O Cálice de Fogo



Harry estava desolado. Tentou seguir o tal "plano" do pai, mas até agora, só tinha se ferrado. Lembrou-se com pesar desta, que foi a primeira semana de aula. Cho Chang mantinha o péssimo hábito de segui-lo pelos corredores, e sempre que conseguia se aproximar dele, Gina estava por perto.


Por um breve momento valia a pena ter a morena pendurada no seu pescoço, pois a cara de reprovação que Gina dava à garota o fazia sentir-se estranhamente bem, como se ela se importasse com ele, o que, óbvio, em seguida ele caía em si e via que Gina não se importava com ele. Nem um pouco. Se se importasse, não estaria namorando Dino Thomas, seu colega de quarto.


Harry sabia que os dois tinham ficado no fim do ano anterior. Talvez tenha sido neste fatídico dia que percebeu que talvez sentisse algo mais pela ruiva. Mas ela não estava com ele no seu aniversário, então só podiam ter começado o namoro agora, depois que voltaram. "Depois que eu caí no plano idiota do meu pai! Droga!" - praguejava, no escuro do quarto, contendo-se para não se levantar e esganar Dino, ali mesmo.


Virou-se para a janela, olhando a lua nova triste, remoendo a péssima noite que tivera. Para comemorar a volta às aulas, Slug resolvera fazer uma reunião para os associados. Harry, Neville, Gina e McLaggen foram juntos, mas mal conversavam. Neville preferia ter ficado estudando, mas Harry praticamente implorou que ele fosse; não ia aguentar o desprezo de Gina, acrescentado por doses cavalares de McLaggen.


O setimanista era, para usar de um eufemismo, chato ao extremo. Colocou na cabeça que seria o campeão de Hogwarts, e pior, colocou na cabeça que Harry queria escutar seus delírios. Por mais que o garoto bufasse ou revirasse os olhos sem cerimônia na sua frente, McLaggen continuava na sua exaustiva reverência a si mesmo. E apesar dele merecer uma cortada direta, Harry não tinha tanto sangue frio para fazê-lo.


Chegaram às masmorras, e Harry foi puxado por Cho para um canto. O garoto não conseguiu nem pegar fôlego para perguntar o que ela estava fazendo ali, já que não fazia parte do clube.


- Pronto, meu amor! Você não precisa mais ficar com esses idiotas! Eu fiquei com peninha de você, e convenci o prof. Slughorn a me convidar pro Clube dele!


Harry não conseguia acreditar! A garota era realmente doida! Desvencilhou-se como pôde da apanhadora da Corvinal, e foi procurar Gina, que tinha escutado aquele disparate e saíra o mais rápido que conseguira de lá.


- Gina, posso falar com você? - aproximou-se dela, que estava se servindo de uma bebida, no bar.


- Claro, Harry. - falou, num tom falsamente doce, e entregou-lhe uma garrafa de cerveja amanteigada. Ele a levou para um espaço mais reservado, na lateral do salão.


- Gina, a Cho é louca! Ela não fala por mim e -


Intimidou-se com o olhar gelado que a ruiva lhe deu. A boca secou, e ele bebeu um gole da bebida que ela havia lhe oferecido. Quando olhou para ela novamente, viu que ela estava sorrindo abertamente para ele. Então escutou as gargalhadas dos que estavam próximos a eles, no salão, e finalmente percebeu que ela estava rindo dele.


- O que você -


- Não fique chateado! Essa cor ficou ótima em você! Te rejuvenesceu... - alfinetou a ruiva, passando a mão pelos cabelos dele e saindo de fininho.


- Eu estava mesmo precisando dar umas gargalhadas! - falou como pôde Neville, apesar dos soluços de rir. - Você quer a boa ou a má notícia, Harry?


- Desembucha, Neville! - pediu, nervoso, procurando com o olhar um espelho pelo salão.


- Seu cabelo está roxo, cara!


- Se essa for a boa notícia, nem quero saber qual foi a má!


