um mapa de Londres. E vamos aproveitar para sair um pouco de casa e tomar um sorvete. Tô cansado de ficar trancafiado. – Disse Harry feliz, já pensando no passeio que faria no dia seguinte.

-Tomar sorvete com esse frio? Vocês estão ficando loucos ou querendo que Madame Pomfrey volte para cá, isso sim! Onde já se viu tomar sorvete com esse frio? – Reclamou Molly com o desejo expressado por Harry.

-Tá, mamãe. Já chega. Não vamos tomar sorvete, pronto. Tá satisfeita? – Disse Rony.

-Não dá para ficar muito tempo pelo Beco, vocês sabem disso.

-É, fazer o que, né? Sabe de uma coisa, Remo? Não vejo a hora que tudo isso termine. Tô com saudades da escola e de andar livre por aí.

As lojas do Beco Diagonal abriam às sete horas, então os garotos fizeram questão de sair bem cedo para poder aproveitar o máximo possível ao ar livre. Estavam felizes por poderem sair de casa um pouco, depois de dias trancados dentro da Sede. E até que eles eram obedientes, quase não reclamavam. A prudência era essencial.

Aproveitaram à beça visita ao Beco. Hermione e Gina correram até a loja Floreios & Borrões para comprar o mapa. Mas também queriam comprar outros livros, porém sabiam que não tinham muito tempo para ficar folheando os livros à vontade e nem se inteirando das novidades literárias.

Harry, Rony e Neville foram até a loja Artigos para Quadribol. Enquanto Rony e Neville babavam com as novidades da vitrine, Harry foi até o balcão com Remo. Depois foram até a loja dos gêmeos e deram boas risadas com as novidades que eles inventavam a cada dia. Era visível o movimento na loja deles, muito maior que o restante das outras lojas.

Naquela manhã Neville acordara com dor de barriga e Molly não queria deixar que fosse junto com os outros ao Beco Diagonal de jeito nenhum.

-Você fica em casa. Não está bom ainda para ficar sassaricando por aí. Quem mandou comer como um esganado? Você fica em casa.

-Mas... Mas... Eu queria tanto dar uma saída também. Estou cansado de ficar dentro de casa. – Tentou argumentar Neville, porém a senhora Weasley parecia irredutível, mas com a interferência de Harry acabou concordando em deixar o garoto sair. Na verdade Neville era um doce de garoto e merecia se divertir um pouco.

Já fazia quatro meses que tinha terminado o último trimestre letivo e a saudades de Hogwarts já estava batendo forte.

-Sabe, Harry... Estou com saudades da escola e até das aulas, acredita, cara?

-Acredito... Eu também estou, mas principalmente do quadribol. Agora, não deixa a Hermione saber disso, ou ela vai achar tarefa para a gente fazer mesmo sem ter aulas.

Riram com gosto da idéia de Harry. Eles precisavam realmente de umas horas ao ar livre.

-Então é melhor não falar nada para Mione. Não estou com vontade nenhuma de fazer tarefa. – Comentou Neville. Ele não parava de agradecer a Harry por ter conseguido convencer a senhora Weasley a deixá-lo sair.

Sentaram-se nas mesinhas sorveteria do Florean Fortescue, enquanto esperavam por Remo e as meninas. É claro que tomaram sorvetes. Harry observou que o dono do estabelecimento ainda não retornara, era a esposa dele quem estava tomando conta do estabelecimento, servindo as mesas com um ar muito triste.

Alguns minutos se passaram e Lupin retornou na companhia das meninas. Era claro que ele fora obrigado a ir buscá-las na loja Floreios & Borrões uma vez que estavam demorando demais.

-Essas duas são loucas por livros. – Disse sorrindo. – Tive que desenterrá-las de debaixo de uma montanha enorme deles. Acho que vou indicar vocês duas para darem aulas em Hogwarts quando se formarem. Minerva vai gostar. – As meninas riram da sugestão do professor.

Ficaram zanzando pelo Beco até pouco antes do almoço. Retornaram para a Sede felizes e animados. Falavam alto contando para todos o que tinham feito e visto. As novidades nas lojas eram muitas, apesar de estarem normalmente abertas, observava-se a prudência em todos os comerciantes.

