Sangue



– SAI DE CIMA DA MINHA IRMÃ! – Rony repetiu, enquanto separava os dois com brutalidade.


– RON! – Gina exclamou, estupefata, mas o irmão a ignorou, virando-­se para Harry e se preparando para lançar um feitiço, com muita raiva.


– PETRIFICUS TOTALIS! – Hermione gritou, atingindo o namorado. – Desculpa, Ron, mas eu precisava te impedir de fazer algo que você ia acabar se arrependendo!


Apesar de não poder esboçar reação, estava muito claro que o ruivo não concordava com a alegação da namorada.


– No que vocês estavam pensando, hein? Como é que puderam ser tão descuidados? – brigou Hermione. – E pelo amor de Merlin, será que vocês poderiam se vestir? – pediu, subitamente percebendo a estranheza da situação: Ron de borco no chão, Harry e Gina nus e em choque, chuveiro ainda ligado. Saíram do box cabisbaixos, Harry e Gina, vestindo-­se com celeridade. Nesse ínterim, Hermione tentava acalmar Ron, antes de tirá­-lo da imobilidade.


– Vai me atacar, “cunhadinho”? – Ron observou ferinamente, ao entrar na antessala dos boxes, flagrando Harry alerta, varinha em punho.


– Estou apenas me defendendo, meu querido cunhado! – devolveu, no mesmo tom.


– Vocês podem parar com essa criancice? – Gina perdeu a paciência, aproximando­-se de Harry e baixando a sua guarda.


– Ron! Você prometeu que ia ser civilizado e que ia ouvi­-los! – Hermione ralhou, também impaciente. – Sentem-­se! Os três! – Foi tão taxativa que acataram o comando sem objeções. – E podem desembuchar!


Harry bem que tentou falar, mas nem sabia por onde começar. Apesar de Gina também não conseguir falar nada, a sua motivação era diferente: ainda estava com raiva por terem sido tão desrespeitosamente tratados.


– E aí? Vai rolar, esse negócio? Ou será que vocês estão conversando por telepatia e eu fui excluído de participar, de novo? – em resposta ao atrevimento, Ron recebeu um olhar frio de Hermione e tentou segurar o gênio. – Por que vocês não começam me dizendo desde quando isso está acontecendo? – apontou para os dois e depois para o box onde os flagrou.


– É sério, Ron? É mesmo sério que o que mais te interessa é saber quando eu e o Harry começamos a transar?


– Ei! Vamos acalmar os ânimos, todos! – Hermione se levantou, irritada, e contou a Ron tudo o que tinha sabido na semana anterior, com as eventuais concordâncias do casal, quando requisitados para confirmar algum trecho.


– Espera um pouco, Hermione! Essa história de “Herdeira” é muito esquisita, eu nunca ouvi falar em nada disso!


– Imaginei que você realmente não soubesse, Ron! Caso contrário, você teria reagido de forma mais explosiva, quando Malfoy tentou se aproveitar da Gina, no último baile! – Harry pontuou.


– Você entende agora por que tivemos que manter em segredo que estávamos juntos? E concorda que vai ter que segurar a onda, porque precisamos manter as aparências o quanto pudermos, para não chamarmos a atenção de V­-V-­Voldemort? – Gina completou, preocupada.


– O que eu não consigo compreender é porque ninguém nunca nos contou nada disso! Se nós sempre tivéssemos sabido que você era a Herdeira, poderíamos ter evitado muitas coisas que ocorreram!


– Desculpa, gente... – Hermione interrompeu os irmãos. – Sei que esse é um assunto de família, mas preciso dizer que acho que foi muito melhor que vocês não tivessem sabido de nada disso antes! Já imaginou, Gina, se você soubesse com antecedência o que poderia significar uma escolha sua? Você teria maturidade para lidar com isso, tão nova? E Ron, você, que sempre foi tão protetor, será que teria conseguido respeitar as decisões da sua irmã caçula? Acho que seus pais resolveram lhes dar livre arbítrio para lidar com os acontecimentos, justamente para que aprendessem a viver sem medo!


– Eu nunca tinha pensado neste aspecto, Mione! Realmente, se eu tivesse sabido disso antes, provavelmente teria irremediavelmente me afetado... É muito difícil compreender que, às vezes, a ignorância é mesmo uma bênção! Se eu soubesse desde sempre que era a Herdeira, nunca teria dado uma chance pro Harry, ele era muito babaca!


