Capitulo XXX



Quando saíram à rua, Gina protestou e disse:


 


—Tenho meu próprio carro.


 


—Entre agora. — Abriu a porta.


 


—Poderia segui-lo, se quiser.


 


—Sobe. Agora.


 


—Certo.


 


Entrar no carro não foi tão fácil. A saia subiu de novo e custou bastante manter certa dignidade.


 


—Aonde vamos? —perguntou.


 


—Levarei  você para sua casa. —disse, uma vez dentro— E se for inteligente, ficará quieta.


 


Gina era inteligente, de modo que obedeceu. Quando Harry estacionou frente a sua casa, permaneceu no lugar. Não podia sair do pequeno esportivo sem ajuda.


 


Harry a ajudou, embora com um puxão que ninguém teria considerado muito amável.


 


—As chaves.—grunhiu.


 


Gina as deu e começaram a subir as escadas.


 


—Suponho que pensa entrar, de modo que...


 


Não pôde terminar a frase. Harry a empurrou contra a porta e começou a beijá-la com uma fúria imensa. Graças aos saltos muito altos se encontrava quase a sua altura; seus corpos se esmagaram  um contra o outro, quentes. As mãos dele eram duras, possessivas e a acariciavam. Só podia pensar em uma coisa. Fazê-la sua.


 


Quando se afastou, sua respiração soou acelerada. Não queria que Gina fosse mais uma vez vítima de suas próprias necessidades.


 


Despiu-a da jaqueta e disse:


 


—Tire a roupa.


 


Gina  levou uma mão ao zíper da saia.


 


—OH, não, aqui não, não queria dizer...Deus... Pretendia dizer que agradeceria se vestisse outra coisa, por favor.


 


Se ela se atrevesse a despir-se diante dele, estaria perdido.


 


—Eu pensei que...


 


—Sei muito bem o que pensou. Venha, troque-se para que possamos conversar.


 


—Certo.


 


Harry soube que era um erro contemplá-la enquanto caminhava para o quarto, mas afinal ele  era humano.


 


Assim que entrou no quarto, Gina se livrou da saia, o Top e os sapatos, contente de poder respirar de novo. Teria gostado do que tinha feito se estivesse de bom humor, mas infelizmente se sentia estúpida. Tinha dado todo um espetáculo público, e em troca de nada.


 


Entretanto, tentou se convencer que isso não era verdade. Tinha feito por ele, embora não tivesse  suficiente sensibilidade para apreciar.


 


Quando retornou a sala, com o rosto lavado o cabelo penteado como sempre, um suéter cor marfim e calças pretas, Harry estava andando de um lado a outro.


 


—Eu gostaria de saber o que você estava pensando. —disse, sem preâmbulos— No que estava pensando quando decidiu ir ao bar vestindo-se daquele jeito?


 


—Foi sua idéia.


 


Infelizmente, Harry não a escutou. Andava perdido em seus próprios pensamentos.


 


—Cinco minutos mais e teríamos tido uma terrível briga. E eu mesmo a teria começado. A partir de agora, toda a cidade saberá como é quando está nua.


 


—Disse que queria...


 


—Não me importa o que digam de mim, mas não posso permitir que a denigram. De onde tirou essa saia?


 


—Bem, na realidade...


 


—É a realidade. E se inclinava sobre a mesa de bilhar, de um jeito que todo mundo  pudesse contemplar seu...


 


Gina entrecerrou os olhos.


 


—Olhe as suas palavras.


 


—Agora terei que brigar com todos os meus irmãos pelo que estarão imaginando.


 


—Bom, disso você gosta.


 


—Essa não é a questão.


 


—Certo.


 


Gina agarrou seu vaso preferido e o jogou com força ao chão, para chamar sua atenção de uma vez. Mas, em lugar de quebrar, quicou e rodou sobre o tapete. Entretanto, conseguiu seu objetivo.


 


—Humilhei-me em público por você. Não sabe o quanto me custou  pôr essa saia; acho que destrocei meus intestinos para sempre. É possível que nunca consiga  tirar toda essa maquiagem. Meus pés latejam, e não acredito que volte a recuperar minha dignidade. Assim espero que esteja satisfeito.


 


—Mas...


