Dia Seguinte



Harry havia acabado de chegar ao Baile do Slug. Olhava ao redor, procurando a ruiva; ela o havia tapeado, indo para a festa com seu irmão. Não sabia bem o porquê, apenas sentia que ela queria ter ido com ele mesmo.


Continuou passando pelas pessoas sem enxergar ninguém que não fosse ela. Finalmente a viu, sozinha, encostada à amurada de uma janela que tinha vista para a Floresta Proibida. Apesar de ser uma masmorra, Harry sabia como Slug era perfeccionista e devia ter enfeitiçado as paredes para simular o exterior.


Ela estava ainda mais linda do que ele se lembrava; não o tinha visto ainda, e sua expressão era relaxada, contemplando as árvores. Segurava o xale nas mãos, e o que cobria seus ombros agora eram algumas mechas que soltaram do coque frouxo. Harry segurou a respiração um segundo, antes de se aproximar dela.


- Oi, Gina. - ela se sobressaltou e virou-se para ele. – Desculpa, eu não queria te assustar.


Silêncio. Gina abriu a boca, mas não conseguiu falar nada. Ele a viu tão insegura quanto ele estava, e, como sempre, esqueceu que havia mais pessoas ao seu redor. Ela tinha esse poder; desconcentrá-lo sempre que estivesse no seu raio de visão.


Harry percebeu então que ela estava tão afetada com a proximidade quanto ele. A prova maior disso é que ela não conseguia articular palavra. Nesse momento, não se lembrava mais que estava com raiva dela, tampouco o que o levara até ali; só o que merecia atenção era a ruiva na sua frente.


Deu um sorriso meio tímido, meio safado, antecipando para Gina o que faria a seguir. Ele se aproximou ainda mais dela, lentamente, como se lhe desse a escolha de se afastar. Ledo engano; ela, que mal se sustentava em pé, não fugiria dali nem se quisesse. (N/A: vocês acham mesmo que ela ia querer fugir?)


Segurou-lhe as mãos com firmeza e elevou-as acima da cabeça da garota, mas sem machucá-la. Colou o corpo possessivamente ao dela, pressionando-a contra a parede. Sorriu ainda mais quando aproximou os lábios da sua nuca e entreouviu um gemido estrangulado. Ela virou o rosto para longe dele, como única forma de resistência que encontrou.


- Foguinho... – falou com a voz rouca, passando os lábios lentamente pela curva do pescoço que ela sem querer havia oferecido. – Você me enlouquece, ruiva! – foi só o que conseguiu balbuciar, descendo as mãos das dela para agora aprofundar ainda mais abraço.


Ela pôs as mãos nos ombros dele, mais para se apoiar que para empurrá-lo, propriamente. A proximidade dos corpos, o cheiro dela, tudo o deixava a um passo de perder o pouco controle que ainda tinha.


Com a mão esquerda segurou-lhe o rosto e o virou lentamente, até ficarem olhos nos olhos. Estampado nas íris castanhas estava o mesmo desejo que ele estava sentindo, acrescido de algo que ele não conseguiu definir, mas entendeu por convicção.


Ele via que ela tentava se segurar, mas seu corpo estava fazendo exatamente o contrário; Gina enlaçou-lhe o pescoço, enquanto Harry beijava-lhe o canto da boca, percorrendo as mãos pelo corpo dela. Estava quase enlouquecendo, era verdade, mas era maravilhoso sentir a resposta da ruiva às suas carícias e beijos.


TOC! TOC! TOC!


- Harry Potter, meu senhor! – Dobby ganiu, abrindo a porta do quarto.


Naquele milésimo de segundo, Harry percebeu que fora tudo um sonho. O problema agora era explicar-se, já que estava por cima da ruiva na cama, corpos encaixados, boca colada à dela e a mão direita acintosamente espalmada em seu seio esquerdo, ainda acariciando-o.


De um salto, saiu de cima dela, pouco antes do elfo doméstico espichar seu rosto pela porta. Quase caiu da cama, ainda mais quando a ruiva, da cor dos cabelos, puxou o lençol para si. Cobriu-se como pôde, com o travesseiro que estava ao seu lado, dando as costas para a garota.


- Harry Potter, meu senhor! Sua mãe pediu que eu viesse chamá-lo e a Srta. Weasley para descerem para o almoço. Já passa do meio-dia!


- Obrigado, Dobby! – balbuciou, de qualquer jeito, tateando o criado-mudo e pegando seus óculos. – Já vamos descer!


O elfo deu um meio sorriso e saiu do quarto, fechando a porta e deixando os dois num silêncio sufocante. Harry se manteve imóvel; o que ia dizer a ela? Gina também estava envergonhada, especialmente por não ter conseguido evitar o que acontecera.


Mesmo sendo um início de inverno rigoroso, a casa estava aquecida o suficiente para lhes permitir dormir com roupas leves. Harry estava com a calça do pijama apenas (Gina deu graças em silêncio por ele não estar só de cueca de novo!), enquanto que ela estava com a camisa enorme dos Chudley Cannons que fora de Gui.