Todos notaram a mudança dos jovens, estavam com as faces coradas e excitados. Tá certo que haviam crescido e que tinham responsabilidades. Mas também era certo que eles eram jovens e estavam na flor da idade e só queriam e mereciam viver em liberdade sem tantas tensões pelas quais estavam passando. Eles mereciam viver como jovens que eram.

Depois do farto almoço Hermione e Gina se debruçaram sobre o mapa. Fizeram uma infinidade de perguntas a ele e iam anotando as localizações. Estudaram todas as possibilidades possíveis. Estava difícil achar um lugar; os lugares bruxos eram muito restritos e ficavam mais ou menos perto do Caldeirão Furado, o que não resolvia o problema deles. E a rua da livraria ficava num bairro muito afastado do centro de Londres.

-Bom. Já sei aonde vamos. Cheguem aqui que vou mostrar. – Disse, abrindo o mapa marcado com linhas vermelhas na mesa da cozinha e explicando bem direitinho o plano para chegarem ao local. – Mas não é um lugar bruxo, é trouxa mesmo, e é longe de onde temos que ir.

-Quando vamos, Harry?

-Amanhã... Amanhã nós iremos. Sairemos no começo da madrugada. Vamos com pó de flu até a loja dos gêmeos e de lá para o local que Hermione localizou. Aí vamos procurar o orfanato onde ele cresceu... – Falou com o olhar longe dali. – Vamos com vassouras...

-Por que não aparatamos da loja dos gêmeos para o local que escolhemos? – Perguntou Hermione.

-Ah! Ia ser muito lindo aparecermos do nada num local não bruxo. Não, vamos com vassouras e usaremos o feitiço da desilusão. É melhor.

-Vassouras, Harry? Só se formos todos encarapitados na sua garupa, né? – Falou Neville.

O garoto sorriu. – Não, vocês vão cada um com a sua vassoura.

Saiu da cozinha e logo depois voltou com quatro pacotes compridos nos braços.

-Aqui. – Disse, jogando um pacote para cada um dos amigos.

-Uau! Harry... Ela é linda! – Exclamou Rony; o sonho dele era ter uma veloz.

Harry havia comprado quatro Firebolt, uma para cada um dos amigos. Enquanto observava os amigos abrirem os pacotes ficou observando os olhares que eles davam para as vassouras, um mais admirado que o outro. Gina correu para dar um beijo no namorado por ter ganhado tamanho presente. Sabia que ele havia gastado um bocado de galeões, mas foi sensível o suficiente para não comentar nada. Rony, depois da explosão que Harry tivera na noite do casamento, depois da festa, se limitou a dar um forte abraço no amigo, assim como fez Hermione e Neville.

-Como você as conseguiu? – Perguntou Rony, interessado.

-Na Farmácia. – E riu. – Não, na loja de Artigos para Quadribol, ora essa! Onde mais? Comprei enquanto vocês babavam na vitrine e Remo as mandou para a Sede.

Na noite do dia seguinte, depois do jantar, eles arrumaram as mochilas. Harry certificou-se de que tudo que poderia precisar estava bem guardado. Haviam dormido pouco mais de três horas quando foram despertados pela senhora Weasley. Estavam prontos para partir. Tonks já havia chegado à Sede para seguir junto com os garotos e os alertou para o frio da noite.

-Acho bom vestirem roupas quentes. Está um bocado frio lá fora e lá em cima vai estar mais frio ainda. Luvas é uma boa pedida para poderem pilotar sem que as mãos fiquem congeladas.

Molly, ouvindo a informação, garantiu que todos agasalhassem condizentemente; estava com o coração na mão. Os garotos já estavam em frente à lareira, prontos para partir.

Os gêmeos e Lino os receberam comentando que gostariam de ir junto também, mas não podiam deixar a loja nas mãos da ajudante a toda hora. Depois de um pouco de conversa e algumas risadas, como não podia deixar de ser, tomaram uma xícara de chocolate quente e estavam prontos para levantar vôo. Tonks deu uma batidinha no cocoruto de cada um deles usando o feitiço da desilusão e em pouco tempo chegaram ao local escolhido.