 


—Cale a boca. Desta vez, cale a boca. Queria que eu fosse daquele jeito, assim eu tentei. E agora, não é capaz de fazer outra coisa que resmungar e se preocupar com as fofocas. Pois bem, vá para o inferno!


 


Gina se deixou cair sobre uma cadeira. Os pés doíam terrivelmente.


 


Harry a observou enquanto os esfregava.


 


—Fez por mim?


 


—Não, fiz porque eu gosto de pôr saltos de três metros de altura e andar quase nua em pleno inverno. O que você acha?


 


—Fez para me conquistar.


 


Gina fechou os olhos.


 


—Fiz porque estou louca por você. Como você disse que eu ficaria. E agora, saia e me deixe em paz. Terá que esperar ate  amanhã para me agarrar pelo cabelo e me arrastar por aí. Agora estou muito cansada.


 


Harry a observou durante uns segundos. Depois caminhou para a porta, saiu e a fechou com suavidade.


 


Gina não pôde se mexer. Nem sequer tinha vontade de chorar. Comportou-se de forma ridícula. Tinha feito por ele e nem sequer tinha conseguido nada. E, entretanto, sabia que não deixaria nunca de amá-lo.


 


Então a porta se abriu de novo. Mas ela não abriu os olhos.


 


—Estou muito cansada, Harry. Não poderia voltar amanhã?


 


Algo caiu em seu colo. Abriu os olhos e olhou assombrada o ramo de lilás.


 


—Não são de verdade. —disse ele—Não é possível consegui-las em fevereiro. Esteve no meu carro durante alguns dias, por isso estão geladas.


 


—São maravilhosas. —disse, acariciando as pétalas de seda— Alguns dias...


 


—Sim, alguns dias. —grunhiu, com as mãos nos bolsos.


 


Sabia o que tinha que fazer. Mas era uma das coisas mais difíceis às que se viu obrigado em toda sua vida. Entretanto, ajoelhou-se.


 


—O que está fazendo?


 


—Fique quieta. —advertiu— E se você se atrever a rir,vai me pagar.


 


Mortificado, passou uma mão pelo cabelo e começou a falar.


 


—Quando me levantei e vi o amanhecer, suspirei por ti.


 


—Harry.


 


—Não me interrompa. —disse, envergonhado— Agora terei que começar de novo.


 


—Mas não é necessário que...


 


—Gina...


 


Gina respirou profundamente e se perguntou se alguma outra mulher no mundo teria sentido a sensação de ter um homem citando Shelley de joelhos ante ela, olhando-a com olhos ameaçadores.


 


—Sinto muito. O que estava dizendo?


 


—Quando me levantei e vi o amanhecer, suspirei por ti. Quando o sol se levantou  e  dissipou o orvalho, e... OH, que inferno, agora não me lembro. —franziu o cenho, tentando recordar— Ah, sim. Quando o meio-dia passou pesadamente sobre as flores e as árvores e o dia amadurecido  foi  descansar, nostálgico como um hóspede não desejado, suspirei por ti.


 


Harry suspirou de verdade e acrescentou:


 


—É tudo o que sei. Demorei uma semana para memorizar, e contudo fiz algumas mudanças. Mas se disser a alguém que...


 


—Não  faria isso jamais .—disse, emocionada— Foi maravilhoso.


 


—Merecia isso, Gina. Penso em você dia e noite, constantemente. Então se quiser que eu recite outra coisa romântica...


 


—OH, não .—disse encantada, acariciando seu rosto— Não, não é necessário, Harry.


 


—Sei que não fui muito romântico. E agora, só lhe dou um buquê de flores artificiais e recito um poema de outra pessoa.


 


Contemplando seus olhos, cheios de amor, soube que tinha sido um erro imperdoável não tratá-la com mais sensibilidade.


 


Gina começou a chorar, mas foram lágrimas de alegria.


 


—Eu adorei as flores, e o poema. Mas não são necessários. Não quero que mude por mim. Não há nada em você que eu queira que mude. Disse que o amo tal e como é, e continuo pensando assim.


 


—Eu também a amo  tal e como é, Gina. Embora deva admitir que estava impressionante com aquela saia de couro.


 


—Tenho certeza de que Ed voltará a me emprestar.


