Back to Black



Harry e Gina passaram os dias ajudando na conservação do Largo Grimmauld. Lily, sempre que podia, passava tarefas diferentes para os dois, tentando afastá-los um pouco, apesar de fingir não se lembrar de que dividiam a mesma cama, à noite.


– Talvez eles achem que, nos cansando desse jeito, não role nada com a gente, mais tarde... – Gina disse a Harry, quando se encontraram brevemente nos corredores, ela levando uma braçada de roupas velhas de cama para jogar no lixo, ele com dois sacos cheios de fadas mordentes, recém retiradas de uma estante velha e abarrotada de artigos das trevas.


– Quanta inocência, a deles... – fez graça, antes de lhe dar um beijo rápido e seguir no corredor.


Depois de deixar os sacos no quarto que Lupin usava quando ia à sede da Ordem (o professor queria usar alguns espécimes nas aulas), Harry voltou para a sala que estavam dedetizando, flagrando Tiago e Sirius lutando, fazendo duas estátuas horrorosas de espadas, antes de jogá-las no entulho de coisas imprestáveis.


Harry olhou para o padrinho com mais atenção, e começou a se questionar porque, afinal, ele era um recluso...


– Sirius, por que você nunca se casou?


O padrinho ficou sério como poucas vezes Harry havia presenciado. Daria para cortar o constrangimento da sala com uma faca.


– É algum segredo? – Harry olhava de Sirius para o pai, ambos taciturnos. – Você é gay?


Foi como se uma bomba tivesse explodido na sala. Tiago estava sem ar de tanto rir, e Sirius estava vermelhíssimo, claramente dividido entre rir ou ralhar com o afilhado.


– Eh, desculpa, eu não quis me intrometer nem nada, mas não acho que você deveria se envergonhar, isso é super normal, cara...


Se possível, Tiago conseguiu rir ainda mais, o que piorava exponencialmente o constrangimento que Harry sentia no momento. Já estava arrependido que ter tocado no assunto, que era, claramente, um tabu.


– Harry – começou Sirius, pausadamente. –, apesar de todas as cantadas que o seu pai me deu, eu não sou gay!


– Ei! Não me meta nessa história! – Tiago falou rapidamente em sua defesa, e foi a vez de Sirius rir da cara dele.


– Eu não tenho muito orgulho do que vou contar, mas acho que já é hora mesmo de você saber... Sente-se.


Tiago se levantou, colocou a cabeça no corredor, para ver se alguém ouvia a conversa. Fechou a porta com cuidado, imperturbalizando-a, e foi se sentar próximo dos dois.


– Harry, você sabe que a minha família era tradicional e idiota, mas talvez não entenda a fundo isso... Por conta desta fixação por nobreza do sangue e para manter o nome da família Black em gerações, perpetuando estes ideais cretinos, fui prometido em casamento para a minha prima Bellatrix.


– Be-Bellatrix Lestrange?


– À época, Bellatrix Black. – explicou o padrinho, numa voz sem emoção. – Como você já deve ter percebido, na nossa família, os homens eram mais importantes do que as mulheres, por podermos manter o nome e a linhagem. Assim, todos sabiam que havia sido uma honra que escolhessem Bella para ser a minha esposa, mesmo ela sendo 1 ano e meio mais velha que eu... No meu aniversário de 7 anos houve uma cerimônia simbólica para selar o compromisso de nossas famílias, e ela estava lá, empertigada, com aquele olhar de desinteresse estético por tudo, mas a família entendeu aquele ar blasé como orgulho...


– Sirius, vocês eram duas crianças! Como pode uma coisa dessas? Esse tipo de coisa é tão arcaica...


– Harry, você realmente não faz ideia de como a minha família era! Fomos adestrados a vida inteira para acreditarmos que éramos de uma casta superior, e para não nos misturarmos aos demais bruxos... Imagine se ela sonhasse no que essa casa se tornou! – Sirius desabafou. – Eu sempre odiei esse ambiente, essa pompa vazia, essas obrigações falidas... Por isso, quando entrei em Hogwarts, o chapéu seletor deixou muito claro para a família que eu não era meramente rebelde, eu era diferente deles!


– E Bellatrix já estava na escola nessa época, não é?