- Pelo que eu conheço desse feitiço, ele deve durar uns dois dias. E eu recomendo que você não tente escondê-lo, pois vai demorar ainda mais para sair.


- Tem certeza?


- Se eu conheço essa ruiva, sei que ela fez o feitiço correto. Então, meu caro amigo, - abraçou-lhe os ombros, caminhando de volta à festa. - relaxe! Não há nada que se possa fazer, a não ser esperar.


Apesar dos pesares, Harry não pôde deixar de rir baixinho, em sua cama, ao lembrar da cara que Cho fez quando o viu; arranjou uma desculpa qualquer e saiu da festa. Independente de ele agora ser motivo de piadas em toda a escola, ao menos dessa doida estava livre. Forçou-se a dormir, imaginando a cara de Rony, quando o visse daquele jeito na manhã seguinte.


* * * * * * * * *


- Alvo, agora entendi o que você quis dizer.


- Meu caro Horace, esse foi apenas um pequeno indício pra você; eu acompanho os sinais há mais tempo, e estou francamente preocupado.


- Devo dizer que fiquei um pouco amedrontado quando vi os dois. Sabia que isso ia acontecer, mas havia me acostumado a vê-los juntos. Mal resolvidos, mas juntos.


- É cedo ainda, meu caro. O que me preocupa no momento não são os dois, e sim o que está para acontecer; o passado foi mudado, mas tem coisas que nunca mudam. Alguns chamam de destino, ou karma. Eu quis que não tornasse a acontecer, mas já que não podemos impedir, que ao menos nos preparemos da melhor maneira, não é?


- Notícias de Jonathan? - perguntou, depois de assentir em resposta à fala do diretor.


- Acredito que até a próxima reunião, ele terá retornado.


* * * * * * * * *


Harry não saiu do quarto durante todo o fim de semana. Depois que Rony parou de rir (o que demorou um bom tempo), pegou na cozinha comida suficiente para que o amigo pudesse se manter nesses dois dias.


Apesar de ser completamente contra os seus princípios, Gina estava morrendo de remorsos, e sabia que não ia sossegar enquanto não falasse com Harry. Esperou que todos fossem para o jantar, deu uma desculpa qualquer para Mione e Dino, que a esperavam e subiu as escadas para o dormitório dele.


Abriu a porta devagar e entrou no quarto, iluminado apenas pela luz fraca que vinha da janela, pois não havia lua. Aproximou-se da cama de Harry e o viu dormindo serenamente, de bruços, só com a calça do pijama. Prendeu a respiração, e permitiu-se olhá-lo por mais um tempo.


Ele era realmente bonito, especialmente assim, calado. "Ajuda muito não ter aquela vagabunda pendurada no pescoço dele, pra variar!" - pensou, admirando os músculos das costas dele, e sentindo a temperatura do quarto subitamente subir. Então percebeu o risco que estava correndo de ser pega ali, afinal, era uma monitora; o que diria, se fosse flagrada?


- O que você está fazendo aqui? - Harry segurou seu pulso, quando ela se virou para sair.


- Eu - ficou sem fala. Vê-lo deitado não se comparava a olhá-lo agora, de pé, sem blusa, com aqueles olhos violentamente verdes olhando-a atentamente.


- Queria ter certeza que eu ainda estava ridículo? Confirmado, Ginevra... - falou devagar o nome dela, sem esperar que ela falasse, com raiva por ter sido feito de bobo na frente de toda a escola.


- Não me chame assim, Potter! - tentava se livrar da mão dele, que ainda segurava seu pulso firmemente.


- E como eu deveria te chamar? - a voz ficou estranhamente rouca, e Gina arrepiou-se.


- Me solta! - puxou o braço, com força. - Você está me machucando!


Harry imediatamente soltou o pulso dela, como se tivesse levado um choque. Não queria machucá-la; estava chateado, mas nunca quis feri-la, ou magoá-la. Subitamente, lembrou-se do que Ellen havia lhe dito na estação e ficou se perguntando: "Será?".