- Gina, desculpa por... você sabe, não é? Eu estava sonhando, e... – interrompeu-se. Não sabia mais o que dizer.


- Harry, o que foi isso nas suas costas? – quebrou o silêncio, depois de finalmente ver que ele tinha uns arranhões horríveis. – Isso foi do sonho? – especulou.


Ele não se virou pra ela, apenas olhou por cima do ombro, tentando ver alguma coisa. Deu um suspiro e disse: “Não foi do sonho, não... Foi de ontem, no trem.”


- Ai, Merlin! Desculpa, Harry... – falou baixo. – Você tem que cuidar disso, senão vai inflamar e –


Harry, sentindo que ela ia tocar-lhe a pele, se levantou da cama. Se ela o tocasse, talvez não conseguisse se afastar novamente. Ela, que havia se aproximado dele, voltou para onde estivera antes, envergonhada.


- E por falar em sonhos... - ele emendou, pegando uma camisa e se vestindo, ainda de costas pra ela. – Desde quando você invade os meus?


- O quê? – ela não esperava por isso. – Eu não acredito! Você está mesmo me acusando de invadir seus sonhos?


- Há outra palavra pra explicar o que aconteceu ontem? – virou-se pra ela, sério. Na noite anterior, não quisera (tampouco pudera) perguntar-lhe com detalhes o que acontecera, mas agora a única explicação plausível para ele era essa.


- Enlouqueceu, Harry? – falou num tom estridente, levantando-se também. – Você acha que se eu tivesse o poder de entrar em sonhos, ia escolher justo os seus para entrar?


- É isso o que eu quero saber! – respondeu no mesmo tom. – O que você quer, entrando nos meus sonhos?


- Você é patético! – falou lentamente, dentes trincados de raiva.


Não entendia como ele podia ser tão cabeça-dura! Sustentou-lhe o olhar com raiva, e viu que ele não ia ceder. Respirou fundo, contendo uma imprecação e imaginando que ele devia estar tendo um “delírio pós-surto”, resolver deixá-lo sozinho.


- De nada, Potter! – falou, antes de fechar a porta atrás de si.


* * * * * * * * *


- Gina, você tá bem? – Mione aproximou-se da amiga, que se trancara no quarto depois do almoço.


- Só estou com um pouco de dor de cabeça... – balbuciou, sem ao menos se virar na cama. Não queria dizer que o problema dela atendia, pra variar, pelo nome Harry Potter, ainda mais depois de tão fervorosamente ter se prometido esquecê-lo.


- É que estão te chamando pra descer; Dumbledore está aqui e quer conversar com a gente sobre ontem...


A ruiva resmungou um pouco, mas se levantou e desceu. Chegou na sala de reuniões e viu toda a Ordem esperando por ela. Além dos adultos, estavam Harry, Liam, Neville, Ron, Mione e Luna, conversando com Dumbledore.


A mãe de Luna também é medibruxa, e, assim como Lily, trabalha no Departamento de Mistérios. Nesse verão, os Lovegood entraram em férias e foram para a Escócia, lar do pai dela, o editor do Pasquim. Stella Lovegood pediu para a amiga Lily cuidar da sua filha, até a volta.


- Boa tarde a todos. Desculpem meu atraso. – Gina falou, antes de se sentar perto de Luna e Ron.


- Nenhum problema, minha querida. – Dumbledore lhe sorriu. – Dou prosseguimento à reunião da Ordem da Fênix, contando com as visitas de Hermione Granger, Neville Longbottom, Luna Lovegood, Liam Potter, Ginevra e Ronald Weasley.


Gina torceu o nariz ao ouvir o diretor dizer seu primeiro nome, mas nada disse. Ao lado de Dumbledore, a garota reconheceu como uma pena de repetição rápida. Ele falava os nomes claramente, para o que ela achava ser a ata da Ordem.


- A pauta é a pedra negra enviada para o Expresso Hogwarts. Gostaria que vocês me dissessem o que aconteceu.


Os garotos explicaram o que houve, enquanto as garotas baixaram a cabeça, inclusive Tonks. Já havia sido ruim passar por isso e escutar os meninos contando no trem, mas era demais a Ordem toda saber.


- Não se envergonhem, garotas... – o diretor falou, ao vê-las cabisbaixas. – Acredito que não conhecessem os efeitos da pedra negra, a não ser Tonks, - se possível, a auror ficou ainda mais vermelha. – mas é totalmente perdoável que não houvesse desconfiança sobre o pacote. Especialmente se sabendo que a coruja só podia ter sido mandada por alguém da escola, já que usualmente não é permitido receber correspondências depois que o trem está em movimento... A não ser que o receptor abra a janela para recebê-la.


Gina lembrou-se da posição constrangedora em que fora flagrada por Lupin, e mexeu-se desconfortavelmente na cadeira, com receio que ele dissesse algo, agora que havia tomado a palavra.


- Dumbledore, posso lhe assegurar que, da maneira como a caixa chegou, era impossível que Tonks percebesse o que era antes do efeito inebriante da pedra subjugá-la.


