Capitulo XIII





Gina o olhava da porta da sala. Não compreendia como podia passar da ternura à fúria em tão pouco tempo. Abraçava a Luna como se fosse uma menina, lhe murmurando palavras de consolo.
Gina sentiu que sua garganta ardia, e suas bochechas se umedeceram, quando Harry levantou a cabeça para olhá-la.
A violência seguia viva em seus olhos. Tão forte que fazia que seus músculos se tencionassem. Engoliu em seco antes de falar.
—Acalme-se, Harry, por favor.
Todo seu corpo estava preparado para a luta. Pedia sangue. Mas a mulher que tinha entre seus braços estava tremendo, e a que o olhava com os olhos muito abertos estava rogando em silêncio.
—Venha, querida. — disse a Luna, passando o braço por seus ombros — Vamos nos sentar.
—Sinto muito.
—Não me peça perdão. — disse, esforçando-se para falar com tom suave — Não tem que pedir perdão a ninguém.
—Vai falar com Carlos. — disse Gina, agarrando o bule e uma xícara para esconder o tremor de suas mãos — Vai fazer uma denúncia. É a forma adequada de tratar estas coisas.
—É uma delas. Espero que resolva. — acrescentou, retirando o cabelo do rosto umedecido — Tem algum lugar onde ficar?
Luna assentiu e agarrou um lenço de papel.
—Vamos ficar na casa de Gina durante uns dias. Até que...
—Os meninos estão bem?
Luna assentiu.
—Irei pegá-los depois de falar com o Carlos.
—Diga-me o que é que você precisa e eu irei a sua casa para pegar.
—Não sei. Não peguei nada.
—Você me fala depois. Quer que eu a acompanhe à delegacia de polícia?
Luna negou com a cabeça e limpou os olhos.
—Não, tenho que fazer isso sozinha. Eu já vou.
Gina abriu uma gaveta da mesa.
—Aqui tem a chave da minha casa. Acomoda as crianças. — entregou a chave e apertou fortemente sua mão — E não deixe a porta aberta.
—De acordo. Vou para lá. — o ato de ficar em pé e caminhar até a porta foi o mais difícil de sua vida — Sempre pensei que as coisas se arrumariam. —disse, quase para si mesmo — Sempre esperei que se arrumassem.
Partiu, cabisbaixa e encolhida.
—Sabe onde está esse canalha?
—Não.
—Bom, pois eu o encontrarei. — Gina o deteve quando foi pegar o casaco — Não interfira.
De forma instintiva, Gina pôs uma mão em sua face e o beijou nos lábios.
—Por que isso? — perguntou surpreso.
—Por vários motivos. — respirou profundamente e pôs as mãos em seus ombros — Por querer partir a cara de Draco. — voltou a beijá-lo —, por não fazê-lo quando Luna lhe pediu que não fizesse — o beijou de novo— e sobre tudo, por ensinar a ela que as maiorias dos homens, os homens de verdade, são amáveis.
Derrotado, encostou seu rosto no de Gina.
—Bem. Você sabe como evitar um assassinato.
—De certo modo, quase preferiria que o matasse, embora não me orgulhe disso. Eu gostaria de vê-lo pagar na mesma moeda. É mais; eu gostaria de matá-lo pessoalmente.
Harry se aproximou dela e agarrou a mão que tinha fechada em um punho. Abriu-a e a levou aos lábios.
—Ainda fingi ser um docinho.
—Já disse a você que não me orgulho disso. — respondeu, com um leve sorriso — Não é o que Luna precisa agora. Está fugindo da violência, e não servirá de nada sentir rodeada por mais violência. Embora fosse justificada.
—Conheço-a desde que éramos pequenos.
Olhou o chá que Gina o servia e negou com a cabeça. Cheirava como um campo na primavera, e provavelmente, teria o mesmo sabor.
—Sempre foi pequena, muito bonita e muito tímida. — prosseguiu — Era toda doçura. — negou com a cabeça ante o olhar curioso de Gina — Não; nunca tentei nada com ela. As mulheres doces nunca me atraíram.
—Obrigado.