– Ei! – Harry protestou, sob as risadas de Ron. – Você é que tinha preconceito comigo e agora admitiu que eu sou maravilhoso e que é uma mulher de muita sorte por estar comigo!


Gina riu com gosto, levantou­-se e se postou atrás de onde ele estava sentado, tentando manter um porte altivo.


– Mas Harry, meu amor, você era um babaca! – Gina devolveu, com pretensa doçura. – Hoje você é “meu babaca”! – brincou, abraçando­-o carinhosamente e beijando-­lhe o rosto.


Harry tentou manter a dignidade, evitando entrar na brincadeira, mas foi impossível.


– E Ron, quero que você saiba que, se não fosse por sermos Guardião e Herdeira, nós só teríamos transado depois do casamento!


A sala explodiu em gargalhadas e Harry teve a confirmação de que o amigo havia, de certa forma, relevado o flagrante e o fato de não ter sabido que o casal estava junto.


– Piada do dia! – Ron comentou, ainda chorando de rir.


* * * * * * * * *


Após a situação explicada, Ron demonstrou que aceitou muito bem que seu melhor amigo namorava a sua irmã. Depois de terem se despedido das respectivas, Ron admitiu para Harry que estava muito feliz por ele ser o Guardião e por cuidar de Gina.


Na manhã seguinte, Hary recebeu um chamado de Dumbledore, para que fosse até a sua sala, no final da tarde daquele dia.


Preocupado com a partida de quadribol, que ocorreria dali a dois dias, conversou com Ron e pediu que ele coordenasse o treino, avisando que, caso saísse cedo da sala de Dumbledore, iria direto para o campo.


Chegou à sala do diretor, curioso, com a esperança de que tivessem encontrado uma maneira de destruir as horcruxes encontradas.


– Ainda não chegamos a nenhum posicionamento conclusivo referente à destruição das horcruxes, meu caro! – assumiu pesarosamente o diretor. – Contudo, chamei-o aqui hoje para que possamos conversar um pouco sobre Tom Riddle, a pessoa que deu origem a Lord Voldemort. – Harry não conseguiu evitar um arquear de sobrancelhas de decepção. – Talvez você considere de pouca valia entender os valores do seu inimigo, mas nenhum conhecimento é vão. – sentenciou, didaticamente. – Por favor, não incorra no mesmo erro dele, o de ignorar o que pode, à primeira vista, ser considerado como mero detalhe... Grandes feitos são obras de um conjunto de detalhes!


Harry pediu desculpas a Dumbledore, envergonhado. Tudo o que o diretor havia feito, desde que podia se lembrar, foi se arriscar para ajudá­-lo na sua hercúlea tarefa. Era muita ingratidão colocar em xeque a utilidade das informações que ele iria lhe passar.


Dumbledore abriu um armário ao lado da sua mesa e dele retirou uma espécie de bacia prateada, incrustada de runas, que o garoto não reconheceu.


– Este instrumento magnífico é uma "Penseira", Harry. – Dumbledore respondeu à pergunta muda do garoto. – Às vezes você não sente que tem pensamentos demais?


Harry não sabia o que responder a esta afirmação. Com frequência, sentia­-se quase sufocado com tantos acontecimentos, mas nunca tinha lhe ocorrido a quantidade de informações a que Dumbledore tinha acesso, e como elas demandavam dele.


O diretor começou a tocar com a varinha na sua própria cabeça, e dela saíram fios prateados de consistência fluida, possivelmente um pouco mais firme que fumaça, e a bacia começou a se encher do que Harry reconheceu como pensamentos.


Dumbledore explicou como o instrumento funcionava e convidou o garoto a mergulhar nas lembranças que ele havia selecionado.


Primeiro Harry conheceu Tom Riddle com 11 anos, quando o então professor de Hogwarts havia ido até o orfanato onde ele morava, para lhe dizer que era bruxo. Depois disso, acompanhou alguns flashes da sua época na escola, onde era muito educado e cativante com os professores, apesar de sempre estar envolvido com atividades suspeitas que ocorriam em Hogwarts, até o dia em que o garoto acusou Hagrid como o Herdeiro de Slytherin, para o diretor à época, Prof. Dippet, sob o olhar duro de Dumbledore.


– O que você achou da versão estudante de Tom Riddle, Harry? – o diretor inquiriu, após “saírem” da Penseira.


