A fuga



3 – A fuga

Da janela meio aberta, meio fechada, Harry observava o estranho. Não adiantava ficar escondido, podia jurar que o sujeito estava olhando diretamente para seu olhos, e que queria alguma coisa. Harry sentia isso. Seu coração batia descontroladamente. “Quem será que é esse cara?” Não parava de se perguntar. A presença do sujeito na esquina o fez esquecer completamente a carta que recebera do Lord. O medo e a incerteza invadiram seu corpo.

Com um susto e pulando para trás, Harry sentiu que algo foi colocado dissimuladamente em sua mão.

Era um pedaço de pergaminho simples, bem dobradinho.

“Que seria aquilo?”.

Com medo, mas tomado pela curiosidade ia abrir o pergaminho, quando se lembrou do Diário de Tom Riddle.

“Não, vou guardar e conversar com Lupin sobre isso”.

Guardou-o no bolso.

“Harry, confio em você. Seja prudente”. – Lembrou-se do que Dumbledore lhe dizia em sonho.

Estava cansado de coisas estranhas acontecerem com ele sem que nem por que. Bom, “porquê” tinha, era o obstinado do Lord Voldemort que vivia organizando planos mirabolantes para acabar com ele, e tudo por causa da maldita profecia. Tudo por causa de Snape. Ele havia contado para Voldemort a parte da profecia que havia ouvido. Uma raiva imensa por Snape invadiu seu coração.

Ainda pensava no pergaminho, quando ouviu o estalido tão familiar de alguém aparatando. Virou-se depressa com a varinha na mão, pronto para atacar quem quer que fosse e se defender, deu de cara com o que parecia ser Tonks usando o feitiço da desilusão. Quando ia falar alguma coisa, a auror Tonks, já com o dedo indicador colado nos lábios, pedia silêncio.

Harry abriu e fechou a boca seguidas vezes, sem entender, mas obedeceu, não falou nada.

Rapidamente, num silêncio absoluto, com movimentos precisos da varinha, reuniu tudo que era de Harry; usou o feitiço Limpar não verbal para deixar o lugar em ordem, deu um tchauzinho a Harry e desaparatou deixando o quarto dele absolutamente sem nada de pessoal.

Harry estava agora só com a roupa do corpo e varinha na mão, não entendia o que estava acontecendo. Ficou parado olhando para o local onde segundos antes estava Tonks. Queria ter tido tempo de falar para a auror sobre o cara da esquina.

Preocupado com a pessoa da esquina, voltou a olhar pela janela. Ele continuava lá, simplesmente parado, olhando ainda para a janela. Parecia que ele não tinha mexido nenhum músculo. De repente, quando fixou o olhar, ele havia desaparecido. Sumindo no nada.

Harry, espantado, piscou várias vezes... Olhou para todos os lados rua, mas não via ninguém. Quer dizer, lá vinha a Senhora Figg, balançando sua sacola que estava sempre cheia de comida para gatos. Estranhou. Ela estava acompanhada de Emelina Vance! Uma das bruxas que fazia parte da Ordem. “É o pessoal da Ordem”!

“Que será que aconteceu de errado? Porquê, primeiro Tonks, e agora Emelina?”

Sentiu o coração bater acelerado. Era a Ordem de Fênix. A Ordem estava fazendo alguma coisa. Que está acontecendo? – Pensou, preocupado.

Escutou o toque da campainha. Saiu do quarto para ver quem estava batendo à porta, parou de chofre na beira das escadas. Tia Petúnia foi atender, de mau humor como sempre. – Reclamava baixinho.

- Senhora Figg? Que deseja?

- Ahhh! Petúnia, querida, sabe o que é? É o Seu Patinhas, meu gato, está todo enroscado nas ramagens no fundo de seu quintal. Será que você não permitiria que eu fosse buscá-lo?

- Ahhh. Sim, mas agora? É que estou tão ocupada!

- Mas não vamos demorar nada.

- Bom, já que não tem jeito. Venha, vamos até lá. – disse de mal-humorada.

- Emelina, você fique me esperando aqui, não queremos incomodar a Petúnia mais que o necessário, não é mesmo? – Disse Arabela, com a maior cara de santa, olhando nos olhos de Petúnia.

- Está bem. – Respondeu Emelina.

