Brandon



- Eu não acredito que você não acha que eu seja uma Especialista só porque eu sou uma mulher! – reclamava Lavalle – talvez seja porque os homens são muito mais ambiciosos do que as mulheres! É! É bem isso mesmo!


- Não! – ele retrucou – eu só acho que...


Os três desaparataram, interrompendo a discussão de Lavalle com Frederich.


- Meu Deus! Sejam um pouco mais gentis! – Hermione foi até os dois – isso não é forma de recepcionar um Especialista! Ele vai ficar assustado!


À menção da palavra ele, Frederich fez cara de satisfeito.


- Ou ele não vai nem ligar – completou Rony – já que pode ver o porquê deles estarem brigando.


- Na verdade não – retrucou Derose – eu não consigo desvendar o passado de nenhum outro professor.


Harry ficou confuso:


- Quer dizer que...


- Que não podemos ajudar um outro professor nos seus estudos. Ainda bem que você não é um professor – finalizou Lavalle, com um sorriso.


- Então por que vocês ficam tão preocupados com a possibilidade de alguém roubar as suas descobertas? – perguntou Hermione, e os três professores se entreolharam.


- É sempre bom ter um pouco de cautela, principalmente quando não se pode errar – respondeu Frederich – é o que eu aconselho a vocês, quando forem encontrar o último Especialista.


 


CAPÍTULO 7 – BRANDON


 


- Concordo com você – disse Hermione – também acho que o último Especialista seja o mais perigoso, não se pode confiar em alguém tão ambicioso ao ponto de querer descobrir o futuro.


- Mas é bom irem logo, não acham? – sugeriu Derose, que estudava as flores do jardim com uma fascinação quase platônica.


- Sim – os três responderam em uníssono.


Hermione recorreu mais uma vez à lista:


 


 


“Ilha Graciosa, 40°N, 28°L, Esp.Ft. Brandon”


 


- Parece que vamos para Portugal – ela conferiu no mapa dentro do escritório de Frederich.


- Pelo menos vai ser um pouco mais quente do que esses dois – Rony apontou para Lavalle e Derose quando voltavam ao jardim.


- Concordo – disse Harry – ei! – ele se dirigiu a eles – vocês não usam feitiços de proteção? – ele perguntou, mas antes que ele terminasse de articular a pergunta, Lavalle respondeu:


- Sim – ela sorriu – pelo menos o que eu uso só deixa passar as pessoas que não me farão mal – ele concordou com a cabeça, depois olhou para Derose.


- Eu nem sei o que são feitiços de proteção – e deu de ombros.


- Como assim? – Harry estava indignado – pensei que você fosse...


- Na época dele ainda não existiam esses feitiços – respondeu Hermione, puxando Harry pelo braço e acenando para os demais antes de aparatar.


- Boa sorte – desejou Derose, enquanto eles eram engolidos pela escuridão compressora.


 


Devia ser pouco mais de cinco horas da tarde naquele fuso quando eles desaparataram – Harry se admirou – naquele cais cercado de lanchas e jet-skis.


Seguiram naquela plataforma, que levava até uma praia de areias bancas onde – Harry quase gritou – havia algumas pessoas mergulhando no mar transparente.


- Parece que ele não liga muito para essa coisa de “procurar lugares isolados” – comentou Hermione, que esticou o pescoço para admirar a bolsa Channel de uma das moças – ele deve preferir mais os “lugares badalados”.


Chegaram ao que parecia ser uma pequena praça com uma lindíssima fonte em forma de galeão, cujas velas eram várias cortinas d’água. Rodeando a fonte, ocasionalmente passavam um ou outro Porshe amarelo, quando não uma Ferrari.


- Deve ser algum tipo de condomínio de luxo – comentou Harry, no que um motorista de uma das Ferraris passou encarando os estranhos.


- Concordo – disse Rony, que tentava localizar as garotas na praia, mas Hermione lhe deu uma bela bolsada (com a bolsinha de contas, que naquele momento continha um sofá e um tapete.).


Mas quando eles passaram pela praça, tiveram uma surpresa. Oculta pela imensa fonte, surgiu uma casa excepcional, toda branca e com imensas janelas retangulares que se estendiam até onde os olhos alcançavam, que estavam impecavelmente limpas refletindo o pôr-do-sol. Além disso, o jardim era de dar inveja mesmo à Tia Petúnia e seus Alfeneiros milimetricamente podados.


Foram se aproximando com extremo cuidado para não pisar na grama, pulando os blocos de granito de um em um até o pórtico de mármore, onde não se via nem um mínimo resquício de veio negro.


- Ele mora aqui? – perguntou Rony, sem fazer nenhum esforço para não parecer deslumbrado.


- Parece que sim – comentou Harry, olhando em volta.


Ficaram ali em silencio mais um meio minuto, em suas batalhas mentais para decidir quem empurraria a aldrava de prata colonial divinamente instalada na porta de ébano.


