Capitulo VII



 You and me - Lifehouse - You and me - Lifehouse



Era um bom som. O ruído dos martelos, o zumbido das serras, o chiado das furadeiras. O conjunto parecia uma composição musical, e Wynonna cantarolava para acrescentar mais realismo à cena.
Era um ruído, a música de trabalho, que Harry tinha ouvido durante toda sua vida. Era diferente do ruído continuado da ordenha, do trator no campo. Preferia-o. Ele tinha escolhido no dia em que partiu de Antietam.
Provavelmente, os trabalhos de construção o tinham salvo. Não tinha nenhum problema na hora de admitir que era uma bala perdida quando abandonou o condado de Washington uma década atrás, montado em seu Harley de segunda mão. Mas precisava comer, de modo que teve que trabalhar.
Vestira um cinturão cheio de ferramentas e tinha suado até se livrar de suas frustrações.
Ainda lembrava o momento em que tinha dado uns passos para trás e tinha contemplado a primeira casa em cuja construção tinha colaborado. De repente, teve a impressão de que podia fazer algo que importasse. Podia fazer algo por si mesmo.
Economizou, suou e aprendeu.
A primeira casa que comprou, na Florida, era um simples buraco. Tinha respirado pó de construção e tinha martelado até que seus músculos deixavam de responder. Mas vendeu a casa, uma vez reformada, e utilizou o dinheiro para comprar outra e trabalhar nela. Para voltar a vendê-la com o valor incluído de seu trabalho.
Em quatro anos, a pequena empresa chamada Potter tinha ganhado a reputação de ser confiável, rápida e de alta qualidade.
Mesmo assim, nunca deixou de olhar para trás. Agora, no salão da mansão dos Barlow, entendeu que tinha percorrido o círculo completo.
Ia fazer algo na cidade de que tinha fugido. Não tinha decidido ainda se ficaria ou não depois de terminar. Mas, pelo menos, deixaria sua marca.
Agachado em frente à lareira, Harry examinou o mármore para verificar que não tinha sofrido danos. Já tinha começado a trabalhar nela. Disse a si mesmo com satisfação que arrumaria tudo. A primeira coisa que faria assim que terminasse com ela, seria acendê-la. Queria contemplar as chamas e esquentar as mãos nelas.
Precisaria de um jogo de atiçador, resistentes e um perfeito protetor. Podia confiar em Gina para que o encontrasse.
Com um sorriso, agarrou a espátula para misturar em um balde o cimento branco. Tinha a impressão de que podia confiar em Gina para a maioria das coisas.
Começou a restaurar a pedra com cuidado e precisão.
—Acreditava que o chefe se sentaria em uma mesa cheia de documentos para fazer cálculos.
Harry olhou para trás e levantou uma sobrancelha. Rony estava no centro da casa, com um pano de chão debaixo de cada um de seus reluzentes sapatos. Por algum motivo, não parecia aborrecido por estar de terno.
—Isso é para os advogados e contadores.
Rony tirou os óculos de sol e os meteu no bolso do casaco.
—Pense no que seria o mundo sem nós.
—Um lugar mais habitável. — atirou a espátula no balde com cimento e olhou atentamente para seu irmão — Vai a um enterro?
—Tinha uma reunião de negócios por aqui perto, de modo que pensei em passar aqui para cumprimentá-lo. — olhou a seu redor — Como vão as coisas?
—Bem. — suspirou, negando com a cabeça, quando Rony lhe ofereceu um charuto — Jogue-me a fumaça, por favor. Deixei de fumar há dez dias.
—Esta reformando? — perguntou Rony, aproximando-se dele — Não está nada mal.
—Como assim não está nada mal? Sabe como é difícil encontrar uma lareira de mármore rosa desta época intacta?
—Quer uma mãozinha?
Harry olhou para baixo com incredulidade.
