Pagamento



Foi tudo tão rápido que Harry nem notou as últimas cenas daquele duelo, que pareceu ser todo comprimido em apenas um segundo. Belatrix lançou sua faca e os prisioneiros desaparataram enquanto Voldemort adentrava o recinto.


Tudo estava silencioso. O último fôlego antes de um grande mergulho. O sol despontava seus primeiros raios através das espessas cortinas de veludo, e os servos aguardavam impacientes, como se aguardando o mestre dar o primeiro golpe na frágil presa.


Embora nenhum dos Comensais soubesse quais eram as verdadeiras intenções do Lorde, ficava claro que aquela situação requeria certa urgência. A ansiedade de Voldemort era quase palpável, e Harry podia ver os esforços que “Harry” fazia para não ter sua mente invadida por Voldemort.


- Parece que Naguini estava enganada – Harry sinceramente esperava uma fala mais heróica – bem fizeram os senhores em voltar para cá assim que eu ordenei – ele sorriu, Harry estava impressionado – nunca se sabe o que Potter anda aprontando.


Ele fechou os olhos, poderia estar rezando.


- Vamos ver se o senhor aqui está certo – ele direcionou suas pupilas vermelhas e fendidas para “Harry”. Levante-se, Draco.






CAPÍTULO 11 – PAGAMENTO




Harry quase fechou os olhos, esperou ouvir gritos e estampidos, mas em vez disso.


Foi apenas um.


Draco caiu de joelhos, ainda consciente.


Ninguém parecia entender o que Voldemort estava fazendo.


- Milorde? – começou Lúcio, mas Voldemort fez ele se calar.


- Não são necessárias explicações, aprendi que não devo confiar em muitos de vocês – ele se aproximou de Draco – vamos, revide, revide! Ou você é um covarde como o seu pai?


Era o necessário, Draco lançou um feitiço que passou raspando a capa de Voldemort.


- É só isso o que você tem?


E aquele jogo de provocações foi se estendendo durante horas. Harry queria que aquilo acabasse de uma vez, para que Voldemort agradecesse à “Harry” e ambos pudessem ir embora.


Aquilo estava ficando extremamente desconfortável. Será que ele não desconfiava que já não adiantava duelar com Draco, que a Varinha já pertencia à Harry?


Por fim, quando Draco teve sua varinha arrancada novamente da mão, o Lord se acalmou, dando uma gargalhada sutil de um garoto que pregou uma boa peça.


Ele não desconfiava de nada.


Será que estava apenas fingindo?


Harry não podia dizer ao certo. Voldemort gesticulou para que “Harry” o acompanhasse até a sala ao lado. Harry seguiu junto.


- Parece que decidiu visitar-me um pouco antes? – disse Voldemort, acomodando-se numa poltrona com intrigante tranqüilidade.


- Sim – respondeu “Harry” – não poderia deixar de ver algo como isso.


- Então – Voldemort empertigou-se – é válido que eu roube a varinha do túmulo de Dumbledore?


- Totalmente – “Harry” sorriu.


- Ótimo – o lorde abriu um sorriso de orelha a orelha, deixando a vista seus dentes minúsculos – creio que não será incômodo para o senhor acompanhar-me?


Essa última parte tinha o tom de ordem, e não de pergunta.


- Claro.


Harry apressou-se em segurar o braço de “Harry” antes que ele e Voldemort desaparatassem. Com sorte, nenhum sentiria o acompanhante extra.


A Capa quase escorregou dos seus ombros durante a aterrissagem, mas Harry segurou- a com firmeza. Podia sentir a brisa amena da manhã em seus pés, e queria poder admirar o castelo de Hogwarts mais uma vez.


O professor Snape se aproximou de Voldemort, e foi levando-o para perto do lago enquanto conversavam. Pareceu não notar a presença de “Harry”, muito menos de Harry.


Os dois Harrys ficaram parados em silêncio. Ambos aproveitavam a solidão para admirar aquele lugar que dali algumas semanas seria completamente destruído.


- Então – “Harry” virou na direção de Harry, e só então ele notou que ainda segurava o ombro do Professor – já está mais tranqüilo?


- Não sei o que dizer – respondeu Harry, ainda oculto pela Capa – foi tudo tão rápido que nem pude absorver ainda – ele suspirou – eu não entendi.


- Não entendeu o quê?


- Mesmo com aquele feitiço de Lavalle, que fez as coisas mudarem daquela forma, a posse da Varinha não foi alterada?


- Não – respondeu “Harry” – aconteceu tudo o que deveria ter acontecido conforme vocês lembravam após a queda do lustre. Acontece que o feitiço de Lavalle acelerou um pouco as coisas.


- Isso só reforçou tudo então? – Harry começava a entender – você fez com que Draco fosse derrotado pelo Harry prisioneiro...


- E o feitiço de Lavalle fez isso novamente! Exato! – completou “Harry”.


- Se foi assim tão simples porque não pensamos nisso antes?! – Harry estava indignado com a aparente facilidade com que a situação se resolvera.


- Não sei – “Harry” riu – às vezes as situações estressantes nos travam.


- Tudo pareceu fluir mais facilmente depois que deixamos a mansão – concluiu Harry, começando a desconfiar que ali também houvesse o dedo de Brandon – e agora tudo vai dar certo então?


- Vai – “Harry” respondeu com simplicidade.


- É só esperarmos até o dia 2 de maio?


- Não há necessidade disso – articulou “Harry” – a posse da Varinha das Varinhas foi reafirmada duas vezes, não há como dar nada errado!


- Tivemos sorte então!


- Tivemos muita sorte – “Harry” deu uma palmadinha nas costas de Harry, mesmo sem enxergá-lo.


Era difícil acreditar que aquilo tudo havia terminado, que logo iria encontrar Rony e Hermione, que iria rever Gina e seu filho...


Tudo havia acabado bem, afinal.


- E o que ele vai fazer agora? – Harry estava se referindo à Voldemort.


- Ele vai me matar – “Harry” disse com o tom de quem revela que ganhou um presente – ele ainda realiza sua magia habitual, e seu hábito é matar – ele acrescentou, após ver a expressão no rosto de Harry.


- Não! Não! – Harry não estava acreditando – Tem que haver outro jeito! Vamos falar com o Brandon! Ele tem precisado mesmo se redimir...


- Não – “Harry” gesticulou para que ele mantivesse a calma e baixasse o tom de voz – você não precisa se preocupar com mais nada, exceto sua viagem de volta.


- Mas...


- Você não vai se machucar. No fundo nossas almas são bem diferentes.


- O que quer dizer?


- Você ainda preserva as qualidades das quais um dia eu abri mão para assim tentar fazer um mundo melhor. Nunca devia ter feito o que fiz por mais nobres que fossem as minhas intenções. Não abra mão do amor, e não deixe as outras pessoas viverem sem ele.


- Mas...


- Já tomei minha decisão. Boa sorte Harry, tente fazer a escolha certa.


Ele virou uma última vez para o castelo, admirando a construção, ignorando completamente o jato verde de Voldemort que atingiu em cheio suas costas.


Seu corpo tombou inerte na grama, poderia ter caído no sono de repente como um sonâmbulo, exceto pelos olhos verdes muito abertos, iguais aos de Lílian, e assim como ela gratos de terem se sacrificado por alguém amado.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.