Capitulo XII




—Como pode permiti-lo fazer isto? Quando você vai se cansar de ser o saco de pancada desse maldito sádico? Vai deixar que a mate antes de ir embora?
Derrotada, Luna colocou os cotovelos na mesa, afundou o rosto entre as mãos e começou a chorar.
Gina sentiu que as lágrimas afloravam a seus olhos. Ajoelhou-se junto à cadeira. Em seu pequeno quarto que também fazia às vezes de escritório, esforçou-se para compreender o que sentia uma mulher vítima de maus tratos.
—Sinto muito, Luna. Me perdoe. Não deveria ter gritado.
—Não deveria ter vindo. — levantou a cabeça, ocultando seu rosto com uma mão, e se esforçou para recuperar o fôlego — Não deveria ter vindo, mas precisava de alguém com quem conversar.
—Claro que deveria ter vindo. Fez muito bem em vir. Deixe-me vê-la. —murmurou, afastando a mão.
Tinha um enorme hematoma, de cor arroxeado, que ia de sua têmpora até sua mandíbula. Um de seus belos olhos azuis estava tão inchado que estava quase fechado.
—Meu deus, Luna, o que aconteceu? Pode me contar?
—Draco não se encontra muito bem. Esta há alguns dias com gripe. Faltou muito ao trabalho por causa de sua doença, e ontem o demitiram. —procurou um lenço em sua bolsa, evitando o olhar de Gina — Estava furioso. Tinha trabalhado lá durante doze anos, mas, mas como não tinha carteira, não hesitaram na hora de pô-lo na rua. Eu acabava de comprar uma máquina de lavar roupa. Estamos pagando a prazos. E Connor queria sapatos novos. Sabia que eram muito caros, mas...
—Para, por favor. — disse Gina em voz baixa, agarrando sua mão— Pare de se culpar. Não suporto quando faz isso.
—Sei que estou dando desculpas.
Respirou profundamente e fechou os olhos. Podia ser sincera, ao menos com Gina. Porque Gina, nos três anos que se conheciam, sempre esteve disposta a ajudá-la.
—Não está gripado — continuou — Esteve bêbado quase dia e noite durante uma semana. Não o demitiram por faltar ao trabalho, mas sim por que se apresentou bêbado e brigou com o capataz.
—Assim foi para casa e descontou em você. — levantou para tirar a chaleira do fogo e preparou o chá — Onde estão os meninos?
—Na casa de minha mãe. Fui dormir em sua casa. Desta me bateu mais do que de costume.
De forma inconsciente, levou a mão à garganta. Debaixo do cachecol tinha mais marcas. Draco tinha apertado seu pescoço até que pensara que iria matá-la. E quase desejou que o fizesse.
—Peguei os meninos e fui para casa de minha mãe, porque precisava ficar em algum lugar.
—Fez o certo. — preparada para deixar de recriminá-la e lhe animar um pouco, Gina colocou duas xícaras na mesa — É o melhor começo.
—Não. — Luna rodeou sua xícara com as duas mãos — Minha mãe quer que voltemos hoje para casa. Não está disposta a permitir que fiquemos outra noite.
—Depois de ver e de você ter contado o que ele tem feito, espera que volte?
—Diz que uma mulher tem que permanecer com seu marido, e que me casei com ele para o bem e para o mau.
Gina nunca tinha entendido sua própria mãe, que relegava sua vida a de seu marido. Mas jamais tinha ouvido nada semelhante ao que acabava de escutar.
—Isso é uma monstruosidade!
—Minha mãe é assim. — murmurou Luna, fazendo uma careta de dor quando o chá quente roçou seu lábio dolorido — Está convencida de que se um casamento não funciona é porque a mulher não se esforça o suficiente.
—E você? Acha que tem razão? Sente-se responsável pelo que acontece? Acha que se casou para o bem e para o mau, embora o mal significa que seu marido a surre sempre que está de mau humor?
—Eu tentei. Tentei me convencer. Talvez fosse muito jovem quando me casei com o Draco. Talvez tenha cometido algum engano, mas mesmo assim, pensei que tudo poderia se ajeitar. Ele nunca me respeitou. Esteve com outras mulheres, e nem sequer se importava que eu soubesse. Nunca foi fiel, nem amável. Mas, o que eu posso fazer? Se tentasse abandoná-lo, me mataria.
Começou a chorar, mas com mais calma que antes.
