Capitulo XIV






Pensativo, pegou a parte de pintura sobre o que tinham começado a discutir.
—Uma pergunta. você gosta desta cor?
—Isso é o de menos.
—É uma pergunta muito simples. Você gosta?
Gina o olhou furiosa.
—Claro que não. É horrorosa.
—Aí que eu queria chegar. A única mudança nas condições do pedido é o seguinte: não ponha nada que você não goste.
—Não posso aceitar essa responsabilidade.
—Pago para que a aceite. — uma vez resolvido o assunto, ao menos no que respeitava a ele, voltou-se de novo para a tela — Tem este... o que esta aqui tem em estoque, não é? Não é isso o que significam as letras E.S.?
—Sim, tenho o sofá duplo.
Seu coração deu um salto. Tinha-o adquirido na semana passada em um leilão, pensando no salão de Harry. Se o recusasse, os livros ficariam com os números em vermelhos.
—Está na loja. — disse, esforçando-se para não se mostrar insegura —, com o pôster de vendido.
—Vamos dar uma olhada. Também quero ver esta tela protetora para a lareira e estas mesas.
—Você é o chefe. — disse entre dentes.
Sentiu um nó no estômago quando Harry se deteve junto ao sofá. Era uma peça de grande valor, o que se refletia no preço. Por mais que gostasse, jamais teria dado um lance por algo assim se não tivesse pensado que tinha um cliente para isso.
Ficou olhando seu cliente em potencial, com as botas destroçadas, a camiseta rasgada e sua aparência tão masculino, e se perguntou no que estaria pensando quando decidiu que Harry Potter aprovaria a compra de um móvel tão delicado, curvado e feminino como aquele.
—É de nogueira. — começou, passando uma mão gelada pelo móvel. — De 1850, mais ou menos. A tapeçaria é nova, é obvio, mas é de seda, exatamente igual à que se utilizava naquela época. Como verá, a madeira dos respaldos está lixada, e além disso, é muito cômoda.
Harry grunhiu e se agachou para olhar a etiqueta do preço.
—Que barbaridade.
—Não é nenhuma barbaridade. Eu o consideraria uma pechincha.
—Certo.
—Certo? — perguntou surpreendida.
—Sim. Se me atenho aos planos, o salão estará terminado no fim de semana. Pode-me enviar os móveis na segunda-feira, a não ser que eu peça que espere uns dias. Tudo bem?
—Sim. — disse, sentindo suas pernas dobravam — É obvio.
—Pagarei quando receber, certo? Não estou com meu talão de cheques aqui.
—Muito bem.
—Agora vamos ver as mesas.
—As mesas. — repetiu desconcertada, olhando a seu redor — Ah, sim, as mesas. Siga-me.
Harry se endireitou, segurando um sorriso. Perguntou-se se Gina sabia que, durante alguns momentos, tinha sido transparente como o cristal. Duvidava.
—O que é isso?
—Uma mesa vitrine, de mogno. — respondeu distraída.
—Eu gosto.
—Você gosta? — repetiu.
—Ficaria bem no salão, não acha?
—Sim, imagino que sim.
—Envia-me isso junto com aquele estranho sofá. Está bem?
A única coisa que pôde fazer foi assentir fracamente. Quando Harry partiu, uma hora depois, seguia assentindo.
Harry foi diretamente para delegacia de polícia. Teria que atrasar um pouco seu trabalho, mas não estava disposto a partir até ter certeza de que Draco Malfoy estava atrás das grades.
Quando entrou, encontrou Carlos recostado em sua cadeira, frente à desmantelada mesa metálica. O uniforme de Carlos consistia em uma camisa de algodão, uns jeans quase brancos e umas botas desgastadas. A única coisa que indicava seu cargo era a estrela que levava no peito. Estava lendo um exemplar das Uvas da Ira que parecia ter passado pelas mãos de todo o povo.
—É você o encarregado da lei e a ordem neste lugar?
Lentamente, de forma deliberada, Carlos colocou o marcador de páginas no livro e o deixou de lado.
—Certamente. Sempre tenho uma cela esperando por você.
—Se Malfoy está metido nela, não me importa que me encarcerasse durante cinco minutos.
—Sim, tenho-o aqui.
Harry caminhou até a cafeteira.
—Deu-lhe problemas?
Os lábios de Carlos se curvaram em um sorriso.
—Os necessários para que não fosse uma detenção aborrecida. De-me uma xícara disso.
—Durante quanto tempo pode mantê-lo detido?
—Não depende de mim.
Carlos pegou a xícara que Harry estendia. Os Potter sempre tomavam café forte, quente e negro como a noite.
—Vamos transferi-lo para Hagerstown. — prosseguiu Carlos — Pediu um advogado de ofício. Se Luna não voltar atrás, terá uma boa condenação.
—Acha que ela pode voltar atrás? — perguntou Harry, sentando-se na mesa.
Carlos encolheu os ombros, frustrado.