Tão logo as duas tomaram o rumo do quintal, Emelina, rápida como um raio, subiu as escadas e deu um encontrão em Harry. Pegou o braço do garoto e o puxou para dentro do quarto. Harry assustou-se com a entrada intempestiva de Emelina. Ela pedia silêncio, com o mesmo gesto feito por Tonks. De novo? De testa franzida, entendeu que não podia falar nada. Afinal era a segunda vez em questão de minutos que lhe pediam para ficar calado.

Emelina aproximou-se dele e sem cerimônia lhe arrancou um fio de cabelo, o que não foi nada difícil, já que o cabelo de Harry era naturalmente espetado. Em seguida tirou um fio de seu próprio cabelo. Conjurou dois copos, despejou um pouco da poção em cada um deles e com mímicas fez Harry entender o que devia fazer. Ambos tomaram a poção, e começou a transformação.
O estômago de Harry revirou ao tomar a poção. O gosto era horrível...
Trocaram de roupas magicamente.
Num tom muito baixo, próxima ao ouvido de Harry, disse:

- Desça e fique esperando pela Senhora Figg na porta da rua. Não fale nada. Fique calado. Vá, rápido!

Harry balançou a cabeça em sinal de entendimento e saiu correndo, descendo as escadas, procurando não fazer mais barulho do que o necessário.

“Nossa, foi por pouco!” – pensou Harry. Lá vinham as duas.

- Ai, Petúnia querida. Desculpe por ter lhe incomodado tanto. Acho que o Seu Patinhas conseguiu se desprender sozinho. Sinto-me tão envergonhada.

- Tudo bem, Senhora Figg. Não foi tanto trabalho assim. – Disse Petúnia com um sorrizinho amarelo.

- Mas me diga, Petúnia, e o Harry, como está? Estou com tanta saudade dele!

- Ele está bem... Está bem. Bom, até logo Srª Figg. – Falou, fechando a porta sem cerimônia na cara da coitada da Srª Figg.

- Vamos embora, “Emelina”. – Disse, puxando-a pelo antebraço. Não havia tempo para conversas ou explicações.

Quando entraram na casa de Arabela, Harry, “vestido” de Emelina, deu de cara com Moody e Lupin andando de um lado para outro, ambos com expressão bastante preocupada na cara e segurando as varinhas firmemente. Olharam para “Emelina”.

- Tudo bem, Harry? – Perguntou Alastor.
Lupin correu para “Emelina” e lhe deu um forte abraço.

- Graças a Merlin, você está bem.

- Tá, mas o que está acontecendo? Tonks apareceu... – Foi interrompido.

- Agora não Harry. Depois entenderá o que aconteceu. – Falou Moody, virou-se para Arabela:

- Obrigado, Senhora Figg, pela ajuda, felizmente até agora tudo deu certo.

- Ahhh! Tudo bem, tudo bem. Sabe que pode contar comigo. – Disse a Senhora Figg, feliz por ter podido ajudar, já que ela nunca era solicitada, a não ser, é claro, para ficar vigiando Harry de longe.

- Vamos, ainda estamos em perigo. – Falou Olho-Tonto para Lupin e “Emelina”.

Olho-Tonto segurou firme no braço de Harry e sem aviso desaparataram na frente d’A Toca. Era a segunda vez que Harry aparatava, e a sensação não era muito agradável.

Foi tudo tão rápido, Harry sentiu uma coisa estranha e pouco depois notou já estar no pátio da casa dos amigos que ele mais gostava no mundo, a casa da família Weasley. Olhou para Moody com um monte de perguntas. Mas entendeu que deveria se manter calado.

Estava começando a ficar mais irritado. Olhou feio para Moody.

***

N’A Toca, Héstia e Arthur estavam de guarda no quintal. Andavam de um lado para o outro com as varinhas firmemente seguras nas mãos. Fixavam qualquer movimento que acontecia, nada passava despercebido. Até o movimento das folhas das árvores era monitorado.

Ninguém sabia o que estava de fato acontecendo. Mas uma ordem de Olho-Tonto não era para ser ignorada. Motivos de sobra deveria ter.

Todos receberam ordens de ficarem na cozinha, com as varinhas nas mãos e atacar no primeiro sinal suspeito.

Tonks chegou com as coisas de Harry, mas não explicou nada; calada entrou e calada permaneceu. Uma profunda ruga marcava sua testa.

Tonks se uniu aos que estavam dentro de casa, com a varinha em riste.

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