Mudanças Sutis



Harry acordou na Ala Hospitalar, depois de Lily lhe ministrar uma Poção Revigorante, extremamente preocupada. A mãe não vira que ele estava desperto; conversava baixinho com Madame Pomfrey, no canto de sua cama.


Harry escutou vozes altas, e tateou pelo criado-mudo, até achar e pôr seus óculos. Viu Tiago, Sirius, Lupin, Tonks e Moody, todos olhando, assim como ele, para a porta, tentando ver quem discutia. A porta se abriu de súbito, e por ela passaram um sério Dumbledore e um vermelho Cornélio Fudge, fechando a porta ao passar.


- Dumbledore, isso é inaceitável! - gritava, a plenos pulmões.


- Não quero repetir mais uma vez para que tenha modos, Cornélio! Especialmente dentro de uma Ala Hospitalar! - falou, num tom lento, mas firme.


- Quem você acha que vai acreditar que a garota estava possuída, ainda mais por Você-Sabe-Quem, que está morto e acabado há quinze anos! - continuou a gritar, como se não tivesse escutado.


- Cornélio, - retrucou, calmo. - eu não estou preocupado se vão acreditar ou não; só lhe disse a verdade. Se você não pode com a verdade, eu simplesmente não posso fazer nada para lhe ajudar.


- Dumbledore, você não está vendo que isso é um absurdo? - falou, com a voz cansada. - Suponhamos que Vol-Vol-Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tenha voltado; o que ele iria querer, num Torneio escolar?


- Não insulte sua inteligência, Cornélio. Você é Ministro, e sabe que motivos ele teria para agir como agiu.


- Então você acredita nessa lenda? - debochou. - Acha mesmo que um garoto, de berço ainda, poderia derrotar um bruxo do calibre d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado?


- Sinto muito, Cornélio, mas você insiste em não enxergar a verdade.


- A verdade? A VERDADE? - exaltou-se. - A verdade é que ninguém sabe como aconteceu, só vimos seu pupilo no labirinto, e depois a garota aparece morta. Em que você quer que eu acredite? - respirou fundo. - Será que você realmente não está velho demais? Não vê que quem deve tê-la matado foi ele? Assim como o vimos lançar as faíscas para que fossem resgatar os outros dois? E quem -


- Quem matou a garota fui eu. - interrompeu Moody, com a voz rouca e cansada. - Ela estava usando um Cruciatus no garoto, o próximo passo seria um Avada Kedavra.


Fudge ficou sem argumentos. Abriu a boca várias vezes, mas dela não saiu nenhum som. Olhava irado para Moody, e dele para Dumbledore. Então percebeu que Harry estava acordado, assistindo a cena.


- Parabéns. - falou mecanicamente. - Eis o seu prêmio. - e tirou um saco de galeões do bolso interno das vestes, jogando-o de qualquer jeito nos pés da cama de Harry, virando-se e saindo em seguida.


Os presentes, como se também tivessem acabado de acordar, viraram-se para Harry, assim que a porta da Ala Hospitalar fora batida com estrondo pelo Ministro.


- Lily, ele pode falar? - perguntou Dumbledore, sério.


- A poção que eu dei faz efeito por mais ou menos uma meia-hora. Por favor, não o cansem muito. - pediu.


- Harry, por favor, nos conte o que houve no labirinto; o que aconteceu entre o Sr. Krum e a Srta. Duprée, além da Srta. Chang.


O garoto rapidamente contou o que acontecera; como escutou os gritos de Louise, e quando viu Krum lançar-lhe um Cruciatus; depois falou de como Cho se aproximara estranha, e começara a falar como se fosse outra pessoa. Os presentes mal respiravam na sala, escutando atentamente o relato.


- ... então eu estava no chão, e, de repente, vi Cho caída. - não teve coragem de dizer que ela estava morta. Era bizarro demais, além do fato de que podia ser ele o morto em questão. - Como vocês conseguiram chegar lá?


