Conversa Séria



Harry se deixou cair novamente na poltrona, tentando tirar a ruiva do pensamento e pensar numa maneira para ajudar Liam, mas o que ela lhe dissera não saía de sua cabeça. Não era que não confiasse nos amigos, mas tinha medo por eles.


"Neville sabe!" - gritou uma vozinha na sua cabeça. "Ele sabe por que os pais deram com a língua nos dentes, não fui eu que contei!" - respondeu a essa vozinha, num tom impaciente.


"Isso não importa! O que interessa é que, muitas vezes, ele pôde lhe ajudar, quando você precisou... Outra coisa, os outros não estão correndo menos perigo por estarem na ignorância! Talvez seja justamente o contrário!" - a voz se revoltou.


O pior é que era verdade, e Harry sabia disso. No seu íntimo, sentia que já devia ter contado aos amigos, mas além de todos os "nobres" argumentos que ele sempre levanta para se justificar, tinha medo da sua reação, de que se afastassem de fato, por medo.


- Exatamente do que essa ruiva doida me acusou! - resmungou, passando as mãos pelos cabelos, impaciente.


- Falando sozinho, Harry? - uma voz doce se pronunciou.


- Mãe? - quase sorriu, ao ver os pais entrando no reservado onde estavam, e correu para abraçá-los.


- Você está bem? Se machucou? - Lily o examinava com olhos de medibruxa.


- Estou bem, mas... - não conseguia falar, a culpa lhe enchendo o peito novamente.


- O que houve com Liam? - o pai se pronunciou, enquanto Lily foi examinar o mais novo, na cama.


Harry explicou o que haviam lhe contado, pois não vira o que acontecera, naquela fração de segundo em que baixara a guarda. Tiago e a esposa trocaram um olhar desconfiado, e Harry percebeu.


- Nós conhecemos os efeitos desse feitiço, Harry! - respondeu o pai, perante a pergunta muda que o filho lhe dirigira. - Quando ainda estávamos na escola, houve um ataque de Comensais em Hogsmead, e um deles lançou esse feitiço na sua mãe, mas outra pessoa se jogou na frente dela, absorvendo o feitiço.


- Quem fez isso? Essa pessoa - tomou ar. - sobreviveu ao feitiço?


- Era um bruxo muito poderoso, ele... - respondeu num ar distante.


- Eu o conheço?


- Ainda não, Harry, mas um dia vai conhecê-lo... Você está se encaminhando para isso! - acrescentou, de forma enigmática. - O nome dele também é Harry... Harry Granger.


- Granger? Então é parente da Mione!


- Acredito que não... Ele veio de longe, e é melhor você não tocar no nome dele com os seus amigos, certo? Ele prefere assim, e é melhor que respeitemos sua vontade!


- Tiago, me dê a poção. - pediu Lily, depois de examinar Liam, dando-lhe o remédio em seguida. - Acredito que amanhã de manhã ele já acorde. - respondeu ao olhar de Harry. - A convalescença vai ser dura, mas ele não corre riscos.


Pela primeira vez desde o acontecido, Harry se permitiu sorrir. Tiago lhe deu tapinhas no ombro, e Lily manteve o olhar concentrado no filho mais novo.


- Eu ainda não sei no que eu estava pensando, quando aceitei casar com você, Potter! - virou-se para o marido.


- Ei, o que eu fiz, agora? - levantou os braços, sem entender o que se passava. Harry olhava de um para o outro, curioso.


- Você só me deu filhos loucos! - acusou-o, segurando-se para não rir.


- Ah, foi isso? - suspirou aliviado, aproximando-se e abraçando a esposa. - Se loucura tem gene, com certeza ela não passou para eles só por mim, viu?


- Tiago! - deu-lhe um tapinha. - Foi você quem sempre se meteu em enrascadas, especialmente com os Marotos!


- E você sempre deu um jeito de me tirar delas, não foi? - deu-lhe um sorriso desmancha-pernas. - Pensa que eu não sei que você adorava ficar me observando durante as detenções...


- Você é muito presunçoso! - empurrou-lhe de leve, quebrando o contato, afinal, estavam num hospital.


- Sou realista, Lily!


- Você é ridículo, Tiago! - revirou os olhos, sem conseguir evitar o sorriso. - Tem horas que eu penso que você usou uma poção do amor comigo!


- Lily! - Tiago fez uma cara de ofendidíssimo, pondo a mão direita teatralmente no peito, e Harry se segurava pra não gargalhar perante a sofrível performance do pai. - O que Harry vai pensar?