– Ele era muito esquisito, Professor! A cara que ele fez quando ficou sabendo que era bruxo, e o orgulho com que ele mantinha os objetos tirados das outras crianças no orfanato... Era como se fossem troféus! – Dumbledore assentiu em concordância, incentivando Harry a continuar com as suas observações. – E na escola ele era muito dissimulado! Como é que ninguém percebia isso, além do senhor?


– Harry, como você viu, Tom era muito cativante, um órfão prodigioso extremamente dedicado e inteligente. Os professores logo se renderam às suas boas maneiras, eu resolvi lhe dar benefício da dúvida em relação à péssima primeira impressão que tive dele. Não falei nada na escola sobre as minhas desconfianças, mas buscava acompanhá-­lo de perto. O problema é que ele percebia que eu não havia caído no seu encanto, diferentemente do restante de Hogwarts, e não saía da linha, na minha presença.


Harry acompanhou com o olhar o diretor se levantar e pegar alguns frascos em outro armário, que ele não havia reparado antes. Estes recipientes continham fluidos liquefeitos semelhantes aos pensamentos que Dumbledore já havia depositado na Penseira.


– Há tempos realizamos pesquisas sobre a ascendência de Voldemort. Grande parte das pesquisas de campo são realizadas pelo Prof. Ellis. – explicou o diretor. – Jonathan procurou registros do Tom Riddle Senior em documentações bruxas, e não achou nenhum indício. Convencido de que o pai de Voldemort era trouxa, Jonathan finalmente achou uma pista: uma nota do assassinato de uma família homônima há muitos anos, em Great Hangleton. Antes de se dirigir até o local, ele encontrou registro de uma família bruxa que morava nas cercanias, os Gaunt.


– O senhor comentou que encontrou o anel de Slytherin na casa dos Gaunt, correto?


Dumbledore sorriu em concordância, e continuou o seu relato, como se Harry não o tivesse interrompido.


– Jonathan foi até o bar local em Great Hangleton, pagou algumas rodadas de bebida e rápida e avidamente as bocas se abriram. Para aquele vilarejo, os Riddle eram uma fonte quase inesgotável de escândalos, mesmo após a morte trágica e inexplicável de todos os membros da família. Uma senhora contou que o filho dos senhores, Tom, havia chocado a todos quando fugiu com a filha de um pobretão de Little Hangleton: “O senhor tem que entender, Tom era um rapaz lindo, tinha muitas pretendentes ricas, e não havia nada de atraente naquela moça, muito pelo contrário: ela era feia e sem graça! Depois de um tempo ele voltou, e, ao que se sabe, nunca mais tocou no nome daquelazinha lá...”.


– Professor, eu não estou compreendendo... Se eles fugiram juntos, porque Voldemort foi criado em um orfanato e o pai voltou para a sua antiga casa?


– É compreensível a sua confusão, Harry, perdão. É melhor que eu te apresente estas lembranças conseguidas a muito custo na sua ordem cronológica. – falou, enquanto despejava alguns fluidos prateados na Penseira.


A primeira lembrança a que teve acesso foi a de um antigo servidor do Ministério da Magia, Sr. Ogden, que havia ido à casa dos Gaunt autuar Morfino, que havia atacado um trouxa. Harry não conseguiu reprimir a pena que sentiu ao ver Mérope Gaunt, que ele já sabia que se tornaria mãe de Voldemort. Ela claramente sofria abuso moral do pai, Marvolo, e do irmão, por, aparentemente, não se encaixar na imagem de descendente de Salazar Slytherin.


– Professor, como ela conseguiu sair do jugo da família e fugir com Tom Senior?


– Após o incidente com o Sr. Ogden, Marvolo foi indiciado e preso. Pouco depois Morfino também foi mandado para Azkaban e, talvez pela primeira vez na vida, ela pôde ficar sozinha e em paz. Conjecturo que, sem a proximidade da família, ela conseguiu realizar magia, provando que não era um aborto, e sim alguém extremamente apavorado para reagir.


– E o senhor imagina, então, que ela usou uma poção do amor para conquistar Tom Senior?


– É muito provável, Harry, especialmente se levando em consideração o relato das pessoas de Great Hangleton de que Tom Riddle Senior voltou e nunca tocou no assunto, como se tivesse sido, de alguma forma, obrigado a fazer o que havia feito...


– Se ela usou uma poção do amor, então, por que parou de ministrá-la?