* * * * * * * * *


Setembro passou voando, e Harry evitava ficar perto de Gina. Por mais que quisesse encher de porrada a cara do Dino, a culpa não era dele de a ruiva tê-lo escolhido (ao menos, era nisso que tentava acreditar).


Agora, na escola só se falava das tais delegações que viriam de Beauxbatons e Durmstrang. Havia muitas suposições, dentre elas, que mandariam um cortejo de Veelas para atrapalhar os campeões. Havia quem jurasse que a Durmstrang traria um trasgo, para competir no Torneio.


O dia 30 de Outubro trouxe muita expectativa a todos, e ninguém mais se atrevia a supor nada; a curiosidade era grande, e todos os alunos estavam do lado de fora do castelo, tendo os rostos fustigados pelo vento gelado, mas não arredariam pé de lá até que os ilustres convidados chegassem.


Não sabiam muito bem para onde olhar, então se viraram para o lado que os portões ficavam. Começaram a escutar um trote, de início baixinho, mas o som foi aumentando, até que alguém apontou para o céu, e todos viram uma enorme carruagem chegando, puxada por cavalos do tamanho de elefantes.


Dumbledore dirigiu-se à porta da carruagem assim que os cavalos pararam, e deu a mão para uma gigantesca mulher, que foi seguida por doze borrõezinhos cinzentos, tremendo tanto, que mal esperaram as boas vindas do diretor, e assim que sua diretora, Madame Maxime, deu-lhes permissão, entraram correndo na escola, tentando se aquecer.


Os demais alunos continuaram a postos, olhando ora para o céu, ora para a os portões. Cerca de vinte minutos depois, viram uma movimentação no lago, e anteviram um fantasmagórico barco emergir e ancorar na margem mais próxima da escola.


Desceram também cerca de doze alunos, e foram levados até onde estavam todos pelo diretor, Karkaroff, de ar esnobe, que lembrava um pouco a expressão de Snape para com os alunos da Grifinória, nas aulas de poções. Harry sentiu um forte cutucão nas costas.


- Harry, você tá vendo? É o Krum! - falou Ron, abobado.


- Mas isso é ilegal! Krum é um bruxo adulto! Não pode representar a escola! - sibilou Hermione, tentando não chamar atenção, enquanto seguiam Dumbledore até o Salão Principal.


- Ouvi dizer que Karkaroff fez Krum repetir o último ano duas vezes, para que ele pudesse representar Durmstrang no torneio. - falou Luna, aproximando-se deles. Apesar de a amiga ser um tanto quanto excêntrica, Harry não duvidava que o que ela dizia podia ser verdade.


- Mas isso é um absurdo! Eles não podem fazer isso! - Hermione continuava indignada.


- Cala a boca, Mione! Pára de ficar falando isso! Ele é um grande jogador de quadribol, e vai dar um grande campeão!


- Ronald Weasley, eu não vou me calar perante uma injustiça dessas! Onde já se viu, um bruxo adulto num torneio escolar!


- Se o Ministério permitiu que ele viesse, quem é você para questionar?


- Quer dizer que eu tenho que aceitar tudo o que o Ministério decidir, é?


- Pelo amor de Merlin, parem de discutir! - os dois gritavam sem nenhuma cerimônia, na entrada do salão principal. - Vocês são monitores, dêem o exemplo! - pediu Harry. Mione sentou-se com Gina, ainda bufando de ódio.


Os alunos de Durmstrang sentaram-se à mesa da Sonserina, e os da Beauxbatons na mesa da Corvinal. Dumbledore deu as boas vindas a todos, e recebeu, ao seu lado na mesa, além dos dois diretores, Ludo Bagman, do Departamento de Esportes, e Bartô Crouch, do Departamento de Cooperação Internacional. Todos sentados, o diretor fez sinal para que se iniciasse o banquete.