- Que o pai é um canastrão! - completou, rindo. - Sua sorte, Tiago, é que eu sou uma mulher além de linda e maravilhosa - balançou os cabelos, fazendo graça. -, precavida! Harry, quando eu me conformei que gostava do seu pai, só me restou uma escolha profissional: ser medibruxa. Só assim para tentar mantê-lo inteiro, depois que virasse auror. Essa poção fui eu que desenvolvi, quando ainda trabalhava no St. Mungus. - apontou para o frasco agora vazio, ao lado da cama de Liam.


Harry ainda tentava não rir; Tiago resmungava e reclamava da parte em que Lily dissera que "se conformara" que gostava dele. Ela se aproximou do marido e lhe deu um selinho, dizendo que mesmo ele sendo louco, ela o amava.


- Agora, filho, sente-se. - pediu a mãe. - Precisamos conversar.


Tiago levantou-se e foi para a divisória de onde estavam, para ver se havia alguém acordado. Murmurou algumas palavras e voltou, postando-se atrás da esposa.


- Harry, quero que você mantenha-se alerta. Você viu o que aconteceu num "simples" passeio escolar. É bem verdade que, se você não estivesse lá, talvez houvesse muito mais feridos. - contemporizou a mãe. - Dumbledore cancelou os outros passeios do ano a Hogsmead, reforçou a segurança lá, mas é muito importante que você se cuide!


- A senhora está falando como se eu fosse atrás de confusão! - resmungou.


- Eu conheço a minha cria, então não perca tempo fazendo cara de desentendido, muito menos se ofendendo por besteira! - ralhou. - Eu sei que você quis se resguardar, mas já é hora dos mais próximos de você saberem o que está havendo! Talvez Liam não tivesse nem ido à Hogsmead...


- É a segunda vez que escuto isso hoje, mãe... - resmungou. - Será que ruivas pensam assim, tão igual?


- Não reclame! Cada Potter tem a ruiva que merece! - riu Tiago.


- E é óbvio que ela tem razão, filho. Deixe que nós conversamos com Liam, ele vai entender. Agora, vá para o seu dormitório, descansar. Eu e seu pai vamos ficar aqui hoje.


* * * * * * * * *


Harry acordou cedo, e foi direto visitar o irmão, que já havia acordado. Deu-lhe um puxão de orelhas por ter se metido no feitiço, mas Liam era orgulhoso, e não aceitou os resmungos do mais velho.


- Se não fosse por mim, você teria sido atingido! - Liam desconversou


- Isso não justifica você ter corrido risco de vida! - retrucou - E como você conseguiu ir até Hogsmead, se os passeios para lá são pros alunos a partir do terceiro ano? - Liam ruborizou e Harry anotou mentalmente uma futura conversinha com JoJo. Ele poderia informar se usaram uma das usaram uma das passagens secretas para o vilarejo vizinho.


- Vocês dois, vamos parar com essa discussão! - Lily os fez calar.


Rony, Mione e Gina foram visitar Liam, e, enquanto conversavam, Lily fazia recomendações a Madame Pomfrey. Pouco depois, Lily se despediu dos filhos e dos outros três (deu um abraço apertado em Gina, e sussurrou algo que Harry não conseguiu ouvir direito). A ruiva ficou vermelha, mas abraçou a mãe do garoto de volta.


Os quatro saíram da enfermaria, depois de serem praticamente expulsos por Madame Pomfrey. Harry os seguia, silencioso e desatento. Gina, pra variar, o ignorava, e ele agradeceu intimamente. Não queria discutir mais uma vez, e ele sentiu o desprezo dela como uma oportunidade para ficar sozinho com os seus pensamentos.


O burburinho que os recebeu no salão principal para o café-da-manhã de domingo tinha um tom diferente dos anteriores. Muitos alunos bateram palmas quando Harry passou pela porta, assustando-o, e fazendo com que ele olhasse para trás, imaginando para quem seria a ovação.


Alguns acenavam, das mesas de todas as casas, exceto, óbvio, da Sonserina. Harry não estava entendendo o que estava acontecendo, e, pra piorar ainda mais a sua confusão, uma massa loira pulou nos seus braços.


- Harry! Graças a Merlin você está bem! - Cindy não se preocupava em conter as lágrimas.


Harry tentava se desvencilhar da garota, que agia agora como se fosse uma namorada zelosa. Ao menos era o que todos estavam pensando. O garoto olhou para os amigos, meio que pedindo ajuda, mas eles haviam saído do perto.