 


—Ed? —perguntou rindo, com assombro— Acho que não sente falta de algo tão apertado. OH, Por Deus, não chore, amor. Por favor, não chore.


 


—Na verdade, não estou chorando. Só estou um pouco emocionada pelo poema que recitou. Por ter sido capaz de fazer algo assim por mim. —disse, abraçando-o— Suponho que ambos ganhamos a aposta, ou perdemos, depende de como veja a situação. Embora, certamente, você não o fez em público.


 


—Se acha que vou dar um recital da Shelley no bar, esqueça. Não nessa vida.


 


Gina respirou profundamente.


 


—Acho que deveríamos seguir sendo como somos. Eu gosto de você como é, Harry, e  preciso de você mais do que você pensa. Precisava de você  quando Draco veio à loja e me assustou, mas não queria que soubesse. Temia que pudesse saber a necessidade que sentia de tê-lo  ali.


 


Harry agarrou sua mão e a beijou.


 


—Não devia temer.


 


—Agora eu já sei. Mas não deixava de imaginar coisas.


 


—Aconteceu algo parecido comigo. —sorriu— Mas eu adoro você como é, Gina. Eu gosto, até, quando se zanga comigo. Eu gosto de seu estilo.


 


Já não se sentia tão ridículo estando de joelhos.


 


—E eu gosto do seu. Enfim, acho que preciso de algo para colocar as flores.


 


Inclinou-se sobre ele e o beijou com suavidade. Harry  pegou o vaso do chão e perguntou:


 


—O que acha disto?


 


—Servira bem. —respondeu, enquanto o colocava com as flores, sobre a mesa— Não posso acreditar que o tenha jogado no chão.


 


—Foi uma noite cheia de emoções. Até agora.


 


Gina o olhou e sorriu.


 


—Certamente. Quer ficar e ver o que acontece depois?


 


—Já estamos no depois. Sabe uma coisa? Penso que temos mais coisas em comum do que imaginávamos. Você joga muito bem  bilhar e eu gosto das antiguidades.


 


Levantou-se, nervoso, e passou uma mão por um gato de porcelana antes de continuar.


 


—Quer se casar comigo?


 


—Humm. Acho que já me perguntou uma vez. Mas não sei se funcionaria, porque odeio  beisebol.


 


—Esqueça o beisebol. Falo sério.


 


 Gina deu a volta, assombrada, e bateu com a mão na mesa.


 


—Como disse?


 


—Olhe, não conversamos a muito tempo, mas esta evidente que há algo entre você e eu. Sei que dissemos que teríamos uma simples relação física, mas acabamos de confessar que nós gostamos.


 


Caminhou para ela. Gina o olhava como se ele acabasse de perder o juízo. E Harry pensou que talvez fosse verdade.


 


—Harry, não posso...


 


—Eu gostaria que me deixasse continuar. —declarou com tranqüilidade— Sei que você gosta de levar uma vida independente e fazer as coisas a seu modo, mas  o que pode fazer ao menos é tentar ver as coisas do meu ponto de vista durante um momento. Para mim não é uma simples questão de sexo, e nunca  foi. Estou apaixonado por você.


 


Gina olhou seus brilhantes e furiosos olhos enquanto escutava a frase que tanto tinha esperado. Sentiu que seu coração se abria como uma rosa na primavera.


 


—Está apaixonado por mim. —repetiu.


 


Apesar de ser difícil para ele, Harry insistiu de novo. Uma coisa era dizer que  queria  alguém sem sentimentos e outra muito diferente e fazê-lo com sinceridade. As palavras pareciam arranhar sua garganta, como espinhos.


 


—Estou apaixonado por você. Acho que me apaixonei cinco minutos depois de vê-la pela primeira vez, ou cinco minutos antes. Não sei. Nunca tinha acontecido desse modo.


 


—Para mim também foi assim .—murmurou.


 


Harry não a ouviu. Só podia ouvir o murmúrio de sua cabeça.


 


—Ninguém nunca precisou de mim, e nunca quis que precisassem. Aborrece-me. Mas quero que você precise de mim. Tenho que perguntar isso para você. Embora odeio ter que pedir as coisas.


 


—Sei, e não é necessário que o faça. — o tranqüilizou, caminhando para ele— Harry, não tem que me pedir. — Gina segurou seu rosto entre as mãos, e ele a agarrou pelos pulsos.