– Claro que sim. Ela me ignorou solenemente, quando fui pra Grifinória, o que foi ótimo. Quando Narcisa e Régulo entraram na escola, eles foram proibidos por Bella de comentar, com quer que fosse, que éramos “noivos”. Não nos suportávamos, e ficávamos felizes em fingir que não nos conhecíamos nos 9 meses de aula, mas quando voltávamos nas férias era um inferno! Organizavam eventos na família para o planejamento do nosso casamento, eu era obrigado a participar de tudo, sob pena de não voltar para Hogwarts...


Sirius perdeu-se um pouco em reminiscências, e ficou meio que digerindo a história que tinha vivido e que tentou, durante tanto tempo, fingir que não tinha acontecido com ele.


– Quando Bella fez 16 anos, resolveram que era hora de apresentar o casal de noivos à high society bruxa. Eu tinha 14 anos, já era mais alto que ela e fazia muito tempo que discutíamos em pé de igualdade, sem a família perceber, nestes odiosos eventos familiares... Mas justiça seja feita: Bella conseguia dissimular o seu desgosto como ninguém, qualquer um que a observasse, teria certeza de que ela estava orgulhosa e até feliz com a perspectiva de futuro... Teria sido ainda mais torturante se não fosse a presença do meu meu tio Alfardo, única pessoa agradável e que me divertia naquele ambiente. Ele sempre havia sido considerado excêntrico pela família, mas era rico demais para ser banido por ter a língua maior que a boca e um humor excelente! Voltando à festa: grande parte dos convidados para o evento tinha filhos estudando em Hogwarts e a notícia do nosso noivado se espalhou feito rastilho de pólvora, na escola!


– Eu me lembro de ter ficado extremamente chocado com isso, já que o Almofadinhas aqui nunca tinha comentado nada sobre ser um rapaz comprometido...


– Eu não comentei porque não tinha nenhuma intenção de levar essa história adiante! Depois de muito bater de frente com a minha família e não conseguir que eles me entendessem, resolvi procurar uma saída silenciosa de onde estava metido!


– É, mas a sua maneira de demonstrar que o noivado não era levado a sério não foi muito bem recebida pela sua noiva, né? – Tiago provocou.


– O que você fez, Sirius?


– Fiz o óbvio: desmenti essa história com atos! Fiz o que hoje vocês chamam de “passar o rodo”!


– Harry, você não faz ideia de quantas meninas passaram pela “catraca Black”, nessa época! Eu ainda não namorava a sua mãe, mas tive que ter uma conversa muito séria com um certo cachorro para que deixasse a minha ruiva fora do rastro de destruição dele...


– Mas e a Bellatrix? Ela ficou calada, enquanto você fazia tudo isso na escola, estando noivo dela?


– Ela me ignorou durante todo o semestre, Harry. Agora admito que eu fiquei um pouco desapontado por ela não ter esboçado nenhuma reação, não era do feitio dela, fazer isso... Mas acabou que ninguém acreditou que éramos noivos de fato, e começaram a ventilar a hipótese de que quem queria chamar a atenção dela era eu, ficando com aquelas meninas todas e não me prendendo a ninguém...


– E era isso o que estava acontecendo? – Harry inquiriu, curioso pra saber do desenlace dessa história.


– Voltamos para as férias com a família. – Sirius continuou, ignorando a pergunta do afilhado. – Ela tinha terminado o 6º ano e eu o 5º. Eu estava intrigado com a falta de reação dela, mas é claro que eu sabia que ela estava com raiva, pelo jeito como ela ficava quando era obrigada a ficar perto de mim. Bella podia ser geniosa, malvada, manipuladora, mas algo eu não posso negar: ela amava a família e toda essa babaquice de nobreza, e não ia me deixar atrapalhar o plano todo... Por isso, ela se manteve impassível e eu comecei a me divertir provocando a fera... Eu queria ver até onde ela iria com aquela pose de Rainha de Gelo, e comecei a me aproximar, a abraçá-la em público, para que ela não conseguisse se desvencilhar de mim sem dar a entender o quanto ela não me suportava... Os olhos dela faiscavam de ódio, e aquilo mexia comigo de uma maneira que eu não conseguia me controlar... – Sirius se permitiu um sorriso, nesse momento.


– E quando você percebeu que tinha se apaixonado por ela?


– Eu não tinha essa consciência, Harry... Sabe quem percebeu isso e me disse? Meu tio Alfardo! Num dos eventos da família, ele percebeu que eu a seguia com o olhar por todos os cantos da sala, ironicamente feito um cachorrinho, e me puxou em um canto, querendo entender o que estava acontecendo...