– Continuamos no amplo mundo das suposições, Harry... Imagino que ela o amasse de verdade, e que tivesse a esperança de que o sentimento fosse recíproco, quando parou de usar a poção. Pelos nossos cálculos, Mérope já estava com a gravidez avançada quando Tom voltou para casa, largando-a na miséria.


Para confirmar o que supunha, Dumbledore mostrou a Harry uma lembrança de Carátaco Burke, sócio fundador da Borgin & Burkes. Nela, Sr. Burke contou, em meio a risadinhas debochadas, que havia adquirido o medalhão de Slytherin de uma grávida, que, de tão desesperada, vendera a relíquia por uma bagatela.


– E o resto da história você já sabe: ela deu à luz pouco depois, e morreu uma hora após o parto. – Dumbledore completou.


– Que história mais triste, senhor...


– Você está com pena de Lord Voldemort, Harry?


– Eu... Eu não sei, professor... Imagino que deva ser terrível crescer sem a família...


Dumbledore o encarou com os olhos brilhantes e desatarrachou um último frasco. O líquido escorreu lenta e pesadamente para a Penseira.


– Esta é a última lembrança que tenho para lhe mostrar hoje, Harry, e imagino que ela seja bastante esclarecedora para nós dois.


Era uma lembrança de Morfino, mais de 15 anos depois que a irmã havia fugido. Se possível, a casa estava ainda mais suja e decrépita: camadas ancestrais de poeira de acumulavam em todas as partes, e o último dos Gaunt estava quase irreconhecível, por baixo da imundície e da barba espessa e desgrenhada, dormindo pesadamente a um canto.


A porta se abriu lentamente, rangendo, e por ela passou Voldemort adolescente, e Harry reparou que ele usava o anel de Slytherin. Morfino se levantou com dificuldade, e avançou para ele, faca em uma mão e varinha na outra. Voldemort sibilou que ele parasse e Morfino estacou, surpreso de que aquele garoto, tão parecido com o jovem por quem a irmã havia se apaixonado e fugido, pudesse falar a língua das cobras.


“— Pensei que você fosse aquele trouxa. – sussurrou Morfino. – Você é a cara daquele trouxa!


Que trouxa? – perguntou Riddle, com rispidez.


Aquele trouxa que minha irmã gostava, aquele trouxa que mora na casa grande mais adiante na estrada. – respondeu Morfino, e inesperadamente cuspiu no chão entre os dois. – Você é igualzinho a ele. Riddle. Mas ele está mais velho agora, não é? Mais velho do que você, agora que estou pensando...


Os olhos de Voldemort adolescente se estreitaram ao encarar Morfino, que continuou praguejando e reclamando, e acusou o garoto sobre o sumiço do medalhão de Slytherin, que ela havia levado, quando fugira, e avançou para Voldemort.


Subitamente uma escuridão anormal se apoderou da lembrança, e Dumbledore pressionou o ombro de Harry, para que saíssem da penseira.


– Gostaria de lhe pedir o obséquio de me contar o conteúdo da conversa dos dois, Harry. Como você bem viu, eles conversavam na língua das cobras, e só especulamos o que Morfino disse ao seu sobrinho.


– Morfino o confundiu com Tom Riddle Senior e disse a Voldemort que ele morava em Great Hangleton. – Dumbledore assentiu, incentivando a continuar. – E também perguntou pelo medalhão de Slytherin, que Mérope havia levado...


– Muito obrigado, Harry. Esta informação foi muito importante, finalmente compreendemos onde ele tomou conhecimento do medalhão... No dia seguinte àquele, Morfino foi preso e condenado, pelo assassinato da família Riddle. Esta lembrança foi coletada com muita dificuldade, no seu leito de morte, pelo Prof. Ellis, em Azkaban.


– Não acredito que Morfino tenha matado os Riddle, professor! Ele os odiava, mas, se realmente os quisesse matar, já o teria feito, não?


– Apesar de não termos provas contundentes, todos os indícios apontam que quem dizimou a família Riddle foi Voldemort, Harry. Suponho que ele tenha se dirigido à Great Hangleton com a varinha de Morfino, matado a todos e feito a sua primeira horcrux naquele dia. Para se fazer uma horcrux, é preciso que alguém seja morto. Nada mais emblemático e dramático do que matar toda uma ascendência trouxa, para que pudesse seguir como se fosse “sangue-puro” – Dumbledore observou. – Após a chacina em Great Hangleton, ele voltou à casa dos Gaunt, utilizou um intrincadíssimo feitiço da memória para adulterar as lembranças de Morfino e escondeu a horcrux nos escombros da casa de seus ancestrais, certo de que sua história seria irrastreável. – explicou Dumbledore. – Outro erro primário, em decorrência da sua arrogância e do seu pouco apreço por coisas que ele julga menores. Quando Jonathan coletou esta memória, não a compreendemos na sua essência, mas imaginamos que podia haver algo importante em Little Hangleton, e foi assim que localizamos a horcrux criada naquele dia.