 


—Se me desse uma oportunidade, tenho certeza que poderia funcionar. Iremos conseguir. Vamos, Gina, se arrisque. Vivamos perigosamente.


 


—Sim.


 


Harry soltou um pouco seus pulsos.


 


—Sim, o que?


 


—Por que é tão difícil nos entender? Escuta. —ordenou, beijando-o— Sim. Casarei com você.


 


—Assim? Não quer pensar?


 


—Não.


 


—Bom, muito bom, Então, podemos...podemos nos ocupar disso amanhã. Já sabe, a licença e essas coisas. Quer um anel ou algo assim?


 


Harry deu um passo para trás, enjoado.


 


—Sim, claro. Harry, você está gaguejando.


 


—Não, não estou. —disse, dando outro passo atrás ao ver que ela se aproximava— É que não esperava uma resposta tão rápida.


 


—Se esta tentando mudar de opinião, esqueça. Foi pela saia?


 


—Que saia? —perguntou, confuso. Nenhuma outra resposta a teria deixado mais feliz.


 


—Acho que deveria dizer outra vez que me ama. Tem que se acostumar a dizer isso — Antes que ele pudesse afastar-se mais, passou os braços ao redor de seu pescoço e cruzou as mãos por trás.


 


—Amo você.


 


—E estava apaixonado por mim naquela primeira noite, quando estávamos sozinhos na casa da colina?


 


—Suponho que sim.


 


—Não sabia. Não tinha nem idéia. Pergunto-me se a casa saberia. Lembra a tranqüilidade que se respirava aquela noite, a quietude que nos rodeava.


 


—Quer ir para lá, esta noite? —propôs.


 


—Sim. —respondeu, apoiando a cabeça em seu rosto— Eu gostaria  muito.


 


—Há algo que devo dizer primeiro, Harry. Algo que acredito que servirá para esclarecer as coisas entre nós.


 


—Gina, se for começar com mais regras e obrigações...


 


—Acho que devo lhe dizer algo. Sentia-me tão atraída por você, e me excitava tanto, que teria me deitado com você mesmo que não o amasse.


 


—Eu sei.


 


—Teria-o feito porque é o homem mais incrivelmente atraente que conheci em toda minha vida. Mas, não teria posto a roupa ridícula que exibi esta noite a não ser que estivesse louca, estúpida e completamente apaixonada por você.— disse com olhos brilhantes, sorrindo —Esta bom pra você?


 


—Diga outra vez. Olhe-me diretamente nos olhos e diga outra vez.


 


Harry agarrou seu rosto entre as mãos.


 


—Amo você. Amo você muito, Harry... Não há nada que desejo tanto como amá-lo e  quero precisar de você durante o resto de minha vida.


 


A emoção do momento atravessou Harry, até que a sensação se hospedou nele, cálida e singelamente.


 


—Espero que você também se acostume a dizê-lo.


 


—Aprendo com muita rapidez.  Amo você.—murmurou contra sua boca.


 


Então, transformou as palavras em um beijo.


 


Harry a atraiu para pode abraçá-la. Só para abraçá-la.


 


—Vai ser complicado. Será difícil.


 


Gina fechou os olhos e apertou seu rosto contra o dele.


 


—Espero por isso. OH, como espero. Por que eu tinha tanto medo? —perguntou em um sussurro—Por que temia tanto que você soubesse?


 


—Provavelmente pela mesma razão que eu.—disse, jogando para trás a cabeça— Tudo passou muito depressa, e era muito importante para nos. Sempre será assim.


 


—Sempre.


 


Mais tarde, quando estavam abraçados sobre o grosso colchão de plumas, Gina posou uma mão sobre o coração de Harry e sorriu.


 


—Estou muito alegre que tenha voltado para cidade, Potter. Bem vindo ao lar.


 


A casa descansava a seu redor, tranqüila. E dormiu quando eles dormiram.


 


 


 


 


 


FIM


 


 


Acabou *-* Nem creio oO


Obrigado a todos que acompanharam a fic ( os 106 comentarios | muito importantes ). Espero que curtam o ultimo capitulo *.* Um grande beijo a todos e até outra fic.  Aaaa COMENTEM  ;)


 

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