– Nunca tinha te visto tão feliz com o noivado, meu caro...


– Tio Alfardo, não estou entendendo o que o senhor quer dizer... – Sirius não dava atenção ao senhor, ainda procurando com os olhos Bellatrix, que dançava com Rodolfo Lestrange ao longe.


O tio o olhou com um misto de condescendência e compaixão, tirou um frasco pequeno do bolso e, discretamente, despejou algumas gotas numa taça de vinho dos elfos e ofereceu a Sirius, que não percebeu o que o tio havia feito, olhos fixos na noiva, e virou a bebida de uma vez.


– Eca! Tio, o que tinha nessa bebida? – tossiu Sirius.


– Um forte antídoto para poções variadas, especialmente poções do amor. Quando se é um velho podre de rico, deve-se andar prevenido... Há muitas interesseiras por aí!


– E porque diabos o senhor me daria um antídoto para poção do amor? – rosnou, esfregando a mão na língua, para tentar tirar um pouco o gosto da bebida.


– Porque eu queria saber se Bella havia te enfeitiçado com uma poção ou com o bater dos seus belos cílios...


– O QUÊ?


– Pelo visto, foram os encantos naturais dela que te chamaram a atenção... Estou deveras surpreso, nunca imaginei que você, justo você, pudesse se apaixonar por tudo o que ela representa... Mas a parte boa é que, a não ser que você também tenha usado uma poção do amor, algo que duvido, ela também está caidinha por você.


Sirius olhou para onde Bella estava, mantendo uma distância respeitosa do seu par e olhando discretamente para onde ele estava, com um ar de curiosidade e de preocupação com o acesso de tosse que ele tinha tido há pouco, e ele soube que o tio não havia mentido.


– Naquela noite eu senti medo. Medo do que estava me tornando, medo de ser o que a minha família sempre quis que eu fosse, medo do que eu sentia por ela... Arrumei as minhas coisas e fugi pra casa da família do seu pai, sem me despedir de ninguém. A única coisa que fiz foi deixar uma carta abrindo mão de tudo o que dizia respeito à família Black e acabando o noivado, mas parece que a carta não teve muito valor legal, pois esta casa acabou vindo pra mim...


– Mas Sirius, isso não explica porque você nunca se casou...


– É porque a história ainda não acabou, Harry. Quando voltei para a escola, descobri que Bella havia noivado com Rodolfo Lestrange. O natural seria ela ter noivado com Régulo, mas ele já havia sido prometido para Cissa, e haveria um cisma familiar, se houvesse uma mudança nesta altura... Eu ainda não sabia como lidar com o que estava ocorrendo, muito menos para ver a versão noiva feliz... Bella andava exibindo o anel de noivado que havia ganhado, dizendo para quem quisesse ouvir que estava noiva de um homem de verdade, mais velho, e que sabia o que queria na vida...


Tiago se levantou e deu umas batidinhas de leve nas costas do amigo, compreensivo na sua dor.


– Mas a parte que vou narrar agora, eu nunca contei nem pra você, Pontas... – Tiago o encarou, surpreso. Para ele, a história havia terminado aí, nesse acorde suspenso que nunca tinha se resolvido. – Na noite de Halloween, houve um baile nas masmorras, do Clube do Slug...


– Aquele baile em que meus pais começaram a namorar?


– Não, esse foi o do ano seguinte. – explicou o padrinho. – Como os convites para as festas do Slug são limitados, havia algumas festas informais acontecendo em todo o castelo. Eu ainda estava obcecado por Bella e aproveitei aquela noite de relativa calmaria para acompanhar, pelo Mapa do Maroto, onde ela estava, pra tentar encontrar com ela a sós pra, sei lá, conversarmos... O pessoal do 7º ano da Sonserina que não estava no Clube do Slug estava fazendo uma festa clandestina nas torres de Astronomia, e ela estava lá.


– Eu não sabia que rolava destas festinhas em Hogwarts! – Harry impressionou-se.


– Ah, meu filho, tem tanta coisa que acontece ao mesmo tempo naquela escola... Uma festa dessas é fichinha! – Tiago riu, incentivando Sirius a continuar.


– Consegui achar uma sala desocupada perto das escadas da Torre de Astronomia, e fiquei na espreita, esperando que ela saísse da festa. Quase duas horas depois de acompanhar, com ódio, o pontinho dela se aproximar de vários pontinhos de garotos, ela milagrosamente saiu da festa, discretamente e sozinha. Ela vinha distraída, depois que a puxei para a sala e a soltei foi que percebi que ela estava alterada por ter bebido.


