Punição



Aparentemente a única coisa útil que aquelas coisas conseguiam fazer era transferir seus prisioneiros de um lado para outro. Já era a terceira vez que faziam aquilo, enquanto todos tentavam encontrar um jeito de destruir a árvore.


- Quanto tempo você disse que o tranqüilizante durava? – Harry perguntou quando se viram mais uma vez sozinhos.


- Umas duas horas, um pouco mais, um pouco menos... – Lawliet estava olhando concentrado para a árvore gigantesca diante deles – das outras vezes que me fizeram prisioneiro pelo menos foi assim... Vocês ainda têm algum tempo hábil.


Harry demorou em constatar o óbvio: se o Professor já fora preso, era porque ele também já havia fugido.


- Professor, acho que o senhor esqueceu-se de contar alguma coisa.


 


CAPÍTULO 6 – PUNIÇÃO


 


- De fato! – ele exclamou, ainda sem tirar os olhos da árvore – Sei de um jeito bem simples de fugir daqui.


Os três ficaram olhando, esperando um prosseguimento. Que não veio.


- E qual é? – perguntou Harry, trazendo o Professor mais uma vez para a realidade.


- Simplesmente sair correndo! – ele riu – Como não chegaram nessa conclusão? As pernas dessas coisas são bem curtas, e seus corpos não são perfeitamente redondos para rolarem atrás da gente!


Os três permaneceram pasmos.


- Isso explica o medo irracional que as sementes têm por aqueles vermes. Fazem de tudo para expulsá-los daqui, mas ainda não sei exatamente qual é o dano que eles causam, pois são cegos e odeiam a luz. Talvez seja somente o tamanho e o peso ameaçadores – Lawliet continuou – mas o motivo pelo qual prenderam vocês é óbvio. Eles detectaram uma grande quantidade “da planta” nela – apontou para Lavalle – e trouxeram vocês junto. Infelizmente, acho que as sementes irão matá-la.


- Como assim matá-la? – Harry interrompeu.


- Vão queimá-la – ele acrescentou, se corrigindo – mas, como disse, basta sair correndo... Ok, eu sei que nesse caso não é assim tão simples, mas mesmo assim...


- Você disse que eles temem esses vermes? – Hermione cortou a discussão.


- Sim – concordou o Professor – mais do que a qualquer coisa...


- Pelo que vejo também não são nada inteligentes – ela tirou a sua varinha do bolso. Harry notou que também estava com a sua – Lawliet, o senhor sabe mais ou menos qual é a extensão destes túneis?


- Eles são complexos, mas não muito extensos, talvez uns vinte metros ao redor da caverna principal – ele suspirou – mas eu acho que sei o que a senhorita está pensando, já tentei fazer isso e não deu certo.


- Você só tinha uma varinha, nós somos em quatro – ela argumentou.


- Isso pode dar certo – concordou Rony, embora ninguém soubesse exatamente o que seria feito.


Alguns minutos depois, as sementes ambulantes surgiram mais uma vez, libertando os prisioneiros da cela. As criaturas entraram no apertado recinto, eram quatro, e Harry não quis olhar para aqueles rostos extremamente desagradáveis, mas bastou menos de um segundo de contato visual para que aquilo fizesse efeito.


Ele não entendia porque aquilo não tinha acontecido na primeira vez que ele viu aqueles olhos, mas simplesmente não conseguia fazer mais nada. Pensava em outras coisas, tentava esquecer a imagem, mas nada adiantava. Olhou para os lados e percebeu que o mesmo acontecia com seus amigos.


RESISTA! Ele dizia para si mesmo, mas não pôde evitar de ter suas mãos amarradas – com dificuldade – pelas criaturas. RESISTA! Ele repetia, mas conforme iam andando pelo túnel aquela sensação de dependência só aumentava. Eles estavam próximos da base da árvore, vinte metros de circunferência estavam rodeados daqueles seres dispostos na mais perfeita ordem.


Tudo era silêncio, a não ser pelos passos e pela respiração ofegante do grupo. Uma grande estaca fora fincada no chão a uma distância segura da árvore, ao seu redor eram dispostos gravetos e folhas secas.


Num esforço grandioso, Harry conseguiu mover a cabeça e olhar para cima, a ponte que atravessara mais cedo parecia muito alta, e a única fonte de luz em todo o ambiente era a própria árvore. As raízes partiam dela para todas as direções, delimitando os setores rigorosamente ocupados pelas criaturas como se fossem enormes fatias de pizza.


“Só sair correndo...” Harry repetiu mentalmente e com desdém. Eles estavam novamente em apuros. Talvez devido aos atos de Lawliet, aquelas coisas aprenderam a ser mais espertas. Mas Harry ainda estava com sua varinha no bolso, e por isso se esforçava ao máximo para alcançá-la.


SÓ MAIS UM POUCO! Ele estaria gritando, se pudesse falar. A sua mão fora amarrada a centímetros de distância da varinha, e isso era angustiante. Até aquele momento ele conseguira “soltar” apenas a cabeça, mas quanto ao braço não havia feito grandes progressos. As cordas estavam relativamente frouxas, já que a força maior vinha do feitiço.