- Estávamos monitorando a parte externa do Labirinto. - tomou a palavra Tiago. - Dumbledore nos deu um instrumento que podíamos ter a visão de cima do que acontecia. Era a mesma visão que as pessoas que estavam nas arquibancadas e camarotes tinham, mas estávamos bem mais próximos, caso acontecesse algo. Então percebemos, depois que fomos resgatar os estrangeiros, que aquilo tinha tirado a nossa atenção de Cho.


- Aquele nevoeiro que estava na sala do troféu se espalhou rapidamente por todo o labirinto, não nos dando noção do que estava acontecendo. - completou Sirius.


- Foi Moody quem viu o que estava acontecendo e nos alertou, graças ao seu utilíssimo olho novo! - retomou a palavra Tiago, batendo carinhosamente no ombro do auror mais velho.


A sala caiu num silêncio constrangido. De repente, todos eles perceberam que uma pessoa inocente havia morrido naquela noite. Harry estava com a garganta embargada, pensando que ninguém merecia o que Cho recebera, acrescido a isso, lembrava-se da alucinação que tivera no labirinto.


- Harry, sinto muito, mas não houve escolha. - desculpou-se Moody. - Era ela ou você.


Lily se aproximou do filho, percebendo sua angústia. Aninhou-o no colo, e ele começou a chorar. Todos saíram do quarto, exceto Tiago, que deu a volta na cama e abraçou os dois.


- Pai, - Harry chamou, depois de se acalmar. - quero que o senhor entregue isso - apontou para o saco ao pé da cama. - para os gêmeos Weasley. Diga-lhes que não aceitarei um não como resposta, e seja discreto! A Sra. Weasley não vai me perdoar, se souber que vou patrocinar Fred e Jorge!


- Você tem certeza, Harry? É muito dinheiro...


- Tenho, sim. Vamos precisar rir, nesse novo tempo...


* * * * * * * * *


Cara Molly,


Preciso muito da sua ajuda, minha amiga! Você sabe como o Harry ficou arredio, desde o que aconteceu na escola em Junho...


Achei que, ficando um pouco com a família ele melhorasse, mas isso não está acontecendo. Ele só faz ler e treinar; mal come, mal dorme. Eu tento fazer com que ele converse, saia do quarto, mas ele sempre me responde um "Depois, mãe. Agora tô ocupado.". Harry não abriu nenhuma das cartas que os amigos lhe mandaram, e, por mais que eu insista que ele entre em contato, ele sempre desconversa.


Sei que não tenho o direito de lhe pedir isso, especialmente pelo perigo que representa hoje, mas tenho medo que ele entre numa depressão ainda pior que a que já está.


Eu queria saber se ele pode passar o resto desse mês de agosto com vocês, aí n‘A Toca. Sei que é perigoso, mas tenho certeza que a Ordem pode dar um jeito de mantê-los bem. Pensei em lhes pedir porque sei que vocês o amam como se fosse da família, e talvez, um pouco mais longe da sede da Ordem, ele esqueça um pouco os problemas.


Muito obrigada por tudo! Abraços para todos.


Lily Potter


* * *


Cara Lily,


Não se preocupe, minha amiga!


Como você disse, amamos Harry como se fosse da família, e ficaríamos muito felizes se ele viesse passar o restante das férias de verão conosco.


Pode deixar que eu dou uma engordada nele, viu? E também sei de alguém que vai adorar essa notícia!


Beijos e aguardo a chegada pra ontem!


Molly Weasley


* * *


Molly, querida,


Muito obrigada, tá? Por tudo!


Mal posso esperar que esses dois teimosos se resolvam, e que possamos ser parentes oficialmente...


É só resolver algumas coisas por aqui, e acredito que dia 10 vamos deixá-lo aí.


Obrigada de novo e sempre!


Lily Potter


* * * * * * * * *


- Gina, você já sabe quem chega amanhã? - perguntou Mione, jogando-se na cama da ruiva.


- Quem? - tentou dar um tom frio á pergunta, antevendo a resposta da amiga.


- O amor da sua vida! - provocou a amiga.


- Deixa de ser ridícula, Mione! - riu, e deu-lhe língua.


