Capitulo I




O menino mal havia retornado. A localidade de Antietam fervia com os falatórios relacionados a ele. Todo mundo trocava rumores, e as vozes corriam como a pólvora.

Era um caldo rico, temperado de escândalos, sexo e segredos. Harry Potter havia retornado depois de dez anos.

Alguns diziam que aquilo significaria problemas. Estava escrito. Os problemas anunciavam Harry Potter, como o som do guizo anunciava aos bois. Harry Potter era o que tinha ridicularizado o diretor do instituto em uma manhã da primavera, e tinha sido expulso por isso. Harry Potter era o que tinha tido um acidente com a velha caminhonete de seu falecido pai antes de ter a idade necessária para conduzir.

E sobre tudo, Harry Potter era o que, junto ao louco do Dino Thomas, tinha atravessado com uma mesa a janela do botequim do Duff uma noite de verão.

Agora havia retornado com um carro esportivo, e o tinha estacionado bem em frente da delegacia de polícia.

Claro que seu irmão Carlos agora era o xerife. Ocupava o cargo há cinco anos. Mas, em outra época, que as pessoas lembravam muito bem, Harry Potter tinha passado mais de uma noite nas duas celas que havia na parte traseira da delegacia de polícia.

Certamente, estava tão bonito como sempre, ou, ao menos, aquilo era o que diziam as mulheres. Tinha uma aparência abençoada, ou amaldiçoada, os Potter. Qualquer mulher que tivesse sangue nas veias se voltaria para olhá-lo, para admirar sua figura esbelta e seu passo desenvolto que parecia desafiar a qualquer que se cruzasse em seu caminho.

Possuía um volumoso cabelo negro, e seus olhos, tão verdes e duros quanto uma estátua
Chinesa que adornava a prateleira do antiquário “Temas do Passado”. Seus olhos não faziam nada para suavizar seu rosto duro, com aquela cicatriz que sulcava sua face direita. Todo mundo se perguntava como a teria conseguido.

Mas, quando sorria, quando arqueava sua preciosa boca e aparecia aquela covinha de um lado, os corações das mulheres enlouqueciam. Aquilo foi o que ocorreu com Parvati Patil, que recebeu seu sorriso e os vinte dólares pela gasolina na estação de serviço “Gás e Vai”, nos subúrbios da cidade.

Antes que Harry houvesse tornado a arrancar seu veículo, Parvati tinha ido ao telefone, para anunciar o retorno a todo mundo.

—Assim Parvati chamou sua mãe, e a senhora Metz agarrou imediatamente o telefone para dizer à senhora Hawbaker, na loja, que é possível que Harry tivesse intenção de ficar.

Enquanto falava, Luna Malfoy jogou uma colherada de açúcar no café de Gina. A neve do céu de janeiro caía de forma contínua sobre as calçadas e as ruas, e o café do Ed estava quase vazio. Lentamente, Luna se endireitou e fez uma careta de dor quando sentiu o puxão no quadril, no lugar em que batera no chão quando Draco a golpeara.

—E por que não ia ficar? — perguntou Gina Weasley — A final de contas, nasceu aqui, não?

Apesar de que Gina estar três anos vivendo em Antietam e possuir um negócio ali, continuava sem compreender a fascinação que exerciam naquele lugar as idas e vindas.

Parecia nem um pouco divertido, não entendia.

—Sim, mas passou muito tempo fora. Em dez anos, só veio poucas vezes, para passar um ou dois dias.

Luna olhou pela janela e se perguntou aonde teria ido, o que teria visto, o que teria feito.
Na realidade, perguntava-se o que haveria fora dali.

—Parece cansada. — murmurou Gina.

—Sim? Não, só estava sonhando acordada. Se isto continuar assim, os meninos sairão do colégio antes do tempo. Disse a eles, que em tal caso, venham para cá diretamente, mas...

—Então, isso é o que farão. São meninos muito bons.

—É verdade.

Quando sorriu, parte da apreensão desapareceu de seus olhos.

—Por que não toma uma xícara de café comigo? — perguntou Gina.

Olhou a seu redor e viu que na parte traseira havia um cliente que cochilava sobre seu café. Mas atrás, um casal conversava sobre a comida.

—Não tem tanto trabalho .— insistiu Gina — Poderia me falar sobre o caráter desse tal Harry.

—Bom. — Luna pensou e mordeu o lábio — Vou parar para um descanso, Ed. Tudo bem?

Uma mulher muito magra com o cabelo vermelho e muito encaracolado apareceu na porta da cozinha.