O vôo não foi demorado. Londres não estava em seus melhores dias, o tempo estava encoberto e com nevoeiro, o vento gelado cortava os rostos dos garotos. Com certeza choveria. A rua, situada na outra extremidade da cidade, era horrível, cheio de sujeira espalhada para todo lado, dois ou três mendigos cobertos com panos imundos estavam vasculhando latões de lixo à cata de algo útil ou comível. Foi o único lugar em Londres razoavelmente privado que Hermione descobrira. Afortunadamente a rua estava quase vazia quando os seis aterrissaram. Eles estavam vestidos como trouxas numa rua trouxa.

Harry pediu a Tonks para dar um jeito de esconder as vassouras. Ela as pegou e enviou uma a uma dentro da mochila que usava e elas desapareceram.

-Legal essa mochila, Tonks. Vou querer uma igual. – Disse Harry entusiasmado com o artefato da auror.

-Tudo bem? – Perguntou Rony para Hermione quando pousaram.

-Tá. Mas estou com as pernas um pouco dormentes, só isso.

-Quando isso acontece é só esticar um pouco as pernas para frente que passa.

Hermione deu um beijo no namorado. – Por que não me disse isso antes?

-Esqueci que você não tem prática em voar. Desculpa. – Disse sem graça, com o braço apoiado nos ombros dela.

Hermione tirou um pedaço de pergaminho das vestes e começou com a ler as instruções que havia anotado no dia anterior. “Na esquina virar a primeira à esquerda...”

-Vamos ficar num hotelzinho logo ali na frente. Venham. – E foram andando normalmente como se fossem turistas trouxas. Tonks os tinha transfigurado, trocando a cor dos cabelos, a cor dos olhos. Porem com Harry não teve muito sucesso em esconder a cicatriz, mas também não importava muito, uma vez que os cabelos escondiam a famosa marca. Neville carregava uma máquina fotográfica trouxa e Rony tinha um binóculo pendurado no pescoço. Perguntava-se para que aquilo já que não iriam para um jogo de quadribol.

-O hotel é ali. – Disse Hermione, apontando para um prédio de uns cinco andares pintado de amarelo pálido, muito discreto. Vamos pedir dois quartos, vamos ficar pouco tempo no hotel. Evitar acidentes é dever de todos. Preciso de um guia agora para localizar o melhor caminho para a Rua Vauxhall. Vamos numa loja para comprarmos um.

-O que é guia? – Perguntou Rony.

-É uma espécie de mapa com orientações sobre transporte. Agora precisamos nos locomover, né? Tenho que descobrir como chegar ao orfanato. Londres é imensa, Rony!

-Mas eu estou com fome!!! – Informou Rony.

-Ai, Rony! Agora? Agüenta a fome, vai. Quando estivermos no quarto pediremos alguma coisa para comer. Não vamos nos demorar por aqui.

Entraram numa lojinha decadente trouxa. Nas prateleiras da loja via-se um monte de quinquilharias que turista trouxa adorava comprar. Harry, tomando a frente de Hermione, se dirigiu até o balcão e pediu um guia para turistas. Compraram e saíram da loja rapidamente, não sem antes ter recusado uns cem itens que foram oferecidos pela balconista mal cuidada que atendia na loja. Seguiram para o hotel.

Hermione andava de mãos dadas com Rony, mas muito calada. Tinha que traçar o caminho para chegarem até a papelaria onde Tom Riddle comprara há mais de 50 anos o dito diário. A garota estava com sérias dúvidas. Existiria ainda a papelaria? Pior. Existiria o orfanato, ou mesmo o prédio onde ele funcionara por tantos anos? Afinal, 50 anos era um espaço de tempo muito grande e tudo poderia ter se modernizado... na vida, nada é estático.

Quando entraram no hotel Hermione dirigiu-se à recepção e pediu dois quartos conjugados e meia diária. O recepcionista olhou de forma especulativa para ela.

-Meia diária? Quartos conjugados? – Perguntou o recepcionista, incomodado com o pedido.

Ela, entendendo o olhar do moço, explicou.