– Eu não sabia que a técnica que você usava para agarrar metade da escola era a coerção, mas agora tudo começa a fazer sentido para mim... – vociferou Bella, com raiva mal contida.


Sirius aproveitou o momento para lacrar a porta e a encarou longamente, como talvez nunca tenha se permitido fazer na vida. Ela estava na defensiva, varinha em punho, esperando que ele dissesse alguma coisa.


Ele abriu a boca para tentar dizer alguma coisa, mas não achava nada. Não havia se preparado para aquele encontro, ele sabia que não tinha direito que lhe dizer coisa alguma. Depois de um tempo, ele baixou a varinha e esperou o que quer que ela tivesse planejado para se vingar dele, por ter frustrado todos os seus planos.


– Não se atreva a não lutar agora! Você lutou a vida inteira, não tire o prazer que eu terei em te derrotar!


– Bella, eu já perdi faz tempo... – soltou a varinha e abriu os braços. – Pronto, estou indefeso. Vingue-se!


Bellatrix se aproximou lenta, mas decididamente, e deu-lhe um tapa tão forte que a marca dos seus dedos ficou estampada no rosto dele. Sirius sabia que tinha merecido, mas não lhe daria o prazer de ouvi-lo gemer.


Ela o observava com curiosidade e raiva, passando os dedos longos e finos em cima da marca ainda quente no rosto dele, que só a encarava. Ela o empurrou com força, fazendo com que ele batesse com estrondo na parede, mas não saía um som dos lábios de Sirius.


– REAJA, SIRIUS! – gritou, partindo pra cima dele, esmurrando-o no peito, varinha caída no chão, esquecida talvez pela primeira vez na vida de que era uma bruxa.


A explosão que fez com que ela começasse a bater nele não foi suficiente para evitar que ele percebesse que ela chorava. E, finalmente, reagiu, abraçando-a com ternura.


– ME SOLTE, SEU IDIOTA! PORQUE VOCÊ SEMPRE ESTRAGA TUDO? EU TE ODEIO, SIRIUS! – ela tentava empurrá-lo, mas suas tentativas eram débeis demais para serem reais. Ambos sabiam que ela queria se entregar àquele abraço, e ele sabia que a iniciativa teria que ser dele.


No momento em que a beijou, soube que estava perdido. Mesmo com todos os eventos promovidos no noivado, nunca tinham se aproximado muito, exceto das últimas vezes, quando ele tentava provocá-la, então não poderia imaginar que a química entre eles seria tão devastadora.


Bellatrix correspondia aos movimentos dele com brutalidade, como se sentisse prazer em infligir dor, mas ele gostava desse estilo, e começou a tratá-la do jeito que ela o estava tratando, segurando-a firme e possessivamente pelos cabelos com uma das mãos, e, com a outra, puxava com força o corpo dela para colar-se ao dele, mostrando com o seu o quanto estava excitado com esse jogo de dominação.


Bellatrix o empurrou, com o olhar faminto, tentando voltar ao controle da situação. O olhar de predador dela para ele o deixou louco, mas ele estava curioso demais para saber o que ela ia fazer, para tentar subjugá-la. Ela se movia como uma pantera, lânguida e saboreando a vítima, aos poucos, antes do ataque.


– Vai tirar as vestes sozinho ou quer que eu as rasgue? – sussurrou, enquanto mordiscava-lhe o lóbulo da orelha e descia as mãos nas costas dele, rumo ao cós da calça.


Ela não esperou que ele dissesse nada. Ambos sabiam que a opção escolhida seria a segunda, o que ela fez aos poucos, saboreando o efeito no corpo dele, que, em breve, não teria onde se esconder.


Antes que ela lhe tirasse a calça, Sirius voltou ao comando e, de uma vez, rasgou as vestes dela, deixando-a apenas de calcinha e sutiã. Ela acompanhou o olhar dele para o seu corpo e, bem lentamente, tirou as peças que lhe restavam, pulando em cima dele, em seguida.


– Passamos a noite inteira naquela sala, como se não houvesse mundo fora daquela porta. Depois de ficarmos, eh..., “acordados” quase a madrugada toda, eu finalmente dormi. Quando acordei, ela tinha ido embora. Tentei falar com ela depois daquela noite, mas ela me ignorou. Foi como se nunca tivesse existido...