—É obvio, não tem nada para fazer.

Sua voz grave se devia aos dois pacotes de cigarros diários. Seu rosto estava cuidadosamente pintado, dos lábios até as sobrancelhas, e resplandecia por causa do calor da cozinha.

—Olá, Gina. — saudou ao vê-la — Não deveria ter voltado para a loja?

—Fechei ao meio-dia. — respondeu, consciente de que seu horário surpreendia Edwina Crump — As pessoas não procuram antiguidades com este tempo.

—Foi um inverno muito duro. — Luna levou a mesa outra xícara de café — Ainda não terminou o mês de janeiro, e os meninos já estão fartos de montar em trenó e fazer bonecos de neve. — suspirou.

Tomou cuidado para não fazer uma careta quando seu quadril doeu o ao sentar. Tinha vinte e sete anos, um a menos que Gina, mas se sentia muito velha.

Depois de três anos de amizade, Gina reconhecia os sintomas.

—Vão mal as coisas, Luna? — perguntou em voz baixa, agarrando a sua mão — Ele a feriu novamente?

—Estou bem. Não quero falar de Draco.

Luna baixou o olhar e a cravou na xícara. Sentia-se humilhada e culpada por não ser capaz de rebelar-se.

—Tem lido os folhetos que dei a você sobre a comissão de apoio às mulheres maltratadas e o refúgio de Hagerstown?

—Sim, olhei-os, mas tenho dois filhos. Tenho que pensar neles primeiro.

—Mas...

—Por favor. — Luna ergueu o olhar — Não quero falar sobre isso.

—Certo .— respondeu Gina, frustrada, apertando sua mão — Fale-me sobre esse
menino mau, o Potter.

—Harry. — o rosto do Luna se suavizou — Eu sempre gostei dele. Eu gostava dos quatro. Não há uma só garota por aqui que não passasse várias noites acordada por culpa dos irmãos Potter.

—Eu gosto de Carlos.— comentou Gina, bebendo um gole de seu café — Parece duro, um pouco misterioso em ocasiões, mas confiável.

—Sempre se pode contar com Carlos. — conveio Luna — Ninguém pensava que algum dos quatros fosse valer a pena, mas Carlos é um bom xerife. É muito justo. Rony tem um escritório de advocacia na cidade. E Denis é um pouco duro, mas se empenha a fundo na fazenda. Quando eram mais jovens e vinham para cidade, as mães trancavam suas filhas em casa, e os homens procuravam ficar atentos.

—Vejo que eram cidadãos exemplares.

—Eram jovens, e sempre pareciam estar zangados por algo. Sobre tudo Harry. No mesmo dia que se foi da cidade brigou com Draco, não sei por que. Quebrou seu nariz e alguns dentes.

—Mesmo?

Gina decidiu que, afinal de contas, poderia gostar desse tal de Harry.

—Sempre estavam procurando briga. Seu pai morreu quando eram apenas meninos. Eu devia ter dez anos. Depois, morreu sua mãe, pouco antes que Harry partisse. Tinha passado quase um ano doente. Por isso, começaram a piorar as coisas na fazenda. Quase todo mundo pensava que teriam que vendê-la, mas conseguiram levá-la adiante.

—Bom, três deles.

Luna saboreou o café. Poucas vezes tinha um momento para sentar-se tranqüilamente.

—Eles eram meninos. Rony tinha uns vinte e três anos, e Harry era só dez meses mais novo que ele. Carlos tem uns quatro anos mais que eu, e Denis tem um ano menos que ele.

—Parece que os Potter tiveram muita pressa em ter filhos.

—Sua mãe era uma mulher maravilhosa. Muito forte. Sempre conseguia sobrepor-se às adversidades. Sempre a admirei.

—Poderia tentar seguir seu exemplo.

Gina se repreendeu imediatamente por haver dito aquilo. Prometeu que não tentaria pressionar a sua amiga.

—Por que acha que ele retornou? — apressou-se a acrescentar para mudar de assunto.

—Não sei. Dizem que agora é rico. Pelo visto, fez uma fortuna trabalhando. Dedica-se a comprar casas rurais e as vender. Dizem que tem uma empresa e tudo. Chama-se Potter, simplesmente. Minha mãe dizia sempre que acabaria morto ou na prisão, mas... — sua voz se falhou quando olhou pela janela — OH, Meu Deus. Parvati tinha razão.

Continua...


Obrigado pelos comentarios Hannah B. Cintra e *TaTaH PoTtEr*!
Espero que todos gostem do cap.!

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