– Professor, eu agradeço as informações, mas por que o senhor só me mostrou elas agora? – pediu Harry, ainda com a cabeça rodando.


– Perdoe um pobre velho, meu rapaz. Eu quis te poupar de ter a cabeça desnecessariamente cheia de coisas, justificando para mim mesmo que ainda tínhamos tempo, que ainda faltavam ser encontradas horcruxes. Porém, estas desculpas se acabaram no momento em que você encontrou o diadema de Rowena Ravenclaw. Precisamos estar completamente preparados e alertas, e você precisa saber de tudo o que eu puder lhe repassar.


Harry agradeceu, mas, enquanto voltava para a sala comunal da Grifinória, não conseguiu reprimir a crescente irritação por se sentir preterido. Por que havia tantos segredos? Por que não havia sido logo munido de toda sorte de informação disponível? Por que teve que se arriscar durante tanto tempo no escuro?


Dividiu o que havia sabido e suas angústias com Hermione, única pessoa na sala comunal, naquele horário.


– Entendo o seu sentimento, mas não me ocorre nada de relevante que você poderia ter feito se tivesse sabido destas informações antes, Harry...


– Eu também não sei, mas o que me irrita é ser tratado como se eu não merecesse saber de nada além do que eles julgam necessário! Pelo amor de Merlin, eu sou “o escolhido”, acho que eu merecia um pouco mais de crédito!


– Eu compreendo, mas acho um desperdício de energia e muita falta de foco da sua parte ficar encanando com isso!


– Pode até ser, mas não consigo tirar da cabeça de que tem muita coisa que ainda estão escondendo de mim!


* * * * * * * * *


Mesmo irritado com a desconfiança em relação ao modo com que Dumbledore lidou com as informações que deveria passar a si, definindo “o quê” e “quando” ele merecia saber, Harry não pôde dar muita atenção a este assunto.


A final do campeonato de quadribol estava marcada para o dia seguinte, contra a Corvinal. Ainda que as casas tradicionalmente se dessem bem, a animosidade crescia entre os corredores.


Exceto no ano anterior, quando o campeonato fora suspenso por conta da realização do Torneio Tribruxo, nos últimos anos a Grifinória levou todos os troféus. Além disso, o título de apanhador mais premiado da história de Hogwarts pertence a Tiago Potter, que ganhou todos os campeonatos que disputou desde que havia entrado no time, do 2º ao 7º ano, e Harry poderia igualar este feito.


Harry sentia revoadas de borboletas no seu estômago, e a pressão a que estava submetido ainda era aumentada pelo fato de ser o capitão da equipe. E todos da Grifinória esperavam que ele conseguisse levar o time à vitória, mas as outras casas já estavam cansadas da hegemonia louro-rubra no quadribol.


Até Neville e Luna estavam estremecidos por causa desta partida, e a Sonserina resolveu escoltar pessoalmente o time da Corvinal (além de eventualmente tentar machucar os jogadores da Grifinória).


Naquela noite, Harry dispensou o treino. Não havia mais nada que pudessem fazer que não fosse descansar para o dia seguinte, e, frente à situação na escola, manterem-se inteiros. Além disso, Hermione não parava de repetir que, mesmo com a expectativa quase toda voltada para a manhã seguinte, ainda tinham que estudar para os NIEM’s.


Todo o time de quadribol ficou recolhido na sala comunal naquela noite. Os outros alunos se incumbiram de trazer o jantar e Harry não conseguiu um momento sozinho para contar para Gina o que havia acontecido na noite anterior.


No café da manhã do dia da final, Ron mantinha o seu tom esverdeado, olhando sem ver a comida na mesa. Gina não estava muito melhor, pálida e concentrada. O restante do time nervosamente ora deixava cair um talher, ora derrubava algum copo na mesa.