—Estamos a dez anos casados. — prosseguiu — Tivemos filhos juntos. Talvez seja mais fácil aceitar a situação se me convencer de que é minha culpa, de que não devia usar o dinheiro das gorjetas para comprar os sapatos de Connor. E não podíamos nos permitir comprar essa máquina de lavar roupa. Nunca fui boa na cama, como as outras mulheres com as quais ele saia.
Parou de falar soluçando, enquanto Gina continuou olhando-a.
—Escutou o que você mesma está dizendo? — perguntou Gina — Está escutando, Luna?
—Não posso continuar com ele. Bate em mim diante dos meninos. Antes esperava ate que eles dormissem, mas agora me bate diante deles, e diz coisas horríveis. Coisas que não deveriam ouvir. Temo que aceitem que esta situação é normal, e que quando se tornem adultos façam o mesmo que ocorre em nossa relação.
—Relaxe, Luna. Os meninos superarão. Mas você precisa de ajuda imediatamente.
—Pensei nisso a noite toda.
Afrouxou o cachecol. Ao ver as marcas em sua pele pálida, Gina sentiu os cabelos da nuca se arrepiavam.
—Meu Deus! Ele tentou estrangulá-la.
—Não acredito que fosse sua intenção a princípio. Queria que eu parasse de gritar. Mas, de repente, algo mudou. Vi em seus olhos. Não era só pela bebida, ou pelo dinheiro. Odiava-me por eu estar lá. Voltará a me bater assim que puder. Sempre me ameaça; sei que se vingará se eu fizer algo, mas, se ficar quieta, continuara como esta. Tenho que pensar nos meninos. Tenho que ir ver Carlos para fazer uma denúncia.
—Graças a Deus.
—Tinha que vir aqui primeiro, para conseguir forças. — enxugou as lágrimas — Vai ser muito difícil falar com Carlos sobre isto. Conheço ele desde que somos pequenos. Claro que tampouco é um segredo que Draco me bate. Não sei quantas vezes foi até nossa casa, quando os vizinhos chamaram à polícia. Mas é difícil.
—Vou com você.
Luna fechou os olhos. Tinha ido ver Gina para ter seu apoio, mas não podia permitir que outros seguissem ditando sua vida.
—Não, preciso fazer isso sozinha. Não posso levar os meninos para casa até que eu saiba o que vai acontecer.
—E o abrigo?
Luna negou com a cabeça, com obstinação.
—Pode chamar de orgulho, mas não estou disposta a largar tudo, e fugir com o rabo entre as pernas.
—Muito bem, então ficarão aqui. Só tenho um quarto extra, mas nos arrumaremos.
—Não podemos nos meter em sua vida dessa forma.
—É a primeira amiga que fiz quando cheguei aqui. Quero ajudá-la. Deixe-me ajudá-la, por favor.
—Não posso pedir algo assim a você, Gina. Tenho um pouco de dinheiro economizado. Suficiente para passar uns dias em um hotel.
—Não vai querer ferir meus sentimentos, não é? Não pode recusar meu convite. Você vai ficar em minha casa. Pelos meninos. — acrescentou, sabendo que a menção de seus filhos inclinaria a balança.
—Irei buscá-los depois de ver Carlos. — não tinha orgulho no referente aos meninos — Sou muita grata a você, Gina.
—Eu também dou graças por ter tomado essa decisão.
—O que é isto? Uma festa na horas de trabalho?
Harry entrou na sala e se sentou em uma cadeira antes de ver o rosto de Luna.
Gina ficou sem fala em ver como o rosto sorridente de Harry se endurecia em um instante. Seu sorriso se transformou em uma careta de indignação, e seus olhos brilharam pela raiva.
Deu um murro na mesa. Luna se encolheu, e Gina ficou em pé. Antes que Gina pudesse interpor-se, como queria para proteger sua amiga da visão de outro homem furioso, os dedos de Harry acariciaram com suavidade seu rosto ferido.
—Foi Draco?
—Foi um acidente . — balbuciou Luna.
Harry proferiu um insulto em voz alta e se voltou, com os olhos injetados de raiva. Luna ficou em pé e saiu correndo atrás dele.
—Não, Harry, por favor, não faça nada. Por favor, não complique as coisas.
—Não se mova. Fique aqui, com Gina.
—Não, por favor. — implorou Luna entre soluços — Por favor, não me envergonhe mais do que já estou.
—Você está envergonhada? Você? Ele deveria se envergonhar, e a asseguro que desta vez vai pagar pelo que tem feito. — se deteve ao ver o desespero no rosto de sua amiga, e a abraçou — Não chore, Luna, por favor. Não chore. Tudo vai se arrumar.



Continua...

Obrigado pelos comentarios...

Comentem! x)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.