—Com essa roupa de advogado.
—Refiro-me ao fim de semana.
—Sempre é bom um pouco de ajuda. — animado com a oferta, voltou a agarrar a espátula — Está em forma?
—Tanto quanto você.
—Continua se exercitando? — deu um murro no bíceps de seu irmão para comprová-lo — Continuo pensando que os estudos são para fracos.
Rony soprou a fumaça em seu rosto.
—Fracos? Um dia desses mostrarei a você.
—Seguramente, quando não estiver tão bem vestido. — inalou a fumaça que seu irmão lançava — Obrigado por ter se encarregado das escrituras desta casa.
—Ainda não recebeu minha fatura. — sorriu e ficou em pé — Pensei que estava louco quando me chamou para dizer que queria comprá-la. Depois, fiz as contas e percebi que estava completamente louco. Não custou muito, mas gastará o dobro do preço de compra para deixá-la habitável.
—O triplo. — corrigiu Harry com um sorriso — para deixá-la tal como a quero.
—O que quer fazer com ela?
—Deixá-la como estava.— respondeu enquanto nivelava o interior da lareira com o cimento.
—Vai ser difícil para você. — murmurou Rony — Vejo que não tem muitos problemas pra conseguir trabalhadores. Acreditei que ninguém ia querer entrar aqui, considerando a reputação do lugar.
—O dinheiro é muito convincente. Embora esta manhã tenha perdido um encanador. — comentou divertido — Diz que alguém colocou a mão em seu ombro enquanto trocava um encanamento. Quando chegou à estrada, continuava correndo. Não acho que volte.
—Teve mais problemas?
—Nada que precise de um advogado. Já ouviu a piada do advogado e da cascável?
—Ouvi todas. — respondeu com secura.
Harry riu e limpou as mãos nas calças.
—Você esta muito bem, Rony. Mamãe gostaria de vê-lo vestido assim. É estranho eu estar na fazenda. Quase sempre estamos Denis e eu a sós. Carlos passa a metade das noites na delegacia de polícia, e você está nessa casa luxuosa da cidade. Quando ouço Denis levantar-se pelas manhãs, ainda é de noite. O imbecil fica assobiando, como se ir ordenhar a uma da manhã de janeiro fosse a ocupação mais agradável do mundo.
—Ele sempre gostou. Ele é quem mantém este lugar com vida.
—Eu sei.
Rony reconheceu o tom e sacudiu a cabeça.
—Você também fez muito. O dinheiro que enviou fez diferença. —olhou pela janela com expressão sombria — Estou pensando em vender a casa de Hagerstown. — como Harry não respondia, voltou a olhá-lo — Depois do divórcio, achei que o melhor que podia fazer era conservá-la. O mercado estava muito mal, e Bárbara não a queria.
—Continua zangada?
—Não. Divorciamo-nos há três anos, e nos comportamos como pessoas civilizadas. Simplesmente, estávamos cansados um do outro.
—Nunca gostei dela.
Rony apertou os lábios.
—Eu sei. O caso é que estou pensando em vender a casa e ficar na fazenda durante uma temporada até encontrar um lugar adequado.
—Denis iria gostar. E eu também. Senti sua falta. Não sabia quanto até que voltei. — voltou a encher a espátula de cimento — Assim, quer dedicar seu sábado ao trabalho honrado, para variar?
—Você compra a cerveja. — Harry assentiu e se levantou.
—Deixe-me ver suas mãos, menino da cidade.
A resposta de Rony foi breve, clara e dura. E a deu no preciso momento em que Gina entrava na casa.
—Lave a boca com sabão, senhor advogado.
— Olá, querida. — disse Harry, sorrindo.


Continua...


Hannah B. Cintra: Eu tbm gostei mais dessa capa a outra tava muito simples e essa tbm tem mais a cara da fic! Quanto a banda eu tbm adoro... =*
Yumi Morticia voldemort: Vai ficar muiito interessante ;D

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