Capitulo XXVI



Gina dormia como um bebê. Os meninos estavam no colégio, e Luna já tinha saído para ir para seu trabalho, de modo que se permitiu o luxo de tomar uma segunda xícara de café. Adorava ter um pouco de privacidade, mas tinha descoberto que tampouco lhe incomodava um pouco de companhia.


 


Agradava-lhe ver os meninos na casa, pela manhã, e obter um beijo da Emma ou um dos estranhos sorrisos do Connor. Gostava de descobrir Luna na cozinha, preparando o café da manhã, com o cabelo revolto.


 


Nunca tinha sonhado com a maternidade, mas começava a se perguntar se bem no fundo não estava desejando isso. Talvez podia ser uma boa mãe.


 


Agarrou o lápis que Emma tinha deixado sobre a mesa e sorriu ao sentir o cheiro. Achou bastante divertido que em tão pouco tempo a casa tivesse começado a cheirar a meninos. Lápis, pastas, chocolate e cereais. E igualmente divertido que ela mesma se surpreendesse de vez em quando desejando vê-los quando saía do trabalho.


 


Ausente, guardou o lápis no bolso. Já era tarde, e tinha que abrir a loja.


 


Deixou a xícara na pia, e depois de olhar a seu redor, abriu a porta da cozinha e desceu as escadas para começar a trabalhar.


 


Assim que pusera o letreiro de «aberto» e retornado ao mostruário Draco Malfoy apareceu.


 


Sua primeira reação foi de alarme. Mas depois se alegrou de ser ela  que tivesse que enfrentá-lo, sobre tudo porque Luna não se encontrava perto.


 


Nos três anos transcorridos desde que o conhecia, ganhara bastante peso. Ainda era um homem musculoso, embora a gordura o rodeasse. Imaginou que no passado devia ter sido um homem atraente, antes que seu rosto se arredondasse e seus olhos claros se afundassem sob umas proeminentes bolsas.


 


Tinha um dente quebrado, cortesia do jovem Harry.


 


E um nariz quebrado cujo responsável era a mesma pessoa.


 


Recordou com desgosto que mais de uma vez tinha tentado tocá-la. E muitas vezes o tinham descoberto observando-a, sorridente, com olhos lascivos.


 


Gina nunca tinha contado isso para sua amiga. E não pensava em contar.


 


Abraçou a si mesma. Draco fechou a porta com delicadeza, tirou o chapéu e o segurou com ambas as mãos, como um criado ante uma rainha.


 


—Sinto incomodá-la, Gina.


 


Sua educada voz e seu tom suave estiveram a ponto de convencê-la. Mas então, lembrou das feridas que tinha sofrido Luna.


 


—O que quer, Draco?


 


—Ouvi que Luna vive com você. — Ficou feliz ao escutar que não se referia aos meninos.


 


—Sim.


 


—Imagino que já sabe o que aconteceu.


 


—Sim, sei. Deu-lhe uma surra e o prenderam.


 


—Estava bêbado.


 


—Pode ser  que o juiz considere essa desculpa, mas eu não.


 


Draco estreitou os olhos, mas manteve a cabeça baixa.


 


—Sinto-me muito mal pelo que fiz. Não tenho feito outra coisa durante estes dias que pensar nisso. Agora fizeram tudo para que eu não possa me aproximar de minha mulher para lhe pedir desculpas. E vim pedir um favor.


 


O homem levantou o olhar então. Em seus olhos se via um pouco de tristeza.


 


—Luna sempre respeitou seu bom julgamento.


 


—E eu o seu.


 


Não iria se deixar enganar pelas falsas lágrimas daquele homem. Era a típica atitude de todos os canalhas e de todos os psicopatas. Tentavam convencer a outros com boas palavras e boas atitudes, e, de vez em quando, conseguiam.


 


—Sim, bom. Esperava que falasse com ela em meu nome. Quero que me dê outra oportunidade. Não posso pedir-lhe em pessoa, por culpa dessa injusta ordem. Mas escutará você.


 


—Você acha que eu tenho uma influência sobre ela, que não tenho, Draco.


 


—Ela vai escutar você. — insistiu — Sempre falava sobre o quanto  você é inteligente. Disse para ela morar com você e ela foi.


 


Gina se apoiou no mostrador.