- É sua vez, Rony – Hermione falou por entre os dentes – Harry e eu já batemos nas portas dos Especialistas, só falta você.


Ele então arranjou um lenço no bolso e colocou na mão como uma luva, e foi aproximando-a da aldrava lentamente, mas antes que tocasse nela...


A porta se abriu.


E nela surgiu um homem que aparentava ter uns 22 anos, a barba perfeitamente aparada, com apenas duas costeletas feitas com esquadro. Estava de terno, apesar do calor, e Harry lembrou-se que ele não sentia calor. A temperatura corporal dele deveria estar constante desde muito tempo atrás.


Ele tinha também um levíssimo bronzeado, talvez ele tivesse ficado assim depois de 900 anos se expondo ao sol forte daquela ilha. Seu cabelo era tão negro que parecia feito de graxa, mas era todo despontado. Os olhos eram tão verdes que pareciam duas azeitonas recém colhidas. E era neles que Hermione focalizava.


Rony lhe deu um tapinha nas costelas.


- Queiram entrar – ele abriu caminho depois de alguns instantes de estudo – Hermione, sua cerveja amanteigada com gengibre já está vindo, eu mandei que preparassem. O mesmo para a sua torta de caramelo, Harry. E Rony, não é muito fácil encontrar Feijõezinhos de Todos os Sabores no meio do Oceano Atlântico, mas eu espero que você goste.


- Como sabia que... – Rony articulou. Harry desejava perguntar a mesma coisa. Como era possível ele saber do futuro deles se ele nem os havia visto? Decerto, aquele era o Especialista mais poderoso de todos.


- Minha cacatua estava um tanto quanto agitada, ela fica assim quando recebo visitas.


- Você recebe visi... – começou Hermione, sendo também interrompida. Harry estava começando a desejar que ele não fizesse mais aquilo.


- Sim, recebo – ele respondeu, e antes que Harry pudesse falar ele respondeu:


- Se você prefere assim, eu paro de interromper vocês.


- Obrigado – Harry disse.


- De nada – ele sorriu – seus dentes eram impecavelmente brancos e bem alinhados – vamos até a sala de jantar, sua torta já está pronta, senhor Potter.


Ele indicou o corredor com muita suavidade, e parecia ter aprendido a dançar antes de aprender a andar, por que seus passos eram muito firmes e precisos. O corredor tinha o piso de mogno, numa parede havia os janelões, que serviam a vários andares ao mesmo tempo, e na outra estavam recostados os mais belos móveis que Harry já vira. Contrastando com o piso, os móveis em tons claros estavam apinhados de antiguidades e itens de coleção milionários.


Quando chegaram à cozinha, ela se mostrou visivelmente mais moderna do que eles imaginaram. Era inteira em tons de creme, exceto pela geladeira em inox, e pelo fogão elétrico. No entanto, também tinha o teto de gesso rebaixado como o resto da casa, onde luzes embutidas compensavam a pequena iluminação crepuscular que entrava pela parede de acrílico.


A sala de jantar era o cômodo adjacente, separada da cozinha por um espelho que dava uma impressão de grandiosidade ao ambiente pequeno – para os padrões da casa.


Sentaram-se na mesa de madeira, imediatamente abaixo de um suntuoso lustre. Harry olhou ao redor. A sala era no mesmo tom de creme da cozinha, e também devia ter uma parede de vidro, que estava oculta pelas cortinas de seda atrás deles. Na parede à sua frente, havia uma lareira, algo completamente desnecessário, ele não pôde deixar de observar. E na outra parede, que se refletia no espelho, tinha pendurado um estranho quadro todo negro e fosco com uma moldura de bronze que aparentemente fora colocada sobre uma outra.


Quando a torta finalmente chegou, junto com a cerveja amanteigada de Hermione e a caixa tamanho-família de Feijõezinhos de Rony, Brandon ergueu a varinha e disse:


- Acho que vamos assistir um pouco de TV – e acenou com a varinha para o quadro estranho, que passou a reproduzir imagens em alta definição de um jornal português.


Desta vez, Hermione não se conteve:


- Como você pode fazer uma coisa dessas? – ela ficou possessa – Tem idéia das conseqüências que essas suas extravagâncias podem estar causando ao mundo?


Brandon não desviou os olhos da televisão quando respondeu Hermione:


- Tanto tenho que sei que posso fazê-las – ele respondeu na mais pura calma, como se Hermione tivesse lhe perguntado se ia chover no dia seguinte.


- Quer dizer que tudo isso – Harry se levantou, gesticulando com os braços de modo a indicar todo o ambiente – essa casa, esses carros, essa comida... você tem apostado na loteria para conseguir?


- Sim – como se fosse a mais óbvia das coisas.


Hermione afastou a caneca de cerveja amanteigada, enojada.