- É sério, ruiva! Amanhã ele chega. Acabei de escutar a sua mãe dizendo para o Rony.


- E daí?


- E daí, que não adianta ficar fazendo doce, que eu sei que você só vai esperar eu sair desse quarto, pra dar pulos, feito uma louca!


- Hermione, você realmente não me conhece! - falou, séria. - Você acha que eu vou estar de braços abertos pra ele, depois de mais de um mês sem nem me dar notícia?


- Gina, você se esqueceu de que ele está em depressão?


- Você pode me dizer por que sou sempre eu quem tem que entender os chiliques dele? Cansei, Hermione!


- Você tá falando sério?


- Estou, sim. E você vai me ajudar no meu plano! Essa é a última chance que dou a ele!


* * * * * * * * *


Harry não sabia como a mãe o convencera a ir À Toca. Tentara argumentar, mas era péssimo quando discutia com ruivas. Arrumou seu malão com mágica pela primeira vez fora de Hogwarts; agora era maior de idade. Só não era oficialmente habilitado a aparatar porque ainda não fizera o teste.


Respirou fundo. Não adiantava negar que estava feliz porque ia rever os amigos, mas nada lhe tirava da cabeça de como era perigoso para eles ficarem perto dele, que era praticamente uma bomba-relógio. Desceu as escadas, e encontrou os pais na sala de estar da sede, conversando com Sirius.


- Eu não acredito que você vai assim, Harry!


- Assim como? Vestido? - provocou a mãe.


- Você está parecendo um ermitão desse jeito! - Os três homens começaram a rir, inclusive Harry, que estivera de cara fechada desde que chegara ao Largo Grimmauld. - Harry James Potter, vá fazer a barba, agora!


Se era possível, os três riram ainda mais. Harry estava com o cabelo um pouco mais longo, e o rosto estava sombreado por uma barba por fazer.


- Foguinho, Harry é maior de idade! - Tiago se dobrava de rir.


- Cale a boca, Potter! Não se atreva a dar cabimento a essa sandice do Harry!


- Mãe, eu - ainda ria.


- Você era tão bonitinho, meu filho... - gemeu, deixando-se cair numa poltrona.


- Bonitinho? - Harry arqueou a sobrancelha.


- Sua mãe quis dizer que você se parecia mais comigo!


- Você quer me matar de desgosto, Harry? Sair de casa desse jeito? O que os Weasley vão dizer? - balançava a cabeça, inconformada.


- Não tem problema, é só não irmos mais. - jogou baixo.


Os olhos de Lily faiscaram. Os três ficaram sérios. Harry se arrependera da sua língua grande; sabia que não deveria provocar a mãe, mas o que podia fazer, se adorava provocar ruivas?


- Se você quer sair por aí parecendo um maluco fugido do hospício, problema seu! Só não diga que é meu filho! - explodiu a ruiva, dedo em riste na cara dele.


- Mãe, eu tava brincando... - sorriu amarelo. - Só não vai dar tempo pra eu fazer a barba, vamos nos atrasar para a Chave de Portal.


- Então você vai fazer a barba quando chegar lá? - concluiu, desconfiada.


Harry assentiu, a contragosto, mas respondeu um baixinho "eventualmente!", para que a mãe não o azucrinasse ainda mais.


* * * * * * * * *


- Merlin, como você está magro! - foi o que Harry escutou, antes do estralado de todas (ele tinha certeza!) as costelas, graças ao abraço de amigo urso da Sra. Weasley.


- Oi, Sra. Weasley! - gemeu, quando ela se afastou um pouco, providencialmente, permitindo que ele respirasse.


- Entrem, por favor! - convidou a senhora ruiva, levando os três da soleira da porta d’A Toca para a sala de jantar.


Todos os ruivos que estavam à mesa se levantaram, mas nenhum foi mais rápido que um borrão marrom, que se jogou nos braços do garoto.


- Harry, que bom te ver! - deu um beijo no rosto do garoto. - Que barba é essa? - perguntou, intrigada.


- Viu, Harry? - alfinetou a mãe.