-Hã... É. Viajamos a noite toda e vamos seguir viagem após o almoço. Só queremos tomar um banho e descansar umas horinhas. Esses três são irmãos. – Informou apontando para Rony, Gina e Tonks, que estava com os cabelos tão vermelhos quanto os dos Weasley. – E nós seis somos primos. Estamos em viagem de férias. Sabe como é, né? Temos que economizar. – Finalizou, mostrando um sorriso radiante nos rosto.

-Ahhh! Entendi. – Respondeu o rapaz da recepção, observando a semelhança entre os três. - Estão com pouco dinheiro. Sei como é, já passei por isso. É chato ter pouco dinheiro para viajar, né? – Disse o balconista mais tranqüilo, depois da explicação que Hermione deu. – Mas o problema é que não temos quartos com três camas, só com duas.

-E não dá para colocar dois colchões no chão? É só por algumas horas, não vamos nos incomodar com isso.

-É. Acho que isso dá para ser arranjado. Já vou providenciar, então.

-Ótimo. Isso resolve e nós economizamos. – Disse Hermione, animada com o consentimento do recepcionista enquanto este lhe entregava as chaves do quartos.

Os quartos eram razoáveis, com um banheiro anexo em cada um deles. Enquanto os meninos se arrumavam para tomar banho quente e espantar o frio, Gina e Hermione e Tonks abriram o guia na cama procurando o lugar onde tinham que ir. Depois de algum tempo Hermione conseguiu localizar.

-Bom... É longe pra caramba a tal da papelaria... Vamos ter que andar um bocado. – Disse para as amigas, enquanto anotava num pedaço de pergaminho as orientações para se locomoverem e principalmente, não se perderem. “Primeira à direta, caminhar mais 6 quadras e virar à esquerda...

-Por que não aparatamos? – Perguntou Tonks, prática.

-Não. É melhor continuarmos a não chamar atenção. – Intrometeu-se Harry na conversa, enquanto enxugava vigorosamente os cabelos.

-Harry, chega aqui. Olha, é longe, vamos ter que ir de metrô e andar mais um tantão. E o lugar é bem mal freqüentado, conforme as informações para turistas aqui do lado. É um lugar que tem muitos assaltos. Melhor tomarmos cuidado.

Depois que tomaram banho, Hermione pediu um lanche para todos no lugar do almoço. Cerveja amanteigada, nem pensar, tomaram refrigerante comum mesmo, era o jeito. Comeram e, cansados como estavam por terem se levantado muito cedo, deitaram um pouco sentindo que estavam realmente com sono. Cochilaram...

Depois de umas duas horas de perfeito silêncio no quarto...

-Olha... Já que chegamos tão cedo, por que não vamos agora mesmo para lá? – Sugeriu Harry, parado na porta de comunicação. – Assim podemos ganhar tempo. Que vocês acham?

Todos concordaram com Harry.

Não era ainda nem uma hora da tarde e já estavam seguindo em direção ao metrô. Hermione teve que empurrar Rony pelas costas para dentro do trem, pois ele não parava de virar a cabeça para todos os lados para observar o monte de trouxas que passavam apressados em todas as direções.

-Aonde vai todo esse povo?

-Ah! Sei lá, Rony. Trabalhar, fazer compras, andar por aí, sei lá. Entra logo aí! – Respondeu Hermione irritada com a curiosidade expressada por Rony.

Desceram na estação indicada. Olhando o guia, Hermione disse:

-É ali, à esquerda. Tomem cuidado. Harry, segura a mão de Gina. Neville, fique perto de Tonks. –

Depois de andarem um bom pedaço...

-Esperem aqui. – Mandou Hermione, que se dirigia a uma papelaria num prédio pintado de novo.

Quem disse que eles esperaram, seguiram todos no rastro da amiga, afinal a curiosidade por lugares trouxas era grande em todos. Principalmente nos Weasley e Neville. Hermione, parada no balcão, conversava com uma moça toda arrumadinha que fazia gestos apontando para um determinado lugar.

-Vamos. O orfanato foi fechado anos atrás, depois que a dona morreu. Mas o prédio ainda existe, parece que está caindo aos pedaços e à venda. Ainda temos que caminhar um pedacinho. Vamos embora. – Comandou Hermione.