A Grifinória não estava acostumada a ser rechaçada por toda a escola. Sonserina e Lufa-Lufa, que perderam ambos os jogos que tiveram, uniram-se momentaneamente para apoiar a Corvinal. Porém, havia também uma tensão latente entre eles, pois precisavam, em breve, empurrar o outro time para o último lugar no campeonato.


Harry resolveu tirar os jogadores do salão principal, para que se concentrassem no que realmente importava. Ao chegarem ao campo, fez com que rapidamente subissem nas suas vassouras, para se aquecerem e não mais escutarem os achaques dos adversários.


– Foguinho, você está bem? – perguntou ao se aproximar da ruiva, que continuava um pouco pálida.


– Estou bem, Harry. Só um pouco cansada dessa tensão toda, sabe?


Quando Gina o encarou, ele sabia que ela não se referia apenas ao jogo. Ele queria abraçá-la e consolá-la, mas ali não era o local adequado. Chamou o restante do time para o ponto onde estavam, enquanto ouviam o tropel das torcidas subindo as escadas para as arquibancadas.


– Corvinal teve uma campanha exemplar, até aqui. Ganhou com folga da Lufa-Lufa, time para o qual quase perdemos, no início do campeonato, mas fez uma partida apertada contra a Sonserina, enquanto que nós, vocês sabem, acabamos com eles! – o time soltou risinhos, e Harry viu que estavam começando a relaxar. – Eles têm um bom time, e nós também! Treinamos muito, crescemos muito, e tenho certeza de que temos plena condição de manter a taça na sala da Prof. McGonagall!


Riram e olharam para a tribuna de onde a professora usualmente assistia às partidas, e ela lhes devolveu o sorriso. O time se espalhou pelo campo, enquanto Harry se adiantava para apertar a mão do capitão da Corvinal, Ed Simpson, goleiro.


Madame Hooch soou o apito, e os borrões azulados e avermelhados zuniram, de um lado para o outro. Em poucos instantes Harry começou a se abstrair do jogo, esquadrinhando o céu, em busca do pomo. Aquele, que Harry sonhava em ser o seu último em Hogwarts.


Ele nem precisava se concentrar muito no andamento do jogo, pois o saldo de gols entre os dois times nas partidas anteriores eram praticamente iguais: Corvinal tinha uma vantagem de 20 pontos, então, quanto mais rápido Harry encontrasse o pomo, melhor.


Os raros momentos em que se desconcentrava um pouco na busca pelo pomo eram quando Gina passava em seu campo de visão, rumo a uma das balizas, geralmente conseguindo marcar o gol. O placar estava empatado, o que levava a decisão para os apanhadores de cada time.


Como se tivessem tomado consciência simultânea disso, os batedores da Corvinal começaram a rebater os balaços na direção de Harry, que teve que dividir a sua atenção com os bólidos que lhe eram arremessados, especialmente por Nick Owen.


Então Harry viu o pomo, do outro lado do campo, mais próximo do apanhador da Corvinal, James Lewis, que ainda não o tinha visto. Apesar de não ter a situação a seu favor, Harry resolveu investir, girando a vassoura na sua direção. O pomo partiu em disparada, e James o seguiu, instantes depois de perceber a manobra do outro apanhador.


Harry se emparelhou a ele, ambos focados no brilho dourado pouco mais à frente. Seria muito arriscado que os batedores mantivessem a mira nos apanhadores, e Nick fez a única coisa que julgou que seria capaz de tirar Harry da jogada: rebateu o balaço, com toda a força, na direção de Gina.


Harry fechou a mão no pomo na hora em que o balaço atingiu Gina, que gritou e foi jogada da vassoura. Harry virou-se, alerta, a tempo de puxar a varinha e lançar um feitiço que fez com que a queda dela desacelerasse.


Harry estava muito longe de onde ela havia caído, e, quando chegou até o ponto onde ela estava, alguns colegas do time da Grifinória já estavam ao seu lado, mas não se aproximaram muito. Harry abriu caminho e, ao vê-la muito branca, desmaiada e com as vestes emplastradas de sangue, ele quase desmaiou junto.


* * * * * * * * *


Harry conseguia sentir o sangue bombear fortemente no seu corpo, ouvia os gritos exaltados das pessoas, sem de fato compreendê-las, mas não conseguia mandar um comando do cérebro para que se mexesse.


Madame Hooch conjurou uma maca e começou a levar Gina para a ala hospitalar. Ron estava sendo contido por Hermione e Neville, pois queria partir para cima de Nick Owen, que recebia uma detenção de McGonagall e de Flitwick.