- É que eu estou querendo ficar mais parecido com Dumbledore, sabe?


- Então vamos dar um jeitinho nesses óculos! - Mione riu, sacou a varinha, e fez com que os óculos de Harry ficassem do mesmo modelo dos do diretor, com as lentes em meia-lua.


A sala caiu na gargalhada. O garoto de um toque de varinha restaurou seus óculos, e foi abraçado por Fred e Jorge, depois por Gui, Percy, o Sr. Weasley e, finalmente, Rony.


- Você fez falta, cara! - disse a Harry, no abraço.


Depois dos abraços, correu os olhos pela sala, sem ver Gina. Quase que automaticamente soltara a pergunta, mas recuara. Ele não podia perguntar por ela, pois sabia que não conseguir imprimir um tom casual na pergunta.


- Onde está Gina? - perguntou Lily, percebendo a luta mental do filho.


- Ai, eu tinha esquecido! - gemeu Hermione, batendo com a palma da mão na testa. - Gina pediu que eu me desculpasse por ela, mas não vai descer hoje. Ela está se preparando para amanhã.


- O que é que tem amanhã? - dessa vez Harry não conseguiu reprimir a pergunta.


- Amanhã é o aniversário da Gina, Harry. - falou Rony.


O garoto ficou vermelho. Como pudera esquecer o aniversário dela? E agora? Não comprara nada! "Droga! Com que cara vou olhar pra ela amanhã? Ela já deve estar me achando um completo idiota, por não ter dado notícias por tanto tempo, e..." -


- Agora eu entendi! - Lily interrompeu os pensamentos do filho. - Sessão pré-festa, ou seja, proibido garotos! - riu. - E será que eu posso dar uma subida, e falar com ela?


- Claro, Sra. Potter! - disse Mione, solícita. - Deixa só eu fazer um prato aqui pra levar pra ela, e já subimos! - Gina, abre aqui! - pediu, à porta da ruiva.


- Entra Mione, você - interrompeu-se, ao ver Lily. - Oi, Sra. Potter!


-Oi, Gina. Posso falar com você um instante?


- Claro! - falou, enquanto Mione saía do quarto discretamente e fechava a porta.


- Eu quero lhe pedir um favor... Sei que você deve estar chateada com Harry, tanto que não desceu, mas eu queria lhe pedir que o ajudasse a sair desse torpor que ele se meteu...


- Sra. Potter, eu -


- Por favor, Gina! Eu não quero que você entenda que eu quero que você fique com ele, ou o que quer que seja... Não que eu não torça por isso, é claro! - completou, dando um sorriso maroto. - Eu só quero que você aja com ele como sempre agiu. As pessoas têm medo de dizer o que querem quando alguém está triste, e isso eu tenho que assumir; estou preocupada demais com ele, pra manter o pulso firme que sempre tive.


- A senhora quer que eu - parou, para que a outra completasse.


- Quero que você seja como sempre foi pra ele: uma Foguinho osso-duro de roer!


- A senhora tem certeza do que está me pedindo? - perguntou, rindo.


- Absoluta! - riu de volta, levantando-se para sair do quarto.


- Sra. Potter, seu marido também lhe chama de Foguinho, não é? - a mais velha assentiu. - E a senhora gosta desse apelido?


- No começo eu odiava, até o dia em que Tiago me disse que me chamava assim porque eu o aquecia... - sorriu, nostálgica, saindo do quarto.


* * * * * * * * *


Vocês já devem ter percebido que eu adoro os diálogos, né? Sempre imaginei que comédia seria na casa do Harry, tendo um pai doido e uma mãe neurastênica!


Pra vocês terem noção, eu tinha o roteiro muito mais coisa, mas fui escrevendo, e os personagens foram tomando a palavra, e ficou isso que tá aí!


Detalhe: boa parte do que eu tinha planejado pro capítulo teve que ir pro próximo! Não sei vocês, mas dou muita gargalhada com as discussões familiares!


Muito obrigada pelos comments e pelos votos, e até o #19.


Bjos =D

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