A rua era curtinha e parecia abandonada, com exceção que umas casas com janelas abertas, havia gente morando, do mais não aparentava ser muito habitada. Passaram pela rua sem incidentes, parando frente a um prédio um bocado grande com as janelas embaçadas, com um enorme cartaz informando: “Vende-se. Tratar aqui”. Embaixo do cartaz, um homem estava sentado numa cadeira. Pararam na frente dele sem saber o que fazer. Estuporar o homem que estava sentado na frente do prédio? Entrar usando magia?

-Nossa... Essa rua parece parada no tempo! – Comentou Neville, observando o aspecto da rua que não tinha nada de moderno.

-Que vocês querem? – O homem perguntou rudemente ficando em pé na frente de Harry.

Sem pensar numa resposta apropriada, audaciosamente Harry respondeu:

-Queremos ver esse prédio para comprar.

-Quê? Isso aí? Caindo aos pedaços? E você é só um garoto!

-E daí? Não posso? Podemos entrar para ver como é por dentro ou não?

-Tá. Vou abrir. Quanto mais cedo esse negócio for vendido, mais cedo acaba meu plantão aqui. Resmungou o homem mais para si mesmo, que para Harry.

Atravessaram o pequeno terraço e entraram num cômodo que parecia ter sido a recepção. Uma escrivaninha grande e empoeirada estava na parede oposta à porta de entrada, ao lado dela havia duas cadeiras igualmente estragadas pelo tempo. Uma quantidade enorme de objetos espalhados por todo local. Vasos, canetas velhas, pires sem xícaras, copos lascados, papéis amassados...

-Nossa! Deve ter uns três centímetros de poeira aqui. – Comentou Tonks pesando as pontas dos dedos no batente da porta. – Harry, sua tia “limpinha” ficaria toda arrepiada com essa sujeira toda.

-Não toquem em nada. – Avisou Harry sem ligar para o comentário da auror. – Pode ter alguma chave do portal escondida no meio desse monte de coisas.

-Claro que não tem chave do portal aqui, Harry. – Disse Gina. – Tom saiu daqui há séculos!

Mesmo assim era melhor serem cuidadosos. Continuaram andando pelos cômodos, empurrando as portas com as varinhas. Andavam pelos corredores fazendo o mesmo caminho que viram nas lembranças do professor Dumbledore. Harry de repente parou em frente a uma porta que lhe era conhecida.

-É este quarto aqui. – Disse Harry. – Empurrou a porta com cuidado redobrado.

O quarto estava tão sujo quanto o restante da casa, a janela quebrada, um pedaço de pano esfarrapado que lembrava um dia ter sido uma cortina pendia de um dos caixilhos. Na parede ao lado da porta estava encostado um guarda-roupa marrom, em pé não se sabe como, cheio de teias de aranha. Rony se arrepiou todo, um estremecimento involuntário percorreu todo seu corpo. Ele tinha aversão por aranhas. Do lado oposto ao guarda-roupa havia uma cama de ferro toda enferrujada.

-Foi aqui que Dumbledore achou a caixa onde Riddle guardava os objetos roubados dos colegas. – Disse, apontando para o guarda-roupa.

-Harry, pode ser qualquer coisa? – Disse Hermione.

-Não é qualquer coisa Hermione. É algo de importância para Tom Riddle. Ele queria para si tudo de valor, principalmente histórico.

-Tá tão frio aqui! – Comentou Gina. – Você esta sentindo, Harry?

-Tô. Tá frio em todo lugar, Gina. Não só aqui. Você está impressionada.

Eles estavam alertas para tudo. Falavam bem baixo. Vai que o velho trouxa ouvisse a conversa por acaso. Harry passou a mochila para Gina.

-Rony, Neville, ajude-me a subir aqui. – Ele queria olhar em cima do guarda-roupa.

Apoiado nos amigos, olhou em cima do móvel.

-Não tem nada. Só uma sujeira desgraçada. – Disse, limpando as mãos uma na outra, já no chão.

-Tonks, veja onde está o velho trouxa. Vou usar magia. – Ela foi olhar e voltou informando...

-Acho que ele ta lá fora. Tá tudo quieto.