Cindy segurava firmemente seu pescoço, e chorava copiosamente no seu ombro, dizendo que teve medo, que quase morreu de preocupação, essas coisas... Harry se segurava para não ser bruto com ela, mas a sua paciência já estava chegando ao limite.


Nesse momento, a loira começou a lhe beijar a nuca, rumo à sua boca. Depois de passado o susto pela cara-de-pau da garota, Harry mandou a educação às favas e deu um belo empurrão na loira.


- Tá louca, garota?


- Harry, porque você está agindo assim comigo? - se era possível, ela conseguiu chorar ainda mais.


- Eu que pergunto, que intimidades são essas, ainda mais na frente de toda a escola? - com as próprias palavras foi que se deu conta do barraco que ele estava armando no meio do Salão Principal.


- Mas nós estávamos juntos em Hogsmead, e -


- Acho que emito uma frequência para esquizofrênicas, só pode! Eu te ACOMPANHEI, - falou bem devagar, como se ela tivesse algum problema mental e não conseguisse entender a língua que falavam. - entendeu? Apenas isso.


Deu meia-volta e saiu do salão. Não queria mais shows, estava cansado, carregava um fardo chamado Lord Voldemort nas costas, não tinha perspectivas de futuro, e tudo o que ele não precisava era da reencarnação de Cho Chang atrás dele!


Ficou no dormitório o resto do dia, e, à noitinha, Rony, Mione, Neville e Luna (a convite do namorado) levaram comida para o quarto dele, e fizeram um piquenique improvisado por lá.


Contaram-lhe que Dumbledore havia cancelado as visitas a Hogsmead e cancelara, também, o baile do Dia das Bruxas, em respeito às perdas de alguns alunos, com as vítimas do ataque do dia anterior.


O diretor também comentou da insatisfação dos pais com a segurança da escola, mas, infelizmente, fora de lá a situação não estava melhor; toda semana havia notícias ruins, fosse morte em situação estranha de algum figurão do Ministério, fossem "acidentes" tidos como naturais, que resultavam num grande número de mortos, trouxas e bruxos.


O pior, pensava Harry, era que, mesmo com Voldemort agindo descaradamente, a maior parte da comunidade bruxa preferia não ver a verdade. Revirou os olhos e serviu-se de mais um sanduíche que os amigos haviam trazido, e esforçou-se para prestar atenção na conversa dos amigos.


- Harry, não precisava ter sido tão estúpido com a Cindy! - Mione falou, depois que Rony comentou a cena de mais cedo.


- Ah, dane-se! - resmungou em resposta. - Ela é louca...


- Eu achei muito bem-feito! - falou Luna. - Ela estava agindo na escola como se fosse a "Viúva Potter", dizendo que você a havia pedido em namoro antes da luta, e mais algumas baboseiras...


- Você já prestaram atenção que essas coisas só acontecem com o Harry? - Rony observou. - Garotas loucas, pessoas inventando histórias para desmoralizar ou ficar com ele... Cara, você deve ter uma maldição, viu?


Todos riram, mas Harry se manteve sério. Olhou para os amigos e viu que não podia mais esconder deles a verdade. Olhou o relógio; oito e vinte. Tinham tempo. Suspirou, e os amigos agora o encaravam, curiosos.


- Onde está Gina?


- Deve estar no Salão, jantando... Por quê? - Mione inquiriu, sobrancelhas arqueadas.


- Precisamos conversar. Todos nós. Mione, por favor, vá com Luna e Rony ao salão e chame a ruiva. Eu e Neville vamos na frente e esperamos vocês no sétimo andar, em frente à tapeçaria de Barnabás, o Amalucado. Não demorem.


- Já não era sem tempo, Harry! - Neville falou, quando já estavam quase chegando. - Achei que você nunca fosse contar...


- Aqui não é seguro falar disso. Vamos esperar os outros.


Em pouco tempo, os quatro chegaram, curiosidade estampada nos rostos. Harry pediu que se concentrassem num lugar onde pudessem conversar. Os que ainda não conheciam a Sala Precisa se entreolharam, mas não perguntaram nada.


Deram as três voltas em frente à porta, que se abriu, revelando seis cadeiras confortáveis, postas em círculo, no centro da sala. As três garotas sentaram juntas, Gina no meio. Os namorados sentaram ao lado das respectivas, e a Harry coube a cadeira exatamente em frente à ruiva.


- Vai começar, ou não? - Gina perguntou, impaciente, depois de um pesado silêncio.


De início, Harry não se mexeu. A ruiva chegou a duvidar que ele a tivesse escutado. Os cinco se entreolharam, e voltaram a encarar o garoto, que mantinha a cabeça baixa.