– Almofadinhas! Eu não não sabia que vocês tinham chegado às vias de fato!


– Talvez tivesse sido melhor para ambos que nada tivesse ocorrido... Passei meses atrás dela, sem sucesso, até que desisti... Então, antes da páscoa, recebi a notícia que meu tio Alfardo havia morrido. Ele estava doente há muito tempo, em segredo, pois não queria que a família tentasse interferir no seu testamento... Tio Alfardo fez a sua última excentricidade: deixou todo o seu ouro e a sua casa para mim. Foi por isso que ele finalmente foi queimado na tapeçaria Black – Sirius apontou para a parede atrás de onde estava sentado.


Harry se levantou e olhou com mais apuro para os pontinhos queimados no enorme quadro, e Sirius mostrou-lhes onde o tio estivera antes.


– Eu já era maior de idade, resolvi os papéis no mesmo dia e fui, em choque, para a casa que então era minha. Chovia muito e, a despeito de toda a loucura do meu tio, a casa estava impecavelmente arrumada... Era como se ele mantivesse todo o caos e toda a loucura dentro da própria cabeça... Foi ao me deparar com aquele lugar que quebrei... A única pessoa que verdadeiramente havia me amado na minha família tinha morrido, e eu me sentia extremamente perdido... Então a campainha tocou!


Levantou-se, desconfiado. Quem poderia saber que ele estava ali? A família toda renegou o tio Alfardo, as únicas presenças no funeral, além dele mesmo, eram a sua prima Andrômeda e seu marido nascido trouxa, Ted Tonks, e eles sabiam que Sirius queria ficar sozinho, naquele momento.


Abriu a porta alerta, varinha em punho, mas não conseguiu reprimir a surpresa ao ver Bellatrix, molhada até os ossos, encarando-o.


– O que você faz aqui? – finalmente conseguiu falar.


– Eu... eu soube do que aconteceu com o tio Alfardo e sei o quanto você gostava dele e fiquei preocupada com você! – falou muito rápido e extremamente constrangida.


– Você ficou preocupada comigo? Faz meses que você nem demonstra que sabe que eu existo e agora aparece aqui, com esse discursozinho de prima preocupada? – ela não tinha como contra-argumentar, mas baixou o olhar, tremendo de frio. – Droga, Bella, entra logo!


Sirius pegou um roupão pra ela, e esperou que tomasse um banho quente, tentando compreender, afinal, o que ela estava fazendo ali. “Seria por causa do dinheiro que agora tenho?”, pensou, mas logo tirou a ideia da cabeça... Ela podia ser ambiciosa, mas não era dinheiro que a movia, e sim, poder. Pegou um copo com firewhisky e sentou-se no sofá da sala, relutando em admitir que estava feliz por ela ter vindo.


Bellatrix sentou-se ao seu lado, pegou o copo das suas mãos e tomou um grande gole da bebida, e manteve-se em silêncio, observando-o.


– Bella, estou esperando uma explicação!


– E eu tenho uma proposta: porque não deixamos tudo o que está fora dessa porta longe de nós e nos concentramos no que vai acontecer aqui?


– Estou cansado dos seus joguinhos, Bella... Hoje, particularmente, não estou com nenhum humor para ser o seu cachorrinho... Eu sei que você não tem uma gota de respeito por mim, mas tenha respeito, ao menos, pela dor que estou sentindo!


Os olhos dela brilharam intensamente em resposta. Ela deu de ombros, com fingido ar de “ok, você venceu!” e perguntou-lhe o que queria saber.


– Por que você fugiu, na noite do halloween?


– Porque o que aconteceu ali jamais deveria ter ocorrido: sou noiva de outra pessoa, você é um pária, e eu nunca admitiria para ninguém, nem mesmo pra você, o quanto você mexe comigo!


Sirius sabia que aquela confissão era sincera. Conhecia-a bem demais para não perceber que ela era orgulhosa o suficiente para acreditar naquilo. Pegou o copo vazio da mão dela e serviu mais firewhisky para eles.


– E você? Por que acabou nosso noivado naquela noite, sem explicação alguma?


– Foi quando eu percebi que havia me apaixonado por você, Bella...


– Deixa eu ver se eu entendi bem: você acabou o noivado porque se apaixonou pela sua noiva? Que sentido faz isso, Sirius? – retrucou, olhos faiscando.