“Specialis revelio” – Disse Harry apontando a varinha para o chão.

Manchas escuras apareceram em todos os lugares. Desencostou a cama da parede, o chão de tábua corrida apresentava mais manchas.

-Que truque ridículo. – Falou Harry em voz alta.

-Quê? – Quis saber Tonks.

-Isso aqui. Essas manchas são feitas para disfarçar algum esconderijo.

Ele se ajoelhou e forçou uma das tábuas, mas elas estavam bem fixadas no chão. Apontou a varinha e disse baixinho – Alorromora! Nada. Bombarda! Uma das tábuas arrebentou, deixando à mostra uma cavidade no chão repleta de pequenos objetos.

-Tenha cuidado, Harry. – Disse Hermione pesarosa.

-Será, Harry? – Perguntou Gina.

-Não sei. Pode ser. Lembre-se que muitas outras crianças com certeza ocuparam este quarto e podem ter escondido alguns de seus “tesouros” aqui. Pode ser qualquer coisa.

Não acharam nada de importante no primeiro esconderijo. Continuaram arrombando o assoalho até que de repente, onde o pé da cama estava posicionado anteriormente, apareceu um buraco raso coberto por uma névoa esverdeada. Por entre a névoa podia-se notar algo embrulhado num pedaço de pano esfarrapado e encardido.

-É este. Que eu saiba não é qualquer “criança” que pode “criar” uma névoa assim. – Falou a auror observadora.

-É melhor você não se arriscar a tocar o pacotinho, Harry. – Disse Gina.

Harry pediu para Rony pegar o que quer que fosse aquilo no buraco. Por via das dúvidas Gina deu uma dose de poção para que o irmão bebesse. Rony tentou, tentou, mas sua mão por mais que entrasse na cavidade, não alcançava o objeto. Todo seu braço entrou no buraco.

-Ué? Parece tão raso! – Estranhou Rony.

-Está encantado, Rony. É uma das seguranças que Voldemort usou. – Opinou Tonks.

-Ai, Meu Merlin! Que será que tem que ser feito agora? – Comentou Harry em voz alta.

-Tenta linguagem de cobra. – Sugeriu Neville.

-Pode ser. – Harry tentou, depois enfiou o braço no buraco, mas também não deu resultado.

-Será que vai ter que ser sangue? – Perguntou Rony.

-Vamos tentar, né? Fazer o quê?

-Tome. – Disse Gina, entregando a ele um frasquinho.

-Que é isso?

-Poção de Bezoar, claro. - Harry engoliu aquela poção amarga sem reclamar.

-Dê-me o punhal, Hermione.

Ele fez um cortinho na mão esquerda e deixou que o sangue pingasse no buraco. O sangue sumia na névoa que se revolvia em movimentos circulares. Era como se o buraco bebesse cada gota do sangue de Harry que pingava lentamente.

-Tente de novo, Rony. – Novamente não tiveram resultado.

-Acho que vou fazer outro corte, quem sabe com mais sangue. O buraco parece estar com “sede”!

-Harry, faça um corte na mão direita, não um furinho.

-Por que?

-Não sei. Intuição, acho. E acho que é você que deve tentar pegar o pacotinho. Não vai dar resultado com nenhum de nós. É o seu sangue que está sendo usado.

Ele cortou a palma da mão direita um pouco mais fundo. Fez uma careta de dor. Fazer um furinho na pele para que o sangue só pingasse era uma coisa, mas fazer um talho era outra bem diferente. Doeu pra caramba! Escorria um filete de sangue da palma de sua mão para dentro do vão. A névoa de esverdeada tornou-se roxa imediatamente.

Quando Harry introduziu o braço todo no buraco sob o assoalho, cortes aparecem instantaneamente em toda extensão de seu braço. Ele gritou de dor. Gina, Tonks e Hermione, percebendo o feitiço, gritavam Epikey cada vez mais rápido para que os ferimentos se fechassem. Com a mão ensangüentada ele conseguiu alcançar o embrulhinho sem maiores dificuldades. A manga de seu casaco ficou em tiras deixando à mostra os ferimentos feitos pelo feitiço.