 


—Se ela me escutasse como diz, já teria abandonado você há anos. — Draco se retesou.


 


—Olhe, um homem tem direito a...


 


—A bater na sua esposa, a humilhá-la? Acho que não. Nem a meus olhos nem aos olhos da lei. E não penso em pedir que volte para você. Se for tudo o que queria dizer, será melhor que  vá embora.


 


Draco apertou os dentes e seus olhos brilharam com a raiva. Sua estratégia não tinha servido para nada e começava a mostrar seu verdadeiro rosto.


 


—Sempre se achando tão superior. Acha que é melhor que eu.


 


—Não, não, eu não acho. Acontece que sou melhor que você. Saia de minha loja imediatamente ou farei com que o xerife Potter o prenda por perseguição.


 


—Uma esposa pertence ao seu marido. — declarou, dando um murro sobre o mostrador — Diga para ela que será melhor que volte para casa se souber o que é bom para ela. E o que é bom para você.


 


Gina teve medo, mas se conteve com muita dificuldade. Fechou o punho sobre o lápis que levava no bolso, como se fosse um talismã.


 


—Está me ameaçando? — perguntou com frieza — Não acredito que o oficial da condicional vai gostar muito disso. Quer que o chame para perguntar?


 


—Cadela. Não é mais que uma frígida que nem sequer pode conseguir um homem de verdade .— disse, desejando poder bater nela — Se insistir em se interpor entre eu e minha esposa, receberá seu castigo. Quando terminar com ela, virei atrás de você. E então, veremos onde acaba seu orgulho. — pegou seu chapéu e se dirigiu para a porta — Será melhor que conte tudo o que eu disse. — continuou — Diga para ela que estarei esperando. Fale para ela que peça a esse imbecil do Potter que rasgue a ordem, e que volte para casa antes da hora de jantar. Hoje mesmo.


 


Assim que fechou a porta, de repente, Gina teve que se apoiar de novo no mostrador. Suas mãos tremiam e estava aterrorizada, uma sensação que não gostava absolutamente. Agarrou o telefone, com a primeira intenção de chamar o Harry para pedir sua ajuda. Mas se deteve.


 


Voltou a colocar no lugar. Teria sido um engano, por muitos motivos. Assim que soubesse, acabaria com aquele indivíduo. Provavelmente, sairia ferido da disputa, e se isso ainda fosse pouco, uma briga não resolveria as coisas.


 


Ergueu-se e respirou profundamente para se acalmar. Perguntou onde estava sua dignidade, sua confiança. Sempre solucionava qualquer situação sozinha, e o que sentia pelo Harry não devia mudar aquilo. Não podia permitir. De maneira que faria o correto, o prático e o necessário. Pegou o telefone de novo e discou o número do escritório do xerife.


 


Gina deixou a xícara de chá de lado.


 


—No começo, comportou-se com muita educação. Subestimei-o e acreditei que não poderia me enganar, mas esteve a ponto de conseguir.


 


Carlos franziu o cenho ao ver o buraco que tinha feito no mostrador, ao dar o murro. Mas se sentia aliviado no fundo. Podia ter sido muito pior.


 


—Não pensava que pudesse chegar tão longe.


 


—Certamente, não parecia bêbado. — explicou ela — Não acredito que tivesse bebido, e sua atitude era tão brutal como de costume. Infelizmente, não tenho testemunhas. Só estávamos ele e eu.


 


—O Denuncie, e o pegarei.


 


—Parece que estava desejando fazê-lo.


 


—Não sabe o quanto.


 


—Denunciarei. E Luna?


 


—Um de meus ajudantes foi para a cafeteira onde trabalha assim que me chamou. Ficará ali o dia todo, tomando café por conta da delegacia de polícia. Enviei outro agente ao colégio.


 


—Os meninos .— disse, atemorizada — Acha que tentará algo contra eles?


 


—Não acredito. Certamente não o incomodam.


 


—Tem razão. — declarou, tentando sentir-se aliviada — Não disse nenhuma palavra sobre eles, só sobre  Luna. Era como se seus filhos não existissem para ele. Bom, em todo caso, fecharei e irei até você, se for o correto.


 


—Quanto antes o faça, melhor. É provável que esteja em sua casa, bebendo como um porco e esperando que  sua esposa volte.



Continua...




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