- Eu não acredito que você faz isso! – ela levantou também, afastando a cortina e olhando para fora – e essas pessoas? Quem são? Seus escravos?


- Não – ele desligou a TV.


- Então quem são? – Rony perguntou, olhando direto nos olhos de Brandon, sem piscar.


- Pergunta-se – Brandon se levantou – o que vocês fariam se estivessem no meu lugar?


Harry quis responder que usaria aquela habilidade para si mesmo, sem que afetasse a vida dos outros, apenas para consertar o seu erro.


- Parece que vocês entendem o que eu quero dizer, não? – ele sorriu, levantando-se da cadeira e ajeitando o paletó.


- A única coisa que eu não entendo – disse Rony, olhando pela fresta da cortina que Hermione havia aberto – é o que tanta gente está fazendo aqui – ele olhou para Brandon – você não deveria estar vivendo em um lugar isolado?


- De maneira nenhuma! – ele abriu um largo sorriso – quais seriam os meus benefícios nisso?


- Ah sim! – desta vez Harry não se conteve – você realmente tem que ser beneficiado pelo seu atentado à ordem natural das coisas!


- Mas parece que você cometeu o mesmo erro...


- SIM! – gritou Harry, mas as pessoas lá fora nem se moveram – Mesmo assim eu não fico chantegeando os ganhadores de todas as loterias do mundo para ficar com o prêmio! – ele apontou para a janela – São isso o que eles são! Não é?


- Não – era incrível como Brandon conseguia manter a calma, era como se soubesse que não adiantava gritar, pois tudo ia acabar do jeito que ele queria. Talvez fosse mesmo – eu fazia sociedade com eles bem antes deles ganharem na loteria, assim, eu sempre acabo ficando com um pouco do prêmio. Acontece que, para eles não desconfiarem do golpe, eu uso um potente feitiço da memória para eles morarem aqui.


- E o que acontece com suas famílias? – perguntou Hermione, em tom de desafio.


- Ah, eu esqueci de mencionar – ele coçou a cabeça – eles morrem.


- O QUÊ? – os três arregalaram os olhos. Desta vez, algumas pessoas olharam na direção da casa. Será que Brandon era um assassino?


- Não, não, não, não, não! – ele apressou-se em se explicar – eu não mato a família deles – eles suspiraram – nem mato eles – acrescentou – o que acontece é que todos eles iriam ser mortos por causa do prêmio! Então, basta mexer uns pauzinhos e tudo dá certo!


Ele parecia um corretor de imóveis falando sobre um plano de pagamento facilitado em 56 vezes.


- Simples assim? – Hermione ergueu uma sobrancelha, desconfiada.


- Sim! – ele sorriu, quase histérico, Harry estava impressionado com a frieza do Especialista – aqui é como uma filial do Paraíso. Eles acabam vivendo a vidas que teriam perdido!


Aquela conversa já estava começando a assustar.


- Então, você vai nos ajudar? – Harry soltou a pergunta.


- Acho que se eu não fosse ajudar vocês, nem teria mandado preparar as coisas que vocês gostariam de comer aqui – ele sorriu, sempre terminava as frases com um sorriso, Harry achava incrível como ele não ficava com cãibra, mas após pensar um pouco, não achou mais, afinal, ele era um Especialista – Mas lembrem-se de que eu sei de todo o futuro de vocês três – ele apontou para cada um deles – se quiserem saber de alguma coisa, é só me perguntar – ele lembrava muito uma atendente de tele marketing.


- Não-obrigado – respondeu Harry, seco.


- E o que vocês fariam se eu lhes dissesse que nada disso vai dar certo, que vocês serão mortos por alguém, ou que vocês ficarão presos aqui para sempre? – ele olhou para Harry – O que você faria?


- Eu tentaria mesmo assim.


- O que você faria se eu dissesse que se voltar para o seu tempo, sua vida será arruinada, e todo o seu futuro será prejudicado?


- Eu tentaria mesmo assim – Harry repetiu.


- Você é uma pessoa determinada.


- Não – Harry encarou Brandon fundo nos olhos – eu só não confio em você.


- É melhor começar a confiar – ele sorriu – senão...


Hermione e Rony olharam assustados, mas Harry permaneceu firme.


- Brincadeirinha – ele sorriu – só estava testando vocês. A propósito – ele apontou para a janela – não fale nada sobre eles, ok? Será o nosso segredinho.


Por um segundo, Harry foi capaz de pensar que...


Mas aquilo era bobagem, era impossível.


Ele está morto, Harry.


Você o matou. E como ele poderia ser um Especialista?


- Então acho melhor irmos – Brandon interrompeu o raciocínio de Harry. Será que ele sabia o que Harry estava pensando? Não. Ele só seria capaz de saber se Harry fosse verbalizar aquilo com alguém depois. E ele não faria isso.


- Vamos então – e Harry foi saindo da cozinha.

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