Os cinco foram amarrados de costas para uns para os outros naquela estaca. Agora a mente de Harry trabalhava à mil por hora, se ao menos pudesse distrair as criaturas que dominavam a sua mente...


Uma daquelas criaturas aproximou-se, a ponta de um dos seus dedos começou a faiscar e uma pequena chama surgiu. Vinha se aproximando lentamente da lenha.


Harry olhou para cima. Lá no alto, rastejando debaixo da ponte estava um único verme, despercebido pelos demais, mas que para Harry seria extremamente útil. Reunindo uma força maior do que todas as aulas de Oclumência, ele alcançou sua varinha e aquele único movimento foi suficiente para que as cordas caíssem. Apontou-a para o verme e ordenou:


- Engorgio! – o verme aumentou consideravelmente, e seu peso foi demais para a posição em que se encontrava. Ele se desgrudou da rocha e despencou em cheio sobre o incendiário.


A criatura entrou em choque, corria em círculos agitando os braços curtos enquanto o gigantesco verme do tamanho de um grande leitão permanecia grudado sobre ela. Não era uma cena muito bonita de se ver, ainda mais quando a “semente” parou de correr; e desta vez ela não suportando o peso do verme, que a esmagou formando uma grande poça de substância azul viscosa.


Como se recebendo uma ordem superior, a ordem naquela cerimônia se desfez. Milhares daqueles seres entraram em pânico, alguns correndo para longe dali, outros tentando acabar com o verme. Os outros recuperaram os sentidos e juntaram-se à Harry.


- Bem, era mais ou menos isso o que eu estava pensando! – disse Hermione.


- E o que a gente faz agora? – perguntou Rony, perdido.


- Accio verme! – Harry apontou a varinha para o alto sem pensar muito no que viria.


- Isso vai ser nojento – disse Lawliet – preparem suas varinhas!


- Engorgio! – Hermione ia ampliando os vermes antes que eles caíssem sobre as “sementes”. Alguns tentavam espantá-los com suas chamas, mas a situação só piorava. Eles eram enormes, e havia muita amontoação ali, então foi natural que alguns incêndios aparecessem.


Agora eles tinham dois inimigos: o fogo e os vermes. Corriam para todas as direções, mas o instinto de proteger a árvore era mais forte, obrigando-os a permanecer na caverna. Harry teve uma idéia:


- HERMIONE, RONY! CORTEM AS RAÍZES DA ÁRVORE MÃE! – ele agora era obrigado a gritar, pois o barulho do fogo, dos passos apressados e dos vermes despencando era infernal.


- VAMOS, RONY! SÓ DEUS SABE O TAMANHO DO NOSSO ESTOQUE DE VERMES!


Harry teve que rir diante do que a amiga dissera. Ela e Rony desapareceram de vista no mar de sementes desesperadas, em direção à ponte vários metros acima. De lá seria mais fácil cumprir a tarefa sem ter que circundar a árvore.


- ISSO ESTÁ REALMENTE SURTINDO EFEITO? – perguntou para Lawliet.


- ESTÁ ÓTIMO! O MÁXIMO QUE EU CONSEGUI FAZER SOZINHO FOI MEIA DÚZIA DE SEMENTES ATORDOADAS! – ele respondeu, mas Harry não achava que a coisa seria assim tão simples.


- ASSIM QUE RONY E HERMIONE SEPARAREM A ÁRVORE MÃE DAS FILHAS, TEREMOS QUE SEGUIR PARA OS TÚNEIS!


- SEM PROBLEMA! – agora o professor, além de ampliar vermes, ia dando cabo daquelas criaturas ele mesmo, espalhando muito daquela substância azul por toda a parte.


Harry lembrou-se de Lavalle: se ela fosse atingida, certamente seria morta. Ele olhou em todas as direções e a viu ainda amarrada ao chão e desacordada. Incapaz de alcançá-la ele ordenou:


- Protego! – e um escudo formou-se ao redor da Especialista, deixando-a segura, bem em tempo para evitar a chuva de feitiços que Hermione lançava ao redor da árvore. Harry podia ouvir dali os gritos da amiga.


- RONY, DO OUTRO LADO! DO OUTRO LADO! DIFFINDO!


Os dois iam cumprindo a tarefa enquanto Harry abria caminho entre as sementes e raízes para alcançar Lavalle. Eles precisavam sair dali se quisessem destruir as árvores filhas, no entanto, Lavalle não poderia em hipótese alguma entrar em contato com qualquer parte daquela planta; sua situação já era grave, e poderia ficar pior.


Harry alcançou-a com dificuldade, soltando as cordas que já estavam frouxas.


- Vamos, nós temos que sair daqui... – ele pedia e ela ajudava, parecia compreender que aquilo era necessário e esforçava-se ao máximo. Àquela altura o caos já havia se espalhado para os túneis, o caminho na caverna estava livre, pois Lawliet tratava de reunir todas as criaturas num único túnel. Harry olhou para trás: o fogo havia consumido rapidamente as raízes cortadas, e avançava com vigor sobre a árvore. Com um aceno de varinha ele produziu uma corrente de ar suficiente para alcançar a copa da árvore, aumentando rapidamente as chamas e a temperatura.