– Você é um rolo-compressor, mulher! Eu sabia que não havia como ficar com você sem ter que sucumbir aos planos da família, que eu sempre desprezei... Pode não parecer, mas tenho princípios! – tentou se defender. – E eu sei que, se tivesse mantido o noivado, eu nunca conseguiria dizer não pra você... – admitiu, baixinho.


– Você tem noção de quão devastada eu fiquei, quando você me abandonou?


– Acho que não muito, porque logo apareceu “um homem de verdade”, para ocupar o meu lugar como noivo dedicado!


– Rodolfo é um imbecil e pegajoso, amigo dos meus pais, que rapidamente propôs o noivado, de olho na ligação com a nossa família!


– Sua família! – corrigiu, revoltado. – E você, imagina como me matava te ver se exibindo com o noivado novo, coisa que você nunca tinha feito comigo? E como me destruiu quando me largou depois da nossa noite? – levantou-se, quase gritando.


– E VOCÊ ACHA QUE ALGUMA DESSAS COISAS FOI FÁCIL, PRA MIM? ACHA QUE EU FICO FELIZ EM ESTAR APAIXONADA POR UM COMPLETO IDIOTA FEITO VOCÊ? – gritou de volta, também se levantando.


Sirius segurou-lhe pela nuca, daquele jeito bruto que ele sabia que ela gostava, e finalmente pararam de brigar com palavras, e passaram a brigar do jeito que melhor sabiam, um tentando dominar o outro.


Passaram o feriado inteiro juntos. Era como se o mundo deles fosse aquela casa... Mas, na madrugada de domingo para segunda, não podiam mais ignorar que tinham que voltar para a escola e para a vida de cada um.


– Bella, vamos fugir! Agora eu tenho dinheiro, podemos ir embora daqui e começarmos a vida em outro lugar, longe das obrigações que nos foram impostas...


– Ambos sabemos que você não faria isso... Você não abandonaria os seus amigos, a sua liberdade, para se esconder...


– Se eu estou te propondo é porque eu quero fazer isso! Mas você conseguiria largar a família, o status, seu noivo amado? – completou, irritado.


– Ela não respondeu. Não precisava. Eu sabia que a trégua que tivemos havia acabado. Cada um aparatou separadamente em Hogsmead e voltamos para a escola em horários diferentes. Ambos maiores de idade, não tivemos que dar satisfação para ninguém, de onde estivemos.


– E eu achando que a tua cara quando tinha voltado era por conta apenas da morte do teu tio...


– Mas e aí, Sirius? Acabou?


– Não, né? Por mais orgulhosos que fôssemos, nunca conseguimos ficar muito longe um do outro... Começamos a nos encontrar furtivamente na escola, sempre de forma avassaladora e sem promessas. Não era muito, mas era o que sabíamos que podíamos ter... Passamos as férias juntos, na minha casa, e ela foi cuidar, de fachada, do noivado. Encontrávamo-nos com certa frequência, na Casa dos Gritos durante o meu sétimo ano, eu estava decidido a convencê-la a fugir comigo, até que eu fiquei sabendo que ela estava envolvida com os planos de Voldemort.


Sirius chegou em forma de cachorro, rosnando. Bellatrix estava impacientemente andando de um lado para o outro, quando ele entrou e fechou a sala. Sirius voltou à sua forma e foi direto ao assunto:


– Precisamos conversar. – ambos disseram ao mesmo tempo. – Damas primeiro, Bella!


– Eu... eu mudei de ideia! Se a proposta de fugirmos ainda estiver de pé, eu topo!


– Por quê? – perguntou, desconfiado.


– Preciso de motivo, Sirius? Mudei de ideia, simplesmente! – ela se irritou pela desconfiança dele, como se tivesse se esquecido de todas as coisas que já tinha aprontado.


– Você não dá ponto sem nó, Bella! Essa fuga é para ficar comigo ou tem algum outro motivo? Voldemort não está satisfeito com os seus préstimos?


O sangue sumiu do rosto dela, por um instante.


– Como você soube disso?


– Então é verdade, Bella? Você está envolvida nas atrocidades desse maníaco?


– Não é por isso que eu quero fugir! Sirius, por favor, vamos embora! – ela começou a suplicar, abraçando-o.


Sirius olhava pra ela com nojo, sentindo-se usado, mais uma vez, por ela, por seus caprichos, por suas ideias tortas e desconexas de realidade. Ele precisava de distância, mas ela o segurava com muita força. Precisou empurrá-la para se desvencilhar, e ela bateu com estrépito num móvel velho, que se desmanchou com o impacto. Sirius era bem mais forte que Bella, e ela desmaiou.