Rony não parava de olhar para onde Mione sentara, bufando e praguejando, sempre com a boca cheia de comida. Harry revirou os olhos, cansado dessas eternas discussões dos dois amigos. Olhou para a mesa dos professores, e viu a cara que Snape fazia para Karkaroff.


- Vocês estão vendo isso? - apontou para os dois.


- O que será que há com o nosso "finado" professor de poções? - alfinetou Neville.


- Pra mim, ele está com a cara odiosa de sempre. - falou Rony, entre duas garfadas.


- Não, Ron, tem algo estranho. Ele não fez essa cara nem quando a gente ganhou o Campeonato de Quadribol, ano passado... - os três olharam para Snape, que percebeu os olhares e agora encarava os alunos. - Falando em Quadribol, - retomou. - vocês acham mesmo séria, essa história que Krum teria reprovado dois anos, para poder participar do Torneio?


Discutiram o assunto um pouco, sem chegar a nenhuma conclusão. Nem mesmo Neville se atrevia a dizer que acreditava nesse boato, mesmo que tenha sido Luna quem o contara. Dumbledore levantou-se, e tanto os pratos quando as conversas paralelas desapareceram.


- Novamente, quero dar as boas vindas aos nossos amigos de Beauxbatons e de Durmstrang, junto de seus ilustres diretores, Madame Maxime e Igor Karkaroff. - Aplausos breves seguiram as palavras do diretor. - Amanhã à noite, teremos os nomes dos campeões de cada escola, selecionados pelo nosso juiz. Minerva, por favor, - virou-se para a professora. - o escrínio.


Os alunos nem piscavam. Dumbledore pegou a caixa de madeira decorada, e tirou de dentro dela um cálice dourado, com vários símbolos gravados na sua lateral.


- Este, meus caros, é o Cálice de Fogo. É ele quem vai decidir os campeões. Findo o jantar, cada aluno que se achar apto, deve inscrever-se, colocando seu nome e o nome da escola. Devo chamar-lhes a atenção para que só se inscreva quem tiver certeza que pode acompanhar o Torneio; Ser escolhido como Campeão é um ato contratual mágico que não pode ser quebrado. Pusemos o limite de idade para que os alunos estejam, ao menos, melhor preparados, mas isso não diminui o rigor e o eventual perigo que o Torneio Tribuxo representa.


Fez-se um silêncio pesado entre as mesas. Os alunos se entreolhavam, meio que medindo quem eles achariam capazes para representar Hogwarts no embate.


- Quero avisar aos menores, que por ventura quiserem tentar pôr seus nomes no Cálice, que foi feita uma faixa etária que os impedirá de se aproximarem. Sem mais, boa noite a todos.


O burburinho e a expectativa seguiram os alunos até suas Salas Comunais. Todos faziam suas apostas, e alguns pensavam num meio de driblar a tal faixa etária. Hermione e Rony ainda estavam discutindo, num canto perto da lareira. Harry viu a amiga ficar vermelha, virar as costas para Rony e subir correndo as escadas para o seu dormitório, seguida por Gina.


- O que foi, dessa vez? - perguntou Harry, condescendente.


- A Mione pirou! - afundou no sofá ao lado do amigo e de Neville. Os dois reviraram os olhos e deixaram Rony resmungando com os seus botões.


- Eu digo uma coisa pra vocês: se o McLaggen for o Campeão de Hogwarts, peço a minha transferência para a Lufa-Lufa... - falou Harry, apontando o dito-cujo com a cabeça, que estava atazanando ouvidos desavisados, do outro lado da sala.


- Eu não teria nenhum problema em ir para a Corvinal... - falou Neville, num tom sonhador.


- As mulheres são loucas! - explodiu Rony, do nada, levantando-se e indo para o dormitório. Os amigos deram de ombros e o seguiram, pouco tempo depois.


* * * * * * * * *


Muito obrigada pelos comments, sei que a celeuma está armada; palma, palma, não priemos cânico =P Nunca duvidem de Dumbledore, é a dica que dou! Até o #5! Bjos =D

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