Harry continuava catatônico, alheio a tudo. Liam se aproximou dele e o puxou, rumo à ala hospitalar. Ele estava com medo do que o aguardava ali. Nunca tinha visto Gina tão frágil, e nada daquilo fazia sentido para ele.


Madame Pomfrey tentava impedir que a multidão entrasse na ala, mas permitiu que Harry e Liam passassem. Harry se aproximou da cama onde tinham colocado Gina, ainda com o uniforme da Grifinória. Sua mão tremia enquanto a levava ao pescoço da ruiva, para sentir a sua pulsação. Ela respirava, mas muito lentamente.


A porta da ala hospitalar foi aberta mais uma vez, e Dumbledore encaminhou-se diretamente para onde estavam, seguido de perto pela Prof. McGonagall.


– Pomona, como ela está?


– Ela perdeu muito sangue, Alvo, mas já não corre perigo. Já ministrei as poções necessárias, e agora ela precisa descansar.


O nó que Harry nem tinha consciência de que tinha na garganta começou a afrouxar, e toda a tensão se transformou em lágrimas de alívio. Liam também chorou, mas Harry não conseguiu perceber mais ninguém. Segurou a mão de Gina e se sentou ao lado da sua cama, preparando-se para velar o seu descanso.


– Minerva, você faria o obséquio de se manter com a Srta. Weasley, enquanto Harry me acompanha, por uns momentos?


– Professor, me desculpe, mas eu não posso sair daqui neste momento, Gina precisa de mim e –


– Harry, entendo o seu pesar, mas eu não solicitaria a sua presença se ela não fosse absolutamente necessária. – Dumbledore o interrompeu, indicando, pelo seu tom de voz, a importância do que tinha a dizer.


Harry se levantou, deu um selinho em Gina e pediu para que Liam ficasse lá e que explicasse à ruiva, caso ela acordasse antes de ele voltar, onde estava. Agradeceu à professora e seguiu o diretor, até a sua sala.


Dumbledore abriu o armário e retirou, de dentro dele, a penseira. Depois, tirou um frasco das vestes internas e fez sinal para entrassem naquela lembrança.


Harry e Dumbledore surgiram em uma suntuosa sala de jantar, em que sua grande mesa estava sendo usada para uma reunião. Rostos que Harry odiava estavam tensos ao redor da mesa: Snape, Bellatrix Lestrange, Lúcio e Narcisa Malfoy, entre outros comensais.


Havia um silêncio pesado na sala, e Harry tentou perguntar a Dumbledore o que estava havendo, mas o diretor fez um sinal para que aguardasse e conjurou cadeiras para ambos. Posicionaram-se atrás de onde Snape estava sentado, e viraram-se em direção à porta, que havia acabado de se abrir, com estrépito.


Voldemort atravessou a sala, rumo à cabeceira da mesa, mas não se sentou. Ficou em pé, encarando cada um dos que estavam na sala, claramente transtornado. Todos se mantiveram cabisbaixos, cada um na expectativa de que não fosse de sua responsabilidade o que quer que tenha irritado seu mestre desta forma.


– Fico muito feliz por estar entre pessoas tão fiéis a mim... – começou Voldemort, mas não havia nenhuma felicidade em seu tom, que poderia ser considerado como acusatório. – E tenho certeza de que esta fidelidade está acima de qualquer dúvida, correto? – Murmúrios de anuência encheram a sala. – Excelente, excelente...


Mesmo sabendo de que se tratava de uma lembrança, Harry não conseguiu evitar o arrepio que lhe percorreu a espinha. Estava muito claro para ele que algo terrível estava para acontecer.


– Bellatrix, explique-me novamente o que aconteceu com o objeto que eu pedi para que você guardasse como se fosse a sua vida, antes daquele fatídico Halloween, há muito tempo.


– Milorde, como eu já havia lhe relatado, quando fomos mandados para Azkaban, alguns parentes de Rodolfo tiveram acesso ao cofre da família e levaram muitas coisas de valor, entre elas, aquele objeto. – Bellatrix correu em explicar, suplicante, encarando Voldemort com os olhos marejados, enquanto seu marido balbuciava em concordância. Ele os encarou fixamente por muito tempo, procurando algum indício de que estivessem mentindo.


– E você, Lúcio, o que fez do objeto que lhe confiei? – Voldemort bruscamente mudou de foco, sobressaltando os Malfoy.


