Capitulo XX



Gina estava junto ao fogo, no saco de dormir. O fogo crepitante a esquentava o rosto e o braço que estava para fora. Suspirou e virou para junto do seu amante, sonolenta.


 


Seus sonhos eram quase tão eróticos quanto a realidade da hora anterior, bastante vividos para fazer que desejasse seu contato. Quando percebeu que estava sozinha, voltou a suspirar, decepcionada.


 


O fogo estava aceso, por isso sabia que Harry havia tornado a carregar a lareira antes de partir. A casa estava absolutamente silenciosa, interrompida só pelo tic tac do relógio de parede. Estava rodeada de provas das atividades da noite anterior. As roupas tiradas apressadamente cobriam o chão. Em um canto, estava sua calça, e em outro, as botas do Harry. E também tinha provas dentro de si. Esticou-se, sentindo o calor do desejo.


 


Desejava que Harry estivesse ali, para poder acariciá-la.


 


Não deixava de se surpreender cada vez que se dava conta de que podia ser tão apaixonada.


 


Nunca tinha sido assim antes, refletiu enquanto sentava. As relações físicas sempre tinham ocupado um lugar muito baixo em sua escala de prioridades. Perguntava-se se, depois de sua recente conduta, Harry acreditaria que se considerava uma pessoa insegura e tímida na cama.


 


Bocejou, agarrou seu pulôver e o pôs.


 


Decidiu que, tratando-se dele, seria melhor que não dissesse nada.


 


Era uma pena que não pudesse culpar sua ardente resposta, ao celibato que tinha mantido durante uns anos. Tinha a impressão de que sua libido tinha cobrado vida no momento em que Harry se aproximou dela. Mas não podia atribuir aquilo à abstinência.


 


Harry tinha mudado sua vida quando cruzou seu caminho. Estava certa de que, para ela, nunca voltaria a ser igual às noites em frente à lareira. Duvidava que pudesse voltar a olhar qualquer coisa da mesma forma que antes, agora que sabia do que era capaz com a pessoa adequada.


 


O que não sabia era como podia uma mulher voltar para sua tranqüila e agradável vida depois de provar Harry Potter. Aquele era um problema de que teria que resolver algum dia, no futuro.


 


No momento, a única coisa que queria era encontrá-lo.


 


Começou a percorrer a casa, somente de meias. Harry podia estar em qualquer lugar, e o desafio de observá-lo, o surpreende-lo dedicado a alguma tarefa da qual o distrairia, parecia divertido.


 


O frio do chão começou a invadir seu interior, esfregou as mãos para aquecer um pouco. Mas a curiosidade valia um pouco de desconforto.


 


Só tinha subido para o segundo andar em duas ocasiões. A primeira vez, quando foi à casa para tirar medidas, e a segunda vez, quando foi verificá-las. Mas agora não havia operários; não se ouviam as vozes nem o ruído das ferramentas.


 


Passou pelo quarto que havia do lado de outra sala, sonhando acordada.


 


Aquilo devia ser a biblioteca. Prateleiras enceradas cheias de livros, poltronas estofadas que convidavam a sentar e ler. Imaginou ali uma mesa de biblioteca, uma Sheraton, com uma garrafa de brandy, um vaso de flores e um tinteiro antigo.


 


É obvio, também haveria uma pequena escada de mão para alcançar as prateleiras superioras. Via tudo com perfeição. E as poltronas com grandes encostos que estariam frente à lareira necessitariam de bancos para os pés,


 


Queria pôr um suporte de livro de leitura em um canto. Nele colocaria um enorme livro de visitas com os cantos dourados.


 


Abigail O'Brian, casada com o Charles Richard Barlow em 10 de abril de 1856


 


Catherine Anne Barlow, nascida em 5 de junho de 1857


 


Charles Richard Barlow, nascido em 22 de novembro de 1859


 


Robert Michael Barlow, nascido em 9 de fevereiro de 1861


 


Abigail Barlow, falecida em 18 de setembro de 1864


 


Gina estremeceu e sentiu que enjoava. Voltou a si lentamente, abraçando a si mesma para combater o frio que sentia em seus braços. Seu coração pulsava a toda velocidade quando a visão começou a sumir.


 


Perguntou como sabia aquilo.Passou a mão pelo rosto, tentando recordar se tinha lido em algum lugar aqueles nomes e datas.


 


Tinha que ter visto em algum lugar, mas voltou a estremecer. Com toda as investigações que ela tinha feito, claro que ela os leria. Lentamente, saiu dali e se apoiou em uma parede do corredor, tentando recuperar o fôlego.


 


É obvio, sabia que os Barlow tinham tido três filhos. Tinha lido isso em algum lugar. As datas também deviam estar anotadas, embora não  tivesse prestado muita atenção. Lembrara-se de forma inconsciente por algum motivo. Aquilo era tudo.


 


Por nada do mundo  estava disposta a reconhecer que, por um momento, tinha acreditado estar olhando as páginas em branco de um livro que se encontrava em um suporte, no canto, com os nomes e as datas escritas cuidadosamente.


 


Caminhou até a escada e subiu.


 


Harry tinha deixado a porta aberta. Quando chegou ao patamar, Gina ouviu o som da lixa na parede. Suspirou aliviada e cruzou o corredor.


 


Recuperou o calor apenas olhando para ele.


 


—Precisa dê uma mão? — Harry a olhou. Estava ali, de pé, com seu suéter e suas calças pregueadas.