—Até agora, jamais tinha feito nada para mudar as coisas. Esse canalha esteve maltratando-a durante anos. Provavelmente, começou a surrá-la em sua noite de núpcias. E a pobre não deve pesar mais de quarenta e cinco quilos. É tão delicada... Tem umas boas marcas na garganta. Tentou estrangulá-la.
—Não vi isso.
—Tenho fotografias.
Carlos passou uma mão pelo rosto e ficou em pé. O fato de lutar com Draco para algemá-lo não tinha bastado para tranqüilizá-lo.
—Tive que tomar um depoimento e tirar fotografias para as apresentar no julgamento, e me olhava como se a estivessem batendo nesse momento. Deus sabe como irá enfrentar às coisas se tiver que ir ao tribunal e prestar depoimento diante dele.
Saiu da mesa e caminhou até a janela. Ficou olhando a cidade. Tinha jurado proteger seus cidadãos, e não descarregar suas frustrações dando uma surra a um deles. Mas, às vezes, era muito difícil cumprir com seu dever.
—Dei a ela a informação habitual. — continuou — Grupos de terapia, assistentes sociais, abrigos... Mas tive que insistir para que assinasse a denúncia. Estava sentada, chorando como louca, e eu me sentia muito mal por estar pressionando-a.
Harry ficou olhando seu café, com o cenho franzido.
—Continua sentindo algo por ela, Carlos?
—Isso foi na escola.
Esforçou, para abrir as mãos, que mantinha fechadas em punhos, e se voltou para seu irmão.
Quase eram gêmeos; tinham menos de um ano de diferença. Tinham os mesmos cabelos escuros e a mesma constituição. Mas os olhos de Carlos eram mais frios, mais parecidos com o musgo que ao jade. E as cicatrizes que tinha estavam em seu coração.
—Claro que tenho carinho por ela. — continuou — Como não? Conheço-a desde que éramos pequenos. Eu não gostava de ver o que esse besta fazia com ela, e me sentia impotente por não poder impedi-lo. Cada vez que os vizinhos me chamavam para que fosse a sua casa, cada vez que a via com uma marca, ela dizia para mim que tinha sido um acidente.
—Mas desta vez, não.
—Não, desta vez, não. Meu ajudante a acompanhou ate casa de sua mãe para pegar os meninos e foi a sua casa, para que pegue tudo o que precise.
—Sabe que vai ficar com Gina Weasley?
—Sim, ela me disse. — esvaziou sua xícara de café e se serviu de outra — Enfim; deu o primeiro passo. Provavelmente, é o mais difícil.
Já que não havia nada mais que pudesse fazer, Carlos voltou a sentar-se atrás da sua mesa e tentou mudar de assunto.
—Falando de Gina Weasley, diz por ai que só anda ao seu redor.
—Há alguma lei que proíba isso?
—Se houver, não é a primeira vez que a transgride. — abriu a gaveta de sua mesa, tirou duas barras de caramelo e ofereceu uma a seu irmão — Ela não é seu tipo.
—Estou mudando meus gostos.
—Já era hora. — mordeu uma parte — É sério?
—Levar para cama uma mulher é sempre um assunto muito sério.
—Isso é tudo?
—Não sei, mas tenho a impressão de que seria um excelente começo.
Virou e sorriu quando Gina entrou pela porta.
Deteve-se, como faria qualquer mulher que encontrasse dois homens como aqueles a olhando.
—Sinto muito, interrompo?
—Absolutamente. — disse Carlos, levantando — Sempre é um prazer ver você.
Harry olhou para seu irmão e pôs uma mão no ombro de Gina.
—É minha. — disse isso como uma advertência.
—Desculpe-me. — disse Gina, andando para trás. — Não ouvi direito, disse “é minha”?
—Exatamente.
Mordeu uma parte do caramelo e ofereceu o resto. Quando Gina o afastou indignada, encolheu os ombros e o comeu.
—De todas as coisas ridículas e revoltantes que vi em minha vida... É um homem adulto, e está aqui, comendo caramelo e dizendo «é minha » como se eu fosse o último sorvete do congelador.
—Se tivesse crescido com três irmãos, como eu, entenderia que temos que resolver as coisas rapidamente. — para demonstrar, deu-lhe um beijo nos lábios — Tenho que ir. Até mais, Carlos.
Esforçando-se para não rir, Carlos limpou a garganta. Transcorriam os segundos, e Gina continuava com os olhos cravados na porta que Harry tinha fechado.
—Quer que o detenha? — perguntou Carlos.
—Tem instrumentos de tortura nas celas?
—Infelizmente não. Mas uma vez quebrei seu dedo quando éramos pequenos. Suponho que poderia voltar a fazê-lo.
—Não importa. — disse, decidindo que se encarregaria dele pessoalmente depois — Vim perguntá-lo se você prendeu Draco Malfoy.
—Harry veio pelo mesmo motivo.
—Devia imaginar.



Continua...

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