– Milorde, eu, eu... – Lúcio começou a gaguejar. – Há cinco anos eu resolvi plantar o objeto em Hogwarts, para tentar manter viva a esperança de que o senhor voltaria em breve!


– Interessante... – Voldemort exclamou, passando mão displicentemente pelo queixo. – E o que houve com o objeto, Lúcio?


Malfoy tremia visivelmente, olhando para os lados, balbuciando palavras desconexas.


– Eu perguntei, Lúcio: o que houve com o objeto? – repetiu friamente Voldemort.


– O diário foi entregue para Dumbledore, tão logo chegou à escola. – finalmente respondeu, num fio de voz.


– E isso não seria óbvio de se prever, Lúcio? Que tipo de plano cretino e idiota foi esse? Ou você achava que eu estava acabado e quis se livrar de qualquer indício de algo que pudesse ligá-lo a mim? – sibilou Voldemort.


– Não, milorde, eu nunca pensei isso! Eu só quis ajudar! Eu não sabia que o objeto era tão importante! Milorde, eu –


– Tarde demais, Lúcio. – Voldemort interrompeu o fluxo de desculpas esfarrapadas. – AVADA KEDAVRA! – Malfoy tombou sem vida antes que Harry conseguisse gritar. – Fiat Horcrux! – sibilou em ofidioglosia e, da sua varinha, prorrompeu um lampejo vermelho escuro. Depois, Voldemort desabou pesadamente na cadeira que estava atrás de si.


* * * * * * * * *


Falta pouco, gente. Tão pouco quanto o tempo de que disponho para escrever (meu trabalho está uma loucuuuuura!)...


Mas o meu plano é, até o meu aniversário (23 de junho) tê-la encerrado. Inclusive, o meu presente, de mim para mim mesma, será a versão impressa e encadernada das 2 fics, devidamente revisadas.


Sei que é um plano audacioso, mas a minha loucura não tem muitos limites, como vocês já devem ter percebido! :P


Dependendo de quanto saírem os custos (só para vocês terem noção, esta fic já está perto de 300 páginas de word, com espaçamento simples), tô pensando em imprimir umas 2 ou 3 cópias a mais, e penso em sorteá-las por aqui. O que acham?


No mais, muito obrigada pelo apoio de sempre, mas vocês bem que podiam também dar uma votadinha, né?
Me estimularia a escrever bem mais rápido, assim como os comentários! fica a dica! :P


Beijo grande para Digit Moony, Juliana Tralba, Láh Jane Weasley, Larissa Granger, Martha Weasley e potter e weasley, e até o próximo capítulo!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (7)

  • makson sidney

    Sua fic é show de bola! adoro ela. acompanho desde a criação da primeira.se vc for sortear uma cópia impressa eu quero participar 

    2015-03-02
  • MP__Potter

    Mtooooooo bom!!!! Vc tem uma visão mtoooo legal da história! Tudo que vc coloca de novo na trama faz mto sentido! Parabéns!!!! Ahhhh, meu níver tb é 23 de junho! Será um super presente (apesar da tristeza pelo fim) ler o desfecho dessa história incrível! 

    2014-06-10
  • Stehcec

    Acho q nunca comentei sua fic.Mas como agora comento todas. hahahaaTinha preguiça de escrever.Muito boa sua fic. só fico mega ansiosa por mais caps. ainda mais q está acabando.Abraço 

    2014-05-24
  • allissandra

    adorei o cap.perfeito,espero ansiosa a proxima postagem 

    2014-05-13
  • Juh Tralba

    OMG!!!!!!!!!   PERFEITOOOOOOOPrimeiro a reação do Ron,  impagável!  Segundo,  Gina NÃOOOOOOO1!!!!!! Terceiro,  nunca fui muito fã do Lucius, mais sei lá deu uma dor no coração.To triste que tá acabando, mais tá tão boa que eu fico super ansiosa pra ler o próximo capítulo!  Espero que sai logo! Bjus até o próximo capítulo!  ;* 

    2014-05-12
  • potter e weasley

    Uhull.... triste pela Gina... Vai ser o seu presente e o meu tbm...kkk. O meu e um dia dps do seu... Aguardo o proximo

    2014-05-07
  • brunissimaaa

    meeeee... ta cada capitulo um melhor que o outro!meu niver é em junho tbm... me presenteie com uma versao impressa! :Dnao vejo a hr de sair o proximo capitulo! #ansiosa

    2014-05-07
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.