 


—Não com essa roupa. Só queria terminar com isto, e pensei que você precisava dormir um pouco.


 


Gina se conformou apoiando-se no marco da porta para olhá-lo.


 


—Por que algumas pessoas gostam tanto do trabalho manual?


 


—Porque às mulheres gostam de ver os homens suarem.


 


—Aparentemente, acho que sim. — disse observando atentamente sua técnica, a forma em que girava a espátula enquanto lixava — Sabe... Você é melhor que o sujeito que arrumou a loja.


 


—Odeio lixar.


 


—Então, por que faz?


 


—Eu gosto de ver o resultado. E sou mais rápido que o pessoal que contratei.


 


—Como você aprendeu?


 


—Na fazenda sempre tínhamos que arrumar algo. Quando eu fui embora, me dediquei a isto. A final de contas, era a única coisa que eu sabia fazer.


 


—E depois, montou seu próprio negócio.


 


—Eu não gosto de trabalhar para outras pessoas.


 


—Eu tampouco. Embora nem todo mundo tem a sorte de conseguir ser independente. Onde você foi, quando partiu?


 


—Para o sul. Agarrava os trabalhos que podia quando os encontrava. Preferia isto a me dedicar aos trabalhos do campo. — por costume, levou a mão ao bolso da camisa e o encontrou vazio — Parei de fumar. — murmurou.


 


—Bom pra você.


 


—Esta me deixando louco.


 


Para manter-se ocupado, aproximou-se para ver se  o gesso que tinha colocado na noite anterior tinha fixado.


 


—Foi para a Florida. — comentou Gina.


 


—Sim, acabei lá. Na Florida há muito trabalho de construção. Comecei a comprar casas para reformar e depois vender, e foi muito bom. Assim voltei. Isso é tudo.


 


—Não queria bisbilhotar.


 


—Não disse que você fez isso. Acontece que não há muito que falar. Simplesmente, fui embora porque aqui não tinha nada que fazer. Dediquei minha última noite na cidade brigando em um bar. Com Draco Malfoy.


 


—Imaginava o que tinha ocorrido entre os dois.


 


—Não muito. — e tirou o bandana que usava para manter o cabelo afastado dos olhos e a meteu no bolso — Nos odiávamos. Isso é tudo.


 


—Devo reconhecer que tem muito bom gosto na hora de  buscar inimigos.


 


Harry encolheu de ombros, nervoso.


 


—Se não tivesse sido ele, teria sido qualquer outro. Aquela noite estava desejando uma confusão. — sorriu sem humor — A verdade é que eu era o que se pode chamar de um briguento. Ninguém nunca imaginou que eu pudesse chegar tão longe. Nem sequer eu.


 


Se tentava dizer algo, Gina não estava certa de entender.


 


—Pois parece que todos se enganaram. Você também.


 


Harry teve que dizer o que tinha pensado enquanto a olhava dormir.


 


—As pessoas vão falar de nós. Dentro de pouco tempo, quando entrar na cafeteira ou no supermercado, todos vão ficar quietos. E quando sair, começarão a falar sobre o que a encantadora senhorita Weasley está fazendo com o encrenqueiro Harry Potter.


 


—Estou aqui três anos. Sei como funciona. — Harry precisava fazer algo com as mãos, de modo que agarrou a lixa e atacou de novo a parede.


 


—Não acredito que tenha dado a eles muitos motivos para fofocar até agora.


 


Gina pensou que ele trabalhava como se a vida dependesse disso. Parecia ser algo urgente e crucial.


 


—Falaram muito de mim quando abri a loja. Não entendiam porque uma senhorita iria vender antiguidades em vez de parafusos. Isso fez que a loja se emchesse de curiosos, e muitos curiosos se transformaram em clientes. —inclinou a cabeça, olhando-o— Algo como isto fará que meu negócio fique na moda durante umas semanas.


 


—Quero que entenda onde  está  se metendo.


 


—É um pouco tarde para isso. Talvez  seja com a sua reputação que esteja preocupado. —contra-atacou.


 


—Tem razão. Estava pensando em  me candidatar a prefeito. —disse com sarcasmo.


—Não, refiro a sua reputação de menino mau. Potter deve estar amolecendo. Viu a mulher com que ele sai? Em breve estará comprando flores em vez de preservativos. Parece que o domesticou.


 


Harry deixou a lixa de lado, colocou os polegares nos bolsos e virou para olhá-la com curiosidade.


 


—É isso o que vai tentar, Gina? Domesticar-me?


 


—É isso que o preocupa, Potter? Que eu o domestique?


 


A idéia não parecia muito agradável.


 


—Muitas pessoas já tentaram. — disse, acariciando seu rosto — Acho que seria mais fácil que eu a corrompesse. No final, acabaria jogando bilhar no botequim do Duff.


 


—Ou você citando  Shelley.


 


—A Shelley? Quem é?


 


Ela riu e ficou nas pontas dos pés para beijá-lo.


 


—Percy Bysshe Shelley, o poeta. Será melhor tomar cuidado comigo.


 


Aquilo pareceu tão ridículo que relaxou um pouco.


 


—Amor, o dia que eu começar a ler poesia, as rãs terão cabelo.


 


Gina sorriu mais uma vez, e o beijou novamente.


 


—Poderíamos fazer uma aposta. Vamos, eu gostaria de ver como anda a obra.


 


—Em que tipo de aposta estava pensando? —perguntou, agarrando sua mão.


 


 


 


Continua...

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