- Eu os chamei aqui... - começou, com a voz quase um sussurro. Os cinco se espicharam para entender o que ele ia falar. - Eu os chamei aqui para, primeiro, pedir desculpas a todos vocês. - levantou o rosto e encarou, por um instante, a ruiva. - Desculpem-me por ter mantido isso em segredo por tanto tempo, mas eu só quis protegê-los.


Parou um instante, deu um longo suspiro. Por um momento, arrependera-se da decisão de abrir o jogo. Percebera, só então, que não estava preparado para a reação deles, fosse qual fosse. Mas não era esse o momento para pensar nisso, ele tinha que contar.


- Hoje eu finalmente percebi que vocês tinham que saber. - recomeçou. - Neville sempre que podia, me pedia pra abrir o jogo, mas eu optei por me afastar de vocês, pra ver se assim, não correriam tanto risco. - os amigos mal piscavam, e olhavam de Harry para Neville, tentando entender o que se passava. - Como vocês viram, eu não consegui me afastar... - deu um sorriso débil. - Resolvi, então, protegê-los, sempre tentando me manter distante, mas nunca consegui ficar longe de verdade. Hoje quem foi ferido foi Liam, mas podia ter sido qualquer um de vocês, e eu vi que vocês precisam saber de tudo.


Baixou a cabeça mais uma vez. Não queria que os amigos se afastassem, com medo. Também não queria que eles sofressem, mas o que menos queria, naquele momento, era que eles sentissem pena por ele.


- É Voldemort, não é? - Gina quebrou o silêncio mais uma vez. Harry assentiu.


- Eu sou o "Menino-Que-Sobreviveu". - falou, sem emoção.


- Mas isso é apenas uma lenda, Harry! - argumentou Mione. - Isso foi uma história que inventaram quando Voldemort caiu há mais de quinze anos!


- É verdade, Hermione. - pronunciou-se, finalmente, Neville.


- É sério isso, cara? - Rony perguntou a Harry.


- Eu daria um braço para que não fosse, Ron. - gemeu em resposta.


- E o que ele quer com você? - o ruivo pensou em voz alta.


- Quer terminar o serviço...


- Harry, você escondeu isso da gente desde sempre? - Mione perguntou, magoada e confusa.


- Não, Mione, eu só soube no natal passado. Foi naquele dia em que ele voltou; eu senti a cicatriz na minha testa quase rasgar, e, no outro dia, meus pais e Dumbledore me disseram que ela é uma espécie de ligação que tenho com Voldemort, e que, por isso, eu senti quando ele retomou os poderes.


- E todas as vezes em que ele fazia algo grande, você sentia, certo? Foi assim quando os Comensais fugiram de Askaban, não foi? Eu sabia! - a amiga foi desenvolvendo o pensamento, e Harry não reprimiu a admiração pela percepção da garota.


- Eu fiquei sabendo que você desconfiava... - falou, e seu olhar caiu mais uma vez na ruiva, que se levantou, fumaçando.


- Você ainda consegue ser mais idiota do que eu achava! O que passou pela sua cabeça? Que seus amigos iam sair de perto de você? Ou você simplesmente não confiou em nenhum de nós, e agora, porque a sua consciência está pesada, você está abrindo o jogo? Se é que está nos dizendo tudo!


- Eu só quis poupar vocês, e - levantou-se também.


- Você só quis se poupar, Harry! Não levou em consideração, em nenhum momento, os sentimentos dos outros! O "grande Potter", olhando sempre para o seu umbigo, não via como os outros sofriam por sua causa! Se você não fosse tão cabeça-dura, esse último ano não teria sido o inferno que foi!


Virou-se, batendo a porta da sala com estrondo, deixando-lhe, pela segunda vez em menos de 24 horas, com todo o peso do mundo nas costas.


* * * * * * * * *


Putz, foi mal a demora, mas essa conversinha do Harry com o quinteto me deu trabalho... Sinto muito dizer, mas os capítulos realmente vão ser mais escassos em Dezembro; minha faculdade saiu da greve, o estágio tá me deixando louca e o coral (sim, eu desafino por aí!) está se apresentando loucamente, "de modos que" mal consigo ficar na frente do pc.


Outra desculpa que tenho que pedir é para os autores das fics que estão se acumulando, não estou conseguindo acompanhá-las todas. Perdão Sônia, Bernardo, Morgana e Kawa, dentre outros que estão sempre aqui... Sorry!


Obrigada pelos votos, comments e paciência! Bjos a todos e até o 25! =D


p.s. tô pior que o Harry, pedindo desculpas! =P

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.