- Muito bem, Harry! – Hermione apareceu ao seu lado, suada e toda coberta de fuligem – É impressionante o que conseguimos fazer quando estamos em apuros!


- Muito obrigado pelo elogio, mas ainda temos algumas centenas de sementes para destruir, isso sem contar as árvores filhas! – Harry corria com Lavalle na direção de Lawliet.


- Ora, podemos nos aproveitar da burrice dessas coisas! – ela apontou a varinha para o tronco da árvore.


Harry havia esquecido daquele detalhe: aquelas coisas tinham o instinto de proteger a árvore...


- LAWLIET TRAGA-AS PARA CÁ! – ele gritou, e esperou que o Professor tivesse entendido o seu plano. Christopher acenou positivamente:


- EI SUAS COISINHAS, OLHEM AQUI! – todas as sementes se voltaram na direção dele, percebendo que a árvore mãe agora pegava fogo.


- AGORA! – gritou Hermione. Ela, Rony e Harry miraram no mesmo ponto e ordenaram:


- BOMBARDA! – o tronco partiu ao meio e agora pendia perigosamente na direção deles – CORRAM! – Harry não precisara ter dito aquilo, os amigos já estavam carregando Lavalle para o túnel enquanto centenas de sementes corriam desesperadamente na direção da árvore com a intenção de impedir a sua queda.


Harry alcançou-os no exato momento em que a árvore gigante tombou por completo, levantando uma enorme nuvem de poeira e fagulhas. Pelo que percebeu, a aglomeração de criaturas naquele túnel fora tão grande que elas acabaram pisoteando as plantas que ali se encontravam.


- E agora? – suspirou Rony, exausto.


- Agora temos que dar cabo destas árvores menores, e nos certificarmos de que as sementes também foram destruídas – e também de muita sorte, ele acrescentou em pensamento.


- Mas se as filhas já estão desconectadas da mãe, e ela está morta, as filhas vão morrer! – lembrou Hermione.


- É bom garantirmos – sugeriu Lawliet, e no exato momento em que disse isso houve um grande tremor: aparentemente, devido à sua altura, a queda da árvore havia danificado as paredes da caverna.


- Parece que alguma coisa já está se encarregando disso – disse Harry, seguido de mais um tremor – VAMOS SAIR LOGO!


Eles saíram correndo por onde o caminho era ascendente. A temperatura agora aumentava rapidamente, as galerias acima deles pareciam estar tomadas pelo fogo, e Harry rezava para aquele em que estavam ser o caminho certo direto para fora. Pelo menos não encontraram nenhuma semente enquanto subiam, todas pareciam ter sido destruídas.


O túnel deu uma última guinada para a direita então se partiu. O chão de onde eles estiveram dois segundos antes havia virado uma enorme cratera tomada por fogo. Harry queria correr, mas a cada segundo isso ficava mais difícil, pois o fogo estava roubando todo o seu oxigênio.


- Vamos! – Hermione puxou-o pela mão, e ele só teve tempo de agarrar a de Rony, que segurou Lavalle, a qual por sua vez já estava sendo carregada por Lawliet – Expulso! – Hermione apontou a varinha para o pouco de chão que ainda restava, e a reação daquele feitiço foi impulsioná-los para frente, vencendo a grande distância que os separava da superfície em apenas um segundo.


Foram lançados alguns metros longe da saída do túnel. Harry respirava com aflição o ar fresco, como se estivesse prestes a acabar. Abriu os olhos ainda em tempo de ver a cratera ampliar-se e engolir aquela última árvore brilhante. Tudo havia acabado.


Os cinco ficaram ali deitados sobre o calçamento coberto de musgos e liquens por um bom tempo, admirando o céu nublado e a grandiosidade daquilo que haviam feito.


Lavalle estava salva.


E eles finalmente voltariam para casa.


Então Harry lembrou-se do que estava acontecendo na mansão de Brandon, e lhe ocorreu que Derose e Frederich estivessem em grave perigo. Aquilo lhe deu forças para se levantar.


- Vamos! Nós precisamos voltar! – ele estava cheio de energia, mas toda ela se esvaiu quando ele percebeu o que estava acontecendo.


Hermione, Rony e Lawliet rodeavam o corpo de Lavalle, que estava inconsciente no chão.


Harry aproximou-se e Hermione sussurrou em seu ouvido:


- Sinto muito, acho que ela não resistiu.

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Comentários (1)

  • AUGUSTO.

    Infelizmente, devo me desulpar mais uma vez pelo atraso. Apesar de estar com o texto pronto, decidi por manter as postagens semanais - e assim manter o suspense por mais tempo. No entanto, não pude postar na última sexta (18/03) por aqueles  motivos que vocês estão carecas de saber. Mas asseguro que não há motivo para pânico! Próximo final de semana reservarei tempo para postar o último capítulo desta fic que me agradou muito. Espero que vocês gostem do final que está por vir tanto quanto eu gostei. Até a próxima! Um abraço, AUGUSTO.

    2011-03-20
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