Segurando o objeto diante do olhar apreensivo de todos, abriu os trapos manchados de sangue. Brilhando no meio dos panos sujos na palma da mão ele deixou à mostra a Taça com duas asinhas feitas em ouro puro e um Texugo desenhado em alto relevo. A Taça de Helga Hufflepuff. Era linda! Ele pegou a Taça com as mãos desprotegidas, não desmaiou dessa vez, nada aconteceu.

-É ela. É a Horcrux.

-Você tem certeza?

-Ah! Tenho sim. Esta impregnada de maldade. Posso sentir.

-Então vamos destruí-la. – Falou Gina, enquanto conjurava ataduras para envolver os machucados do namorado, observando as caretas de dor que ele fazia a cada toque de suas mãos.

-Não, vamos levá-la para a Sede. Guarde-a com você, Rony. Cuidado. Vamos embora, para o Beco onde chegamos e de lá desaparatamos para a Sede. – Falou Harry, decidindo o que deveriam fazer.

Na saída o homem trouxa continuava sentado no mesmo lugar, agora encolhido debaixo de um guarda-chuva imenso para se proteger da chuva que caia com vontade. Quando viu os garotos saírem, perguntou:

-E aí? Interessaram-se pela casa?

-Não. Está muito estragada. Não vale a pena.

Dando um suspiro de frustração o homem assentiu com a cabeça resmungando para si mesmo.

-Que droga! Vou ter que continuar de plantão nessa porcaria de lugar esquecido por DEUS.

Tonks, que tinha outros planos para voltar para a Sede, apontou a varinha para o homem e mandou:

-Aparatem rápido. – Disse fazendo uns grandes círculos com a varinha. – Ele não vai se lembrar de nada. Vamos.

A Sede estava lotada quando chegaram. Todos os integrantes da Ordem esperavam ansiosos, estavam aflitos pensando principalmente na segurança deles.

-Vocês estão bem? Não aconteceu nada perigoso? – Perguntava a senhora Molly tão rápido que era difícil entender o que falava. Ela passava a mão nos rostos dos garotos para se certificar que estavam bem.

-Harry! Você está todo ensangüentado! O que aconteceu?

-Calma, mamãe. Tá tudo bem, não aconteceu nada de tão perigoso e estamos todos inteiros. – Respondeu Rony, acalmando a mãe.

-E aí, conseguiram? – Perguntou Arthur, curioso.

-Achamos. Vejam! – Respondeu Harry, enquanto Rony tirava da mochila o precioso embrulhinho.

Não era todos os dias que se tinha uma oportunidade dessas, ver um dos objetos que pertencera a um dos quatro fundadores, muito embora transformado em Horcrux. Todos emitiram Ohs! de admiração. Era um objeto realmente belo e pensar em destruí-lo dava dó. Mas não se podia correr o risco em deixá-lo inteiro. Emelina pediu para segurar a Taça na mão para admirá-la mais de perto. A Taça de Helga Hufflepuff passou de mão em mão, era impossível não admirar sua beleza.

Lino, que aos poucos ia se inteirando da missão da Ordem, juntando pedacinhos de conversa daqui e dali e prestando atenção aos diálogos, concluiu que “aquilo” que estava passando de mão em mão era uma coisa maligna.

-Eu, hein... Não quero tocar nisso nem por todos os galeões do mundo bruxo.

***

12/12/2006 - 19h37.

Desculpa, desculpa, desculpa...
Estive muito ocupada com o trabalho...As faculdades me deixam malukinha.
Mas está ai... Um cap com o achado de mais uma das Horcruxes.
Espero de verdade que vcs gostem.

Vcs meus leitores são D+++, só tenho que agradecer.

Leno B., Sô, Manu Riddle, Thiago dos Santos Neves, Mily, Sâmara, Lili Coutinho, Manu, Eline, MarciaM, †Dianna Black, Amanda Regina Magatti, bjosss e abraços.

A aos não tão mais anomimos também, bjosss e abraços.

Acho que agora só atualizo no ano que vem. Puxa...já estamos quase em 2007.

Para todos vcs:

UM FELIZ NATAL, E UM ANO NOVO LINDÉRRIMO!!!!

Bjosss

McGonagall

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