—De nada. — acariciou seu cabelo, afundando os dedos nele — Entendo que tenha oferecido sua casa, mas não acredito que tem muitos quartos disponíveis aqui. Eu posso levar eles para a fazenda. Temos espaço de sobra.
—Ela precisa de uma mulher, e não de um bando de homens, por melhores que sejam suas intenções. Espero que Carlos o detenha e do jeito nele.
—Pode estar segura.
Satisfeita, agarrou sua xícara de chá.
—Então, será melhor que deixemos que se encarregue disso a justiça. Na verdade, por que veio?
—Queria olhar um pouco para você, então encontrei a desculpa das paredes e do mobiliário do salão. Quero terminá-lo quanto antes, para me animar a seguir com o resto.
—É uma boa idéia. — se interrompeu ao ouvir a campainha da porta — Tenho clientes. Nessa pasta tem tudo: as amostras de pintura e papéis, e a lista detalhada do mobiliário.
—Eu também recolhi umas amostras.
—Bom, então... — caminhou para o escritório e ligou o computador — Aqui tenho planos de todas as habitações. Por que não da uma olhada? Também há fotografias de algumas das peças que planejei. Sabe usá-lo, não?
—Sim, claro.
Meia hora depois, depois de ter feito três vendas, Gina voltou para o escritório. Surpreendeu-se ao ver o Harry, que parecia imenso sentado frente a sua delicada escrivaninha antiga. Cheirava a lã, a terra e azeite.
Usava umas botas desgastadas, e uma camiseta rasgada. Havia restos de gesso ou cerâmica em seu cabelo.
Pensou que era o ser mais magnífico que já tinha visto, e o desejava com uma espécie de atração primária, instintiva.
Para tranqüilizar-se, levou-se a mão ao estômago e respirou profundamente.
—O que acha?
—Eu gosto de sua forma de trabalhar. — disse, examinando a pasta — Acredito que não tenha esquecido nada.
Lisonjeada, aproximou-se dele para olhar.
—Estou certa de que teremos que ajustar alguns detalhes depois de ver tudo.
—Já fiz algumas mudanças.
—Verdade?
—Não quero esta cor. — disse, assinalando uma amostra de pintura — Assim pus no computador o tom que quero para as paredes. Verde ervilha.
—A cor que eu tinha escolhido era a adequada.
—É muito feia.
—Sim, certo, mas era a original. — insistiu — Investiguei a fundo. O que você escolheu é muito moderno para o século XIX.
—Talvez. Mas não darei dor de cabeça a ninguém. Não se preocupe muito por um pequeno detalhe, querida. Estou assombrado com sua forma de trabalhar. Devo reconhecer que não esperava que planejasse as coisas com tanto detalhe, e certamente, não tão depressa. Não tenho dúvida de que nasceu para isto.
Gina decidiu que não podia suportar mais elogios.
—Contratou-me para que o ajudasse a reconstruir uma época especifica, e isso é o que estou fazendo. Foi você quem decidiu que a casa tivesse a mesma aparência que no passado.
—E sou eu quem pode decidir que não o tenha. Também podemos deixar algum espaço à estética e ao gosto moderno. Eu gosto muito do piso que tem lá em cima, mas devo reconhecer que ficaria muito feminino para mim.
—Felizmente, não vou decorar sua casa com os móveis da minha.
—Além disso, mantêm tudo tão arrumado que quase dá medo de entrar na casa. — prosseguiu Harry — Mas tem bom gosto. Só peço que o use, combinado com as investigações e a precisão.
—Tenho a impressão de que estamos falando sobre seu gosto. Se quer mudar as diretrizes, pelo menos, me explique com clareza o que é que espera de mim.
—Sempre é tão rígida, ou só se comporta assim comigo?
Gina se negou a responder a uma pergunta tão insultante.
—Pediu-me que fosse fiel à época. Eu não tenho culpa de que, de repente, tenha mudado de opinião sem me contar isso.



Continua...

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