- Sei muito bem disso, Remo. Não estamos acusando ninguém, aqui. Estamos constatando que é preciso ter mais cautela de uma maneira geral. Por mais que nos esforcemos, Hogwarts e suas dependências não são lugares completamente seguros. Por isso estão todos aqui: queremos que, a partir de agora, não andem sozinhos, ou abram correspondências de corujas desconhecidas, ou aceitem o que quer que lhes seja oferecido.


- Professor, o que era essa pedra? – Mione levantou o braço, não segurando a curiosidade.


- Hermione, há uma infinidade de artefatos das trevas que não podemos nem imaginar que existam, e essa pedra negra é um tão antigo que mal se ouve falar dele nos dias de hoje. A última vez que tive notícia de uma dessas foi há cerca de 20 anos, auge de Tom Riddle; ela tem o poder de matar instantaneamente quem a tocar, e provoca um certo “frenesi” nas mulheres.


- Frenesi! Pois sim... – Ron resmungou alto o suficiente para a sala prender risinhos. Agora que o perigo passara, alguns até riam do que acontecera.


- De qualquer forma, é importante que se mantenham alertas! – concluiu o diretor. – Há mais algum assunto pendente, ou alguém que queira se pronunciar?


Dado o silêncio por resposta, todos saíram a não ser Harry e Gina, a pedido de Dumbledore.


- Harry, sua mãe disse que ontem, em sonho, você viu o Sr. Olivaras ser morto. – o rapaz assentiu. – E me disse também que quem deu a notícia foi você, Gina. Está correto? – a ruiva assentiu também. – Como foi isso?


- Eu não sei direito... – Gina começou, sem nem olhar para Harry, que não escondia a curiosidade. – Só sei que estava sonhando que estava fazendo uma prova particularmente difícil de feitiços, - enrubesceu. – quando eu me vi num lugar escuro, como se fosse uma masmorra, ou uma caverna, mesmo, com uns vinte ou trinta homens vestidos de branco e encapuzados. Então vi um homem no chão, lutando, e outro em pé, apontando a varinha para o que estava caído.


Por um instante, ela fechou os olhos, e Harry então percebeu que não foi o único a ficar abalado com a morte do artesão. Conteve-se para não abraçar a ruiva e admitir que tinha sido um estúpido de manhã.


- Como esse homem era, Gina? – Dumbledore perguntou, depois se esperar um pouco, para que se recompusesse.


- Era menor que eu um pouco, mas tinha o rosto horrível! Parecia uma cobra, com fendas nas narinas e olhos vermelhos e aquosos. – falou, com asco. – Eu não entendi o que estava fazendo ali, tampouco porque não me viam, já que não havia onde se esconder, apesar de o lugar ser escuro... Mas depois que Voldemort – falou com mais asco ainda – lançou a maldição da morte, eu vi um brilho diferente nos seus olhos, como se tentasse impedí-lo de cometer tal atrocidade... E percebi que era o Harry... E o resto vocês sabem.


- Harry, você percebeu Gina no sonho? – o diretor se virou para ele, então.


- Parece que tudo foi mais nítido para ela que para mim; quando eu entendi que aquele homem que estava no chão era o Sr. Olivaras, Ele lançou o Avada e eu não aguentei...


- Então, em nenhum momento, você percebeu a presença de Gina? – o garoto disse que não. – E essa foi a primeira vez que você esteve nos sonhos de Harry, Gina?


- Eu vi o dia em que meu pai foi atacado por aquela cobra, no ano passado... Mas eu não estou invadindo os sonhos dele! Eu nem sei por que que isso está acontecendo!


- Ninguém a está acusando disso! – Dumbledore falou, e viu que Harry baixou a cabeça, com a direta da ruiva. – Eu só tenho algumas especulações sobre o porquê de você estar partilhando os sonhos de Harry, especialmente os que Tom aparece.


- Como o quê? – a ruiva indagou.


- Pode ser muitos motivos; Você pode ter a sensibilidade muito aguçada, e quando Harry partilha os atos de Tom, talvez você possa senti-lo... Mas isso está fora de cogitação, pois no ataque ao seu pai, vocês estavam a quilômetros de distância...


- O que o senhor pensa que pode ser, então? – Harry entrou na conversa.


- Acredito que vocês dois tenham algum tipo de ligação, que ainda não sei precisar qual é... – falou, sem entrar em detalhes.


Dumbledore deixou os dois com suas especulações e se despediu. Gina, que estava com a cabeça estourando de dor, levantou-se para seguir o diretor, mas Harry a segurou pelo braço.


- Gina, desculpa por hoje... Eu não quis –


- Esse é o seu problema, Harry! Você nunca quer... – a ruiva o cortou, saindo da sala.


* * * * * * * * *


Capítulo menor (com explicações necessárias!), demora beirando o inaceitável, novamente... Meus pedidos de desculpas viraram hábito neste post capitulum...


Outro hábito que não abro mão é o de agradecer os votos e os comments, especialmente depois da entrada na Billboard!


Cada comentário de novos leitores me emociona tanto quanto os comments dos que acompanham a fic desde a “Mudando o Passado”...


Muito obrigada e até o 28! =D

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