– Bella! Droga, eu não queria ter feito isso! Acorda, Bella! Ennervate!


Bellatrix abriu os olhos, mas não conseguiu reprimir o esgar de dor. Sirius tentou levantá-la, mas se assustou com o sangue que emplastrava sua saia. Colocou-a no colo e a levou para a ala hospitalar, mesmo sem ela estudar mais em Hogwarts. Madame Pomfrey olhava horrorizada para a cena: ele, branco feito cera, ela, desmaiada e ensanguentada, nos braços dele.


A enfermeira não fez perguntas, pediu que Sirius a pusesse na maca, se afastasse e que fosse chamar o diretor. Quando Dumbledore abriu a porta do seu escritório e viu as marcas de sangue que ainda estavam no braço dele, prontamente tomou a frente, rumo à ala hospitalar.


– Ouvi quando Madame Pomfrey explicou para Dumbledore que Bella tinha perdido o bebê, e que talvez nunca pudesse ter outro, por conta de alguma má-formação ou sei lá o quê que não prestei muita atenção... Só sei que era o meu filho com ela e que eu o havia matado, sem saber!


Sirius virou-se de costas para Tiago e Harry, e assim ficou, por longos minutos, sem que ninguém rompesse o silêncio pesado da sala.


– Quando Bella acordou e ouviu o que havia acontecido, solicitou ao diretor que nada fosse informado à família, pois já era dona do próprio nariz e sabia o que estava fazendo, e então voltou-se para mim e me expulsou de lá e da sua vida. No mês seguinte, casou-se com o idiota do Lestrange e tudo o que eu soube dela foi que havia se tornado uma das mais fervorosas seguidoras de Voldemort.


– Cara, por que você nunca me contou isso? Como você conseguiu aguentar uma barra dessas sozinho?


– Eu tenho muita vergonha dessa história! Tê-la vivido me lembra como sou permeado pela essência maligna dos Black, e tudo o que eu queria era esquecer, mas foi impossível! Não consegui mais entrar na casa do Tio Alfardo sem me lembrar do que vivemos lá, e a vendi. Depois que as coisas se acalmaram, quando você já tinha quase 2 anos, Harry, fui viajar, tentei namorar outras mulheres, mas não consegui me desvencilhar do passado... Até hoje, dessa maneira torta, ainda sou apaixonado por ela... Se antes eu já sentia vergonha pelo que sentia, hoje, vendo no que ela se tornou, tenho nojo de mim, por ser tão fraco...


– Mas a gente não escolhe quem a gente ama, Almofadinhas...


– Eu sei. Mas eu escolho não sucumbir a essa... essa doença!


Harry não sabia o que dizer para reconfortar Sirius. Agora o patrono em forma de serpente fazia todo o sentido. Deu um abraço apertado no padrinho, e saiu, para que o pai pudesse conversar mais à vontade com o melhor amigo.


Naquela noite, Harry demorou a dormir, abraçado à Gina, lembrando-se da história do padrinho e pensando em como tinha sorte.


* * * * * * * * *


Dumbledore chegou à sede ao Largo Grimmauld após o horário do jantar, no domingo, para escoltar Harry e Gina para a escola, como se tivessem passado os últimos dias em St. Mungus. Sirius, Tiago e Lily estavam à mesa com os dois garotos, conversando amenidades e aguardando.


– Boa noite, meus caros! Peço perdão pela inconveniência do horário, mas acredito que seja o melhor para que não levantemos suspeitas sobre o que de fato ocorreu... Inclusive, aproveito para lhes dizer que, aparentemente, Tom Riddle não percebeu que uma de suas horcruxes foi destruída, mesmo que ele não soubesse da sua existência.


– Alvo, a sua fonte é mesmo segura? Tenho medo de que ele perca o controle e ataque Harry! – preocupou-se Lily.


– Não se preocupe, minha querida! Garanto-lhe que, por ora, estamos em segurança... Agora eu quero me aproveitar um pouco mais do raro momento em que estamos todos juntos para falar-lhes sobre alguns assuntos pertinentes: inicialmente, conseguimos uma grande vitória com a destruição desta horcrux em especial, pois, caso contrário, Harry teria que necessariamente morrer para que Tom fosse destruído...


Todos os olhares da sala se voltaram para Harry, neste momento.


– Dando continuidade, considero essencial que conheçamos mais a fundo o funcionamento da mente de Tom, para que possamos prever seus próximos passos. Por este motivo, confiarei em vocês uma história que aconteceu há mais de 50 anos, em Hogwarts, na época em que Tom Riddle era meu aluno.


Dumbledore contou-lhes sobre a Câmara Secreta: que havia sido aberta, que nascidos trouxa haviam sido atacados, até que uma aluna foi morta. Quando o diretor lhes disse que os ataques só acabaram quando encontraram o culpado e o expulsaram da escola, foi com absoluto choque que a audiência reagiu ao ouvir que Hagrid tinha sido considerado responsável pelos ataques.


– Dumbledore, essa história não era uma lenda? – Tiago perguntou, estupefato.


– Infelizmente não, meu caro. Ela foi, de fato, aberta, e Hagrid foi considerado culpado, foi expulso, teve sua varinha quebrada e seria preso em Azkaban, caso eu não tivesse assumido que cuidaria dele, pois era menor de idade.


– Isso é impossível, Professor! Não foi ele! – Harry indignou-se.


– Eu sei disso, Harry! Sei que Hagrid é inocente, mas ele nunca me contou, afinal, o que ocorreu e por que foi considerado culpado... O desgosto e o choque causaram-lhe um trauma tão grande que nunca me senti à vontade para pressioná-lo para saber o que de fato havia ocorrido...


– Mas o senhor desconfia que foi Voldemort que abriu a Câmara Secreta, não?


– Sim, tenho as minhas desconfianças.


– E o senhor perguntou a Hagrid o que, de fato, ocorreu?


– Harry, entenda: se Hagrid fosse capaz de me contar esta história, já o teria feito! E eu não contaria este segredo que não é meu para vocês se não achasse de suma importância e se não acreditasse que vocês têm plena condição de extrair esta informação dele. Na realidade, a única pessoa que acho que pode descobrir isso é você, Harry!


– Eu? Professor, eu não tenho coragem de perguntar isso pra ele! Se o senhor, sendo quem é, nunca conseguiu esta informação, como eu conseguiria?


– “Como” eu não sei, mas sugiro que você conte com a ajuda da sua família e dos seus amigos para descobrir uma maneira, isso é muito, muito importante! É crucial que saibamos onde fica a Câmara Secreta!


– Professor, mas pode ser que ele não saiba onde fique...


– Mas ele pode ter pistas que podem nos levar até lá!


– E se nós tentássemos fazer uma pesquisa, para tentar, por outros meios, descobrir onde fica a Câmara?


– Eu sugiro que envidem esforços em tentar descobrir a versão de Hagrid, pois os livros que falam sobre este assunto já os li todos!


– E por que é tão importante que achemos esta Câmara, afinal? – Gina perguntou.


– Porque acredito que haja alguma horcrux escondida lá! – sentenciou o diretor.


* * * * * * * * *


Pessoas,


Mil perdões pela demora!
O bicho pegou e não soltou no meu trabalho em dezembro, viajei e só voltei domingo passado!


Mas não se preocupem, eu vou terminar esta fic! :)


Sobre o capítulo: eu sempre quis escrever a história do Sirius e da Bellatrix, até cogitei escrever uma outra fic só dos dois, mas mal dou conta de terminar esta, seria muita audácia da minha parte começar outra...


Agradeço, como sempre, aos comments no capítulo e na fic: allissandra, dessa potter, Láh Jane Weasley, loucapotterygina, Martha Weasley, sasa lovegood e Tattyy Potter!


Comentem, votem, reclamem, sugiram!
Aguardo ansiosa o retorno de vocês!


Beijo grande e acho que o próximo capítulo deve sair por volta do dia 20, ok?
:***

UPDATE: havia me esquecido de responder ao comment da Láh Jane Weasley: muito obrigada pela crítica construtiva! admito que acabo usando muitos termos que acabam por se repetir, mas isso se deve, em parte, porque fico tão ansiosa para postar que acabo sendo um pouco relapsa na revisão... mas planejo em breve, muito breve, revisar as duas fics, e tirar muitos erros que sei que tem no meio delas! mais uma vez, obrigada!

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Comentários (2)

  • Patilion

    esperando continuação =padorei a história do SxB 

    2014-01-30
  • potter e weasley

    Perfeita.... Adorei a fic... Li a pouco tempo a outra e adorei essA.... Aguardo o proximo bjo

    2014-01-24
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